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2. CAPÍTULO I:

4.3 Sujeitos da pesquisa

Como universo da pesquisa, situamos nossas análises no curso integrado em Agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, campus Muriaé: Agroecologia. Tomamos como ponto de partida os estudantes ingressantes no primeiro ano de vigência da Lei de Cotas (2013) e que chegaram ao final da trajetória escolar do referido curso em 2015. Também consideramos a participação de estudantes que, embora não tenham concluído o curso no período de três anos, continuaram a estudar no IF e no mesmo curso, assim como representantes membros do Grêmio Estudantil, uma vez que suas colocações político- ideológicas podem nos orientar sobre a questão maior dessa pesquisa, ou seja, os impactos da lei de cotas sobre o universo escolar do IF Sudeste MG Campus Muriaé.

Foi a partir dessa primeira turma que empreendemos nossa jornada investigativa, acompanhando desde o processo seletivo para o acesso até a conclusão do curso. Dessa forma, levantamos dados de acesso, permanência(s), desenvolvimento e êxito estudantil, sendo este percurso acompanhado pelos múltiplos olhares dos sujeitos que atuaram diretamente com os estudantes do curso de agroecologia no período de 2013 a 2015.

A escolha dessa turma considerou o tipo de curso e sua anterioridade115 à Lei de Cotas, para que, assim, pudéssemos distinguir os resultados do “antes” e “depois” da política de cotas, bem como traçar o perfil dos estudantes selecionados. Para a escolha do curso, levamos em conta as características descritas no PPC e a condição de curso 115 De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC, 2010), o curso Técnico em Agroecologia Integrado ao Ensino Médio é uma modalidade de ensino presencial regulamentada pelo Decreto 5.154/2004. O Curso consta no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do MEC, sendo amparado pela Portaria 870/2008, Lei 11.741/2008 e LDB 9.394/96 e instituído a partir da Resolução nº 006/2009. A primeira turma foi aberta em 2010, em turno integral, sendo ofertadas 40 vagas através de processo seletivo anual.

“integrado”116.

Ao escolhermos um curso da modalidade integrada, levamos em conta que a Lei nº 11.741/2008, em seu art. 36-C, prevê que ela será desenvolvida de forma “I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno” (grifo nosso). Ou seja, reuni-se a educação básica, de formação geral, com a educação profissional técnica de nível médio. Daí a condição de integrada pela soma de disciplinas formando o currículo do curso a partir da Base Nacional Comum, Parte Diversificada e Parte Profissionalizante; e pela matrícula única do educando.

Como registrado pela LDB 9.394/96, a educação básica deve assegurar ao educando “a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer- lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (art. 22 – grifo nosso). Vejamos o que as duas legislações tem em comum: a formação para o trabalho; não importa se propedêutica ou não, a educação por si só deveria ser capaz de capacitar o educando para se desenvolver no e para o mundo do trabalho. Assim, ao pensarmos em educação integrada (como diz a lei), no mínimo haveria de se esperar que o estudante formado tivesse condições de inserção no mundo do trabalho (ainda, que nesse momento não estejamos considerando a incapacidade da sociedade capitalista de absorver todos os estudantes formados em nível médio), mas por que eles continuam seguindo para o curso superior? O que há ou o que falta no processo de formação do ensino integrado que os leva a objetivarem o acesso às universidades?

Quanto à escolha do curso, consideramos que a condição de “integrado” favorece a melhor análise do papel da educação quanto à formação “integral”, ou seja, uma educação que associe conhecimentos humanísticos ao trabalho e vice-versa, isto é, que vise a formação omnilateral. Entendemos que o (re)encontro da educação com o trabalho contemplaria a proposta gramsciana - escola una - tendo em si as bases para compreensão do mundo do trabalho, interligando os saberes diversos que regem o cotidiano da vida. Estaria, portanto, mais próxima a educação, no formato integral e integrada, à ideia da Escola Unitária anunciada pelo pensador.

Assim, ao considerarmos as ofertas de cursos integrados117 do campus Muriaé, 116 Segundo o decreto nº 5.154/2004, art. 4º, §1º, I - “integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno”. O mesmo é ratificado pela Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008.

verificamos que o Agroecologia é o que mais se aproxima de uma percepção crítica do modo de produção capitalista, justamente por contestar o modelo de agricultura vigente, ainda que não inove em sua proposta formas de superação da atual sociedade do consumo:

A Agroecologia traz em seus princípios uma proposta de produção sustentável, respeitando os limites do ambiente local e procurando otimizar as propriedades rurais em todos os sentidos: ambiental, social, econômico, ético, cultural e político. […] Os princípios agroecológicos entram em consonância com o modo de vida e produção da Agricultura Familiar, o que faz com que as práticas agroecológicas tendam a ter sucesso nos terrenos familiares de produção […] buscando a autonomia e melhorias das condições de vida das famílias agricultoras. […] Abordagens alternativas têm surgido e se difundido ao longo dos últimos anos, as quais parecem convergir na avaliação da insustentabilidade do atual modelo agrícola (MURIAÉ PPC, 2010, p. 10-11).

Outro dado do curso que levamos em consideração: o número de estudantes ingressantes e que concluíram o curso, ou seja, entraram para o primeiro semestre de 2013, através do processo seletivo, 41 estudantes e destes apenas 22 estudantes concluíram seus estudos no tempo previsto de duração do curso (três anos). Mais uma vez nos perguntamos: o que leva a saída e repetência dos estudantes? O curso estaria em conformidade com os interesses das comunidades locais (àquelas a que se refere o item 6.1 do PPC Agroecologia, Justificativa e Perfil do Curso)?

Em decorrência dos fatos acima, os demais participantes da pesquisa foram escolhidos de acordo com o tempo de atuação no campus (tempo de efetivo exercício profissional, tempo de envolvimento com os estudantes da turma selecionada). Foram entrevistados: membro da equipe pedagógica; coordenador de curso; diretores ligados ao ensino, pesquisa e extensão; membros das seções ligadas à Assistência Estudantil.