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6 PERCURSO METODOLÓGICO

6.1 Procedimentos metodológicos

A pesquisa qualitativa parte das expressões e atividades dos sujeitos em seus contextos, destacando sua particularidade local e temporal14. Nesse sentido, os pesquisadores

LI

Averiguar se ações, desenvolvidas por ela, são apropriadas para o problema enfrentado. LII

Verificar se os produtos alcançados são gerados em tempo hábil, se o custo para tais produtos são os menores possíveis e se esses produtos atendem aos objetivos da política.

LIII Avaliar a satisfação dos beneficiários das políticas com as ações governamentais, demonstrando que o Estado se preocupa também com a qualidade subjetiva de seus investimentos.

LIV Capacidade de que seus efeitos positivos se mantenham após o término das ações governamentais na área foco da política pública.

qualitativos se atentam para o modo como a experiência social se constrói e produz significado.

Os pesquisadores qualitativos ressaltam a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as limitações situacionais que influenciam a investigação. Esses pesquisadores enfatizam a natureza repleta de valores de investigação. Buscam soluções para as questões que realçam o modo como a experiência social é criada e adquire significado13:23.

De posse dessa consideração, dezessete (17) entrevistas semiestruturadas foram realizadas, no período entre dezembro de 2016 e maio de 2017, com o intuito de qualificar e aprofundar a discussão proposta pela pesquisa. Os modelos dos roteiros das entrevistas estão disponíveis nos apêndices com as seguintes nomenclaturas: 1) Apêndice I – roteiro utilizado com as profissionais da Área Técnica Nacional de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde / Eixo Obstétrico, responsáveis pelo Programa Rede Cegonha; 2) Apêndice II – roteiro utilizado com as mulheres primíparas.

As entrevistas foram divididas em dois blocos. O primeiro bloco foi subdivido em: i) quatro entrevistas com puérperas primíparas, de raças e classes sociais distintas, maiores de 18 anos, com filhos(as) de até dois anos de idade, representantes do Distrito Norte de Saúde do município de Campinas / São Paulo e que realizaram acompanhamento de pré- natal e de parto no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma majoritária; ii) quatro entrevistas com puérperas primíparas que compartilhavam dos mesmos critérios supracitados, exceto que tivessem sido acompanhadas pelo sistema privado de saúde. O segundo bloco foi composto por nove entrevistas com profissionais da Área Técnica Nacional de Saúde da Mulher / Eixo Obstétrico, responsáveis pelo Programa Rede Cegonha.

As entrevistas semiestruturadas assentam tanto perguntas abertas quanto fechadas, nas quais o entrevistado tem a deliberação de discorrer sobre o tema, sem necessariamente se conter apenas ao questionamento formulado86. Isso justifica a pertinência de sua escolha nesta pesquisa, tendo em vista que se tratou de um contexto permeado por diversos sujeitos e diferentes configurações de poder, as quais necessitavam de uma maior liberdade e fluidez para o seu aparecimento e compreensão.

O tipo de amostragem elencado para a realização das entrevistas foi o “bola de neve”, que se define como um modo de amostra não probabilístico, no qual se faz o uso de cadeias de referência. “Ou seja, a partir desse tipo específico de amostragem não é possível

determinar a probabilidade de seleção de cada participante na pesquisa, mas torna-se útil para estudar determinados grupos difíceis de serem acessados”87:203

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A execução desta amostragem parte, inicialmente, da leitura de documentos – como modo de obter informações sobre o campo – e / ou do acesso a informantes-chaves intitulados sementes. Esses têm como objetivo localizar pessoas com perfil adequado para a participação na pesquisa. Após esse momento inicial, postula-se que sejam solicitados às pessoas, indicadas pelas sementes, novos contatos condizentes com os critérios da pesquisa.

Por fim, o quadro de amostragem torna-se saturado quando não há novos nomes oferecidos ou quando os demais nomes encontrados não acrescentam novas informações ao quadro geral de análise. No caso desta pesquisa, foram utilizadas as duas estratégias citadas: primeiramente, leitura sobre o campo para, por fim, acessar os informantes-chaves. O quadro de amostragem foi saturado quando não houve mais nomes a serem indicados.

Em relação aos critérios, destacamos algumas observações. A escolha de serem puérperas primíparas partiu do pressuposto da existência de uma memória primeira e única em relação à experiência do parto e nascimento, o que poderia possibilitar maior fluidez nos discursos, sem a interferência de outras experiências de parto. No tocante ao direcionamento do Distrito Norte de Saúde, optamos por esse recorte por esta ser a região atrelada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à qual a pesquisadora se encontra vinculada, sendo essa uma das alternativas para ações de devolutiva de investimento público da área de educação, pautadas por um compromisso social das universidades públicas com a sua população adstrita.

O recorte social se encontra representado na escolha de mulheres de raças e de classes sociais distintas, atrelado ao cuidado ofertado tanto pelos serviços públicos quanto pelos serviços privados de saúde de assistência ao parto e nascimento. Partimos do pressuposto que os corpos das mulheres são compreendidos e trabalhados de formas distintas, a depender das práticas preconizadas nos espaços aos quais eles estão inseridos, ao que essas mulheres têm condições de arcar financeiramente pela assistência e as suas raças / coresLV. Por essa razão, optamos por aquelas maternidades da região que, concomitantemente, tanto atendiam partos via SUS quanto via sistema privado de saúde.

LV

Infelizmente, apesar de vergonhosas, essas são práticas existentes no cenário brasileiro. Inclusive, seria ingênuo acreditar que, juntamente ao histórico de manipulação e submissão do corpo da mulher, a questão econômica não fosse um fator diferenciado neste processo. Com isto, não se afirma que a violência obstétrica seja algo presente somente nos serviços públicos, inclusive porque ela pode vir velada nos serviços privados, mas acreditamos que há sim uma relevante distinção nesse processo.

Por fim, em relação à idade limite de dois anos da criança, destacamos que essa é a faixa de idade preconizada pela portaria da Rede Cegonha para o acompanhamento inicial do desenvolvimento infantil. Após essa idade, a criança continua sendo acompanhada pelos serviços do SUS, mas referenciada a outros programas.

No tocante às profissionais da Área Técnica, foi utilizado o critério da escolha daquelas que, no momento da pesquisa, acompanhavam ou já haviam acompanhado diretamente as ações da Rede Cegonha pontuadas na Área Técnica Nacional de Saúde da Mulher no Ministério da Saúde. A sugestão para a realização das entrevistas com profissionais que já não mais exerciam a função partiu das próprias técnicas, tendo em vista a relevância dessas profissionais para a história do programaLVI.