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2. O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO E A REESTRUTURAÇÃO

2.4 O Setor Elétrico Brasileiro

2.4.2. Processo de Reestruturação do Setor Elétrico no Brasil

No início dos anos 1990, com o programa de obras praticamente paralisado, foi iniciada uma reorganização institucional no setor para reduzir a presença do estado no mesmo. Foi assim que surgiram os primeiros estudos para o processo de reforma e reestruturação que viria a ocorrer em seguida (Tasso, 1987; Centro da Memória da Eletricidade, 1988, 1995; Paixão, 2000).

O processo de reestruturação e estabelecimento do marco regulatório deveria seguir os seguintes passos:

Figura 2.1: Processo para Estabelecimento de um Marco Regulatório no Setor Elétrico.

Fonte: Adaptado do Estudo do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro PricewaterHouse (2004).

Estudo e definição do

modelo

Lei básica Regulamentação detalhada

Implementação

As medidas implementadas, a partir do início da década de 1990, especialmente pela Lei nº 8.631, trouxeram para as empresas do setor elétrico brasileiro um novo patamar econômico-financeiro, com a realidade das tarifas, a redução das estruturas administrativas, o encontro de contas da CRC -Conta de Resultados a Compensar e a redução do endividamento, viabilizando a capacidade de alavancagem para obtenção de recursos para novas inversões na expansão e melhoria dos serviços (Vieira, 2005).

A reformulação do setor elétrico brasileiro teve seu início formal em 1995, com a criação da estrutura do Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro – Projeto RESEB do Ministério de Minas e Energia. Para tornar realidade o novo modelo, duas ações fundamentais foram adotadas: a alteração do arcabouço legal e a privatização das empresas públicas de energia elétrica.

Entre as mudanças propostas, surgiu a idéia de segregação das grandes empresas verticalizadas (aquelas que exerciam simultaneamente as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica), partindo-se para a privatização das áreas de geração e de comercialização de energia, em um primeiro momento, afim de que fosse instituído um modelo competitivo e de livre concorrência contrapondo-se ao do mercado eminentemente monopolista existente.

A Lei Geral de Concessões (Lei nº 8.987) em 1995, projetada para ser uma expressão prática e efetiva da Constituição de 1988, fornecia as regras gerais para a licitação das concessões em vários segmentos de infra-estrutura, incluindo o setor elétrico, outorgadas anteriormente somente às concessionárias estaduais e federais.

A Lei nº 9.074/95 estabeleceu as bases legais para que os grandes consumidores de energia pudessem comprar energia livremente; antes, a aquisição era feita obrigatoriamente da empresa geradora da região.

Em 1996, foi instituída pela Lei nº 9.427, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), como agente regulador, mediador e fiscalizador do setor e responsável pela realização de leilões de concessão de empreendimentos de geração e transmissão.

Ainda em 1996, um ano após a aprovação da Lei de Concessões, o Governo Brasileiro contratou os serviços da firma americana de consultoria e contabilidade Coopers & Lybrand, para auxiliá-lo a desenvolver o novo modelo de funcionamento para o setor elétrico nacional. A idéia original dos consultores era que o caso brasileiro deveria seguir o modelo de reestruturação adotado na Inglaterra com as devidas adaptações para a realidade do país.

O novo modelo do setor elétrico a ser implantado, conhecido como Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro – Projeto RESEB, teve a sua fase de concepção iniciada em 12 de agosto de 1996, sob a coordenação da Secretaria Nacional de Energia do Ministério de Minas e Energia. Entretanto, o processo de privatização, já havia começado a ser implementado desde 1995.

A Lei nº 9.648/98, dentre outras disposições, definiu o Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE) e a figura do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), cujas funções está em proporcionar um ambiente favorável em direção a livre negociação da energia elétrica e é considerada um marco legal no processo, pois institucionaliza os princípios básicos concebidos pelo Projeto RESEB (Paixão, 1999).

O processo de estabelecimento do marco regulatório no Brasil sofreu alterações na ordem das etapas conforme figura abaixo:

Figura 2.2 : Processo de Estabelecimento do Marco Regulatório no Setor Elétrico no Brasil. Fonte: Adaptado do Estudo do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro PricewaterHouse (2004).

No contexto das privatizações, o conflito de interesses é apresentado na explanação por Martinez (1997 p. 121):

[...] A transferência das empresas estatais para o setor privado envolve um conflito de interesses entre três papéis desempenhados pelo Estado. O Estado-proprietário busca maximizar o preço de venda de seus ativos, enquanto o Estado-regulador pretende incentivar a competição e garantir a estabilidade do setor no longo prazo e o Estado-cidadão quer o menor preço da energia para os consumidores. Estes objetivos envolvem um trade-off, ou seja, o ganho obtido em uma direção representa perda em outro lado.

Estudo e definição do modelo

Lei básica Regulamentação

detalhada Implementação do mercado Privatização Bases da Reformulação

Nova Lei das Concessões Leis nº 8.987 e 9074/95 • Reforma Inicial • Estudos e detalhamento do modelo

• Criação do Regulador e outros entes relevantes • Início da privatização da distribuição • Planejamento da expansão • Regulação detalhada incompleta • Implementação parcial do mercado • Desverticalização • Tentativa de privatizar o restante da distribuição • Privatização superficial da geração

Dentro do processo de privatização que passou a ocorrer no setor, as primeiras duas concessionárias regionais que estavam sobre o controle acionário da ELETROBRÁS e passaram para o setor privado foram a LIGHT do Rio de Janeiro, e a ESCELSA, do Espírito.

Na primeira gestão do governo Fernando Henrique Cardoso foi promovido um abrangente processo de desestatização, com a privatização de parte do setor energético nacional, principalmente no que tange as empresas distribuidoras, conforme o Quadro 2 abaixo:

ANO EMPRESAS DATA SEGMENTO CONTROLE ACIONÁRIO

1995 ESCELSA 11 / jul Distribuição IVEN / GTD

1996 LIGHT 21 /mai Distribuição AES/ HOUSTON/ EDF/BNDESPAR/CSN CERJ (AMPLA) 20 /nov Distribuição ENERSIS /CHILECTRA /ENDESA /EDP

1997 COELBA 31/ jul Distribuição GUARANIANA / COELBINVEST CACHOEIRA DOURADA

(CDSA) 05 / set Geração ENDESA / EDGEL / Fundos AES Sul 21 / out Distribuição AES

RGE 21 / out Distribuição VBC / Community Energy Alternatives/ Previ / Fundos BB

CPFL 05 /nov Mista VBC / PREVI / Bonaire Participações ENERSUL 19 /nov Distribuição ESCELSA/ Fundo de Pensões/ empregados CEMAT 27/nov Distribuição INEPAR / Vale do Paranapanema

ENERGIPE 03 /dez Distribuição CATAGUAZES - Leopoldina

COSERN 12 /dez Distribuição COELBA/ GUARANIANA

1998 COELCE 02 / abr Distribuição Distriluz Ltda ELETROPAULO Metropolitana 15 / abr Distribuição LIGHTGÁS

CELPA 09 / jul Distribuição Grupo Rede/ INEPAR ELEKTRO 16 / jul Distribuição ERON

GERASUL 15 / set Geradora TRACTEBEL / BNDESPAR / União EBE- Bandeirante 17 / set Distribuição ENERPAULO (EDP) / DRAFT (CPFL)

1999 CESP – PARANAPANEMA 28 / jul Geradora DUKE CESP - TIETÊ 27/ out Geradora AES

CELB 30 /nov Distribuição PB PART Ltda

2000 CELPE 23 /mar Distribuição IBERDROLA / PREVI /Investimentos CEMAR 26 / jul Distribuição Pensylvania Power Light (PP&L) SAELPA 30 /nov Distribuição CATAGUASES Leopoldina

Quadro 2 - Cronograma das privatizações no Brasil Fonte: Elaboração própria com dados da BNDES (2001)

A primeira grande subsidiária da ELETROBRÁS a ser privatizada foi a ELETROSUL que passou inicialmente por um processo de cisão que a dividiu em uma empresa de geração, que passou a se chamar Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A. – GERASUL e que passou a possuir todos os ativos das usinas e uma empresa de transmissão, que permaneceu com o nome de ELETROSUL (Empresa Transportadora de Energia Elétrica Sul do Brasil S. A.).

O modelo do setor elétrico brasileiro exigiu um arcabouço institucional e regulatório complexo, e um período de implementação lento e incompleto, que contribui para a recente crise de abastecimento dessa indústria e a necessidade de reformular um modelo que ainda estava em processo de implementação. A estrutura implementada pela reforma, é formada conforme apresentado na figura 2.3.

Figura 2.3: Estrutura Estabelecida pelo Marco Regulatório para o Setor Elétrico Brasileiro. Fonte: Adaptado do Estudo do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro PricewaterHouse (2004).

CNPE MME ANEEL EPE CCEE CMSE ONS

NOVOS AGENTES CRIADOS A PARTIR DE 2001

Agentes Institucionais de Organização do Setor Elétrico

Planejamento Estratégico

• Investimentos

• Tarifas

• Matriz energética

Indústria do Setor Elétrico

Geração Concessionárias (*) Produtores Independentes Autoprodutores com excedente Mercado Externo (importação) Concessionárias (*) Transmissão Concessionárias Comercializador Energia nova ou existente Distribuição Consumidor Livre Consumidor Regulado

Outros “Stakeholders” Importantes Ministério da Fazenda

Governos municipais Órgãos de defesa do

meio ambiente Governos estaduais Governos federal BNDES Sindicatos Sociedade civil Investidores

No novo modelo, as empresas até então atuantes no setor elétrico nacional sofreriam um processo de desverticalização, onde as atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica deveriam ser desempenhadas de forma autônoma e independente, seguindo uma tendência mundial, onde todos os interessados em participar deste mercado têm livre acesso aos sistemas de transmissão e de distribuição, que permaneceriam sob a regulação do Governo Federal.

O novo modelo prevê a constituição de novos agentes que passariam a desempenhar as funções de exercer a regulação técnica e econômica das atividades a serem desenvolvidas no setor, realizar a operação e o planejamento da operação do sistema elétrico como um todo, além de fazer o planejamento de longo prazo da expansão do sistema eletro-energético a nível nacional.

O segmento de geração seria suprido pelas as grandes empresas geradoras, normalmente com diversas plantas de grande porte; os pequenos geradores com plantas de pequeno porte; as usinas termelétricas a carvão, que atuam para complementar o sistema; as usinas termelétricas a gás, independentes; os grandes consumidores; as comercializadoras; e as empresas distribuidoras, que fornecem o serviço de rede e atendem aos consumidores cativos.

Os segmentos de transmissão e de distribuição de energia ficariam regulados pelo governo, sendo que a transmissão permaneceria, num primeiro momento, estatal. As novas obras, tanto de transmissão quanto de distribuição, já seriam licitadas e pertencentes à iniciativa privada. Estes segmentos teriam tarifas reguladas pelo governo, pois corresponderiam a serviços de transporte de energia a serem prestados pelo sistema para que a energia pudesse chegar até os clientes finais. As concessões também seriam precedidas de licitação ou autorização.

O novo segmento de comercialização de energia se caracterizaria por apresentar um elevado grau de competitividade com os preços das transações realizadas negociados livremente. As empresas para operarem nesse segmento necessitam de autorização do agente regulador do governo brasileiro.

O Mercado Spot e o mercado de curto prazo, quando as empresas geradoras, distribuidoras e comercializadoras de energia elétrica registram na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE, os montantes de energia contratada, com os dados de medição, para que desta forma se possa determinar quais as diferenças entre o que foi produzido ou consumido e o que foi contratado. A diferença é liquidada

mensalmente, na CCEE, por cada sub-mercado (Norte, Sul, Sudeste e Nordeste) e para cada patamar (Leve, Médio e Pesado) é denominada de mercado "spot".