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3.1 O DOSSIÊ

3.1.3 O processo

Figura 22 - The legendary blind beggar, standing at his regular post, 1961

Figura - 23 Happy Birthday

A ação16

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CIDADE INVISÍVEL.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DA COMARCA DA CIDADE INVISÍVEL, com fulcro nos artigos 1º, III, 6º, 127, “caput” e 129, III da Constituição17; artigos 3º, 4º “caput”, 6º “caput” e parágrafo único, inciso III, e 9º da Lei Federal nº10.216/200118, artigos 45, “caput” e inciso IV, e artigo 33, inciso III, da Lei Complementar Estadual 791/9519, comparece à presença de Vossa Excelência para propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE INTOXICADO HABITUAL, com pedido de antecipação da tutela, contra a Cidade Invisível, pessoa jurídica de direito público interno, nesta cidade e comarca, representada pela Prefeitura Municipal, pelos fundamentos de fato e de direito adiante expostos:

1- Os fatos

Conforme consta dos autos Procedimento de Atendimento ao Público nº 000.0000.0000000/2011-6 e 00.0000.0000000/2012-3 (autos anexos), que tramitou perante a Promotoria de Justiça Cível da Cidade Invisível, Ana Ferraz, moradora de rua, nascida na Cidade Invisível aos 14/04/1965, separada judicialmente, portadora de registro e certidão oficiais, filha de João C. e Maria C., tem depressão há muitos anos e já foi internada várias vezes em Hospital Psiquiátrico Privado para tratamento. Há aproximadamente onze anos começou a usar maconha, há dez anos iniciou uso de cocaína e há três meses vem usando crack. Tentou fazer acompanhamento no CAPS AD, mas não chegou a aderir, pois o tratamento consistia na participação de oficinas de culinária, corte e costura, etc, pois tinha muita depressão e nunca lhe foi prescrito medicamento para esta doença. Há dez anos não tem residência fixa e há seis anos vive nas ruas. Neste período foi internada por diversas vezes, chegando a ficar até oito meses internada, sendo que as despesas eram custeadas por sua família. No entanto, quando

16 O texto apresentado a seguir foi construído tomando como base alguns documentos encontrados no decorrer de

nossa pesquisa de arquivo. Ele pretende conduzir ao leitor a uma experiência do que pode vir a ser o discurso jurídico, contudo ressaltamos que esse material não é um documento legal original.

17 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (27). 18 Lei Federal 10216 (11).

saia, por não ter um suporte familiar, visto que seu ex-marido constituiu outra família e suas filhas não tinham condições de assumi-la, a mesma acabava voltando para o vício. Agora pretende novamente ser internada junto ao Hospital Azul para tratamento, pois quer se tratar para não mais ficar na rua e não fazer suas filhas sofrerem. No entanto, por não estar em situação de crise, não consegue vaga naquele hospital.

2- Da legitimidade do Ministério Público

O Ministério Público está legitimado para ajuizar a presente ação de internação psiquiátrica compulsória em defesa dos direitos individuais indisponíveis em situações como a de que ora se cuida.

A Constituição Federal, em seu artigo 127, determina que cabe ao Ministério Público a defesa de direitos individuais indisponíveis, dentre outros.

Em análise de questão semelhante, o Supremo Tribunal Federal decidiu:

“Tal como pude enfatizar, em decisão por mim proferida no exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal, em contexto assemelhado ao da presente causa, entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à saúde que se qualifica como direito subjetivo inalienável assegurado a todos pela própria Constituição da República (art. 5º, “caput” e art. 196) ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário do Estado, entendo – uma vez configurado esse dilema – que razões de ordem ético- jurídica impõe ao julgador uma só e possível opção: aquela que privilegia o respeito indeclinável à vida e à saúde humana, notadamente daqueles, como os ora recorridos, que têm acesso, por força de legislação local, ao programa de distribuição gratuita de medicamentos, instituído em favor de pessoas carentes.

Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse, como prestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde (C.F., art. 197) em ordem a legitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário naquelas hipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente, deixassem de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outra inaceitável modalidade de comportamento governamental desviante”. (grifos nossos)

Assim sendo, considerando que o interesse público reside na manutenção da segurança e saúde das pessoas, o Ministério Público deve intervir em situações como a que aqui se apresenta, ressaltando que a presente ação tem como finalidade a plena recuperação da assistida, com o acompanhamento e prestação dos necessários cuidados pelo município no que tange a sua situação durante e após a internação, para que possa voltar o convívio social sem ricos, de forma digna e sadia.

3- Os Fundamentos Jurídicos

A Constituição Federal indica, em seu artigo 1º, inciso III, que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos de nossa República Federativa. Assim sendo, é dever do Ministério Público, em seu cotidiano de trabalho, fazer com que tal fundamento seja respeitado e protegido.

No presente caso, verifica-se que o interesse público, a vida digna da assistida fundamentam e determinam a necessária internação psiquiátrica compulsória da mesma para tratamento e posterior ressocialização.

A lei 10.216/2001 objetivou proteger as pessoas acometidas de transtorno mental, assegurando-lhes o melhor tratamento do sistema de saúde, com a finalidade de ser recuperada pela inserção na família e sociedade nos termos do artigo 2º.

Dispõe o artigo 4º da Lei 10.216/01 que “a internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes”.

Além disso, tal diploma legal dispõe que o tratamento visará, como finalidade permanente, a re-inserção social do paciente em seu meio, como estipula o artigo 4º, parágrafo 1º da lei supracitada, e que o regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológica, ocupacional, de lazer, entre outros (artigo 4º, parágrafo 2º, Lei 10.216/01).

A par disso, a mesma lei estabeleceu três modalidades de internação, a voluntária – com o consentimento do paciente – a involuntária – sem o consentimento do paciente – e a compulsória – que é aquela determinada pela justiça (art. 7º).

É certo que a lei fala que a internação somente se dará mediante laudo médico circunstanciado. No entanto, conforme declarou a interessada, o que foi confirmado pelo Relatório de Atendimento emitido pelo CAPS AD, a interessada desde 26.04.2005, deu início a tratamento naquele local de maneira irregular, com baixa adesão. Ou seja, no caso da interessada somente com uma internação compulsória e com uso de medicação adequada será possível que ela faça o tratamento necessário. Lembra-se, por oportuno, que no presente caso ela declarou expressamente que quer se tratar para se recuperar, o que é essencial para a obtenção da cura, associado ao fato de que agora a assistida possui o necessário suporte familiar, o que se evidencia pelo comparecimento de suas filhas na Promotoria de Justiça solicitando auxilio.

A Constituição Federal consagra, nos artigos 196 a 198, a saúde como direito de todos e dever do Estado, não só através de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença, mas também com acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção e recuperação da saúde, sendo que estas ações e serviços são prestados pela União, Estados e Municípios.

No caso presente, a Cidade Invisível, por meio de convênio com o Hospital Azul, presta atendimentos aos portadores de doenças psiquiátricas naquele hospital, na grande maioria dos casos, sendo este reconhecido pelos bons serviços prestados.

No entanto, como acima mencionado existe uma dificuldade na obtenção de vagas, notadamente, porque a interessada não se encontra em situação de crise.

Assim, percebe-se que o nosso ordenamento jurídico, seja para proteção específica da própria interessada, ou para a preservação da ordem pública, autoriza a internação de pessoas como a interessada que fazem uso abusivo e constante de drogas, colocando em risco a sua segurança, a de seus familiares e a ordem pública.

4- Do dever do Poder Público prestar atendimento

A Constituição Federal, em seu artigo 1º, inciso III, indica que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana.

Sendo a saúde um direito social (artigo 6º da Carta de Outubro), deve a dignidade da pessoa humana ser concretizada em ações positivas por parte do ente público.

Tal ideia deve ser extraída dos citados dispositivos e também do artigo 196 da Carta Magna, que indica o seguinte:

“Art. 196. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (grifos nossos).

Assim, percebe-se que o Estado não pode ficar alheio às necessidades cotidianas dos munícipes, principalmente no que tange à saúde. Considerando que os familiares da interessada não têm condições de custear o tratamento dela, é necessário que o município efetue a sua internação e mantenha o devido tratamento.

Tal conclusão é obtida pela análise dos dispositivos legais existentes e também pelas jurisprudências a seguir delineadas:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. INTERNAÇÃO HOSPITALAR COMPULSÓRIA DE DOENTE MENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PESSOA INTERDITADA, CARENTE DE RECURSOS FINANCEIROS, INDICAÇÃO MÉDICA DE TRATAMENTO HOSPITALAR EM UNIDADE PSIQUIÁTRICA, PREVALÊNCIA DO DIREITO CONSTITUCIONAL À VIDA E À SAÚDE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES DE DIREITO PÚBLICO NA EFETIVAÇÃO DE PRESTAÇÕES POSITIVAS NA ÁREA DA SAÚDE PÚBLICA. INTERNAÇÃO PELO SUS. NA AUSÊNCIA DE VAGA JUNTO À REDE PÚBLICA IMPÕE-SE O CUSTEIO DE LEITO NA REDE HOSPITALAR PRIVADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DE AÇÃO A MERECER INTEGRAL CONFIRMAÇÃO. APELAÇÃO DESPROVIDA POR MAIORIA. (Apelação Cível, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS)”. (grifo nosso)

5- Da presença dos requisitos para a concessão da antecipação da tutela

O deferimento de antecipação dos efeitos da tutela por meio de medida liminar depende da observância de seus pressupostos, quais sejam a verossimilhança

dos fatos narrados (“fumus boni iuris”) e o fundado receio de lesão ao direito (“periculum in mora”).

A verossimilhança dos fatos narrados é obtida através dos documentos anexados a esta Petição, verificando-se que a interessada apresenta recusa em tomar a medicação necessária de forma voluntária para melhora do seu quadro atual, além de causar inquietações e preocupações para seus familiares.

Ainda, o fundado receio de lesão ao direito é constatado pelas declarações da interessada e de sua filha aqui anexadas, demonstrando-se que as mesmas estão preocupadas com a situação da interessada.

Por fim, é necessária sua internação para que a mesma possa obter o urgente tratamento adequado, para que assim possa sua saúde ser preservada, recebendo o devido tratamento médico.

Assim, além de se evitar dano à interessada e aos familiares, o deferimento da medida liminar para sua internação psiquiátrica compulsória fará com que seja iniciado imediatamente seu tratamento, fazendo com que sua recuperação seja feita do modo mais rápido possível, com o objetivo de torná-la novamente preparada para o convívio social de modo sadio.

Justifica-se a concessão de medida liminar para impor ao réu o cumprimento da obrigação de fazer consistentes na internação imediata da interessada junto ao Hospital Psiquiátrico Azul – Setor de Dependentes Químicos para que se evitem danos maiores a sua saúde, concretizando-se o mandamento constitucional no presente caso.

Acaso não seja este o entendimento de V. Excelência que seja designada com urgência audiência de justificação para oitiva da interessada e de sua filha, que se encontram presentes neste Fórum, no ato da distribuição.

6- Os pedidos

Diante do exposto, o Ministério Público requer:

a) O recebimento desta petição inicial, determinando-se o processamento da presente ação, de acordo com o estabelecido. Ante a gravidade dos motivos retromencionados e as provas constantes dos documentos anexados, que permitem o convencimento da verossimilhança das alegações e demonstram a existência de fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação, seja concedida a tutela antecipada, com fulcro no artigo 273, inciso I, do Código de Processo Civil, determinando-se à requerida a imediata internação provisória da interessada, sob pena de multa diária de R$10.000,00. Para tanto, expeça-se mandado, o qual deverá ser de pronto encaminhado ao Hospital Psiquiátrico mencionado para a internação psiquiátrica compulsória. Deve ser autorizada força policial, se necessário (grifos nossos);

b) Para a efetividade da medida, que seja oficiado ao SAMU para a imediata remoção da interessada, que se encontra nas dependências deste Fórum;

c) Seja tal Hospital cientificado de que não poderá conceder altar e desinternar a interessada sem prévia autorização judicial e o competente laudo psiquiátrico causulado autorizado por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina – CRM do Estado onde se localize o estabelecimento, cumprindo-se em sua totalidade o artigo 8º, parágrafo 1º da Lei 10216/01 (grifos nossos);

d) Seja a interessada submetida à avaliação clínica e eventual tratamento em relação a outros males de que padece a interessada, ainda que em outro estabelecimento hospitalar da rede pública; e) Quando da alta médica, que seja disponibilizado pela requerida tratamento ambulatorial para

cuidados complementares quanto a todas as doenças de que padece a interessada, sendo acompanhada por psicólogo, assistente social e terapeuta;

f) A citação do município autorizando-se o cumprimento do mandado nos termos do artigo 172, parágrafo 2º, do mesmo Código, para, se desejar, oferecer contestação, sob pena de revelia; g) Determine a condenação do requerido ao pagamento de custas e despesas processuais;

h) Sejam as intimações do representante do Ministério Público, que patrocina a presente ação, realizadas pessoalmente, mediante entrega e vista dos autos, mediante carga, ao Promotor de Justiça da Cidade Invisível.

i) Desde já, a produção de provas do alegado, pelos meios previstos ou não vedados pelo ordenamento jurídico pátrio e pela realização da perícia, consistente no exame do estado mental da interessada com especialidade em psiquiatria (grifos nossos);

j) Seja, ao final, julgado procedente o pedido, com a consequente decretação da internação psiquiátrica compulsória da interessada, da forma e pelo tempo que vier a ser indicado por perícia, e na forma aqui requerida, para plena dela, para proteção do princípio da dignidade da pessoa humana;

k) Requer, por derradeiro, a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e quaisquer outros encargos, desde logo, esclarecendo, desde já, que o Ministério Público não faz jus a honorários advocatícios, nem se lhe imporá sucumbência;

Dá-se o presente, para fins fiscais, o valor de R$ 100,00 (cem reais);

Cidade Invisível, verão de 2012.

PROMOTORA DE JUSTIÇA DA CIDADE INVISÍVEL

Anexos da Ação

DECLARAÇÃO UM

Nº 000.0000.0000000/2011-6

Compareceu perante esta Promotoria de Justiça JANAINA FERRAZ, solteira, corretora de imóveis, portadora de registro geral civil, residente na Cidade Invisível, que declarou o seguinte: sou filha de Ana C. e Matheus Ferraz, meus pais estão separados há aproximadamente dez anos; tenho uma irmã mais nova que reside comigo; minha mãe também tem outra filha, fruto do primeiro casamento com a qual não tenho contato. Meu pai reside no mesmo prédio que eu e minha irmã, porém em outro apartamento. Sua nova família é composta de esposa e dois filhos. Há oito anos minha mãe é usuária de drogas; iniciou com a cocaína e atualmente é usuária de crack. Além disso, fazia uso de medicamentos controlados tais como antidepressivo e outros. Ela já esteve internada no Hospital Azul diversas vezes, especificamente no setor que cuida de dependentes de drogas. Na sexta-feira passada, estava trafegando próximo à rodoviária, quando então avistei minha mãe em um ponto de ônibus; parei o carro e fui falar com ela; minha mãe estava muito magra, suja, sem dentes, com o cabelo curto e grisalho, ou seja, apresentando péssima aparência “em pele e osso”; sua condição pessoal denota que se nenhuma providência for adotada, certamente virá a óbito em breve; eu prestei auxílio fornecendo-lhe R$ 50,00 e recomendei que ela procurasse um hotel para tomar um banho e se alimentar; não a coloquei em meu carro e tão pouco a levei para minha casa em razão de um trauma ocorrido no começo deste ano, quando então a minha mãe estava na minha casa e tentou se suicidar com uma faca. Os pais da minha mãe, ou seja, meus avós são idosos e não têm condições de auxiliar, ambos residem na Cidade Invisível, sendo que não os visito há seis anos. Meus tios no início prestaram ajuda, porém minha mãe voltou para as drogas e eles desistiram de ajudá-la[...].

Cidade Invisível, primavera de 2011.

DECLARAÇÃO DOIS Nº 37.0713.0000078/2012-3

Compareceu perante esta Promotoria de Justiça, ANA FERRAZ, moradora de rua, separada judicialmente, nascida aos 14/04/1965, filha de José C. e Maria C., acompanhada de sua filha caçula, nesta data, informando que tem depressão há muitos anos e que foi internada em Hospitais Psiquiátricos Privados várias vezes por causa da depressão. Há aproximadamente 12 anos começou a usar maconha, há 10 anos iniciou uso de cocaína e há 3 meses crack. Que nunca bebeu. Que tentou fazer acompanhamento no CAPS AD, mas lá o tratamento era participar de grupos de culinária, corte e costura pintura, etc. Que nunca aderiu ao tratamento, pois tinha muita depressão e nunca foi prescrito remédio para sua depressão. Que vive na rua há aproximadamente seis anos e por este motivo não tem nenhum documento. Que há 10 anos não tem residência fixa, pois nesse período esteve internada diversas vezes, pois sua família arcava com as despesas e em outras ocasiões morava em pensão. Que o tempo máximo que permaneceu internada foi oito meses. Que quando saia das internações não tinha um suporte, pois é separada e o ex-marido constituiu outra família, as filhas têm respectivamente 28, 24 e 21 anos de idade, sendo que a filha de 28 anos reside em outra cidade, é casada e tem 3 filhos. As filhas de 24 e 21 anos moram de aluguel e ambas trabalham como Consultoras de Vendas. A filha mais nova diz que infelizmente todas as vezes que a genitora foi internada, ela permaneceu pouco tempo e com isso não se recuperou totalmente e quando saia voltava a usar drogas na primeira ocasião que tinha qualquer dinheiro na mão. A declarante manifesta o desejo de se internar no Hospital Azul, pois “se tratar não vai mais ficar na rua suja, não vai fazer as filhas sofrerem”. Pela filha foi dito que a genitora se recuperando irão assumir a mãe e acolhê- la na sua residência. Nada mais havendo, dá-se por encerrado o presente termo, que segue assinado por todos os presentes como expressão da verdade.

Cidade Invisível, verão de 2012.

O mandado

O (A) MM. Juiz (a) de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública da Cidade Invisível na forma da lei,

MANDA a qualquer Oficial de Justiça de sua jurisdição que, em cumprimento ao presente, expedido nos autos da ação,

DIRIJA-SE AO HOSPITAL AZUL

NOTIFIQUE-SE, nos termos a seguir transcritos e das cópias que seguem:

“O relatório de atendimento juntado à inicial deixa claro que a paciente já foi submetida a tratamento ambulatorial, o qual não obteve resultado satisfatório. A internação é da vontade da paciente e de seus familiares. Não obstante a ausência de laudo médico atestando a necessidade da internação, a medida deve ser deferida, dada a situação de manifesta urgência, sem prejuízo de posterior reapreciação, após a vinda de maiores elementos de prova. Isto posto, defiro a liminar, nos termos requeridos nos itens “b”, “c” e “d”. Providencie-se contato telefônico com SAMU, para a imediata remoção ao Hospital Azul, que deverá ser notificado da presente decisão por mandado. Intime-se do teor da presente decisão, bem como cite-se para contestar no prazo legal”

CUMPRA-SE, NA FORMA E SOB AS PENAS DA LEI.

Cidade Invisível, 11 de janeiro de 2012.

Relatório Um

Cidade Invisível, outono de 2012.

Ação Cívil Pública

Exmo. Sr. Dr. Promotor de Justiça

Ana C. Ferraz, filha de João C. e Maria C., veio encaminhada para internação judicial no verão de 2012, devido ao uso de SPA (Substâncias Psicoativas) e por estar se colocando em