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III. Objecto de estudo e metodologia

3.5. Fase Intensiva

3.5.5. Processos de análise dos dados

a)

Procedimentos na transcrição das entrevistas

As entrevistas gravadas em áudio, após a sua realização foram sendo transcritas e organizadas em ficheiros informáticos Word (anexo 12). Para o efeito foram definidos os seguintes critérios:

- Em todas as entrevistas a totalidade do seu conteúdo foi transcrito;

- Nas situações de pausas mais significativas foi feito registo de tal facto, através de notação própria (…);

- Nas situações de comportamentos e reacções não verbais dos entrevistados, foi feita menção de tal facto (ex: risos);

- Em todas as entrevistas procurou-se expurgar todas as referências a locais e/ou situações que contribuíssem de forma muito objectiva para a sua plena identificação pessoal. Com tal procedimento pretendemos salvaguardar a confidencialidade dos sujeitos entrevistados.

b)

Validação do sistema de análise de dados das entrevistas

Com a finalidade de avaliar da fidelidade e validade do sistema de categorias elaborado para análise da informação constante das 8 entrevistas de narrativas de vida, foram adoptados os seguintes procedimentos:

- Leitura “massiva” da totalidade das entrevistas realizadas;

- Confronto das questões objecto de estudo com as emergentes das respostas dos professores entrevistados;

- Sistematização de um conjunto de categorias (anexo 11);

- Aplicação desse sistema de categorias a partes de cada uma das 8 entrevistas, seleccionadas da forma seguinte: na entrevista da Margarida foi escolhida a página 2, na do Faustino a 4, na do Miguel a 6, e assim sucessivamente, alternando de duas em duas páginas. Este procedimento está associado à análise da nossa fiabilidade na utilização do sistema de categorias.

Foram realizadas provas de verificação da estabilidade no sistema de categorias utilizado para análise de conteúdo das narrativas dos professores. Face aos resultados obtidos e em função de o acordo se situar, para todas as questões, em valores superiores a 85%, consideraram-se garantidos os limites mínimos de estabilidade na utilização do sistema de categorias para o presente estudo.

c)

Categorias de análise de conteúdo das entrevistas

De acordo com a natureza dos dados, desenvolvemos uma abordagem qualitativa, centrada na análise de conteúdo (Bardin, 1977) e tematicamente baseada na análise categorial (Quivy e Campenhoudt, 1992) que consiste em calcular e comparar as frequências de certas características (na maior parte das vezes, os temas evocados) previamente agrupados em categorias significativas (idem, 1992:226). Face à dimensão da informação contida nas narrativas dos professores, foi necessário organizar a forma de sistematizar toda essa informação, com base no rigor e fidelidade. Para o efeito, foi estruturado, testado e validado um sistema de categorias, decorrente dos objectivos do nosso estudo e das percepções globais que as leituras das narrativas nos tinham colocado. Em paralelo, os resultados da fase extensiva do nosso estudo não deixou de influenciar as nossas decisões de organização dos dados. Foi assim que surgiu o Sistema de Categorias para Análise de Conteúdo das Narrativas dos Professores do 1º CEB (anexo 11), constituído por um conjunto de dimensões e respectivas categorias, como: contexto familiar/infância (três categorias); vivências pessoais da EF (quatro categorias); passado desportivo (três categorias); formação profissional (cinco categorias); condições da prática da EF (quatro categorias); práticas de ensino- aprendizagem da EF no 1º CEB (quatro categorias); evolução de competências profissionais (três categorias); fontes de conhecimento específico da EF (seis categorias); currículo da EF no 1º CEB (três categorias) e crenças/representações das finalidades da EF no 1º CEB (três categorias). A utilização deste sistema de categorias permitiu-nos organizar os dados e reflectir sobre eles de outra forma. Conseguimos assim desmontar os discursos constituintes das narrativas de vida, produzindo um novo discurso através de um processo de localização-atribuição de traços de significação, resultado de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso a analisar e as condições de produção da análise (Vala, 1986:104).

d)

Procedimentos de análise de conteúdo das entrevistas

Com o objectivo de obter uma análise mais rigorosa e objectiva das narrativas de vida, foi utilizado o programa informático Nu*dist QSRN6 System Data, que nos permitiu organizar em dimensões e categorias as unidades de texto integrantes de cada narrativa (anexos 13, 14 e 15), efectuando a transposição da informação qualitativa para um formato quantitativo (Afonso, 2005:112). Assim, com o auxílio do Nu*dist V.6.0, realizámos os seguintes procedimentos na análise de conteúdo (Bardin, 1977) dos dados:

- Introdução no programa em ficheiros TXT de cada narrativa de vida;

- Realização de cruzamento de variáveis a partir das dependentes, sexo, experiência profissional e maior ou menor vinculação à abordagem da EF;

- Quantificação do total de unidades de texto integrantes das narrativas;

- Quantificação das unidades de texto classificadas em cada dimensão do sistema de análise de conteúdo;

- Quantificação das unidades de texto classificadas em cada categoria do sistema de análise de conteúdo;

- Elaboração de quadros comparativos de quantificação das unidades de texto decorrentes de cada uma das narrativas de vida;

- Elaboração de quadros de descritores, associando e ilustrando o conteúdo das unidades de texto no contexto do discurso de cada uma das narrativas de vida (anexo 16).

3.5.6. Vantagens e limitações

A entrevista consiste numa conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas (Morgan, 1988). Contém a possibilidade de recolher não só dados, mas também informação acerca da contextualização desses mesmos dados. Por outro lado, na entrevista o sujeito está perante um muito maior grau de exposição, que pode ajudar à narração de factos e situações a que de outra forma não poderíamos aceder. A entrevista pelo seu carácter de relação pessoal directa, faz emergir naturalmente informação relevante. Ela consiste numa forma de recolha de dados que é condicionada pela forma como o seu sujeito se expõe e reflecte acerca dos factos, no nosso caso de natureza pessoal e profissional. No entanto importa aqui ressalvar que a grande vantagem da entrevista é a sua adaptabilidade (Bell, 1997:118), muitas vezes a partir da sua reorientação pelo investigador. O risco de as informações recolhidas representarem visões muito particulares, correspondem a possibilidades que devem ser pesados e confrontadas com outras fontes de pesquisa. Como caracteriza Bertaux (1997), naquilo que chama ideologia autobiográfica, há a hipótese de o entrevistado ser tentado, sem disso estar consciente,

a rearranjar a sua própria existência, no momento de descrever e reflectir sobre o filme da sua vida, correndo o risco de reordenar as suas sequências. Mas, o mais importante, é o nível das narrativas de vida, entendidas como vida vivida (Poirier et al. 1999), envolvendo factos reais e agidos, os costumes e hábitos, a ética social no sentido mais amplo, numa clara penetração para lá das dimensões formais da vida pessoal e profissional dos entrevistados.