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6 ASSISTÊNCIA EM PLANEJAMENTO FAMILIAR E OFERTA DO DIU NA

6.2 Oferta do DIU: apresentação e análise dos resultados

6.2.5 Processos de divulgação e informação

Borges et al. (2021) e Barreto et al. (2021) apontam a falta de informação sobre o DIU pelas mulheres como uma barreira ao acesso, tendo em vista a verificação de estigmas a respeito da segurança e eficácia do método.

Nesse sentido, os entrevistados foram questionados se já receberam algum material educativo impresso voltado para os métodos contraceptivos e/ou particularmente para o DIU. Houve grande variabilidade de respostas entre os profissionais, desde alegações como de nunca ter visto até a visualização de material posto na parede. Contudo, a maior parte das respostas diziam já ter visto algum tipo de material de forma vaga, dando indícios de se tratar de eventos pontuais passados e sem usabilidade no momento presente.

Quando começou a colocar o DIU, eles mandaram.. orientando o que era o DIU, tinha até uma parte que a gente entregava pra paciente….

tem cerca de uns 2 anos. (E4)

Com certeza já vi, mas agora não vou lembrar de te falar especificamente… ou vem do estado ou do Ministério da Saúde…

município não faz esse tipo de material, não tem dinheiro pra isso não..

(E2)

Nunca veio, a gente faz o folhetinho, o termo com as orientações… o próprio DIU vem com o folhetinho de orientações para mulher.. eu mesmo tive a iniciativa de deixar um aqui pra mostrar, as mulheres acham bem interessante. (M1)

Entre as unidades entrevistadas, destaca-se uma que teve a iniciativa da elaboração do material educativo próprio em relação ao DIU, na qual apresenta informações desmistificando alguns mitos relacionados ao método (APÊNDICE E).

Nesse contexto, a despeito da responsabilidade atribuída à própria unidade, Souza, Morais e Oliveira (2015) chamam atenção para a eficácia na elaboração de materiais educativos próprios na potencialização da promoção à saúde, tendo em vista que estes possuem linguagem e abordagem compatível com a do público atendido, o que acaba convergindo com as orientações ministeriais de orientação educativa em planejamento familiar com linguagem simples, acessível e precisa (BRASIL, 2002).

Entretanto, conforme apontam Souza, Morais e Oliveira (2015), isoladamente, os materiais educativos impressos pouco contribuem para aprendizagem significativa, sendo necessário aliá-los a um processo comunicativo horizontal entre profissionais e usuários, em que se utilize metodologias diversificadas e criativas. Nessa seara, pode-se mencionar os grupos educativos de planejamento familiar. De acordo com o Manual Técnico de Assistência em Planejamento Familiar, a atuação dos profissionais na assistência à anticoncepção envolve atividades educativas, que “devem ser preferencialmente realizadas em grupo, precedendo a primeira consulta, e devem ser sempre reforçadas pela ação educativa individual”

(BRASIL, 2002, p. 11, grifo nosso).

Como visto, houve uma reestruturação do modelo de oferta do DIU no município, sendo verificada a presença de grupos educativos de planejamento familiar centralizados na Policlínica no modelo anterior e ausência desses grupos no modelo atual. Nesse sentido, os profissionais entrevistados emitiram suas opiniões com relação à existência de tais grupos. A menor parte dos profissionais apontaram que a

orientação individual é mais eficaz do que a em grupo, mas vale salientar que o pressuposto é de que estas orientações aconteçam de forma complementar.

Nesse sentido, ressalta-se que a maioria dos profissionais consideraram importante a realização dos grupos, tendo em vista a observação de que algumas mulheres expressam o desejo de colocar o DIU, realizam o procedimento e depois alegam desconhecer determinado efeito que o dispositivo poderia surtir, como o aumento de cólicas e/ou fluxo menstrual, situação que poderia ser evitada com melhor orientação. Além disso, foram citados casos de desistência do procedimento mediante justificativas infundadas, como a de querer engravidar a médio prazo, que, por sua vez, não se trata de um impeditivo.

Eu já tive casos de mulheres que colocaram DIU por exemplo em outra cidade e queriam tirar, porque ‘ah eu não sabia que meu fluxo aumentava’... ‘ah eu não sabia que doía’... Eu acho que é válido sim, até por conhecimento e pra mulher saber sobre o método que ela está usando.. (E6)

Eu acho interessante porque tem muita mulher que acha que aquilo é uma pílula mágica também, né.. coloca o negócio e pronto.. muita gente que não tem noção que tem que trocar de tempos em tempos, que pode ter efeito colateral, que pode ter cólica.. então acho válido.

Pelo menos pra pessoa entender o que ela vai fazer com o corpo dela, né. (E2)

Pra ver se elas querem mesmo… dá pra passar uma peneira até...

porque tem gente que fala que quer e não sabe nem o que que é, né.

Tanto é que depois sai a vaga, aí a pessoa fala assim ‘Ah, eu não quero mais… eu quero ter filho daqui três anos’ e desiste.. mas não impede de ter filho daqui três anos. Acontece da gente marcar e elas desistirem na hora do vamo vê, sabe? (E8)

Além disso, os profissionais que apontaram a importância dos grupos, também alegaram viabilidade da realização na própria unidade e a vantagem em relação à realização na Policlínica, que diz respeito ao próprio conhecimento de um assunto que eles já lidam diariamente, vínculo com a população adstrita e maior acessibilidade da usuária à unidade.

Acho que esse grupo podia ser feito na unidade, né.. A gente orientava a mulher de todos os métodos.. as vantagens e desvantagens do DIU..

pra ela ter certeza que ela escolheu certo… (E4)

Com certeza acho que deveria existir, se não na Policlínica aqui na unidade mesmo.. vejo viabilidade sim... coordenados por enfermeiros ou mesmo pelos ACS...(E3)

Eu acho que deveria ser nas unidades de saúde e não na Policlínica..

(E1)

Elas têm mais confiança na gente, a gente já tem vínculo… (E8) Porque a estratégia de planejamento familiar é uma atribuição da unidade básica de saúde... na unidade básica de saúde deveria ter esse cuidado de selecionar, orientar para aquelas que vão ali com esse interesse, ofertando todos os métodos, explicando sobre todos os métodos... só depois que ela fez a opção pela colocação do DIU, aí sim deveria ser encaminhada. (M4)

Apesar da clara tendência de valorização dos grupos educativos de planejamento familiar pelos profissionais de saúde, houve alguns apontamentos da conjuntura que se apresentam como possíveis dificultadores da viabilização dos grupos a curto prazo. Além do pouco espaço físico disponível já mencionado, entre os apontamentos estão a pandemia e a gestão municipal.

A pandemia é um dificultador devido ao fato de que prejudicou diversos indicadores de saúde, principalmente relacionados à vacinação, que estão sendo tratados como prioridade no momento, com a continuidade da suspensão de alguns grupos educativos em saúde que já existiam nas unidades.

Ainda mais depois da pandemia, a gente já tem tanta coisa pra resolver… [...] tem hora que você tem que focar no que tá urgente.

(E2)

Descentralizou e aí pouco tempo depois veio a pandemia, né.. isso prejudicou muito a questão de tá fazendo o trabalho em grupo… mas nós pretendemos fazer um grupo sobre planejamento familiar. (E6)

Além disso, foi apontado que, comparativamente às gestões anteriores, a gestão municipal atual sobrevaloriza indicadores de saúde quantitativos ante qualitativos, a exemplo do aumento da oferta de vagas em consultas com a diminuição do tempo de atendimento, característica que demonstra a baixa perspectiva de incentivo à promoção de práticas preventivas de saúde. Tal fato vai de encontro com a própria proposta de atuação da ESF com medidas preventivas e educativas de saúde.

Por fim, pode-se dizer que o aspecto relativo aos processos de divulgação e informação se tratam não apenas da veiculação de informações para os usuários, por meio tanto de material educativo quanto de grupo educativo de planejamento familiar, mas também entre os profissionais de saúde. Sob tal perspectiva, Gonzaga et al. (2017) apontam como barreiras a não utilização de protocolos para

disponibilização do DIU e a adoção de condições clínicas pelos profissionais de saúde sem respaldo nas evidências científicas.

Nesse contexto, destaca-se como ponto positivo a existência de um Protocolo Municipal de Planejamento Reprodutivo (2020) – com fluxogramas de encaminhamento, critérios de elegibilidade, ações no tratamento de problemas clínicos na contracepção, entre outros –, que, por sua vez, é de conhecimento e adesão dos profissionais de saúde entrevistados. O Protocolo usa como referência o Manual Técnico do Ministério da Saúde (2018) e os Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde (2013), não utilizando, pois, condições clínicas de elegibilidade sem comprovação científica.

Com exceção de um profissional entrevistado, os demais profissionais possuem uma percepção positiva em relação à segurança e eficácia do DIU e ao processo de descentralização da inserção, demonstrando também a não adoção de critérios clínicos sem comprovação científica, na contramão do nó crítico identificado no estudo de Gonzaga et al. (2017). Para além dos conhecimentos pessoais e profissionais, a percepção positiva em relação ao método pode ter sido influenciada pela própria existência de um Protocolo Municipal bem referenciado.

Com relação ao DIU, que geralmente as mulheres escolhem também por não ser hormonal e ter uma eficácia tão boa quanto os outros métodos, né.. deveria ter uma oferta mais acessível às mulheres. (E3)

Eu acho que a oferta do DIU tinha que aumentar, porque é um método muito bom… e a gente viu, quando a unidade começou a oferecer, a procura grande que foi... muitas mulheres vem procurando, têm o desejo de colocar.. (E4)

Existem outras formas mais simples, mais baratas e até mais seguras, né? Preservativo, por exemplo, é a mais simples e segura de todas..

(E2)