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3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

4.4 Procedimentos de coleta de dados

4.4.4 Produção D: Textos livres

O que aqui é denominado de Textos Livres, já referenciado anteriormente, foram produzidos pelos alunos em casa ou em momentos de ateliês de trabalho na sala de aula. São textos sem orientação quanto à sua forma e conteúdo. Faz parte de um conjunto de práticas, instrumentos e técnicas voltadas a contemplar os quatro eixos principais da Pedagogia Freinet, a saber: cooperação, livre-expressão, trabalho e autonomia.

Célestin Freinet, educador francês do século XX, desenvolveu uma prática marcadamente política e de resistência à pedagogia tradicional. No final do livro “Para uma escola do povo” (2001), Freinet faz uma lista de atividades e práticas a serem incorporadas pelos professores que desejam transformar sua prática, e o texto livre aparece nas primeiras posições.

A fim de estimular a produção destes textos, a escola disponibilizou um caderninho para cada aluno, para as várias turmas que trabalhavam com este instrumento da Pedagogia Freinet. Os textos livres produzidos eram lidos nas “rodas de leitura”, que ocorriam semanalmente, junto com outras turmas da EMEF.

Por fazerem parte das estratégias de trabalho em sala, diferentemente das outras produções, não se constituíram momentos pontuais de coleta. Os alunos, a princípio, não sabiam que seus textos seriam utilizados na pesquisa. Apenas no final do

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ano, foram solicitados os cadernos a eles, explicando os motivos.

A escolha pelo Texto Livre, como material potencial para coleta de dados é decorrente de que o mesmo é um tipo de material que, de certa forma, tem um "menor controle racional do sujeito" sobre a resposta, já que não há nenhum comando acerca da forma ou do conteúdo dessas produções. Sabemos, após levantamento bibliográfico, que outros estudiosos utilizam-se de técnicas não diretivas para obtenção de dados. Souza Filho (1993, p. 115), em seu artigo expositivo acerca dos vários métodos de análise de uma pesquisa centrada na abordagem da TRS, relata: “

[...] um estudo de R. S. da doença mental na Itália, que operou com desenhos livres, pôde detectar conteúdos latentes não revelados por levantamentos feitos com escalas de atitudes convencionais, nos quais é maior o controle racional do sujeito sobre suas respostas.

Dentre o conjunto de textos dos caderninhos de Textos Livres dos alunos, feitos ao longo do ano, os quais abordaram temas variados, foram selecionados para análise somente os que versam sobre o nosso objeto de estudo: a escola. Assim, foram escaneados os textos selecionados, a fim de devolver o caderninho aos seus respectivos autores.

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5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS

[...] os indivíduos, em sua vida cotidiana, não são apenas essas máquinas passivas para obedecer a aparelhos, registrar mensagens e reagir às estimulações exteriores, em que os quis transformar uma Psicologia Social sumária, reduzida a recolher opiniões e imagens. Pelo contrário, eles possuem o frescor da imaginação e o desejo de dar um sentido à sociedade e ao universo a que pertencem. (MOSCOVICI, 1978, p. 56, grifo nosso)

A Análise de Conteúdo orientou o tratamento dos dados, definida por Bardin (2011, p. 37) como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações.” Sua utilidade em pesquisas, na área da Educação, é expressa por Oliveira et al. (2003, p. 5):

[...] a análise de conteúdo é também uma das técnicas mais utilizadas, ajudando o pesquisador, [...] a identificar a significação do texto que está se analisando. Na área de educação a análise de conteúdo pode ser sem dúvida um instrumento de grande utilidade em estudos, em que os dados coletados sejam resultados de entrevistas (diretivas ou não), questionários abertos, discursos ou documentos oficiais, textos literários, artigos de jornais, emissões de rádio e de televisão. Ela ajuda o educador a retirar do texto escrito seu conteúdo manifesto ou latente.

Inúmeros trabalhos sobre representações sociais, inclusive muitos deles referenciados neste estudo, utilizam-se desta forma de análise. As fases da análise de conteúdo compreendem: a pré-análise, a exploração do material e, por fim, o tratamento dos resultados - a inferência e a interpretação. (BARDIN, 2011).

A pré-análise “é a fase de organização propriamente dita.” (BARDIN, 2011, 123). Este momento compreende uma leitura flutuante do material e possui três missões: “a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final.” (BARDIN, 2011, 123).

A exploração do material é definida como a “aplicação sistemática das decisões tomadas.” (BARDIN, 2011, p.131), é a atividade da análise, propriamente dita. Compreende a codificação, que, segundo Bardin (2011, p. 133) “[...] corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma

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representação do conteúdo ou da sua expressão; [...]”

É nesta fase que se opera a escolha das unidades de registro, que auxiliam nos recortes do texto e na categorização do material. Bardin (2011, p. 134) salienta que a unidade de registro “É a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerado unidade de base, visando a categorização e contagem frequencial. [...] pode ser de natureza e de dimensões muito variáveis.”

As unidades de registro mais utilizadas são a palavra, o tema, o acontecimento, dentre outras. Neste estudo, utilizou-se o tema como unidade de registro. Segundo a autora, “fazer uma análise temática consiste em descobrir os “núcleos de sentido” que compõe a comunicação, e cuja presença, ou frequência de aparição, podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.” (BARDIN, 2011, p. 135).

Desenvolvida esta parte, procede-se à fase do tratamento dos resultados obtidos, inferências e interpretação.

Souza Filho (1993, p.111), no capítulo intitulado “Análise de Representações Sociais”, apresenta "procedimentos e posturas técnico-metodológicas comumente adotadas por estudiosos de Representações Sociais em suas investigações empíricas." Embora ressalte que há uma grande variedade de métodos e técnicas empregadas, ele salienta algumas delas, a saber: observação, coleta de dados, análise de conteúdo, análise de discurso e tratamento quantitativo. O pesquisador pode lançar mão desses procedimentos a fim de descrever e explicar o fenômeno a que se propõe.

É importante reiterar o caráter histórico e contingencial deste estudo. Moscovici (1978), expondo os resultados de sua pesquisa sobre as representações da psicanálise na sociedade parisiense, já advertia que certas respostas são características de certas gerações, dentro de certas classes sociais. Devido ao uso de análise qualitativa e quantitativa em seu estudo, é possível observar, entre as amostras consultadas, a porcentagem de resposta de cada um dos itens por ele formulados.

Neste estudo, mesmo não fazendo um estudo comparativo, é possível, através do levantamento bibliográfico, perceber que estudos semelhantes, dirigidos a outros grupos, em espaços e tempos diferentes do que nos propusemos, trazem outras possibilidades de respostas. Assim, estudos com objetivos semelhantes aos nossos, mas realizados em escolas particulares, tal como propõe Machado e Barra Nova (2010)

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ou com alunos mais velhos, já no fim da escolaridade básica, como proposto na pesquisa de Franco e Novaes (2001), trazem outras respostas, bem como outros elementos para o debate acerca da instituição escolar.