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CAPÍTULO 1 PRODUÇÃO DE SEMENTES

8. PRODUÇÃO DE SEMENTES DE SOJA

No campo, as sementes estão sujeitas a diversos fatores, que poderão prejudicar seriamente a qualidade. Tais fatores abarcam extremos de temperatura durante a maturação, flutuações da umidade ambiental, incluindo secas, deficiências na nutrição das plantas, presença de insetos, além de adoção de técnicas inadequadas de colheita. Diversos patógenos de campo podem também afetar a qualidade das sementes de soja. Phomopsis sp, Colletotrichum truncatum, causador de antracnose, Cercospora kikuchii, causador da mancha púrpura e Fusarium spp. São alguns dos patógenos mais freqüentemente associados com as sementes de soja.

Existe um ditado popular de amplo conhecimento nos meios sementeiros, que deve ser recordado porque sempre terá validade: “a semente é feita no campo”. Isto significa que a qualidade das sementes é estabelecida durante a etapa de produção no campo, sendo que as demais etapas, como por exemplo a secagem, o processamento e o armazenamento, poderão somente manter a qualidade. A seguir, serão abordados os principais fatores que podem afetar a qualidade das sementes de soja no campo e as possíveis alternativas que podem ser adotadas para superar tais limitações.

8.1. Deterioração no campo

A deterioração no campo, também conhecida como deterioração por umidade, é a fase do processo de deterioração que ocorre depois do ponto de maturação fisiológica, e antes que as sementes sejam colhidas. É um dos fatores que mais afeta a qualidade das sementes de soja, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais.

As sementes de soja, normalmente, têm no ponto de maturação fisiológica a mais alta viabilidade e o máximo vigor. O intervalo entre a maturação fisiológica e a colheita, que normalmente é de duas semanas, é caracterizado como um período de armazenamento e, raramente, as condições climáticas no campo são

favoráveis para a conservação da qualidade das sementes, especialmente em regiões tropicaies. A exposição de sementes de soja a ciclos alternados de alta e baixa umidade antes da colheita, devido à ocorrência de chuvas freqüentes, ou às flutuações diárias de umidade relativa do ar, resultam na deterioração por umidade. Esta será todavia mais intensa se tais condições estiverem associadas com temperaturas elevadas, comuns em regiões tropicais. A presença de rugas nos cotilédones, na região oposta ao hilo, é um sintoma típico da deterioração por umidade.

Além das conseqüências diretas na qualidade das sementes, a deterioração por umidade pode resultar em um índice maior de danos mecânicos na colheita, já que as sementes deterioradas são extremamente vulneráveis aos impactos mecânicos. A deterioração a campo pode ser intensificada pela interação com alguns fungos, como Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum, que, ao infectar as sementes, podem reduzir o vigor e a germinação. Diversas práticas podem ser utilizadas para minimizar as conseqüências da deterioração da semente no campo, as quais serão abordadas a seguir:

8.2. Momento de colheita

As sementes devem ser colhidas no momento adequado, evitando-se qualquer atraso na colheita. As sementes são normalmente colhidas quando, pela primeira vez, o grau de umidade se encontra abaixo de 18%, durante o processo natural de secagem no campo.

Esta operação requer que o produtor de sementes tenha amplos conhecimentos de regulagem do sistema de trilha, evitando a produção de elevados índices de danos mecânicos. Além disso, deverá estar disponível uma estrutura adequada de secadores, para que o grau de umidade das sementes seja reduzido a níveis adequados, sem que ocorra redução na germinação e vigor. 8.3. Seleção de regiões e épocas mais propícias para produção de sementes

A seleção de áreas mais apropiadas para a produção de sementes de soja de alta qualidade requer estudos de investigação apropriados, especialmente em regiões tropicais. A produção de sementes de alta qualidade requer que as fases de maturação e de colheita ocorram em condições climáticas secas, associadas com temperaturas amenas. Tais condições não são facilmente encontradas em regiões tropicais, porém podem encontrar-se em regiões com altitude superior a 700 m, ou com o ajuste da época de semeadura para a produção de sementes. Para cada 160 m de elevação em altitude, ocorre, em média, uma redução de 1°C

na temperatura. Como regra geral, a maturação e a colheita da semente de soja devem ocorrer mais ou menos a 22°C de temperatura.

Em regiões tropicais e subtropicais, existem diferentes épocas de semeadura para a produção de grãos e para a produção de sementes. Para a produção de grãos, a época de semeadura deve ser ajustada de modo que possa obter-se produtividades máximas. Entretanto, para a produção de sementes, o fator qualidade tem prioridade sobre o fator produtividade. Muitas vezes, altas produtividades são sacrificadas em favor da obtenção de sementes de melhor qualidade. A época de semeadura deve ser ajustada para que a maturação das sementes ocorra em condições de temperaturas amenas associadas com menores índices de precipitação. Se pode selecionar a época de semeadura que propicie menores índices de deterioração por umidade nas sementes, através da comparação do ciclo das cultivares de soja utilizadas, observando-se específicamente a época de ocorrência da maturação e colheita com os padrões de chuvas de uma determinada região.

8.4. Aplicação de fungicidas foliares

No Brasil, a aplicação de fungicidas foliares é recomendada para o controle de algumas enfermidades que aparecem ao final do ciclo (mancha parda, causada por Septoria glycines) e para o controle de oídio, causado por Microsphaera diffusa. Além de permitir o control de tais enfermidades, a utilização de fungicidas foliares, conforme é recomendado, pode propiciar melhores rendimentos e alta qualidade de sementes. Entretanto, se deve mencionar que um dos melhores métodos para o controle de patógenos transmitidos por sementes é o uso de cultivares resistentes. A criação e utilização de cultivares resistentes às principais enfermidades resultará em uma menor necessidade de aplicação de fungicidas foliares, propiciando uma menor poluição ambiental e economia aos produtores de soja.

8.5. Estresse ocasionado por seca e alta temperatura durante o enchimento de grãos

A ocorrência de altas temperaturas associadas com baixa disponibilidade hídrica durante a fase de enchimento de grãos pode resultar em reduções na produtividade como também na germinação e no vigor das sementes. As sementes de soja submetidas a estresse de alta temperatura e seca podem ser pequenas e menos densas, imaturas ou verdes, enrugadas ou deformadas. A intensidade de tais sintomas é dependente do nível de ocorrência dessas

condições, como também da cultivar que está sendo utilizada.

No caso de um curto período de seca, associado com alta temperatura, que ocorra durante a fase do enchimento de grãos, as sementes produzidas serão menores e a redução da germinação nem sempre será constatada, porém, a redução no vigor será evidente. Um estresse severo de altas temperaturas (> 30oC) associado com déficits hídrico coincidindo com a fase de enchimento dos grãos, poderá ocorrer interrupção do desenvolvimento das sementes, o que resultará na produção de sementes mais leves e enrugadas. Lotes com elevadas percentagens de sementes enrugadas não devem ser utilizados para a semeadura, pois sua qualidade já estará comprometida.

8.6. Danos causados por insetos

Outro tipo de dano que vem causando sérios prejuízos à indústria de sementes é o que resulta da incidência de insetos. As espécies mais freqüentemente encontradas no campo são Nezara viridula, Piezodorus guildini y Euschistus heros. Quando os insetos se alimentam das sementes de soja, eles inoculam a levadura Nematospora coryli. A colonização dos tecidos das sementes por essa levadura causa sérias necroses, resultando em perdas de germinação e de vigor. As sementes picadas podem apresentar manchas típicas, podendo ser deformadas e enrugadas.

O controle dos insetos nos campos de produção de sementes deve ser realizado com muita atenção. A presença desse inseto deve ser constantemente monitorada. Os danos causados por tais insetos às sementes de soja são irreversíveis. Nos campos de produção de sementes, caso a incidência seja superior a 0,5%, é recomendável fazer o controle. É normal nos campos de produção de sementes, em regiões tropicais, que se faça mais de uma aplicação de inseticida para controle de inseto.