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CAPÍTULO 4 FINANCIAMENTO E DESCENTRALIZAÇÃO DE RECURSOS DA

4.3 PROGRAMA DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA (PDDE)

Até 2008, o PDDE tinha como objetivo repassar diretamente às escolas públicas do Ensino Fundamental e organizações não governamentais sem fins lucrativos, dinheiro para custeio e manutenção de suas atividades, com recursos oriundos do Salário-Educação, distribuídos pelo FNDE segundo o número de alunos matriculados (PERONI; ADRIÃO, 2007). Com a alteração dada pela Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, o atendimento foi ampliado a todas as escolas públicas de educação básica (BRASIL, 2009). Portanto, o atendimento foi expandido para as escolas de ensino médio e educação infantil.

A organização do Programa ocorre, como já foi mencionado, via FNDE, que disponibiliza os recursos diretamente para as escolas por meio de suas UExs, que devem possuir Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), conta bancária e se constituírem como órgãos deliberativos com poder de compra (PERONI; ADRIÃO, 2007). Outro aspecto relevante do Programa, exclusivo ao PDDE Manutenção Escolar, é que os repasses de verbas levam em consideração as desigualdades regionais, de forma que os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem valores modestamente maiores que os das regiões Sul e Sudeste, bem como do Distrito Federal (DF), conforme tabela que segue:

Tabela 1 - Referencial de cálculo dos valores a serem destinados às Escolas Públicas situadas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, exceto o Distrito Federal

Intervalo de Classe de Número de Alunos por Nível de

Ensino Região N/NE/CO (*) Valor Base (1) (R$) Fator de Correção (2) Valor Total (3) (R$) 21 a 50 600,00 (X – 21) x K 600,00 + (X – 21) x K 51 a 99 1.300,00 (X – 51) x K 1.300,00 + (X – 51) x K 100 a 250 2.700,00 (X – 100) x K 2.700,00 + (X – 100) x K 251 a 500 3.900,00 (X – 251) x K 3.900,00 + (X – 251) x K 501 a 750 6.300,00 (X – 501) x K 6.300,00 + (X – 501) x K 751 a 1.000 8.900,00 (X – 751) x K 8.900,00 + (X – 751) x K 1.001 a 1.500 10.300,00 (X – 1.001) x K 10.300,00 + (X – 1.001) x K 1.501 a 2.000 14.400,00 (X – 1.501) x K 14.400,00 + (X – 1.501) x K Acima de 2.000 19.000,00 (X – 2.001) x K 19.000,00 + (X – 2.001) x K FONTE: <www.fnde.gov.br>. Acesso em 10 de fevereiro de 2012.

(1) Valor Base: parcela mínima a ser destinada à instituição de ensino que apresentar quantidade de alunos matriculados, segundo o censo escolar, igual ao limite inferior de cada Intervalo de Classe de Número de Alunos, no qual o estabelecimento de ensino esteja situado.

(2) Fator de Correção (X – Limite Inferior) x K: resultado da multiplicação da constante K pela diferença entre o número de alunos matriculados na escola e o limite inferior de cada Intervalo de Classe de Número de Alunos, no qual o estabelecimento de ensino esteja situado, representando X o número de alunos da escola, segundo o censo escolar, e K o valor adicional por aluno acima do limite inferior de cada Intervalo de Classe de Número de Alunos.

(3) Valor Total: resultado, em cada intervalo de classe, da soma horizontal do Valor Base mais o Fator de Correção.

A partir de 2008, o Programa é estendido e passa a ter vários outros subprogramas. Atualmente, compõem o PDDE18:

a) PDDE Manutenção Escolar: é a principal e mais antiga verba enviada às escolas via FNDE. Destina-se, sobretudo, à aquisição de material e a pequenos reparos na estrutura física da escola.

b) PDDE PDE-Escola: Segundo Antunes e Padilha (2010), o PDE-Escola é uma ferramenta de gestão de aprendizagem inspirada nos modelos de gestão empresarial. É destinado às escolas públicas de educação básica que não obtiveram uma avaliação satisfatória evidenciada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Para recebimento, a escola preenche um plano de ações financiáveis em que institui metas a serem atingidas e ações a serem realizadas para o atingimento destas metas. Há necessidade de o governo local ter aderido ao plano de metas “Compromisso Todos pela Educação”19.

c) PDDE Educação Integral: modalidade criada em 2008 como forma de dar suporte financeiro às unidades escolares para implementação do Programa Interinstitucional “Mais Educação”, que tem como intuito ampliar o tempo de permanência dos alunos em atividades pedagógicas como a perspectiva de implantação da Educação Integral.

d) PDDE Funcionamento (FEFS): Criado para dar suporte financeiro às unidades educacionais que possuem o Programa Escola Aberta, o PDDE Funcionamento das Escolas nos Finais de Semana tem como intenção favorecer a interação família-

18 Dados disponíveis no sítio do FNDE: <http://www.fnde.gov.br> Acesso em: 10 fev. 2012.

19 O artigo 1º do Decreto nº6094/2007 afirma que “o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação é a conjugação dos esforços da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em regime de colaboração, das famílias e da comunidade, em proveito da melhoria da qualidade da educação básica” (BRASIL, 2007).

comunidade-escola, custeando as atividades oferecidas à comunidade nos finais de semana.

e) PDDE Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI): Criado em 2009, tem como intuito destinar verbas às escolas de ensino médio não profissionalizante para custear as despesas com a reformulação curricular deste nível de ensino. As escolas são selecionadas por seu sistema de ensino através da análise de suas propostas curriculares que devem ter um caráter inovador (BRASIL, 2009).

f) PDDE Água na Escola: criado em 2010, atende um conjunto de escolas que declarou no censo escolar de 2010 a inexistência de abastecimento de água. A verba proveniente do repasse é destinada à aquisição de equipamentos, pagamento de mão de obra, construção de poços e cisternas e outros meios necessários ao abastecimento contínuo de água nas escolas selecionadas (BRASIL, 2011).

g) PDDE Escola Acessível: tem como intuito assegurar a acessibilidade dos alunos

com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação matriculados em classes comuns do ensino regular. O programa objetiva, prioritariamente, atender as demandas de acessibilidade arquitetônica, o que, no entanto, não exclui a aquisição de recursos de tecnologias assistivas.

h) PDDE Escola do Campo: criado em 2011, tem como intuito prestar assistência financeira (para compra de material e pequenos reparos na estrutura física) às escolas localizadas no Campo que atendam alunos das séries iniciais do ensino fundamental em classes multisseriadas.

Para fins de delimitação, a presente pesquisa se propõe a pesquisar escolas que recebam as verbas dos programas PDDE Manutenção Escolar e PDDE Educação Integral, pois além de se configurarem em programas que já atuam há mais de três anos, tiveram um volume considerável de verbas repassadas em 2010, como se pode observar na tabela que segue:

Tabela 2 - Atendimento e valores transferidos em 2010

PDDE Manutenção (pública e privada) PDDE Educação Integral

Escolas Alunos Valores

R$

Escolas Alunos Valores

137.640 41.124.404 697.290.272,59 9.660 5.993.270 373.492.262,65

Fonte: FNDE, 2012, adaptado.

Portela (2006) afirma que o PDDE é um programa inovador, por transferir automaticamente recursos financeiros diretamente às escolas, permitindo maior flexibilidade e rapidez no atendimento de despesas de pequena monta. Portanto, é importante investigar como tem sido efetivado o atendimento dessas despesas e como os estudantes estão sendo consultados, ouvidos e atendidos no que concerne à participação nas deliberações sobre as prioridades da escola. Cabe, também, analisar qual o papel dos alunos na fiscalização e controle da efetiva utilização dos recursos, exercendo sua cidadania.

Adrião e Peroni (2007), entretanto, salientam que a ênfase nos aspectos procedimentais, exigida pela lógica do Programa e reforçada pela preocupação das UExs com a correta prestação de contas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), “tende a privilegiar a dimensão técnico-operacional e secundarizar a dimensão política própria dos processos coletivos de tomada de decisão com graus mais avançados de participação” (p. 261).

Apesar das críticas à forma de organização atual, sabe-se que o repasse de recursos às escolas é inquestionável:

O PDDE, que instituiu a obrigatoriedade para o recebimento de recursos da criação de unidades executoras de direito privado nas escolas públicas, teve início no governo Fernando Henrique Cardoso e não foi modificado no atual governo, mesmo

havendo estudos e um certo movimento para que as escolas continuassem recebendo o recurso público, sem que para isso tivessem de depender do repasse

para a Associação de Pais e Mestres (APM) ou que o conselho escolar tivesse que se tornar de direito privado.(PERONI, 2011, p. 116-117, grifo nosso).

As limitações de ordem burocrática e ideológica que estão por trás do envio de recursos às escolas devem ser questionadas, mas não sob pena de se estancar a participação da comunidade na gestão deles. São necessários transparência e trabalho conjunto para que a escola se torne realmente um lugar de aprendizagem democrática.