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O Programa de Gerenciamento de Mercado – PGM – gestão por resultado e controle

Etapa 4 – Análise dos Dados

5.1 A MUDANÇA ORGANIZACIONAL A PARTIR DO DISCURSO DA ALTA ADMINISTRAÇÃO

5.1.3 O Programa de Gerenciamento de Mercado – PGM – gestão por resultado e controle

A primeira ação que foi implementada pela SEFAZ-BA foi o Programa de Gerenciamento de Mercado – PGM. Definido como uma ferramenta de controle da arrecadação, tinha como principal objetivo fornecer aos gestores nos diversos níveis hierárquicos, a possibilidade de acompanhar o desempenho da arrecadação da unidade sob sua responsabilidade. Até a existência do PGM, não existia um controle efetivo nem sobre os recolhimentos dos tributos, nem sobre quais empresas teriam efetivamente feito o pagamento dos respectivos tributos.

Com a sua implementação os gestores ganham uma ferramenta de controle e acompanhamento da arrecadação, e por outro lado ganham também, a possibilidade de serem gerenciados por seus superiores de forma mais efetiva. Entretanto, independentemente da idéia do controle sobre os gestores, o PGM trouxe para a SEFAZ-BA um instrumento gerencial que até então não existia e que possibilitou aos gestores, principalmente ao secretário e ao governador, uma visão mais exata da arrecadação de tributos, o que favoreceria o planejamento dos gastos em menor tempo.

Nas palavras de um gestor que participou ativamente dos processos de mudança, o PGM “consiste na segmentação dos contribuintes e criação de gerências especializadas por setor econômico, implantando uma nova sistemática tendo como base uma visão global de negócios e um modelo de gestão fundamentado em resultados e meritocracia” (SOUZA, 2002, p. 1). Nesta fala, a figura do PGM remete a temas importantes já mencionados na reforma gerencial, a saber, foco em resultados e meritocracia (PDRAE, 1995). É a primeira ferramenta formal, cujo objetivo é desenvolver, principalmente nos gestores, o valor gestão por resultados.

Associado ao surgimento do PGM, pode-se verificar o aparecimento também de um ritual cujo significado proposto pela organização é também o foco nos resultados. Ela foi denominada de Reunião de Metas. Iniciada em 1995, consistia de uma reunião trimestral, já que as metas de arrecadação também eram definidas trimestralmente, onde os gestores de cada unidade eram convocados pelo secretário da fazenda para prestar contas do desempenho de sua unidade. Além dos resultados da arrecadação de tributos, a Reunião de Metas também servia para a divulgação das ações e planos para a organização.

Observa-se que a publicação do jornal oficial da organização, o SEFAZ NOTÍCIAS no período de 1995 a 2006, ano em que deixou de circular, sempre deu espaço em suas edições para tal reunião, haja vista as notas abaixo indicadas:

Programa SATISFAZ Implementa núcleo voltado para a qualidade de vida. Dentre os programas em implementação, destaca-se o Pro - saúde, que teve início na Reunião de Metas no dia 1º de fevereiro. (SEFAZ NOTÍCIAS, março/abril, 2002) XXVII Reunião de Metas avalia a arrecadação do segundo trimestre. Dirigentes da SEFAZ estiveram reunidos, no dia 26 de julho de 2002, para avaliar a arrecadação do segundo trimestre...(SEFAZ NOTÍCIAS, agosto/setembro, 2002) Neste número, damos também divulgação dos resultados da pesquisa de satisfação apresentada na XXX Reunião de Metas, no início de fevereiro de 2003 (SEFAZ NOTÍCIAS, março/abril, 2003)

Durante a XXXI Reunião de Metas foi apresentado aos dirigentes da SEFAZ o resultado dos indicadores de desempenho estabelecidos para todas as unidades da secretaria no primeiro trimestre de 2003 (SEFAZ NOTÍCIAS, abril/maio, 2003)

Ainda na figura da Reunião de Metas, uma outra questão importante parece estar presente que é a competição entre unidades. Neste sentido, a Reunião de Metas funcionava como um momento em que as unidades tinham seus resultados apresentados e avaliados pelo secretário e sua equipe. Dessa avaliação, as melhores unidades eram premiadas com placas, homenagens e premiações. Percebe-se que a premiação funcionava como uma tentação (FIORIN, 2008) dentro da Reunião de Metas para fazer com que os indivíduos, e principalmente os gestores, se envolvessem com as metas da organização. Além disso, é possível afirmar que no sentido negativo, a intimidação (FIORIN, 2008) tinha também alguma importância neste processo. Nenhum dos gestores queria estar entre os últimos colocados na listas dos resultados quando eram apresentados em um telão com todos os resultados. Esta expectativa fazia com que os gestores, em suas unidades de trabalho, desenvolvessem diversas atividades como forma de, em primeiro lugar, alcançar a primeira posição no rank de classificação, e em não sendo possível, evitar as últimas colocações.

No que se refere à busca de uma cultura de resultados, esse processo, juntamente com a avaliação dos indicadores de desempenho serviriam como incentivadores de mudança cultural. Logo, a reunião de metas deveria incentivar a simbolização proposta por Hatch (1993) proporcionando a criação de um valor de foco nos resultados e comprometimento já que os resultados alcançados seriam compartilhado por todos, principalmente na premiação do PDF que tinha um percentual associado ao resultado local. Em tese, a premiação dependia da arrecadação do estado (resultado global) e dos resultados da unidade (arrecadação de impostos e indicadores de desempenho). Além disso, o próprio auditor poderia influenciar seu prêmio caso conseguisse resultado individual mais significativo do que a média dos demais servidores. Então, a tentação é o recurso discursivo mais presente nos discursos da alta administração com objetivo de mudança cultural, a partir da inserção de novos artefatos como o sistema PGM e o ritual da Reunião de Metas.

Assim sendo, apenas para reforçar a ideia da competição entre unidades, cita-se o discurso abaixo:

Na avaliação por diretoria, o melhor desempenho ficou por conta da DAT-Sul, com a realização de 119,12% da meta mínima, a DAT-Metro atingiu 111,30% e a DAT- Norte, 100,47%. O melhor resultado por inspetoria no grupo 1 foi a Infaz Simões Filho, com o cumprimento de 120,96% da meta. No grupo 2, a Infaz Barreiras realizou 173,43% da meta, enquanto o destaque do grupo 3 foi a Infaz Ipiaú, com

296,34% da meta. Já no grupo 4, a Ifep-Metro apresentou o cumprimento de 111,12% da meta mínima (SEFAZ Notícias, julho/agosto, 2002, p.5)

Nota-se que para os gestores, a Reunião de Metas tornava-se um momento em que os resultados dos trabalhos realizados em cada trimestre, deveriam ser apresentados ao dirigente maior da organização, o secretário da fazenda. Pode-se dizer ao estilo de Deal e Kennedy (2000) que esta reunião funcionava, para a alta administração, como um reforçador dos valores que ela pretendeu desenvolver especialmente em seus gestores, ao criar o PGM, em 1995: foco no resultado, controle e competição entre unidades que favoreceriam os resultados.

Como um ritual introduzido pelo governo do PFL em 1995, com a chegada do governo do Partido dos Trabalhadores em 2007, a Re união de Metas, pelo menos no modelo em que ela funcionava anteriormente, foi abandonada. Em seu lugar, passaram a existir os “seminários da superintendência de Administração Tributária (SAT). Houve descontinuidade do ritual o que inviabiliza a institucionalização de uma nova cultura a partir destes artefatos. O abandono da Reunião de Metas deixa de reforçar dois grandes valores pregados pela Reforma Gerencial: o foco nos resultados e a competição entre as unidades o que em tese, ajuda a focar também nos resultados.

Como defendem Deal e Kennedy (2000), com a falta de rituais adequados, a organização perde a possibilidade de fortalecer valores que seriam importantes para o sucesso organizacional. Como a reunião foi proposta pelo secretário anterior, e por ele mantida, e agora com o seu desaparecimento, dificilmente se conseguirá torná-la um artefato cultural da própria organização. Nas palavras de Hatch (1993), não foi possível realizar o processo de simbolização deste artefato, o que inviabiliza a sua inserção como pressuposto básico e fazer parte da cultura organizacional da SEFAZ-BA. No abandono também do instrumento de controle associado à Reunião de Metas, está o problema que ainda marca a administração pública brasileira: a descontinuidade com a mudança de grupos políticos.

Mesmo com o desaparecimento do ritual reunião de Metas, a cada trimestre, a alta administração atual divulga os resultados da organização, com detalhamento por setores, não mais com dados sobre as unidades regionais. Porém a busca pelo resultado continua no discurso da alta administração. Entretanto, mudam-se as formas de persuasão ou convencimento. A atual administração utiliza de forma mais intensa a sedução (FIORIN, 2008), na medida em que procura apresentar os resultados sempre como resultado dos esforços coletivos.

Sobre isto, um discurso do secretário reforça este argumento: “os números da arrecadação de 2007 são resultados do esforço de toda a equipe da SEFAZ, em especial da SAT, que desde o início do ano acompanhou o comportamento da arrecadação e atuou junto aos contribuintes para que eles pagassem seus débitos antes do final do 4º trimestre” (Intranet SEFAZ, 11 de janeiro de 2008). Ao produzir discursos com estas características, a alta administração procura destacar as características positivas dos indivíduos, como forma de continuar contando com o envolvimento deles na busca por resultados (FIORIN, 2008).

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