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Etapa 4 – Análise dos Dados

5.1 A MUDANÇA ORGANIZACIONAL A PARTIR DO DISCURSO DA ALTA ADMINISTRAÇÃO

5.1.12 Transparência e controle Social: Prestar Contas à Sociedade

A transparência nas ações da SEFAZ começa a ganhar importância mais fortemente a partir do 1º planejamento estratégico elaborado pela SEFAZ-BA no ano de 2000. Até este momento, não existem ações ou discursos que permitam inferir a valorização da secretaria com a transparência ou o controle social por parte da sociedade, ainda mais porque a Lei de Responsabilidade Fiscal nasce exatamente em 2000, o que vai forçar os governos a prestarem contas de suas ações de forma sistemática à sociedade. No caso específico da Bahia, essa questão da transparência também era controversa, porque o governo que governou o Estado até o ano de 2006, não mantinha uma relação muito agradável com o Poder Legislativo, e com isso dificultava o acesso às contas do estado por parte dos deputados estaduais. Essa situação veio a ser resolvida no ano de 2007, com a abertura de forma mais ampla para aqueles que desejassem verificar as contas do estado.

Diante do mencionado acima, o que mais se aproxima de uma relação fisco – sociedade até o ano 2000, seria a inserção no Projeto do PROMOSEFAZ, do projeto de Educação Tributária, criado em 1999, com os projetos Sua Nota É um Show de Solidariedade, e sua Nota é um Show que permitem aos indivíduos ajudarem instituições de caridade ao doarem as notas fiscais para aquelas que concorrem a prêmios distribuídos pelo governo do Estado. Neste projeto, que tem como um dos principais objetivos “o aumento da conscientização da população quanto a função social do imposto” (SEFAZ,1997, p. 60), é a expressão mais próxima do conhecer as atividades desenvolvidas pela secretaria.

Diante da aprovação da Lei de responsabilidade fiscal (LRF)os discursos sobre a transparência começam a ser inseridos na organização pela alta administração. Por isso, em julho de 2000, aparece o primeiro discurso sobre o tema.

Transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos. De acordo com o superintendente da SAF, a lei 101/00 abrange todas as esferas federadas e níveis de poderes. Seu norteamento está fundado na transparência quanto à ampla divulgação sobre os recursos arrecadados e gastos realizados, enquanto que a responsabilidade será apurada com a demonstração de equilíbrio das contas públicas (SEFAZ Notícias, julho de 2000, p. 5)

O que se depreende deste discurso é a pressão externa mobilizando a tomada de decisão dentro da organização. Neste sentido, as ações de transparência começam muito mais pela imposição legal do que por iniciativa do próprio governo da Bahia, ainda que em outubro de 2000, exista uma menção a um comitê criado especialmente “para mo nitorar as contas públicas na busca da qualidade do gasto público”(SEFAZ Notícias, outubro de 2000,p. 2). Aqui é a primeira vez que a expressão “qualidade do gasto público” vai aparecer e tornar-se lugar comum no governo. Ele se torna de tal modo importante que se transforma em objetivos globais da secretaria entre 2004 e 2006. Da mesma forma, ela é inserida na “visão” da organização: “se orienta por transparência, ética e responsabilidade social”(SEFAZ Notícias, novembro, 2000, p. 3).

Outras ações são realizadas na SEFAZ reforçando o discurso da valorização da transparência, como é o caso da reformulação da Auditoria Geral do Estado (SEFAZ Notícias, março/abril de 2001) e o início da prestação de contas pelo secretário para a Assembléia Legislativa do Estado (SEFAZ Notícias, junho/julho de 2001). A criação do Sistema de Apropriação de Custos Públicos – ACP também é outra ferramenta com objetivo de atender às expectativas de “aferir a qualidade do gasto público” (SEFAZ Notícias, fevereiro/março de 2002).

Após a notícia do Sistema de Apropriação dos gastos Públicos, em março de 2002, o tema da transparência só volta de forma mais visível em junho de 2003, com a criação da Corregedoria da Secretaria da Fazenda que é encarregada de “ fiscalizar e revisar o trabalho dos auditores, garantindo maior transparência às ações e aos trabalhos desenvolvidos pelos agentes fazendários no estado” (SEFAZ Notícias, junho de 2003, p. 3). Segundo a alta administração, os valores de legalidade, oficialidade, impessoalidade, publicidade e eficiência são princípios éticos fundame ntais que deverão ser acompanhados pela corregedoria. Na mesma linha da transparência e ética, cria-se o código de ética dos servidores do fisco da Bahia em 2003. Depois disso, excluindo as prestações de contas à Assembléia Legislativa, somente em setembro de 2004, o tema da transparência é retomado de forma mais sistemática ao se mencionar o programa Prestando Contas ao Cidadão. O programa foi

criado para dar maior transparência à aplicação dos recursos públicos, disponibilizando ao cidadão, informações sobre a gestão das finanças do Estado. Os dados sobre receitas e despesas do governo do Estado podem ser acessados pelo público, em linguagem simples, através de menus e gráficos. O serviço conta ainda com um glossário de termos técnicos das finanças públicas (SEFAZ Notícias, setembro de 2004, p. 4).

Na mesma edição em que o sistema Prestando Contas ao Cidadão foi lançado, há também uma matéria sobre a ouvidoria do Estado que tem como objetivo garantir ao cidadão baiano respostas às suas manifestações, fazendo com que ele participe efetivamente da gestão do Estado. Assim, o discurso da transparência parece ganhar espaço na organização, ainda que seja em intervalos de tempo relativamente grandes, o que pode inviabilizar a internalização dos servidores dos valores associados à transparência.

Outra forma de inserir a preocupação com a transparência foi a inserção da expressão no nome do projeto de modernização da secretaria. De projeto de modernização da Secretaria da Fazenda, o projeto passou a denominar-se de Programa de apoio à modernização e transparência da gestão fiscal do Estado da Bahia (PROMOSEFAZ II).

Apesar de todo o esforço no sentido de tornar a transparência uma prática comum a partir dos discursos e ações produzidos no contexto organizacional, é a partir do ano de 2007, que a expressão transparência ganha maior espaço na SEFAZ-BA. Já nos primeiros meses do novo governo que assumiu em janeiro de 2007, os secretários da fazenda e da administração realizam atividades integradas com objetivo de racionalizar os gastos públicos, “principalmente no que diz respeito à transparência e à racionalização dos gastos públicos”(Intranet SEFAZ, 2 de março de 2007). Da mesma forma, aparece um discurso da parceria do governo do estado com a controladoria geral da União, cujo objetivo é “ melhoria

da fiscalização da aplicação dos recursos públicos no estado e uma maior transparência perante os parlamentares e a população, das compras e gastos realizados pelo governo”(Intranet SEFAZ, 9 de maio de 2007). Entretanto o tema da transparência vai ganhar bastante espaço a partir da criação do Portal do Transparência Bahia. O sistema, criado em 1 de agosto de 2007, prevê que:

No Portal, a população baiana poderá visualizar os números das receitas, despesas, gastos com educação, saúde, os limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal e o mais importante, terá acesso aos pagamentos feitos pelo Estado às empresas e/ou pessoas físicas fornecedoras ou prestadoras de s erviço. Será possível saber também em que esse recurso foi aplicado, além dos convênios celebrados e recursos repassados aos municípios e entidades assistenciais (Intranet SEFAZ, 1 de agosto de 2007).

Para finalizar este tema, registre-se que o tema da transparência ganhou importância a partir do lançamento do Portal Transparência Bahia, com o secretário concedendo diversas entrevistas sobre o sistema e sua importância, técnicos da secretaria foram conceder palestras em universidades sobre o sistema e diversas matérias em jornais, rádios e canais de TV foram produzidas. Neste sentido, é possível associar diversas figuras ao mesmo tema, conforme descrito por Fiorin(2008). Neste sentido, corregedoria, código de ética, auditoria geral do estado, o sistema Prestando Contas ao Cidadão e o sistema Transparência Bahia serviriam como artefatos cujo significado é a transparência na conduta dos recursos públicos. Ao modo de Sahlins (1997), é possível perceber como diversos signos podem referenciar um mesmo sentido, da mesma forma que um mesmo objeto (artefato) pode representar um conjunto diverso de significados.

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