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Capitulo  I:   A estrada que leva à Casa: caminhos metodológicos 16

1.2   O Programa Vila Dignidade 30

A necessidade de proporcionar outras formas de acolhimento, alternativas às Instituições de Longa Permanência, ao idoso vulnerável é uma das justificativas que fundamentam o Programa Vila Dignidade14. Ele foi pensado para atender as demandas de municípios que acabam institucionalizando idosos independentes para a realização das Atividades de Vida Diária - AVD.

Elaborado em 2009, pelo governo do estado de São Paulo, através de parceria intersecretarial que envolvia principalmente as Secretarias de Habitação e de Assistência Social, este Programa compunha as ações do Plano Estadual para a pessoa idosa, denominado Futuridade15.

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Este texto foi construído a partir de informações extraídas de material institucional das Secretarias de Habitação e Desenvolvimento Social e matérias disponíveis nos sites de ambas: www.habitacao.sp.gov.br e

www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br. Registro meu agradecimento à Mariana de Sylos Rudge, funcionária da CDHU com quem mantive contato constante durante a produção desta pesquisa, pela disponibilidade com que sempre atendeu nossas demandas por esclarecimentos, bem como, por suas valiosas reflexões.

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O Futuridade abarca uma das muitas tentativas do governo de emplacar uma politica para idosos no estado de São Paulo. Em 2007 é promulgada a Lei nº 12.548 que consolida as 31 legislações estaduais relativas ao idoso e instituí a Politica Estadual do Idoso – tem por objetivo garantir ao cidadão com mais de 60 anos as condições necessárias para continuar no pleno exercício da cidadania. Em 2008 foi lançado, pelo então Governador do

Página  |  31   Consiste na construção de equipamento público de moradia assistida projetada especificamente para a população idosa. Agrega, à tipologia habitacional do Desenho Universal, soluções de gestão social garantindo aos beneficiários a preservação de sua autonomia, além de cuidados específicos, como proteção social16, saúde17 e outros.

Assim, seu público alvo são pessoas com mais de 60 anos e independentes para a realização das atividades de vida diária. Além desta, outras condicionalidades foram desenhadas para definir esse idoso: ter rendimento mensal de até um salário mínimo, vivenciar situações de risco pessoal e/ou social, residir no município há pelo menos dois anos e não possuir imóvel próprio18.

O Programa compreende a construção de uma pequena vila, no estilo de condomínio habitacional com até 28 casas térreas, áreas de lazer, praça de exercícios e Salão de Convivência.

O projeto arquitetônico contempla itens de segurança e acessibilidade como: barras de apoio, pias e louças sanitárias em altura adequada, portas e corredores mais largos, interruptores em quantidade e altura ideais, rampas e pisos antiderrapantes, entre outros. Recursos que se estendem às áreas comuns facilitando a locomoção e garantindo segurança ao idoso nos espaços internos e externos.

Sua execução se dá pela articulação intersetorial de diversas políticas sociais com a finalidade de promover a independência, a autonomia e o desenvolvimento social e humano dos idosos mais vulneráveis: seja pela falta de renda, pelo isolamento social, abandono, maus tratos ou outras situações de risco pessoal e/ou social.

Envolve parceiros no âmbito estadual: Secretaria de Habitação - SH, Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano - CDHU e Secretaria de Desenvolvimento Social - SEDS; municipal: órgãos gestores da assistência social que são os articuladores das demais                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             idosas, especialmente das que estão em situação de vulnerabilidade social, por meio da articulação e integração entre as secretarias e órgãos públicos estaduais e municipais e a sociedade civil, sensibilizando e instrumentalizando os gestores para o fortalecimento e a expansão de ações voltadas à promoção do envelhecimento ativo no Estado de São Paulo (Barroso: 2009). Em 2011, sob o comando do atual governador, Geraldo Alckmin, esse Plano foi remodelado e rebatizado de São Paulo Amigo do Idoso.

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A proteção social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar. A segurança de rendimento é a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas limitações para o trabalho ou o desemprego. A segurança de acolhida opera a provisão das necessidades humanas que começa com os direitos à alimentação, ao vestuário e ao abrigo, próprio à vida humana em sociedade. A segurança da vivência familiar é uma das necessidades a ser preenchidas pela politica de assistência social. Supõe a não aceitação de situações de reclusão, e de perda das relações (PNAS: 2005: 31-32)

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Ofertada exclusivamente pela rede de saúde articulada no municipio. 18

Decreto Estadual nº 56.448 de 29 de novembro de 2010 que altera, dá nova ao Decreto Estadual nº 54.285 de 29 de abril de 2009 – que institui o Programa Vila Dignidade no âmbito do estado - e define os beneficiários do Programa.

políticas públicas no âmbito do município; e da sociedade civil: conselhos de direito e organizações não governamentais, além dos atores do Sistema de Garantia de Direitos dos Idosos: Conselhos de Idoso, Promotoria Pública Ministério Público, OAB, etc.

O município que deseja aderir ao programa se cadastra no Sistema de Gestão de Pleitos, sistema virtual disponível na página da CDHU. Ali os gestores das políticas de habitação e de assistência social apresentam a população idosa do município e suas demandas especificas; os serviços disponíveis e a rede que pretendem otimizar para favorecer a execução do Programa.

O Programa defende que a promoção da rede social de proteção ao idoso na esfera local é fundamental, pois é ela quem garantirá que não recaia nas Instituições de Longa Permanência a responsabilidade exclusiva pelo cuidado de idosos que são independentes e sós. Neste sentido, o papel do governo municipal é estratégico e central, pois é ele o principal provedor e articulador dos serviços de assistência social, saúde, educação, esporte, cultura, etc.

Na esfera estadual Secretaria de Habitação, Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano e Secretaria de Desenvolvimento Social avaliam os pleitos, de acordo com os critérios e condicionalidades estabelecidas em Decreto19 e Resolução20 que regulamentam o Programa, considerando ainda o nível de gestão do município no Sistema Único de Assistência Social - SUAS21, a existência de Plano Municipal de Assistência Social aprovado pelos Conselhos Municipais de Assistência Social e a presença de Conselho Municipal do Idoso ativo.

Após essa analise os municípios habilitados são incitados, através de seus órgãos gestores da assistência social, a construírem um Projeto Social22, sob orientações da SEDS e acompanhamento das Diretorias Regionais de Desenvolvimento Social - DRADS. Nele, indicam um Gestor Social que será o responsável pela execução do Programa.

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Decreto nº 56.448, de 29 de novembro de 2010. 20

Resolução Conjunta SH-SEADS, de 15.05.2009. 21

O Sistema Único de Assistência Social – SUAS, com o objetivo de organizar a oferta de serviços socioassistenciais, classifica os Municípios para fins de gestão municipal em categorias, de acordo com seu porte populacional e rede socioassistencial disponível. Os níveis de gestão existentes são: Inicial, Básica e Plena. 22

Após a implementação do Programa o Projeto Social deve integrar o Plano Municipal de Assistência Social - PMAS constituindo-se como serviço de ação continuada, devendo ser submetido anualmente ao Conselho

Página  |  33   Além de custear o Projeto Social, os municípios devem garantir também recursos humanos e tecnológicos para sua execução dentro do escopo, da qualidade e do prazo estabelecidos23.

A construção da vila é responsabilidade da CDHU que a executa em terreno próprio ou doado pelo município: elabora os projetos arquitetônicos; contrata a execução das obras e dos serviços e doa o equipamento construído para as prefeituras municipais. No município a vila deve compor a rede de proteção social para idosos24.

Dentre outras, são competências do município: identificar e selecionar potenciais beneficiários dando publicidade aos critérios de elegibilidade25; assegurar a gratuidade da moradia; articular com outros órgãos públicos e entidades da sociedade civil para a promoção de ações integradas, dentre eles, o Programa de Saúde da Família ou rede de saúde local que compõe o Sistema Único de Saúde – SUS - fortalecendo e ampliando a rede de proteção e defesa dos direitos das pessoas idosas; gerenciar, monitorar e avaliar o projeto implementado; estabelecer parceria com instituições especializadas para onde serão encaminhadas as pessoas que vierem a se tornar dependentes e fragilizadas, de forma temporária ou permanente.

À Secretaria de Desenvolvimento Social – SEDS compete: aprovar o Projeto Social das prefeituras prestando assessoria técnica para sua execução; articular-se com outros órgãos públicos e entidades da sociedade civil para promoção de ações integradas; monitorar e avaliar o Projeto Social implantado; realizar capacitação de técnicos municipais por meio de oficinas, seminários, e/ou atividades equivalentes, com vistas à orientação quanto às normas, funcionamento, implantação, execução e avaliação do Programa, entre outras.

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Aqui se apresenta, no nosso entendimento, uma das fragilidades do programa, pois recai sobre o município o custeio total tanto da manutenção da infraestrutura do Programa, quanto da garantia de gratuidade de moradia e das ações socioassistenciais indispensáveis à operacionalização do Projeto Social.

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Aqui identificamos a segunda fragilidade do Programa: apesar do potencial para se tornar uma inovação na modalidade de Serviço de Proteção Especial de Alta Complexidade, as amarrações junto à Política de Assistência Social, no âmbito do estado, foram mal tecidas: não criaram consensos entre os operadores desta política e não fomentaram a consolidação de um serviço socioassistencial para ser ofertado no equipamento. Apesar das boas intenções previstas em Decreto e Resolução, na prática o não financiamento do Projeto Social afirma o seu não reconhecimento como equipamento da rede de proteção social. Estas dificuldades não podem ser compreendidas de forma isolada, pois estão atreladas à uma situação mais ampla, fomentada e criticada, em fóruns de discussão, pela professora Aldaíza Sposati: a resistência do governo estadual em reconhecer e implantar o Sistema Único de Assistência Social no estado de São Paulo - vide a conceituação de promoção social que ainda vigora na Constituição do Estado (Arts.232 a 236) em detrimento da assistência social entendida como direito do cidadão, e dever do Estado. Todas essas questões serão abordadas e aprofundadas no terceiro capítulo deste trabalho.

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Além da procura voluntária para seleção pública a demanda pode advir do Sistema de Garantia de Direito, em decorrência de denúncias de maus tratos e/ou abandono, dos programas de saúde, como o Saúde da Família que pode identificar situações de violação de direito nos domicílios onde presta atendimento ou de outros programas e políticas que atendem e identificam situações de irregularidade envolvendo idosos.

Até o momento em que este texto foi submetido ao Exame de Qualificação (setembro de 2013) o Programa Vila Dignidade estava implantado nos municípios de Avaré, Itapeva, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e Caraguatatuba com um total de 102 unidades entregues. Nesta primeira fase do Programa outros municípios estão com obras em andamento ou em processo de licitação totalizando mais 368 unidades a serem construídas e atendendo cerca de 20 cidades paulistas.