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Tempo de Rememorar: o lugar de estar nas narrativas de idosos 46

  Figura 5: Alguns de nossos colaboradores30

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Dona  Maria  Aparecida  Duffet31

Foi difícil desfazer das minhas coisas, a gente fala “nossa, tantos anos”. Mas também a gente não pode se apegar às coisas toda a vida. Porque às vezes você é muito apegada a alguma pessoa da família, de repente, você perde essa pessoa e o sofrimento é muito maior não é mesmo? Agora, coisas materiais não, porque é coisa que, se a gente tiver dinheiro, compra outra, não é mesmo? Eu era muito agarrada a certas coisas, agarrada com aqueles presentes que eu ganhava.

Maria Aparecida Duffet: 86 anos: 2012

Eu nasci em 22 de maio de 1926, meu pai tinha 24 anos quando eu nasci. A gente era de uma família pobre. Meu pai tinha os pais dele bem de vida lá em Monte Sião, Socorro, lá perto de Bragança Paulista, Ibitinga, já é divisa. Os pais dele eram bem de vida, mas ai meu pai resolveu vir com um tio dele pra cá, pra essa região.

Naquele tempo nem tinha estrada, era “caminhinho” assim, feito aquele “risquinho” no meio das matas. Então, esse tio do meu pai trabalhava com tropa. Eram 200-300 que traziam as cargas que vinham de outros países ou de outros estados pra Santos e, de lá, transportava em lombo de burros. Os burros de carga que carregavam; coitadinhos dos burros!

Com 12 anos de idade ele saiu da casa do pai dele pra acompanhar o tio e depois não voltou mais pra lá. Porque daí veio pra essas regiões, era muito difícil, imagina um moleque de 12 anos! E ele dizia que era uma fila muito grande de animais transportando por meio daqueles “caminhinhos” no meio do mato.

O tio dele se estabeleceu, acho que casou ou já era casado, não tenho muita certeza. Meu pai não era assim, de ficar contando pra gente os assuntos dele. Acho que minha mãe sabia, mas minha mãe também trabalhava muito, coitada, aquele tempo era serviço tudo rústico.

Nós morávamos em Itaberá, numa Vila que, hoje, é pertinho da estação rodoviária. Tinha o sitio onde a gente trabalhava, fazia coisas pra consumo da casa mesmo. Meu pai arrendava o sitio, aquele tempo tinha o tal de arrendar. Hoje nós alugamos as casas, mas, naquele tempo o sitio era arrendado. Minha mãe ia cedo lá pra esse lugar e eu ficava em casa com os filhos menores.

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Entrevista realizada em 24.07.2012 às 10h30min, com Maria Aparecida Duffet; 86 anos de idade; Escolaridade: primário (até 4ª série). Condomínio Vila Dignidade; Itapeva – S.P; Duração: 1h33min24seg; Local da entrevista: casa da colaboradora.

Eu era a mais velha de 10 irmãos, dez irmãos na seqüência! Depois de eu casada nasceram dois. Depois minha mãe faleceu, com 46 anos de idade, por ai, e ficou a menina de três anos – que trabalha hoje no presídio lá em Votorantim, que pertencia a Sorocaba, agora parece que já é independente; já faz trinta anos que ela trabalha nesse presídio. Ela ficou com três anos de idade, ficou um irmão com cinco anos de idade e os outros... Eu era a única casada, eu casei e nem conhecia meu marido. Foi um casamento arranjado. Coitado, ele era feio pra caramba!

Quando eu o conheci eu morava em Itaberá. Ah, esse casamento foi assim, dá pra montar uma novela! Eu tinha completado 18 anos e ele era 24 anos mais velho que eu. Fazia poucos meses que nos conhecemos, por intermédio de um parente do meu pai, e, logo em seguida, ele conversou com meu pai e com minha mãe. Daí, não sei lá como é que fizeram, arrumaram um casamento pra mim...

Naquele tempo não havia separação e até que ele era legal. Não tinha vicio, era um homem muito bom, de família boa. Meu sogro era um italiano já de idade, ele morreu com mais de cem anos, morreu na minha casa. Ele não acostumava com os outros filhos e ficou com a gente depois que eu casei.

Quando me casei fui morar num sitio, 18 quilometros adiante de Itaberá, na estrada que vai pra Avaré. Um bairro que tem o nome da nossa família até hoje, Bairro do Quarentei, às vezes passa nas noticias. Quando falece uma pessoa conhecida do povo por aqui – depois veio muita gente morar pra cá, em Itapeva - eles falam “fulano de tal faleceu lá, não sei o que, não sei o que, lá do Quarentei, fulano é Quarentei”. O sobrenome daquela pessoa que faleceu como se fosse da família da gente, é assim até hoje.

E daí é uma vida muito complicada, a minha vida foi uma vida sem infância. A gente não tinha tempo de brincar com outros colegas. Era tudo ajudando a fazer “servicinho”.

Os meus irmãos, graças à Deus, todos deram boa pessoa, bons pais de família. Não tinha nenhum separado, agora já tem. Tem alguns bisnetos dos meus irmãos falecidos que já entraram nessas coisinhas por aí. Não chegaram a fazer coisas terríveis, mas eram usuários dessas coisas. Agora já são tudo homens, casaram outros já separaram, é um balaio de gato! Tem alguns que já são casados duas vezes!

Eu me casei em 1948 e minha mãe faleceu em 1950, dai ficou as crianças pequenas tudo pra cuidar. Depois foi meu sogro que faleceu.

Página  |  49   Quando eu casei fui morar nesse sitio que pertencia, uma parte já pertencia pro meu falecido esposo, parte dos 50% que divide pros filhos quando falece um dos pais. A outra parte era do meu sogro. Meu marido nunca tinha sido casado, era solteirão. Parece que eles eram também em dez irmãos - entre homem e mulher.

Então, me casei e daí a minha mãe foi morar com a gente. Meu pai, eu não sei o que deu lá na cabeça dele – aquele tempo eles falavam negra, mas não era negra, era uma morena, bonita, cabelo cacheado. Ela tinha um marido que bebia demais e não sei lá o que deu que meu pai pegou e foi embora pra Jacarezinho, lá no Paraná, com essa mulher.

Daí minha mãe ficou doente. Durou acho que uns oito meses doente. Vai pra lá, vem pra cá, não tinha nem médico lá por perto. Era tudo estradinha de terra ainda pra vim pra cá ou pra ir pra Itararé, que eram as cidades mais próximas. Fez tratamento, ficou internada em Avaré, mas não adiantou. Depois de uns oito meses que ela ficou doente ela perdeu a voz. Quando ela faleceu meu pai já estava separado dela, morava lá pra Ourinhos e Jacarezinho – Jacarezinho é pertinho de Ourinhos.

Ficaram nove irmãos, inclusive tinha três que eram bem pequenos ainda. Você vê: a menina com três anos o outro com cinco e depois, cada dois anos era um, seguido. Então, foi muito difícil a vida pra gente!

Meus irmãos acabaram sendo meus filhos. Depois acabou que uns casaram, depois tiveram os sobrinhos que eram muito apegados com a gente. E depois, passado muito tempo, meu marido - a gente não sabia, ele tinha um pulmão só - foi indo, foi indo, ele começou a ficar com problema. Dizem os médicos que ele estava tuberculoso. Mas ficou misturado com a gente toda vida, e nunca, ninguém na família teve essa doença. Nem vacina não existia naquele tempo. Então foi assim, difícil. Paro por aqui, porque, senão... Eu não gosto de ficar lembrando, é passado, já passou. A gente tem que viver o presente, porque o futuro pertence a Deus.

Não tivemos nenhum filho, mas era problema dele. Aquele tempo os homens nossa! Não podia nem falar nada pra ir em médico. E depois, os dois sobrinhos dele, do lado do sangue dele mesmo, tem o mesmo problema, até hoje. Tem um que mora em Pouso Alegre, se formou advogado tudo. Mora em Pouso Alegre e adotou uma menina. Mas já tem neto também, dois ou três netos.

Os trabalhos que eu realizei na minha vida sempre foram doméstico, esses “domesticão grosso” que teve antes, as casas eram tudo difícil de limpar. Cuidar de criança, depois a gente tinha que ir na escola também. Às vezes eu ia um dia e faltava dois, pra ficar cuidando da casa e dos irmãos pequenos.

Assim foi a vida da gente! Eu estudei só até o primeiro grau, aquele tempo chamava Primário. Depois tinha normal, tinha ginásio, tinha isso, tinha aquilo outro, pra depois se formar. Mas como não tinha na cidade da gente tudo isso ai perto, eu só fiz o primário completo.

Antes eu bordava, mas agora não faço nada mais. As minhas irmãs sabem bordar muito bem. Tenho duas irmãs e uma “sobrinhada” que faz tricô, faz crochê, faz um monte de coisa. Mas eu não, como eu não tive tempo de aprender antes...

O meu hobby era costura, eu costurava, depois que os meus irmãos cresceram tudo. Eu fazia vestido de noiva, costurava calça, camisa pra homem. Naquela época não tinha esses figurinos que agora a gente vê na vitrine, então, eu saia, quando podia, ia nas cidades que tinham aquelas vitrines com alguma coisa pra ver os modelos tudo. Ia pra Avaré, Sorocaba, Itapetininga. Eu viajei bastante. Conheci esses lugares depois que casei e que fiquei livre dos meus irmãos. Então, costurei muito, muito, muito, muito.

Não tenho mais vontade de costurar porque agora eu fiquei com uns problemas, de uns tempos pra cá. Até vendi minha máquina pra vim pra cá. Dispus de um montão de coisa sabe, agora só tenho o necessário. Tanta coisa que eu tinha: cristaleira, aquelas coisa de cristal, ah, tanta coisa!

Em 1983 me casei pela segunda vez. Morava lá em São Bernardo do Campo. Antes morava num apartamento e mudei, quando casei a segunda vez. Me casei na igreja do Pari, de Santo Antonio do Pari. Casei na Igreja e no civil, depois a festa foi em São Bernardo do Campo num restaurante internacional que era do meu falecido cunhado, na verdade era meu cu-cunhado, ele era cunhado do Duffet, meu segundo marido – Matia Duffet era o seu nome. Então daí a festa foi lá, eles deram festa pra nós no restaurante internacional! Foi muito legal.

É que está difícil, numa mala trancada, senão ia mostrar a foto dele. Quando ele tinha os seus trinta e cinco anos de idade, ah! Era um gatão! Mas quando eu o conheci ele já era de idade.

Página  |  51   Ele era treze anos mais velho que eu. Mas era iugoslavo e tinha uma pele de bebe. Tem a foto da gente aqui, essa está mais fácil32. Mas isso foi tirada assim com maquininha dessas simples, no jardim da nossa casa, lá na frente.

Essa aqui é a única que a gente tirou, do jeito que estava em casa, na Rua João Cavinato. Fomos vizinhos do Lula por lá, sabe. Então, tinha um “vitrozão” que era do tamanho desta parede aqui, mais ou menos, talvez um pouco maior, tudo de vidro e com grade. Tinha garagem, tinha um cachorrinho. Tudo era muito bem cuidado, bem arrumado.

Ai ele já estava de idade, e, depois da sua morte, foi um tal de mudança. A gente que não tem casa muda pra cá, muda pra lá, encaixota as coisas, depois larga lá e vai ficando. A gente também vai perdendo o gosto. É complicado! Ah, agora esta tudo “simplesinho” mas, antes, nossa! A gente pagava faxineira pra fazer faxina na casa, limpar aqueles vidros, aquelas “coisaradas” tudo.

Nossa casa não era tão grande: na frente tinha o jardim, tinha garagem que saia do lado, a porta saia na garagem assim, depois saia na rua, tudo com grade também. E depois saia pela porta da garagem, lá no fundo, saia atrás, na lavanderia, tinha um quintal bem grande Tudo com aqueles caquinhos - antes usava muito, de três ou quatro cores. Muito legal, só que não era a nossa casa, era do sobrinho do falecido.

Eles eram donos do Restaurante Internacional e do Motel Le Mond, que foi muito famoso uns tempos atrás. Aqueles atores que vinham de fora, como diz o Chaves, “aquela gentalha que vinha de fora” iam tudo se hospedar lá. Lá tinha a suíte Presidencial, tinha a Real, tinha não sei o que mais, tudo muito bonito, maravilhoso. Até a nossa primeira noite nós passamos numa dessas suítes.

Meu segundo casamento foi um conto de fadas, foi muito legal! Só que não foi filmado. Naquela época nem tinha muito recurso pra fazer filmagem. Não tinha, 1983, veja bem. E no primeiro casamento então, que não tinha nem fotógrafo nessas regiões. Era tudo difícil.

A casa que eu morava era deles. Quando eles tinham o restaurante compraram muitos imóveis, compraram apartamento lá no centro. Lá onde eu morava também era centro, só que eram casas baixas. Ele comprou, lá no centro da cidade, um pouquinho mais pra frente, num apartamento de onze andares. Mas é cada apartamento, que dá uma mansão lá dentro, tanta coisa que tem e tanto cômodo. Esse é o Toninho – o nome dele é Antonio Singer. O pai dele

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também era iugoslavo. Só que a mãe era Duffet e o pai era Singer – não tinha nada á ver com aquela fábrica de máquina de costura.

Quando começo a construir esse prédio dois dos filhos compraram, um apartamento cada um. E o Toninho, que era dono dessa casa onde a gente morava, ele comprou no décimo primeiro andar – que era o último andar. Muito grande e muito bonito os apartamentos, só que Deus me livre e guarde aquilo lá pra limpar.

Isso aconteceu quando a gente casou, aí ele falou assim: “olha tio, eu não quero alugar aquela casa. Eu não quero vender e nem alugar aquela casa que eu morava. Vocês casando, vão morar nela. Leva primeiro a Maria pra ver se ela vai gostar da casa, do bairro e tudo e daí vocês vão morar lá e vocês não vão pagar nada. Vocês vão pagar só água e luz”.

Telefone, aquele tempo não tinha ainda, demorou pra conseguir uma linha de telefone. Não tinha nem celular nem nada. E ele dizia “Daí vocês vão pagar só isso. Nem imposto predial vocês vão pagar. Eu vou pagar tudo e as reformas, o que tiver lá pra fazer”. Naquele tempo eles tinham setenta e dois empregados – entre o restaurante e o motel. O motel era enorme, uma vila maravilhosa! Toda florida parecia um condomínio fechado. Muito bonito.

Depois, construíram mais dois prédios e fizeram outros motéis mais simples. Eh, tanta coisa! Depois foi indo, acho que uns dez anos depois, meu cunhado ficou doente, deu um negócio nele, AVC. Tava jogando carta lá no salão do restaurante com os amigos dele. Ele tinha muitos amigos aposentados, estrangeiros também. Deu um negócio nele lá, que ele ficou falando pouco e ficou todo deformado: as pernas, o braço, foi preciso depois, quando ele melhorou mais, comprar um carro adaptado.

Eles também têm casa em Juqueí, lá na praia, uma mansão maravilhosa! Eu tenho foto dela ai, um albunzinho, tirado assim... Mas era muito legal viu! Para aqueles lados vai pela Rio– Santos. Agora está tudo desenvolvido, aquelas praias por lá, nossa... Muito bonito, eu gostava muito. A gente ia e ficava o mês todo lá. Meu marido já era aposentado.

Então, foi isso que o sobrinho dele falou: “oh tio, olha, o dinheiro que vocês vão investir em comprar casa vocês vão pegar e vão passear”. Mas ai, eu já conhecia muitas partes do Brasil, do outro casamento, eu já não queria mais estar passeando, mas na praia a gente ia sempre.

Meu marido faleceu no dia 02 do mês sete de 2001. Eu ainda fiquei morando lá em São Bernardo por dois anos e pouco, não chegou três. A minha família, que era daqui de Itapeva - Itapeva 4, Itapeva 2, Jd. Virginia, Geraldo Alckmin, Vila Nova e por aí afora - são muita “sobrinhada” e tinha meus irmãos, eles não queriam que eu ficasse morando lá. Lá, só tinha a

Página  |  53   minha cunhada, esposa do meu cunhado que era o dono do Motel e daquelas coisas lá. Ele já tinha falecido, fazia uns sete anos, só tinha a minha cunhada e a “sobrinhada”, e tinha uma outra cu-cunhada também. E a “sobrinhada” do lado dele, não tinha ninguém da minha família.

Então, eles achavam que estava ficando difícil, porque estava acontecendo coisas por lá. Essa malandragem do povo, que aprende tão rápido. A gente morava na casa sozinha, e eles queriam que viesse embora pra cá, porque eles tinham dificuldade de atravessar São Paulo pra ir pra São Bernardo. Às vezes chovia, dava enchente naqueles rios, muito engavetamento - quando dá uma batida e ficam aqueles carros tudo junto. Eles morriam de medo daquilo. Tinham carro e sabiam dirigir até chegar lá em São Paulo, agora, pra atravessar aqueles meio lá é que eles tinham dificuldade. Daí, nossa mãe do céu! Todo dia telefonava um ou outro, de dia ou de noite.

Então eu fiquei pensando; “ai meu Deus sabe que eu acho que é mesmo”. E eles lá, não queriam que eu viesse. Os sobrinhos do meu marido e a minha cunhada e a outra cu-cunhada não queriam que eu viesse embora. Essa cu-cunhada - não sei se ela está viva agora, até esses dias atrás estava - é espanhola, filha de espanhóis. E o meu cunhado também veio de lá da Iugoslávia, vieram tudo criança, pequeninhos.

Aí, foi indo foi indo, até que eles me convenceram de vir embora pra cá. Eu vim pra morar junto com uma irmã que mora em Sorocaba, no parque São Bento. Ela é mãe de doze filhos, tem dez vivos e dois falecidos, morreram quando crianças pequenas ainda, idade de dois, três anos. Quando fez quarenta e três dias que eu tinha ficado viúva, o marido dela estava fazendo caminhada na rua, lá em Sorocaba, e diz que, de repente, deu um negócio nele e ele caiu, a sorte é que caiu na calçada, antes de chegar em casa, que ficava umas três quadras dali. O vizinho correu e chamou o resgate, levaram ele, deram entrada no hospital, mas não deu tempo de socorrer.

Na entrada, já “puft”, teve um infarto fulminante. Ele era novo ainda! Daí essa irmã ficava falando: “vamos embora, vamos embora lá pra Itapeva”. Eles alugavam casa em Sorocaba. “Vamos embora pra Itapeva, agora já casaram, os meus filhos já casaram quase todos, é só eu e mais dois rapazes solteiros. Nós vamos morar junto lá, por essa, por aquela, mas um monte de coisa”.

Eu ficava pensando; “mas meu Deus será que vai dar certo?” Ai, até que no fim eles me convenceram. E o pessoal lá de São Bernardo chorava, não sei se eram lagrimas de verdade ou eram falsas, mas choravam todos eles. Eles eram muito bons.

E a minha cunhada falava: “ai Maria você não vai embora”. Quando ela veio da Iugoslávia pro Brasil ela tinha 10 meses de idade. Eu sei que olha... faz tanto tempo. Irmãos são assim, quando é tudo menor de idade brigam, daqui a pouco fazem as pazes, tudo legal. Mas, depois que casam, já entra outras famílias no meio. Eu sei que você sabe, ela tinha três filhos homens e uma mulher. Depois que começaram a entrar as famílias de fora na nossa família eu já sei que não é mais aquilo. Já é outra coisa. Ela falava, “veja bem, se eu fosse você não ia, ficava aqui”.

Então, depois disso tudo, a gente combinou e veio morar em Itapeva. De Sorocaba, veio um caminhão bem grande, um baú, trouxe os móveis dela e trouxe os meus de lá de São Bernardo. Lá eu dei um caminhão cheio de móveis, “coisarada” pra uma casa beneficente, Casa de idoso, eram padres que tomavam conta.

Então, daí, a gente combinou e veio morar no Itapeva 4, que fica lá em cima, perto da torre de transmissão, daqui dá pra ver. Eu fui morar lá com ela. Foi em 2005 que a gente veio pra cá, dia 25 de maio, próximo do meu aniversário. Chegamos tudo junto, até chovia pra “caramba” quando chegamos aqui. Passados oito meses ela, um dia, falou pra mim que ia voltar pra Sorocaba, depois de oito meses!

Os filhos trabalhavam no hospital lá em Sorocaba, um trabalhava num hospital outro no outro. Chegaram aqui e não arrumavam serviço e o pessoal de lá ligando pra eles voltarem que o serviço estava à disposição ainda, pois não tinha ninguém ocupando a vaga.