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Para subsidiar essa proposta metodológica de estudo - que objetiva investigar o processo de cuidado de pessoas idosas com dependência, buscando compreender as significações desse processo para idosos e familiares cuidadores -, recorremos a alguns autores que compreendem o sujeito humano sob a epistemologia materialista histórico dialética19. Para esta o homem é um ser singular, histórico e social, decorrente de sínteses de múltiplas determinações, imbricado numa constante dinâmica de relações (OLIVEIRA, 2005). Compreender o ser humano a partir dessa concepção materialista significa considerar que suas objetivações e subjetivações estão intrinsicamente relacionadas com a totalidade concreta na qual se nasce, cresce, vive, morre, sobrevive ou adoece cotidianamente.

Para a perspectiva da Psicologia Sócio-Histórica o trabalho é a categoria fundante e central para pensar, analisar e compreender os fenômenos humanos nas suas mais diversas expressões sejam elas de natureza objetiva ou subjetiva. É fundamentalmente a partir da atividade vital humana por meio das relações sociais e interação com objetos disponíveis que os sujeitos produzem e reproduzem suas vidas; constituem e desenvolvem suas funções psíquicas, como a atenção, o pensamento, a consciência, etc. Destarte, os homens devem ser pensados sempre em movimento, pois se transformam junto e simultaneamente com o próprio desenvolvimento e modificação que realizam, por meio de suas atividades, nas condições histórico-sociais circunscritas, repleta de contradições, nas quais produzem e são produzidos (MARX, 1867/1980; OLIVEIRA, 2005; MARTINS, L. M., 2008).

Dessa forma, o trabalho constitui-se como um processo de relações entre o homem e a natureza/objetos que se encontram ao redor, em que, cada indivíduo, por sua própria ação pode: mediar, regular e controlar seu metabolismo nessas relações. Os sujeitos colocam em movimento as forças naturais pertencentes as suas corporalidades mãos, braços, pernas e cérebros objetivando apropriar-se da matéria bruta ou transformada e utilizar para sua própria vida. Essa atuação dos homens sobre a realidade implica em criações/modificações de objetos e instrumentos, e ao mesmo tempo, provoca transformações nos próprios sujeitos. Essas

19 Essa epistemologia possui suas raízes nos pressupostos da filosofia marxiana, elaborada por Karl Marx (1818- 1883), que possui em sua essência o materialismo histórico dialético como possibilidade teórica e instrumento lógico de interpretação da realidade visando desvelar suas contradições, superar e transformá-la.

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realizações possuem caráter coletivo e constituem aspectos determinantes nas dimensões objetivas e subjetivas dos sujeitos e, imprimem o desenvolvimento das potências contidas na natureza e, ainda, sujeitam o jogo de suas forças ao seu próprio domínio (MARX, 1867/1980). Marx e Engels trazem à luz elementos que demarcam fundamentalmente a capacidade de desenvolvimento e a natureza sócio-histórica do ser humano, distinguindo-a em relação à natureza estritamente biológica e filogenética dos demais animais. Isto é, por meio de sua atividade coletiva, que é o trabalho, o homem, além de transformar a realidade, promover avanços tecnológicos na sociedade e transformações em si mesmo, possui capacidade cognoscitiva, como também teleológica, capaz de conceber e planejar suas atividades antes mesmo de iniciá-las de fato. Esses fenômenos diferenciam os homens dos animais, porque são em sua essência sociais. Isso, graças à capacidade inerente ao ser humano de se apropriar de conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade. Destaca se então que,

O animal identifica-se com sua atividade vital. Ele não distingue a atividade de si mesmo. Ele é sua atividade. O homem, porém, faz de sua atividade vital um objeto de sua vontade e consciência. Ele tem uma atividade vital consciente. Ela não é uma prescrição com a qual ele esteja plenamente identificado. A atividade vital consciente distingue o homem da atividade vital dos animais: só por essa razão ele é um ente-espécie. Ou antes, é apenas um ser autoconsciente, isto é, sua própria vida é um objeto para ele, porque ele é um ente-espécie. Só por isso, a sua atividade é atividade livre. O trabalho alienado inverte a relação, pois o homem, sendo um ser autoconsciente, faz de sua atividade vital, de seu ser, unicamente um meio para sua existência (MARX, 1844/1983, p. 96). [grifos do autor]

O desenvolvimento das funções psicológicas superiores são possíveis porque o pensamento humano possui capacidade de refletir a realidade de modo generalizado. Na “consciência instintiva, onde dominam a percepção e o afeto, só é possível o contágio e não a compreensão e a comunicação na acepção propriamente dita do termo” (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 12). A atividade vital humana é orientada a um determinado fim, objetos e meios numa relação dialética. Entretanto, para sobreviverem os trabalhadores vendem sua força de trabalho que está ancorada nas relações sociais de produção que, na maioria das vezes é transformada em emprego, passando por um processo de estranhamento e perda da sua essência livre e consciente. “Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho e além disso, indicam as condições sociais em que se realiza o trabalho” (MARX, 1867/1980, p. 204), ou seja, as conjunções objetivas nas quais se oportuniza ou não aos sujeitos capacidades de desenvolvimento e humanização, como também possibilidades de acessos à saúde, educação, etc.

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Historicamente, a complexificação dos instrumentais e das formas de trabalho incorreram ao homem “a transformação e a hominização do cérebro, dos órgãos de atividade externa e dos órgãos dos sentidos”, ou seja, assumiram traços qualitativamente novos em potencial (LEONTIEV, 1978, p. 70). Apreendidos no seu processo de desenvolvimento real, em determinadas condições da realidade objetiva os homens constituem seu modo de viver pautado na relação dialética entre as esferas “singular-particular-universal”20, compondo determinantes para estruturar a subjetividade humana (OLIVEIRA, 2005). Essas esferas são instâncias atravessadas e calcadas dialeticamente pelo processo de atividade vital e concreta dos sujeitos, nas quais se dão seu desenvolvimento. Em função disso, Marx e Engels afirmam que o ser social não é determinado pela sua consciência, mas sim o seu oposto,

[...] serão antes os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência (MARX; ENGELS, 1846/1980, p. 26).

Assim, é a partir de uma concepção histórico-social de homem nos princípios do materialismo histórico dialético que Vigotski postula a concepção do desenvolvimento do psiquismo humano. Pauta-se, portanto, nas atividades e na utilização de instrumentos construídos historicamente e, que, constituem a linguagem, o pensamento, o significado, etc. integrando numa unicidade a formação da consciência. Esta, é desenvolvida a partir das possibilidades e do modo de vida constituída necessariamente nas e pelas relações sociais. Então, linguagem e pensamento referem-se a uma atividade psíquica unitária de base social e histórica, na qual o ser humano se constitui processualmente com seus semelhantes e tudo mais ao redor numa relação de apropriações e objetivações dialéticas. As relações com o mundo circundante perpassam pela formação de ideias, pensamentos e linguagem possibilitada pela aquisição de palavras, signos e significados construídos nessas relações (VIGOTSKI, 1934/2001).

O aparecimento da linguagem é compreendido numa relação intrínseca com a necessidade que surge a partir da atividade vital humana, entre os homens, de comunicar algo (LEONTIEV, 1978). Os signos funcionam como instrumentos de trabalho que atuam na

20 O conceito da relação “singular-particular-universal” será abordado de forma mais detalhada adiante trazendo alguns elementos do texto - A dialética do singular-particular-universal - de autoria de Betty de Oliveira, apresentado na abertura do “V Encontro de Psicologia Social Comunitária sobre o tema - O método materialista

histórico-dialético - promovido pela ABRAPSO-Núcleo Bauru, NEPPEM e o Departamento de Psicologia da

Faculdade de Ciências/UNESP-Bauru em 2001”, sendo posteriormente publicado no livro Método Histórico-

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mediação e relação do homem com seus semelhantes, com a natureza e/ou demais objetos existentes. No decorrer de seu contato com o meio social os indivíduos internalizam signos externos por meio de apropriações para posteriormente os objetivar, num processo de retroalimentação e potencialização de formação de conceitos e capacidades psíquicas. Esse desenvolvimento nos remete a categoria consciência compreendendo diferentes etapas de um processo uno, envolvendo capacidades cognitivas e funções psicológicas. Dentre as diferentes modalidades de atividade da consciência existe uma articulação central, a relação entre pensamento, linguagem e palavra, ou seja, “a consciência é um todo único e suas funções particulares estão inter-relacionadas em sua atividade” (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 2).

Vigotski (1934/2001) afirma que, apesar de constituírem um “todo único”, pensamento e linguagem não são a mesma coisa, porém se estabelecem numa interdependência. Também, destaca a mutabilidade e a inconstância das relações interfuncionais, podendo a percepção estar sempre relacionada de forma diferente à atenção, da mesma forma a memória quando se vincula à percepção e ao pensamento e, este último, à memória. É a partir dessa clareza de estrutura instável e emaranhada dos mecanismos que integram a consciência, que o autor defende que uma verdadeira análise deve ser capaz de decompor em unidades a conjuntura complexa. Compreende-se por unidade um produto de análise que, diferente de uma decomposição em elementos, possui propriedades que são inerentes ao todo preservando suas ligações, são partes vivas e indecomponíveis. Esclarece que determinada forma de separação das moléculas da água (H2O) modifica sua propriedade e não permite apreender sua

totalidade,

a chave para explicar certas propriedades da água não é a sua fórmula química mas o estudo das moléculas e do movimento molecular. De igual maneira, a célula viva, que conserva todas as propriedades fundamentais da vida, próprias do organismo vivo, é a verdadeira unidade de análise biológica. A psicologia que deseje estudar as unidades complexas precisa entender isso. Deve substituir o método de decomposição em elementos pelo método de análise que desmembra em unidades. Deve encontrar essas propriedades que não se decompõem e se conservam, são inerentes a uma dada totalidade enquanto unidade, e descobrir aquelas unidades em que essas propriedades estão representadas num aspecto contrário para, através dessa análise, tentar resolver as questões que se apresentam (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 8).

Nessa proposta de análise, a percepção direta e o verdadeiro conhecimento científico não coincidem, é necessário buscar a essência e os significados que não podem ser observados a princípio. Assim, por meio do movimento dialético de análise da realidade deve-se

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compreender seus nexos reais objetivos, as contradições existentes nos aspectos de cada fenômeno e, metodologicamente superar o concreto aparente chegando ao concreto pensado (VIGOTSKI, 1927/1996). Define-se, portanto, o significado da palavra como a instância que reflete de forma mais simples a unidade do pensamento e da linguagem. O significado é, portanto, a unidade indecomponível dos processos contidos nos fenômenos da linguagem e do pensamento e constitui um traço essencial da palavra, sendo a mesma no seu aspecto interior. Deste modo, uma verdadeira análise e investigação científica deve desvelar o que é apreendido de imediato em sua aparência e compreender sua complexidade, considerando todas as propriedades e ligações de determinado fenômeno (VIGOTSKI, 1934/2001).

Na metodologia de investigação sobre o pensamento verbalizado elege-se o significado como foco da unidade onde pode ser encontrado o aspecto interno da palavra. Vigotski explica que é justamente no significado da palavra que está a essência do pensamento verbalizado, mas que seu efetivo esclarecimento necessita de interpretação teórica da natureza psicológica, pois a palavra nunca se refere a um objeto isolado, mas sim a um conjunto de objetos. É uma generalização e formação de conceitos, é o ato mais específico, autêntico e indiscutível de pensamento. Ele constitui-se, portanto, um fenômeno do pensamento discursivo na medida em que o pensamento está relacionado à palavra e nela materializado (VIGOTSKI, 1934/2001).

A partir das relações entre linguagem, significado, pensamento e generalização de conceitos com os outros aspectos da consciência surge outra questão que é a ligação inseparável entre a esfera intelectiva e as esferas do afeto, dos motivos, necessidades, interesses, etc. Vigotski relata a existência de um sistema semântico dinâmico que representa a unidade dos processos afetivos e intelectuais, que em toda ideia existe, em forma elaborada, uma relação afetiva do homem com a realidade representada nessa ideia. Assim, essa unidade possibilita apreender o movimento a partir da necessidade e motivações do indivíduo a um determinado sentido do seu pensamento. E ainda, o movimento inverso, do sistema de pensamento à dinâmica do comportamento e à atividade concreta do sujeito (VIGOTSKI, 1934/2001).

Constata-se que o pensamento passa por muitas transformações até se constituir de fato em palavras, perpassando vários planos e caminhos dentre as linguagens (interior/exterior), os significados e os motivos. A relação entre o pensamento e a palavra se expressa de fato como um processo dinâmico, como via de realização, expressão e materialização do pensamento na palavra. Esse caracteriza-se como “um processo vivo de

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nascimento do pensamento na palavra”. A palavra ultrapassa os limites do pensamento como tal realizando um papel crucial na constituição da consciência, sendo a expressão mais concreta e direta “da natureza histórica da consciência humana”. E, “toda a consciência em seu conjunto” vincula-se “em seu desenvolvimento ao desenvolvimento da palavra”, pois esta “é o microcosmo da consciência humana”. Portanto, o pensamento e a palavra constituem o cerne para a compreensão do reflexo generalizado da realidade e da natureza da consciência humana (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 484-486).

Absolutamente, palavra e pensamento não estão interligados por um vínculo primário por si só, esta conexão surge, modifica-se e amplia-se no processo do próprio desenvolvimento humano constituindo as raízes da linguagem via palavras, pensamentos e significados. Não se trata, portanto, de uma relação dada antecipadamente, mas surge e se constitui “unicamente no processo histórico da consciência humana”, sendo “um produto e não uma premissa da formação do homem” (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 395). O “pensamento verbal abstrato” se realiza a partir da aquisição de “generalizações elaboradas socialmente”, por meio da apropriação e aprendizagem das palavras, signos, formação de conceitos verbais e operações lógicas. Contudo, a imagem consciente, a representação e o conceito possuem uma base sensível, no entanto, esse reflexo consciente da realidade não se limita a percepção sensível imediata, mas se ancora numa significação objetiva, consideravelmente estável e histórica (LEONTIEV, 1978, p. 85).

A conexão e o vínculo entre o pensamento e a palavra constitui um processo de reciprocidade, isto é, há “um movimento do pensamento à palavra e da palavra ao pensamento” se realizando como movimento interno, por meio de uma série de planos e transições. É o movimento do próprio processo de pensamento da ideia à palavra, sendo que, “o pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza” (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 409). Em sua composição todo pensamento busca integrar e relacionar uma coisa a outra, há um desdobramento, desempenha alguma função. O fluxo e o movimento do pensamento não coincidem imediatamente com o relato, inclusive, muitas vezes se verifica que o movimento do pensamento não consegue se efetivar em palavras, ambas as unidades de discurso e de pensamento não coincidem. Entretanto, o processo de complexas trajetórias e transformações se expressam em unidade.

Em regra, na linguagem falada caminhamos do elemento mais estável e constante do sentido, de sua zona mais constante, isto é, da zona do significado da palavra, para as suas zonas mais fluidas, para o seu sentido conjunto. Na linguagem interior, ao contrário, o predomínio do sentido sobre

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o significado – que observamos na linguagem falada em casos isolados como uma tendência mais ou menos fracamente expressa – é levado ao seu limite matemático e representado em forma absoluta. Aqui o predomínio do sentido sobre o significado, da frase sobre a palavra, de todo o contexto sobre a frase não é exceção mas regra constante (VIGOTSKI, 1934/2001, p. 467).

De acordo com Vigotski (1934/2001), o pensamento tem a sua estrutura/fluxos específicos, sendo que, a passagem deste para a estrutura/fluxos da linguagem concebe notáveis problemas, não coincide diretamente com a expressão verbalizada e não consiste em unidades isoladas como a linguagem. O autor exemplifica que, ao processarmos um pensamento sobre uma cena que ocorre em um determinado lugar, é disparado um ato único de pensamento, algo maior que uma palavra isolada, seja na sua extensão e/ou volume. Embora o pensamento componha um todo na sua composição, a exposição de determinado pensamento pode perdurar longo tempo. Este é expresso em palavras apartadas, gradualmente, por unidades separadas, sendo esta, particularidade em essência do desenvolvimento da linguagem.

O pensador soviético ainda vai dizer que o pensamento não nasce de outro pensamento, mas sim do plano da nossa consciência que o motiva, que abarca nossas necessidades, como também nossas motivações e interesses e, ainda, nossas emoções e afetos. Dessa maneira, junto ao pensamento existe uma disposição afetiva e volitiva. Então, numa analogia figurada do pensamento como uma nuvem que paira e derrama uma chuva de palavras, acrescenta-se o vento que provoca deslocamentos e, é esta dinâmica e movimento semelhante que integram a motivação na esfera do pensamento. Nesse sentido, a compreensão efetiva do pensamento e da fala dos sujeitos é obtida apenas quando se desvela a sua real causa afetivo-volitiva. Fundamentalmente, para apreender o discurso do interlocutor é preciso conhecer o seu pensamento, o que corresponde à descoberta dos motivos e motivações que perpetram o surgir do pensamento e que orientam o seu fluxo (VIGOTSKI, 1934/2001).

Todo “reflexo psíquico resulta de uma relação, de uma interação real entre um sujeito material vivo” e a realidade material que o circunda viabilizando ou não as mediações necessárias. Portanto, se constitui na vida concreta, nas ações e atividades dos sujeitos permeando as relações vitais que se realizam. Esse processo é possível por meio da significação21, um determinado conjunto de objetos e fenômenos que se projetam num

21 A significação é a generalização da realidade que é cristalizada e fixada num vector sensível, ordinariamente a palavra ou a locução. É a forma ideal, espiritual da cristalização da experiência e da prática sociais da humanidade. A sua esfera das representações de uma sociedade, a sua ciência, a sua língua existem enquanto sistemas de significações correspondentes. A significação pertence, portanto, antes de mais, ao mundo dos

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sistema de interações e relações de forma objetiva. A significação é calcada e fixada na linguagem, dimensão que lhe confere certa estabilidade. É por meio das significações linguísticas que se constitui os conteúdos da consciência social e ao adentrar tais conteúdos possibilita-se acessar a “consciência real” dos indivíduos, objetivando em si o sentido subjetivo que o conteúdo refletido da realidade constitui. Por fim, “o reflexo consciente é psicologicamente caracterizado pela presença de uma relação interna específica, a relação entre sentido subjectivo e significação” (LEONTIEV, 1978, p. 94).

Dessa maneira, o sentido integra os conteúdos da consciência e se expressa nas significações, à esfera do sentido pessoal revela precisamente a relação do sujeito com os fenômenos expressos objetivamente em sua consciência. A relação dos sentidos e das significações constituem os principais componentes da estrutura interna da consciência humana. No entanto, as relações complexas inerentes à consciência desenvolvida agrega também a esfera dos conteúdos sensíveis (sensações, imagens de percepção, representações), que possibilitam o alicerce e as condições de toda a consciência. Este conteúdo sensível imediato é a base que possibilita a modificação, desenvolvimento e transformação da energia do estímulo exterior em elementos da consciência. Em síntese, o arcabouço estrutural da consciência está intrinsicamente articulada à composição da atividade dos indivíduos, possibilitada pelas condições sociais e pelas relações humanas (LEONTIEV, 1978).

Para Marx, Vigotski e Leontiev, durante o desenvolvimento no percurso da vida os sujeitos percebem, pensam, habitam, se apropriam e se objetivam no mundo como seres sócio-históricos, assim, são expressões de determinada época, lugar e posição social. A partir das ferramentas e determinado uso possível, estão armados e limitados pelas representações e conhecimentos disponíveis do seu tempo e do tipo de sociedade. As objetivações e subjetivações se dão a partir das significações, vivências, experiências e conhecimento humano acumulado pelas gerações anteriores. A partir das mediações com a totalidade,

Psicologicamente, a consciência humana desenvolve-se, portanto, nas suas mudanças qualitativas por definhamento das suas particularidades anteriores que cedem o seu lugar a outras. Na aurora da sociedade humana, a consciência passa pelas diferentes etapas da sua formação inicial; só o desenvolvimento ulterior da divisão social do trabalho, da troca e das formas de propriedade acarreta um desenvolvimento da sua estrutura interna, tornando-a, porém, limitada e contraditória; depois, chega um tempo novo, no tempo de novas relações, que cria uma nova consciência do homem. Ainda nos é difícil imaginar as imensas perspectivas do seu desabrochar

fenómenos objectivamente históricos (LEONTIEV, 1978, p. 94).

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futuro (LEONTIEV, 1978, p. 139).

Partindo dessa concepção de homem em movimento, calcada na materialidade