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É importante lembrar que o Centro Dia atende de forma geral, duas populações com diferentes características e demandas, ou seja, pessoas independentes no período da manhã e dependentes no período da tarde, tendo para elas objetivos distintos. Nesse sentido, o foco da presente pesquisa foram as pessoas com dependência que têm 60 anos e mais que apresentam limitações físicas e/ou cognitivas com restrições no desempenho das AVD ou ABVD.

Primeiramente, para caracterizar essa população idosa usuária do CCI foram utilizados os dados e informações existentes em prontuários do serviço no período de março a maio de 2013, totalizando uma amostra de 75 pessoas. Elencou-se a partir dos dados disponíveis em prontuários uma planilha com vinte e cinco itens com informações dos usuários: iniciais do nome, sexo, data de nascimento, idade, religião, etnia, estado civil, escolaridade, tipo de moradia, fonte de renda, renda familiar, trabalho ou principal ocupação exercida, diagnóstico principal, comorbidades, mobilidade, medicações, nível de independência ABVD e AIVD, se possui cuidador formal (remunerado), relação ou grau de parentesco do cuidador familiar (informal), idade do cuidador informal, frequência semanal no Centro, tempo de inserção, acompanhamento na rede/unidade de saúde ou outros serviços e informações complementares.

Cabe salientar que foram encontradas dificuldades no que se refere à precisão de informações utilizadas no preenchimento dos prontuários, como por exemplo, grau de escolaridade, principal atividade, problemáticas de saúde, dentre outras, especialmente nos casos inseridos há vários anos no serviço. Nesse sentido, buscou-se junto aos familiares a confirmação e atualização de alguns dados sempre que necessário. Acredita-se que essa

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imprecisão com as nomenclaturas ocorra em parte pela própria história e natureza de fundação, pela dificuldade dos próprios familiares em relatar informações sobre a pessoa idosa, como também, pelos diferentes olhares e peculiaridades na forma de trabalhar da instituição. A significativa ampliação do número de atendimentos que o serviço atingiu nos últimos três anos parece exigir algumas mudanças e maior sistematização que vem ocorrendo de forma gradativa no que se refere à padronização do uso de nomenclaturas técnicas nos registros, procedimentos e intervenções.

A segunda etapa da pesquisa consistiu em investigar o processo de cuidado de pessoas idosas com dependência, usuárias de um Centro Dia, buscando compreender as significações desse processo para idosos e familiares cuidadores por meio da realização de entrevistas semiestruturadas. Para estas os participantes deviam apresentar capacidade de fala e compreensão cognitiva preservadas, no sentido de conseguirem compreender e responder às perguntas realizadas. A partir do contato com as pessoas idosas, com os demais profissionais e prévia avaliação de dados dos prontuários do serviço, constatou-se que mais da metade dos usuários apresentavam alto grau de comprometimento da fala e cognição. Portanto, para essa fase preencheram os critérios de inclusão em potencial dezoito pessoas idosas. Dessa forma, as pessoas que apresentavam limitações e impossibilidade de compreender e responder satisfatoriamente às perguntas da entrevista foram excluídas.

Durante as entrevistas semiestruturadas, não se priorizou apenas os eixos temáticos propostos para investigação, mas na medida do possível possibilitou também espaço para escuta dos sujeitos, fossem idosos ou familiares cuidadores narrando suas vivências e histórias. É de suma importância ressaltar também que a entrevista se caracteriza como um instrumento que constitui a capacidade de romper o cotidiano apreendendo em profundidade o objeto proposto à reflexão (SCHRAIBER, 1995). As entrevistas sempre se iniciaram por perguntas básicas de identificação e, posteriormente se abordavam os temas (rotina diária, trabalho, processo saúde-doença da pessoa idosa, relações familiares, saúde do cuidador e apoio/recursos), seguindo o ritmo e o caminho possibilitado pelos pesquisados.

Anteriormente ao início de fato das entrevistas com os usuários do CCI foram realizados dois pré-testes. O idoso e a esposa cuidadora não tinham vínculo de atendimento com o Centro Dia, mas possuíam características semelhantes à população usuária. Posteriormente foram feitas as transcrições, leituras e em seguida realizou-se reuniões com a orientadora da pesquisa sendo retratadas várias dificuldades encontradas durante as entrevistas. Foram efetuados vários esclarecimentos e lapidadas arestas do aluno/pesquisador

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como: não fazer várias perguntas ao mesmo tempo e sempre retomar de um ponto com as próprias palavras do sujeito. Também diversos apontamentos e observações sobre a metodologia, cuidados, postura corporal, expressão facial e outras possíveis intervenções, seja do entrevistador ou dos entrevistados, que podem passar despercebidas e interferir nos conteúdos. Ainda, os roteiros norteadores com os temas a serem explorados durante as entrevistas foram reorganizados. Essas e outras intervenções no decorrer do processo objetivaram propiciar ao entrevistador preparação e aprimoramento da capacidade de escuta qualificada e apreensão/compreensão no que se refere às múltiplas determinações subjetivas/objetivas circunscritas a realidade concreta.

Assim, as pessoas entrevistadas foram esclarecidas sobre os objetivos da pesquisa, as gravações autorizadas (TCLE) pelas mesmas e a transcrição realizada na íntegra38 pelo próprio entrevistador, sendo que, a posteriori tais gravações serão destruídas. As entrevistas aconteceram no CCI, em sala adequada, individualmente e, cada pessoa idosa teve um familiar cuidador sendo entrevistado. As entrevistas se iniciaram por perguntas básicas de identificação (nome, local de origem, idade, estado civil, religião, escolaridade) e em seguida adentraram os eixos temáticos (rotina diária, atividades/trabalhos, processo saúde-doença, relações familiares, apoio/recursos e saúde do cuidador). Em determinadas sessões ocorreram alguns distanciamentos e, sempre buscou-se redirecionar para os objetivos da pesquisa com a flexibilidade suficiente para resguardar a liberdade da pessoa participante no seu modo de expressar-se, sem cortes abruptos respeitando o ritmo, condição e sequência apontada e produzida a partir do próprio relato da pessoa.

Em vários casos, por causa da grande abrangência dos temas ou detalhamento no relato dos participantes, houve necessidade de realização de mais de uma entrevista. Em alguns casos o segundo momento ocorreu pela necessidade de aprofundamento de questões que a orientadora e o pesquisador avaliaram ser necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Cabe também ressaltar que com algumas pessoas idosas necessitou-se especial atenção e cuidado em relação ao tempo de duração das entrevistas, levando em conta o cansaço físico e psíquico despendido pela atividade de lembrar e narrar, dentre outros aspectos, os processos de adoecimento e de cuidado. Todavia, dependendo da prolixidade ou brevidade da pessoa entrevistada geralmente as sessões duraram no mínimo cinquenta minutos e no máximo duas horas cada.

Havia a pretensão e o desejo de realizar entrevistas com todos os dezoito usuários que

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contemplavam os critérios exigidos e, por isso, realizou-se um sorteio para definição da sequência e ocorrência das mesmas. No decorrer do processo se percebeu que pela metodologia de trabalho adotada essa possibilidade seria inviável no prazo do mestrado39. Outra razão pela opção de sorteio se deu pelo fato do entrevistador atuar profissionalmente na instituição e naquele momento acreditar que seria prudente evitar escolhas dos casos de forma intencional40, assim, as mesmas acabaram sendo aleatórias dentre os dezoito casos. Foram entrevistadas quatro pessoas idosas e quatro familiares cuidadores, ou seja, essa etapa da pesquisa contou com oito participantes e ao todo concretizaram-se treze entrevistas. Estas geraram volume considerável de conteúdos para realização de análise e levando-se em conta o tempo hábil para o término da pesquisa, juntamente com as sugestões da banca de qualificação, optou-se por interromper a realização de novas entrevistas.

Os instrumentos utilizados no trabalho de campo e realização do estudo foram:

 Planilha de caracterização da população idosa usuária do período da tarde (Apêndice II);

 Roteiros de entrevista semiestruturada para pessoas idosas e familiares cuidadores (Apêndices III e IV).

A produção dos dados dessa investigação recorreu basicamente às fontes: literatura da área (política pública, processo de envelhecimento e cuidado), bibliografia específica da perspectiva teórica do Materialismo Histórico e Dialético e da Psicologia Sócio-Histórica (MARX, VIGOTSKI, LEONTIEV, entre outros), entrevistas, prontuários e, ainda, diário de campo com algumas observações pontuais para complementação de dados.