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Política, planejamento e regulação no setor energético brasileiro

2.2 Planejamento energético

2.2.4 As projeções da matriz energética nacional

2.2.4.4 Propostas de avanços metodológicos

A seguir, são apresentadas algumas propostas de avanços metodológicos que podem ser avaliados para elaboração de novas projeções da matriz energética brasileira.

Inicialmente, deve-se reavaliar a base de dados empregada nas projeções anteriores da matriz, visto que alguns necessitam de atualizações, como, por exemplo, índices de eficiência energética de equipamentos. Nesta etapa ainda, devem-se separar claramente quais serão as hipóteses e dados comuns a todas as projeções e quais serão as variáveis de cenarização.

É importante que na definição dos cenários a serem empregados em futuras projeções da matriz energética brasileira se leve em consideração trajetórias macroeconômicas alternativas, estudos de prospecção tecnológica, evoluções alternativas para os preços do petróleo, gás natural e eletricidade e, eventualmente, cenários com novas políticas públicas no País, de significativo impacto energético, sobretudo políticas energéticas.

Propõe-se que seja adotado um cenário macroeconômico de referência, envolvendo o crescimento médio da economia a longo prazo que pareça o mais provável à luz das informações hoje disponíveis, e mais dois cenários, um de crescimento menor da economia e o outro maior, para abranger o intervalo que parece factível para esta taxa de crescimento, segundo estudos e opiniões de especialistas consultados. Recomenda-se, também, que o cenário de referência tenha duas variantes, uma que mantenha as tendências de evolução setorial hoje detectadas e uma variante que exploraria mudanças estruturais desejáveis a médio e longo prazo, como, por exemplo, diminuições significativas na participação relativa dos segmentos industriais energo- intensivos na economia e na matriz energética nacional, desde que, neste último caso, se garanta a consistência macroeconômica deste cenário, utilizando-se um modelo macroeconômico de equilíbrio geral, por exemplo, e se indique as políticas econômicas necessárias para viabilizá-lo.

A análise dos estudos de prospecção tecnológica realizados pelo CGEE e de outros trabalhos desenvolvidos no exterior, como, por exemplo, pelo Laboratório Nacional de Riso, na Dinamarca (LARSEN & PETERSEN, 2002), podem auxiliar muito a etapa de reavaliação das hipóteses e bases de dados tecnológicos do exercício de modelagem futura. Além disso, seria bastante oportuno o MME se inserir no programa internacional de prospecção tecnológica na área de energia, envolvendo inúmeros países, coordenado pela International Energy Agency. Neste

programa se tem utilizado o modelo MARKAL para se montar cenários tecnológicos alternativos para os países envolvidos, visando subsidiar a elaboração de novas políticas energéticas e ambientais, como, por exemplo, a atenuação das emissões de gases que causam o efeito estufa.

Dada a importância dos preços do petróleo, gás natural e eletricidade nos perfis tanto da demanda como da oferta de energia, é importante que a modelagem seja capaz de capturar este efeito. Isto poderia ser feito utilizando-se o cenário de referência com duas variantes, a primeira considerando os preços destes energéticos seguindo as tendências de longo prazo, no Brasil e no mundo, e uma outra com valores mais elevados, mantendo-se a tendência dos últimos anos.

Uma das finalidades das projeções da matriz energética brasileira é quantificar, de preferência ex ante, os impactos energéticos de potenciais novas políticas públicas, sobretudo políticas energéticas. Deste modo, seria importante que os técnicos do MME e, eventualmente, de alguns outros ministérios avaliassem as políticas energéticas vigentes para poderem verificar que novas políticas energéticas deveriam ter seus impactos testados, na forma de cenários alternativos das futuras projeções. Como exemplos, poder-se-ia testar novas políticas que visam incrementar, com variantes regionais:

• a busca da universalização no fornecimento de energia elétrica;

• o uso do gás natural em certas aplicações, como cogeração, uso automotivo e fornecimentos industriais interruptíveis;

• programas de eficiência energética (sobretudo no cenário de preços altos da energia); e, • usos térmicos e produção de eletricidade através da energia solar.

No capítulo 3 deste trabalho, são apresentados os principais modelos utilizados no exterior para realizar estudos de projeções da oferta e demanda de energéticos. Estes modelos já estão consolidados, apresentando vantagens e desvantagens no seu uso e poderiam servir de base para a construção de um modelo próprio por parte do Ministério de Minas e Energia e outros centros interessados, como ocorre no exterior. Considerando que, para as futuras projeções, parte da metodologia adotada nas projeções anteriores se mantenha, algumas melhorias que poderiam ser avaliadas são:

i. Revisão das hipóteses e base de dados do modelo MIPE, busca de melhorias em suas relações funcionais e coeficientes técnicos, além de se tentar contemplar nas projeções de demanda

dos energéticos, quando possível, o uso de elasticidades-preço e elasticidades-renda, obtidas de estudos relativamente recentes, como o de Andrade e Lobão (1997);

ii. Refinar a modelagem da expansão do parque gerador e principais troncos de transmissão, com o modelo MELP, além de se revisar e tentar completar a base de dados disponível para esta modelagem; e

iii. Otimizar, a longo prazo, a expansão das cadeias produtivas das indústrias de petróleo e gás, carvão e sucro-alcooleiro, com o auxílio do modelo MARKAL, já utilizado anteriormente no Brasil - na Petrobrás e no MCT – e amplamente empregado, no passado e no presente, no exterior.

Finalmente, sugere-se a divulgação dos estudos que conduzirão a estes resultados, após a sua aprovação pelo CNPE, por meio eletrônico e impresso, destacando-se as eventuais simulações dos efeitos energéticos de possíveis novas políticas públicas, discutidos com os possíveis interessados através de seminários promovidos pelo MME.

É fundamenta que nas futuras projeções da matriz energética brasileira dever-se-ia apontar a necessidade de novos estudos de inventário e de viabilidade de centrais hidrelétricas, priorizando as bacias hidrográficas mais promissoras, e novos levantamentos de potencial de outras fontes energéticas, bem como os efeitos dos programas de incentivo como o Proinfa, Luz para Todos, etc..