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Provisões, passivos contingentes e activos contingentes

No documento Rui Miguel Lopes Ferreira (páginas 109-114)

Parte III – Projecto NCRFP

33. Provisões, passivos contingentes e activos contingentes

33.1. Enquadramento

Nesta norma são tratados os temas relativos às provisões, passivos contingentes e activos contingentes, sendo identificadas as circunstâncias em que as provisões devem ser reconhecidas, como devem ser mensuradas e as divulgações que devem ser feitas acerca das mesmas.

No POCP, as “Provisões” têm por base o princípio da prudência, estando ainda relatados os tipos de provisões a constituir nas contas do plano e nas notas explicativas.

O POCP, contrariamente ao POC, não adaptou ao seu normativo a IAS 37, pelo que continuam ainda a denominar-se como “provisões” determinadas operações, que já são denominadas de “Ajustamentos” pelo POC, e que não respeitam o conceito de provisão da IPSAS, nomeadamente as provisões para depreciação de existências e clientes de cobrança duvidosa.

Assim, as únicas provisões tipificadas no POCP que se enquadram na definição de provisão da IPSAS são as relativas a riscos e encargos.

O POCP é omisso quanto ao tratamento a efectuar relativamente aos activos e passivos contingentes.

O termo “Contingência” apenas consta do POCP, mais concretamente na nota explicativa da conta provisões para riscos e encargos, mas não é referido qualquer tratamento a efectuar sobre o mesmo.

A NCRF e a IPSAS são praticamente idênticas nas matérias tratadas nesta norma.

33.2. Provisões e Outros Passivos

De acordo com a norma, as provisões podem ser distinguidas de outros passivos porque há incerteza acerca da tempestividade ou da quantia dos dispêndios futuros exigidos na liquidação.

Verifica-se, assim, que embora o POCP não especifique o conceito de provisão, pode depreender-se, pelo tipo de provisões previstas no POCP, que também existe, associado à provisão, um carácter de incerteza, ou seja, a sua constituição resulta de uma estimativa.

33.3. Relacionamento entre Provisões e Passivos Contingentes

A IPSAS clarifica a distinção entre provisões e passivos contingentes referindo que:

• Provisões – são reconhecidas como passivos (presumindo que pode ser feita uma estimativa fiável) porque são obrigações presentes, e

• Passivos contingentes – não são reconhecidos como passivos porque são: Obrigações possíveis, porque ainda têm de ser confirmadas ; ou

Obrigações presentes que não satisfazem os critérios de reconhecimento nesta Norma.

Também no POCP é necessário efectuar estimativas, em condições de incerteza, tendo por base passivos que são certos para se constituírem provisões.

O “passivo contingente” é um conceito não previsto no POCP, resultando de uma incerteza ainda maior, porquanto, não é certo que o passivo venha a ocorrer.

33.4. Reconhecimento

Especifica a norma que para efectuar o reconhecimento de uma provisão devem ser respeitados os seguintes três pressupostos:

• Obrigação presente58;

• Probabilidade de Exfluxos futuros virem a ser exigidos;

• Estabelecimento de uma estimativa fiável da quantia da obrigação. O POCP não define regras específicas para constituir provisões.

Contudo, a nota explicativa da conta de provisões para riscos e encargos refere que se devem registar as responsabilidades derivadas dos riscos de natureza específica e provável, o que implica que exista também uma “obrigação presente” e uma “probabilidade de exfluxos futuros virem a ser exigidos”.

Se conjugarmos o explanado no parágrafo anterior com o princípio da prudência referido no POCP, concluímos que é, também, necessário “Estabelecer uma estimativa fiável”.

33.5. Passivos contingentes

Os passivos contingentes devem, de acordo com a IPSAS, ser apenas divulgados em anexo, nunca devendo ser reconhecidos. Caso se torne provável que seja necessário um exfluxo de benefícios económicos futuros ou potencial de serviço para um item previamente tratado como um passivo contingente, deverá ser reconhecida uma provisão nas demonstrações financeiras do período em que a alteração da probabilidade ocorra.

33.6. Activos contingentes

À semelhança dos passivos contingentes, também os activos contingentes devem apenas

58 Quando seja mais provável que nenhuma obrigação existe à data de relato, a entidade divulga um

passivo contingente, a menos que a possibilidade de um exfluxo de recursos incorporando benefícios económicos ou potencial de serviço seja remoto.

ser divulgados, nunca reconhecidos.

Refere a norma que apenas quando a realização de réditos seja virtualmente certa, os activos relacionados não são activos contingentes e o seu reconhecimento é apropriado.

33.7. Mensuração

A quantia reconhecida como uma provisão deve ser a melhor estimativa do dispêndio exigido para liquidar a obrigação presente à data de relato. As estimativas do desfecho e do efeito financeiro são determinadas pelo bom senso da gerência da entidade, suplementada pela experiência de transacções similares e, em alguns casos, por relatórios de peritos independentes, conforme descreve a IPSAS.

Com efeito, encontra-se subjacente, à mensuração da provisão, um critério económico, porquanto as provisões devem ser reconhecidas com base nas expectativas dos exfluxos futuros a despender.

Prevê, ainda, a IPSAS que se o efeito do valor temporal do dinheiro for materialmente relevante, a quantia de uma provisão deve ser o valor presente dos dispêndios que se esperam que sejam exigidos para liquidar a obrigação.

Assim, em consequência da actualização a efectuar na mensuração das provisões, de acordo com Correia (2009), haverá que ir reconhecendo periodicamente, em resultados, os efeitos da passagem do tempo sobre o valor da dívida.

O POCP não considera o valor presente quando o valor temporal do dinheiro for materialmente relevante.

33.8. Reembolsos

Refere a norma que quando se espera que alguns, ou todos, os dispêndios exigidos para liquidar uma provisão sejam reembolsados por uma outra parte, o reembolso deverá ser reconhecido quando, e somente quando, for virtualmente certo que o reembolso seja recebido se a entidade liquidar a obrigação59.

Na demonstração do desempenho financeiro, o gasto relacionado com uma provisão pode ser apresentado líquido da quantia reconhecida do reembolso.

No POCP os ganhos relacionados com reembolsos de provisões resultam na anulação da provisão, sendo essa anulação registada em proveitos extraordinários.

33.9. Alterações nas provisões

Tanto na IPSAS como no POCP, as provisões devem ser revistas em cada data de relato e ajustadas para reflectirem a melhor estimativa corrente.

33.10. Reestruturação

A norma prevê ainda que sejam constituídas provisões de reestruturação60 que têm de respeitar os critérios já descritos nesta norma para que possam ser constituídas.

Devendo ainda uma obrigação construtiva para reestruturar surgir apenas quando uma entidade tenha um plano formal pormenorizado para a reestruturação e tenha criado uma válida expectativa nas entidades que venham a ser afectadas pelo plano de que a entidade levará a efeito a reestruturação.

Este tipo de provisões não se encontra previsto no POCP.

33.11. Divulgações

O POCP, relativamente às provisões, apenas exige que seja divulgada a variação do montante das provisões entre o início e o final do exercício.

A IPSAS é mais exigente, sendo necessário divulgar as divulgações previstas no POCP e também diversos factores associados directamente à existência da provisão, nomeadamente:

• Uma breve descrição da natureza da obrigação e a tempestividade esperada de quaisquer exfluxos de benefícios;

60 São exemplos de acontecimentos que podem cair sob a definição de reestruturação a cessação ou

• Uma indicação das incertezas acerca da quantia ou tempestividade desses exfluxos;

• A quantia de qualquer reembolso esperado.

Para além destas, são ainda descritas as divulgações dos activos e dos passivos contingentes.

O POCP exige uma divulgação que se pode assemelhar a passivo contingente, ao referir que deve ser colocado no anexo uma descrição das responsabilidades da entidade por garantias prestadas, desdobrando-as de acordo com a natureza destas e mencionando expressamente as garantias reais, bem como os avales prestados.

No documento Rui Miguel Lopes Ferreira (páginas 109-114)