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Rédito de transacções de troca

No documento Rui Miguel Lopes Ferreira (páginas 79-83)

Parte III – Projecto NCRFP

25. Rédito de transacções de troca

25.1. Enquadramento

A IPSAS e a NCRF referem que esta norma deve ser utilizada na contabilização do rédito proveniente das transacções e acontecimentos de troca a seguir referenciados:

a) A prestação de serviços;

b) A venda de bens; e

c) O uso por outros de activos da entidade que produzam juros, royalties e dividendos.

Sendo o Rédito32 definido como o influxo bruto de benefícios económicos ou potencial de serviço durante o período de relato, quando esses influxos resultam num aumento em activo líquido/capital próprio, que não sejam aumentos relativos a contribuições dos proprietários.

A NCRF refere-se apenas ao “Rédito”, enquanto a IPSAS, por seu lado, acrescenta as “Transacções de Troca”, sendo as “Transacções de Não Troca” tratadas na IPSAS 23.

As operações compreendidas na presente IPSAS, embora acrescentem as “Transacções

de Troca”, são idênticas às da NCRF.

25.2. Mensuração do Rédito

Cita a IPSAS que a “quantia de rédito proveniente de uma transacção é geralmente determinada por acordo entre a entidade e o comprador ou utente do activo. É mensurado pelo justo valor da retribuição recebida ou a receber tomando em consideração a quantia de quaisquer descontos comerciais e de quantidades concedidos pela empresa.”

Indica ainda que “na maior parte dos casos o valor rédito coincide com a quantia em dinheiro ou seus equivalentes recebida ou a receber, ou seja, a receita. Porém, quando o influxo de caixa ou de equivalentes de caixa é deferido, o justo valor da retribuição pode ser menor que a quantia nominal de caixa recebida ou a receber,33 diferindo do valor nominal da transacção.”

No POCP o registo destas transacções é efectuado pelo valor nominal, não se tendo em consideração o valor actual em caso de diferimento do recebimento numa transacção de financiamento.

Também, no caso de existir juro à taxa de juro do mercado, o método de contabilização é idêntico ao do POCP, ou seja, o rédito deve ser reconhecido pelo justo valor do bem ou serviço, ou pelo valor da factura, sendo os juros reconhecidos separadamente em rubrica própria.

A diferença da NCRF para o POCP verifica-se, quando existe uma operação de financiamento em que não exista juro ou a taxa negociada na transacção for inferior à taxa do mercado. Nestes casos a diferença entre o justo valor e a quantia nominal da retribuição é reconhecida como rédito de juro.

Assim, conforme Correia (2009), relativamente ao rédito de juros, a norma prevê o reconhecimento segundo a aplicação do modelo da taxa efectiva.

33A IPSAS diz que será o caso quando o vendedor conceder crédito sem juros ou a taxa inferior à do

mercado. Quando o contrato entre o vendedor e o comprador efectivamente constitui uma transacção de financiamento, o justo valor da retribuição é determinado pelo desconto dos recebimentos futuros.

25.3. Reconhecimento das prestações de serviços

De acordo com a IPSAS “o reconhecimento do rédito, relativo às prestações de serviços da IPSAS, associado à transacção, deve ser reconhecido com referência à fase de acabamento da transacção à data do relato, quando o desfecho da transacção possa ser estimado com fiabilidade.”

Encontra-se subjacente, para o reconhecimento do rédito, a utilização do método da percentagem de acabamento.

O POCP refere que, de acordo com o princípio da especialização dos exercícios, “os

proveitos e os custos são reconhecidos quando obtidos ou incorridos”.

Refere, ainda, a nota explicativa da conta 71-“Vendas e prestações de serviços”, que estas são representadas pela facturação, devendo ser deduzidas do IVA e de outros impostos e incidências nos casos em que nela estejam incluídos.”

Com efeito, no POCP os proveitos são reconhecidos pela emissão da factura, que corresponde à fase da liquidação das receitas e não está prevista a utilização do método da percentagem de acabamento.

Na IPSAS verifica-se que a emissão da factura deixa de ser o factor fundamental para reconhecimento do rédito, pois, este reconhecimento apenas deve ser efectuado com a execução dos trabalhos.

Quando o desfecho de uma transacção não possa ser estimado com fiabilidade e não for provável que os custos incorridos serão recuperados, o rédito não é reconhecido e os custos são reconhecidos como um gasto. Quando deixarem de existir as incertezas que impediram o desfecho do contrato ser estimado com fiabilidade, o rédito é reconhecido

25.4. Reconhecimento das vendas de bens

A IPSAS define vários critérios para o reconhecimento da venda de bens, critérios estes que não constam do POCP, nomeadamente:

a) que a entidade tenha transferido para o comprador os riscos e vantagens significativos da posse dos bens;

b) que a entidade não retiver envolvimento de gestão continuado no grau usualmente associado com a propriedade nem o controlo efectivo sobre os bens vendidos;

c) que a quantia de rédito possa ser mensurada com fiabilidade;

d) que seja provável que os benefícios económicos ou potencial de serviço associados à transacção fluirão para a entidade; e

e) que os custos incorridos ou a serem incorridos com respeito à transacção possam ser mensurados com fiabilidade.

Contudo, podem encontrar-se referências, ao acima mencionado no POCP, nas notas explicativas de determinadas contas, cujo conteúdo contém correspondência com a IPSAS.

Assim, a nota explicativa da conta ”25-Devedores e credores pela execução do orçamento», refere que: “nesta conta registam-se os movimentos correspondentes ao reconhecimento de um crédito da entidade relativamente a terceiros (liquidação da receita), que ocorre com o reconhecimento de um crédito ou do direito perante terceiros”. Este reconhecimento é concretizado pela facturação efectuada ao terceiro.

Ao compararmos o acima exposto, com a IPSAS, verificam-se aspectos comuns, ou seja, ao procedermos à liquidação da factura ”a quantia do rédito é fiavelmente mensurada” e ”os benefícios económicos associados com a transacção fluem para a entidade”, ou seja, ao procedermos à liquidação, estamos a reconhecer um direito, ou seja, o registo de um activo.

Igualmente “os custos incorridos ou a serem incorridos referentes à transacção” estão mensurados, pois o registo de uma venda de bens, ou a sua liquidação, deve efectuar-se “deduzidos do IVA e de outros impostos e incidências nos casos em que nela estejam incluídos”, conforme nota explicativa da conta 71 - «Vendas e prestações de serviços».

Verificamos, assim, que a diferença principal entre a IPSAS e o POCP, reside na

“transferência dos riscos e vantagens da posse dos bens”, dado, o POCP ser omisso

nesta matéria.

Quando a transferência se dá em conjunto com a entrega do bem, não existem dúvidas e o rédito é reconhecido. O problema surge quando existe diferimento entre a

transferência de riscos e a entrega dos activos. A IPSAS refere que se existirem ainda muitos riscos para o comprador, não se deve reconhecer o rédito.

25.5. Juros, “royalties” e dividendos

Refere a IPSAS que o rédito deve ser reconhecido usando os seguintes tratamentos contabilísticos:

a) O juro deve ser reconhecido numa base de proporção do tempo que tome em conta a rendimento efectivo sobre o activo;

b) Os royalties devem ser reconhecidos à medida que são obtidos de acordo com a substância dos acordos relevantes; e

c) Os dividendos ou os seus equivalentes devem ser reconhecidos quando for estabelecido o direito do accionista ou da entidade a receber o pagamento.

Embora o POCP não refira explicitamente como efectuar o reconhecimento de juros, royalties e dividendos, o registo a efectuar no POCP não difere do exposto na IPSAS.

25.6. Divulgações

As divulgações da IPSAS são idênticas à NCRF.

Relativamente ao POCP a IPSAS exige um relato mais completo dos réditos, devendo estes serem discriminados por tipo e quantia, bem como elencadas as políticas contabilísticas adoptadas, nomeadamente no método utilizado na determinação da fase do acabamento.

No POCP apenas se deve divulgar a demonstração dos resultados financeiros.

No documento Rui Miguel Lopes Ferreira (páginas 79-83)