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Qualificação para o mercado de trabalho

5 OBJETIVOS CONSTITUCIONAIS DA EDUCAÇÃO

5.2 Qualificação para o mercado de trabalho

A qualificação para o mercado de trabalho pode ser desenvolvida através de uma formação profissional, que aprimore suas habilidades para executar as mais variadas funções, podendo se especializar em uma área.

O Estado brasileiro, conforme expresso no artigo 1º, inciso IV da Constituição, possui como fundamento os valores sociais do trabalho, ou seja, a própria organização da sociedade funda-se no trabalho, em seu artigo 170, a Constituição diz que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano.

Deste modo, preparação para o mercado de trabalho não pode ser considerado apenas como capacitação para

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ocupar determinada vaga, mas deve possuir um significado mais amplo, uma vez que fundamenta a própria existência do Estado bem como sua ordem econômica e consequente regulações sociais. Assim também ensina Daniel Villavicencio quando tenta definir a qualificação dos trabalhadores:

Não pode ser compreendida como uma construção teórica acabada, mas, sobretudo, como um conceito explicativo da articulação de diferentes elementos no contexto de relações de trabalho, capaz de dar conta das regulações técnicas que ocorrem na relação dos trabalhadores com a tecnologia e das regulações sociais que produzem os diferentes atores da produção que resultam nas formas coletivas de produzir.44

Assim, a qualificação para o trabalho deve englobar não apenas conhecimentos técnicos, obtidos em cursos profissionalizantes ou superiores, mas também conhecimentos sociais, que deveriam ser obtidos desde os primeiros anos escolares.

44 VILLAVICENCIO, D. Por una definición de la calificación de los

trabajadores. Trabalho apresentado no 4. Congreso Español de

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A educação está a todo o tempo ligada ao trabalho e a organização da vida em sociedade, devendo a educação ensinar o necessário para uma vida digna, deste modo, ensinando a importância do trabalho como forma de contribuição na sociedade, nas palavras de Leonardo Vizeu Figueiredo:

Benjamin Franklin (1706 – 1790) cunhou a frase “o

trabalho dignifica o homem”. Tal expressão, profunda e

presente no inconsciente coletivo, revela o quanto a atividade laborativa, útil e produtiva, é necessária não somente para o indivíduo, mas também para a sociedade. Isto porque, em um sistema econômico ordenado no ideário capitalista, a produção de rendas e riquezas se norteiam no trabalho. Há que se ter em mente que a relevância do labor transcende sua contraprestação pecuniária. Em virtude do exercício laborativo útil e produtivo, a pessoa toma consciência de si e de seu valor, tornando-se um ser humano pleno e digno, uma vez que descobre seu papel na sociedade e o sentido de sua existência. [...] Em outras palavras, a valorização do trabalho humano é fator de garantia do princípio da dignidade da pessoa humana. Vale observar que a valorização do trabalho humano necessita de políticas de investimento em capacitação de mão de obra, que, para tanto, deve passar

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necessariamente por um conjunto de políticas de investimento em educação.45

Deste modo, para valorização do trabalho humano é necessária uma preparação para este trabalho, o que se obtêm apenas através da educação. No último século, praticamente tudo o que existe mudou, entretanto, a educação continua a mesma, o professor na frente da sala passando conhecimento e alunos em frente ao professor recebendo este conhecimento. Em plena era da internet, onde todo o conhecimento está na palma da mão, bastando um telefone e internet, este modelo de ensino tende ao fracasso.

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), denominada Retratos da Sociedade Brasileira- Educação Básica,46 realizada em 2014, aponta que a sociedade brasileira considera que os formados no ensino médio e superior não estão preparados para o mercado de trabalho, sendo que apenas 14% dos entrevistados consideram os formados no ensino médio bem preparados para o mercado de trabalho, enquanto que apenas 23% dos

45 FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, pp. 95-96.

46 CNI (Confederação Nacional da Industria). Retratos da sociedade

brasileira-educação básica. Disponível em

<http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/cni_estatistica_2/2015/01/0 7/169/RetratosDaSociedadeBrasileira_20_EducacaoBasica1.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2016.

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entrevistados consideram os formados na educação superior bem preparados para o mercado de trabalho.

O ensino médio tem se voltado cada vez mais para a preparação para exames, sejam vestibulares ou o ENEM (exame nacional do ensino médio), sendo este fenômeno nomeado por Lucas Rodrigues Cunha de “vestibularização do ensino médio”.47

Entretanto se apenas 23% dos formados no ensino superior se consideram preparados para o mercado de trabalho talvez a solução seria utilizar o ensino médio para dar início a esta preparação. Conforme a mesma pesquisa realizada pela CNI, a maior parte dos entrevistados concorda com a existência do ensino profissionalizante em conjunto com o ensino médio, principalmente quando o entrevistado possui uma renda maior, lembrando que o aumento da renda e o aumento da escolaridade estão diretamente ligados.

Praticamente nove em cada dez brasileiros concordam ao menos em parte que o Brasil precisa oferecer mais cursos de ensino médio que também ensinem uma profissão (curso conjugado com o ensino profissionalizante). Mais de dois terços (67%) concordam totalmente com a afirmativa e 22%

47 CUNHA, Lucas Rodrigues. Vestibularização do ensino médio. Disponível em <https://www.ufmg.br/boletim/bol1658/2.shtml>. Acesso em: 18 dez. 2016.

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concordam em parte. Apenas 3% dos entrevistados afirmam discordar total ou parcialmente com a frase. A concordância é maior nas maiores faixas de renda. Entre os entrevistados com renda familiar superior a dez salários mínimos, a concordância total ou parcial é de 98% enquanto para os entrevistados com renda familiar de até um salário mínimo, esse percentual cai para 87%.48

Conforme demonstrado, a educação, principalmente a superior, tem alcançado resultados pouco significativos na preparação para o trabalho, sendo que o ensino médio possui resultados alarmantes, não significativos, em relação a este objetivo constitucional. Devido à grande importância do trabalho, não apenas para o indivíduo, mas também para a sociedade é necessário que a preparação para o trabalho se inicie no ensino médio dando a oportunidade ao jovem aprimorar esta preparação no ensino superior, melhorando inclusive a economia e a sociedade brasileira, conforme ensina Guimar Namo de Mello.

48 CNI (Confederação Nacional da Industria). Retratos da sociedade

brasileira-educação básica. Disponível em

<http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/cni_estatistica_2/2015/01/0 7/169/RetratosDaSociedadeBrasileira_20_EducacaoBasica1.pdf>. Acesso em 18 dez. 2016, p. 12.

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[...] a educação passa a ocupar, junto com as políticas de ciência e tecnologia, lugar central e articulado na ponta das macropolíticas do Estado, como fator importante para a qualificação dos recursos humanos requeridos pelo novo padrão de desenvolvimento, no qual a produtividade e a qualidade dos bens e produtos são decisivas para a competitividade internacional. Ainda que por si só a educação não assegure a justiça social, nem a erradicação da violência, o respeito ao meio ambiente, fim das discriminações sociais e outros objetivos humanistas que hoje se colocam para as sociedades, ela é, sem dúvida, parte indispensável do esforço para tornar as sociedades mais igualitárias, solidárias e integradas.49

Deste modo, para preparar para o trabalho, devido a total ineficiência do ensino médio, a educação profissionalizante deveria substitui-lo, mesmo não sendo suficiente para o preparo total do jovem, o ensino profissionalizante faria com que o jovem saísse mais preparado para o ensino superior e consequentemente mais preparado ainda deste.

49 MELLO, Guiomar Namo de. Cidadania e competitividade. São Paulo: Cortez, 1998, p. 43.

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