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Análise qualitativa dos gêneros uni-, multi e intersemióticos nos LDP

7) Não é possível definir com precisão a associação feita pelo artista, mas existe certamente uma unidade de sentido Por exemplo, todas as

3.4 Quarto Exemplo

O quarto exemplo ilustra os poucos casos em que as histórias em quadrinhos recebem abordagem de leitura próxima ao modelo da Interação. Em geral, esses gêneros são utilizados como pretexto para atividades gramaticais ou em abordagens de localização

50 A coleção PAP utilizada para a realização desta análise é acompanhada por sugestões de resposta no Livro

de informações (Decodificação), sem que se chegue a explorar adequadamente os elementos visuais que compõem os textos/gêneros. O exemplo foi extraído do volume destinado à 5ª série e está representado pela Figura 15, a seguir (vol. 5, p. 281-283):

Figura 15: Leitura de História em Quadrinhos – col. PAP (vol. 5, pp. 281-282)

A proposta de leitura da coleção para esse exemplo está localizada em na Unidade 8 que é dedicada à leitura de quadrinhos, entitulada “Imagens que narram: a linguagem dos quadrinhos”. A Unidade é organizada de maneira semelhante às outras, mantendo suas seções de leitura, de gramática e de produção de texto, porém a presença constante dos quadrinhos é marca característica da seleção de sua coletânea e inclui cartunistas brasileiros e estrangeiros de maneira equilibrada. No presente caso, apresenta-se o trabalho do brasileiro Laerte.

O quadrinho é, na verdade, uma sequência de três historinhas curtas ou Cartuns que, lidos em conjunto, sugerem continuidade51 semelhante à História em Quadrinhos. As atividades propostas para leitura dessa sequência são transcritas abaixo (com ênfase adicionada em negrito e com estratégias do modelo de Interação entre parênteses, também adicionadas):

1. Transcreva no caderno as falas em que Suriá apresenta o Bléuco. Qual

gênero de texto parece ter servido de modelo de linguagem para essa

fala? Justifique sua resposta.

2. Sem ler o quarto quadrinho, o que o leitor imaginaria a partir da fala do palhaço? (Antecipação)

3. Escreva o que motivou o comentário de Suriá: “Puxa, que monstro organizado...!” (Inferência)

4. A personagem que aparece no 13º quadro é emprestada de uma obra muito famosa.

a) Quem é essa personagem? (Localização e relação de

inferência)

b) De que tipo de obra saiu e qual sua característica mais importante? (Contextualização)

c) A que episódio faz referência? (Contextualização)

d) Como se traduziria a expressão de gíria que essa personagem usou? (Reforço à língua padrão)

e) A que essa personagem podia estar se referindo com sua resposta? (Inferência)

5. Explique como Suriá conseguiu escapar da barriga do monstro. (Generalização e síntese, tradução de linguagens)

6. A pontuação do texto é bastante expressiva. Indique que emoções expressam os pontos de exclamação. Explique o que pode sugerir o uso de apenas um ponto final na resposta de Pinóquio.

7. Observe a figura do monstro e responda no caderno. a) No que ela difere da figura das outras personagens?

b) Qual pode ser a intenção do autor ao marcar essa diferença? (Inferência e relação de informações)

8. Discuta com os colegas: O que você teria feito para escapar da barriga do Bléuco? E seus colegas? (Hipotetização)

As estratégias do modelo interativo (Antecipação, inferência, contextualização, relação de informações, generalização e síntese, hipotetização etc) estão presentes nas

51 Esta seria, entre outros fatores, a diferença entre História em Quadrinhos e Cartum. Na HQ, temos uma

sequência maior de quadros para compor a história enquanto no Cartum temos pequenos episódios que podem ser lidos separadamente.

questões da atividade, o que revela a aplicação do modelo para buscar atender às exigências da avaliação do PNLD.

É possível observar que as questões equilibram as atividades de observação do leitor, ora para o texto verbal, ora para a linguagem visual, além de explorar a referência intertextual de um gênero publicitário (questão 1) e interdiscursiva de do gênero Conto de Popular (Pinóquio, questão 4). Acreditamos que as possibilidades de leitura são permitidas pela própria forma composicional do gênero Cartum, ou seja, as diferentes linguagens e as referências externas são trabalhadas de maneira a atingir o humor em um curto espaço de tempo, traduzido em quadros e diálogos expressivos.

Cabe ressaltar que nas questões 1 e 7b a coleção apresenta termos que remetem, de alguma forma, à teoria de gêneros (textuais), contudo, não são suficientes para classificarmos o exemplo no modelo Discursivo. A “intenção”, no caso da questão 7b, estaria mais relacionada à representação da imaginação de Suriá (desenho com traçado infantil feito com giz de cera), sem necessariamente tratar de “intenção” ou “vontade enunciativa”, conforme discutido anteriormente.

Em síntese, o presente exemplo serve-nos para ilustrar o modelo de Interação que ocorre na proposta de leitura para os Cartuns, orientando quase sempre o leitor a buscar justificativas para suas hipóteses. Entretanto, esse modelo de abordagem não permanece para todo o restante da coleção ao apresentar o mesmo gênero, prevalencendo o modelo de Decodificação para a maioria dos gêneros intersemióticos, confirmando a interpretação dada nos exemplos anteriores de que a coleção prioriza o método transmissivo.

3.5 Quinto exemplo

Extraído do volume destinado à 6ª série, o quinto exemplo ilustra o que raramente acontece em propostas de leitura para gêneros intersemióticos sob a abordagem próxima ao modelo Discursivo, conforme reproduz a Figura 16, a seguir:

Figura 16: Leitura de texto Publicitário– col. PAP (vol. 6, pp. 206-207)

Diferentemente do tratamento que é dado às imagens fotográficas pela coleção PAP (observado nos dois primeiros exemplos), os gêneros intersemióticos – sobretudo as publicidades e quadrinhos – foram selecionados entre textos de produção e circulação em território brasileiro. Ao relacionar esse fato com a constatação apontada no capítulo anterior, de que a coleção PAP apresenta maior número de gêneros intersemióticos (embora a maioria receba abordagens de leitura no modelo de Decodificação), poderíamos afirmar que houve maior preocupação em atender às necessidades de leitura desses gêneros para o público brasileiro.

A publicidade em questão, que abre a unidade destinada ao estudo dos “Componentes básicos da argumentação”, é um cartaz que divulga a Bienal do Livro de São Paulo. As questões propostas como atividade de leitura para o texto no gênero são

transcritas a seguir (ênfase adicionada e com termos entre parênteses que serão discutidos a seguir):

1. A que público esse cartaz é dirigido? Em que lugar ele poderia ser