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O que dizem os discentes: problemas e possibilidades da formação jurídico-penal

2. A PERCEPÇÃO DOS DISCENTES E A COMPREENSÃO CRÍTICA DO

2.2 A PERSPECTIVA DOS DISCENTES SOBRE A FORMAÇÃO JURÍDICO-PENAL

2.2.1 O que dizem os discentes: problemas e possibilidades da formação jurídico-penal

relatos dos entrevistados apontam a forma como o programa da disciplina de Direito penal é ministrado nessa instituição de ensino:

[...] Eu acho que foi dado nesse período muita coisa, teve a parte mais básica, introdutória do Direito penal, as escolas, as teorias do Direito penal e depois

102 FREIRE, Paulo. op. cit., p. 24.

a gente veio, vem caminhando mesmo pra os crimes, dosimetria da pena na verdade, até chegar em penal IV que vem mais especificamente falando sobre os crimes, crimes contra a honra, contra o patrimônio [...] (Vanessa104, 10º

semestre do noturno, 25 anos)105

Eu fiz primeiro Penal I e II, assim, bastante técnico, não sentia muita reflexão acerca de outros assuntos que precisam ser discutidos em penal. Penal III foi com [professor X]106, eu gostei mais, mas já foi naquela perspectiva dos crimes

em espécie, em minha grade Penal III já começa crimes em espécie. E também não teve aquela coisa de fazer muitas discussões, mas eu ainda gostei mais, o professor ainda conseguiu tocar em alguns assuntos que outros professores não tocam. E Penal IV foi com [professor X], que também achei a mesma coisa que Penal I e II. (Carla, 6º semestre do diurno, 23 anos)

Esses relatos indicam que a formação jurídico-penal que vem sendo realizada na FDUFBA adota como estrutura os temas trazidos pelo Código Penal, de modo que o programa da disciplina de Direito penal seja ministrado de forma sequencial e por pré-requisitos – Penal I, II, III, IV – seguindo a mesma ordem de conteúdo prevista na legislação penal.

Dessa forma, o Código Penal acaba por exercer, como demonstra Carvalho107, uma “função de programa didático”, ocasionando um modelo de ensino linear que dificulta a ocorrência de reflexões necessárias sobre temas importantes para a compreensão do fenômeno criminal, pois, por se tratarem de questões que estão além dos dispositivos legais, não podem ser discutidas exclusivamente através de uma percepção fragmentada desta disciplina.

Ao não possibilitar o diálogo com outros campos de saberes, a formação jurídico-penal da FDUFBA se fecha na tentativa de análise do fenômeno criminal apenas pela utilização majoritária do Direito penal, ocasionando uma série de lacunas na formação dos estudantes, que acabam tendo uma visão parcial da realidade a que estão inseridos. A ausência da utilização da interdisciplinaridade impossibilita uma compreensão mais efetiva das questões criminais108, tendo em vista que, pela sua inerente complexidade, ultrapassa a mera interpretação das leis por meio da dogmática jurídica.

As narrativas evidenciam um modelo de formação jurídico-penal que não estimula o diálogo entre os diversos campos de saberes, se restringindo, de forma geral, a análise da legislação penal, tornando necessário realizar uma abertura metodológica no sentido de

104 Os nomes dos estudantes que aparecem neste trabalho são fictícios.

105 As transcrições das entrevistas realizadas foram mantidas em sua forma original, assim como os

dados referentes à idade dos entrevistados, semestre e período do curso.

106 Por questões éticas, a divulgação dos nomes dos professores foi suprimida neste trabalho. 107 CARVALHO, Salo. op. cit., p. 291.

108 DIAS DOS SANTOS, Ílison. En busca de la justicia restaurativa: un cambio de paradigma en el

possibilitar novas abordagens para um ensino que possa compreender os fenômenos criminais que se apresentam no entorno da Universidade e no cotidiano de seus estudantes em seus mais diversos aspectos.

Nesse sentido, as percepções dos sujeitos entrevistados revelam uma certa insatisfação ao modelo de ensino jurídico-penal realizado na instituição, que apresenta uma predominância do estudo das teorias do Direito penal. Conforme observado no relato dos entrevistados não realiza um estudo crítico sobre os reflexos dessas teorias na realidade em que os estudantes estão inseridos109:

[...] eu acho que não dá pra a gente só passar a lei, porque quem faz a lei, faz de um lugar, entendeu? E eu acho que não dá pra você entender Direito penal simplesmente aplicando a lei, ignorando todos esses pontos. [refere-se aos dados da realidade] (Vanessa, 10º semestre do noturno, 25 anos)

[...] Acho que em Direito penal a gente tem que falar de questões raciais, questões de gênero e classe também. Todas essas questões mais humanas mesmo, que eu acho que a gente não fala, fica uma formação muito técnica e quando você sai daqui você vê a realidade e você fica “poxa, porque que é assim?” fica parecendo que é tudo muito normal, mas tem muita coisa por trás, é muito mais complexo [...]. (Carla, 6º semestre do diurno, 23 anos)

[...] Acho bastante importante uma análise plural. Até porque a gente só aprende no concreto, né? Na questão da gente estabelecer o significado daquilo que a gente tá lendo, então as vezes, só o amparo conceitual não dá essa ligação com o cotidiano [...]. (Marcos, 8º semestre do noturno, 30 anos)

Esse modelo fragmentado do ensino do Direito penal na formação jurídico-penal impossibilita o estabelecimento de “nexos significativos entre os campos de saberes por meio da interdisciplinaridade”110, e faz com que diversos aspectos do fenômeno criminal, como questões raciais, de gênero, de classe e seletividade, sejam negligenciados neste modelo de formação disciplinar transmitido aos estudantes. Isso ocorre, pois a compreensão crítica desses diversos aspectos não podem ser percebidos na interpretação da legislação penal e na aplicação das teorias do delito.

A ausência de interdisciplinaridade explicitada nos relatos abordados acima também se revelam em relação a forma como algumas aulas de Direito penal são ministradas na

109 ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Humano y Poder em el Siglo XXI. México: CESCIJUC,

2017, p. 54. Nesse sentido, Zaffaroni afirma que no século XXI, os teóricos do Direito penal e, em especial, as Universidades, precisam deixar um pouco de lado a repetição cômoda da doutrina tradicional, para exercerem a necessária função de críticos.

110 SOUSA SANTOS, Boaventura de; ALMEIDA FILHO, Naomar de. A universidade no século XXI:

FDUFBA, seguindo, muitas vezes, um modelo de aulas magistrais de tradições lusitanas111, trazidas para o Brasil com os primeiros Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais em 1823. Nesse modelo expositivo, o conhecimento é transferido para os estudantes de maneira verticalizada e sem a utilização de nenhum recurso pedagógico externo que pudesse contribuir para uma maior criticidade dos discentes, o que foi apontado por todos os entrevistados:

[...] a grande maioria dos professores, eles trabalham de uma forma expositiva, em sua grande maioria, remete a minhas aulas do ensino médio, aonde o professor chegava na sala de aula e começava a expor o que eles tinham. Passam, na verdade, a visão deles, que eles tem sobre o Direito Penal e a gente, aqui sentadinho analisando e assemelhando o, a, como é que eu posso falar, absorvendo o que é mais importante, mais interessante pra gente também [...] (Pedro, 8º semestre do diurno, 31 anos)

[...] Aqui na Faculdade de Direito raramente você tem professor que faz uma aula que não seja a fala somente, o pincel e o quadro. Raramente você vai encontrar um professor que traga outro recurso e em Direito penal não foi diferente. Não foi diferente. (Marcos, 8º semestre do noturno, 30 anos) [...] Era só quadro mesmo e fim. E a exposição oral. (Carla, 6º semestre do diurno, 23 anos)

[...] É, assim, eu acho que seria importante, mas na Faculdade nunca vi isso [refere-se a utilização de outros recursos audiovisuais em sala de aula], tipo, eles tentam suprir com o conteúdo que eles dão em sala de aula, mas sempre é interessante trazer coisa de fora. (Joana, 3º semestre do diurno, 19 anos) [...] Uma das questões que eu tive mais dificuldade e que eu mais me incomodei aqui na Faculdade, que é ensino meio pra concurso, sabe? Meio, o professor deposita, uma forma meio banco e o aluno pega aquilo [...]. (Vanessa, 10º semestre do noturno, 25 anos)

Os relatos dos entrevistados apontam um modelo de ensino jurídico-penal com caráter expositivo, pautado na transmissão de conhecimento para os estudantes, que acaba ocasionando um desestímulo ao debate e a criticidade no ambiente formativo, necessários em uma Universidade pública contemporânea. Esse modelo de ensino calcado na transmissão de conhecimento do professor para os estudantes é chamado por Freire112 de “concepção ‘bancária’ da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los.” Essa educação “bancária” não possibilita que a construção do conhecimento seja realizada por estudantes e professores em uma atuação

111 SOUSA SANTOS, Boaventura de; ALMEIDA FILHO, Naomar de. A universidade no século XXI:

para uma universidade nova. Coimbra: Almedina, 2008. p. 113.

conjunta e dialógica. Dessa forma, perde-se a criticidade necessária para a efetiva compreensão de questões complexas, como o fenômeno criminal, que inevitavelmente deve ser pensado através do diálogo de saberes e entre os atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Esse modelo bancário de transmissão de conhecimento, se relaciona com a preparação dos estudantes para a memorização de conteúdos, visando aprovação nas avaliações das disciplinas, futuro êxito em provas da OAB e de concursos públicos. Ocorre que “Ensinar direito, assim, não pode ser formar advogados (as), juízes (as) ou promotores (as) – numa palavra, candidatos a “funções do judiciário”113. Ou seja, acredito que a formação jurídico-penal

da FDUFBA não pode limitar-se a esses objetivos, visto que existem tantas outras possibilidades em uma graduação superior.

Este espaço que é a Universidade pública, requer, primordialmente, o compromisso dos atores envolvidos neste processo de pensar criticamente os problemas complexos apresentados pela sociedade, através da construção coletiva do conhecimento e do diálogo entre os campos de saberes, por meio da interdisciplinaridade. A Universidade pública contemporânea deve ser um “ponto privilegiado de encontro entre saberes”114 e não um espaço

formativo que cria ilhas de disciplinaridade115. Essa formação deve, ainda, voltar-se não

somente ao ensino reflexivo-crítico, mas para a pesquisa e a extensão universitária, para, de forma socialmente responsável, compreender as múltiplas facetas da questão criminal.

Outro sintoma desse modelo formativo “bancário”, que não estimula a criticidade de seus estudantes para pensar os problemas jurídico-penais contemporâneos, é compreendido pelas narrativas dos sujeitos, ao se referirem ao tipo de avaliação de aprendizagem que geralmente é utilizado:

[...] eu não sinto muito essa coisa da reflexão na prova, é mais assim, estudou o que? Aplica. (Carla, 6º semestre do diurno, 23 anos)

[...] avaliação super, todas as avaliações aqui são tradicionais, super, mega, tradicionais. Raramente também você vai encontrar um que faça uma avaliação que seja mais diferenciada, que imprima um valor de pesquisa para o aluno, né? Mais as provas de em si em relação a penal, elas eram questões abertas, um ou outro caso prático pra você, é, buscar ali, conceituar aquele caso prático e questões teóricas...conhecimento de doutrina, né? Pensadores da área do penal, da área penal, né? E você contrapor ali as ideias, ou histórico,

113 SÁ e SILVA, Fábio Costa Morais de. Ensino Jurídico, um Tesouro a Descobrir. A Construção de

Alternativas Pedagógicas e Metodológicas a partir da Reforma do Ensino Jurídico (e Jurídico-Penal).

p. 38

114 SOUSA SANTOS, Boaventura de. Pela mão de Alice: o Social e o Político na Pós-Modernidade.

14ª ed. São Paulo: Cortez, 2013, p. 420.

um pouco do histórico, questões mais assim, mais nada muito aprofundado [...] (Marcos, 8º semestre do noturno, 30 anos)

[...] acho que penal I e penal II foi muito decorar do livro [...] teve prova subjetiva e prova objetiva, mas todas foram muito diretas, assim. O professor pergunta algo e ele quer aquela resposta, entendeu? Não permite algumas fundamentações, inclusive eu achei isso um pouco ruim [...] mesmo a prova sendo muito difícil, mas muito simplista as questões, as questões não tem muitas provocações. Muito mais você falar sobre a teoria tal, você explicar sobre tal, sabe? (Vanessa, 10º semestre do noturno, 25 anos)

[...] em sua grande maioria conteudísticas, né? Querendo ou não, o modelo que é utilizado na Faculdade é um modelo de transmissão do conhecimento direcionado para chegar em sala de aula e expor, e deixar o aluno aqui só como um mero receptor de informações [...] (Pedro, 8º semestre do diurno, 31 anos)

Por meio da narrativa dos sujeitos entrevistados se depreende que, assim como o modelo de ensino jurídico-penal, as avaliações de aprendizagem realizadas nas disciplinas também se mostram vinculadas a uma certa postura tradicional e disciplinar, ao exigir dos discentes apenas a transmissão dos conhecimentos teóricos passados em sala de aula ou por meio de manuais, para provas com questões objetivas e subjetivas que não estimulam o pensamento criativo dos estudantes e a criticidade para abordar os problemas da realidade social.

Com isso, se percebe que algumas avaliações de aprendizagem ocorrem através de provas escritas, nas quais os estudantes necessitam “decorar” o conteúdo do semestre para obter a aprovação nas disciplinas, olvidando, com isso, outras formas de avaliação mais eficientes. Para viabilizar o contato com problemas que ocorrem na realidade, o diálogo com outros campos de saberes e a criticidade sobre os conteúdos estudados116, – como a confecção de

artigos científicos e a realização de seminários – constituem-se boas opções pedagógicas, pela potencialidade que essas abordagens possuem em criar espaços de reflexão e diálogo com a comunidade acadêmica.

Por ser o fenômeno criminal um campo de inerente complexidade que deve ser estudado por diversos campos de saberes, através do pensamento interdisciplinar, os componentes curriculares necessitam de outras abordagens, que não se restrinjam às avaliações de aprendizagem escritas, baseadas em provas de concursos públicos ou que exigem apenas a capacidade de memorização de teorias por parte dos estudantes.

116 SÁ e SILVA, Fábio Costa Morais de. Ensino Jurídico, um Tesouro a Descobrir. A Construção de

Alternativas Pedagógicas e Metodológicas a partir da Reforma do Ensino Jurídico (e Jurídico-Penal)

É preciso estimular formas mais aprofundadas e reflexivas de avaliação, que transponham as fronteiras da dogmática jurídica, no sentido de incorporar outras metodologias voltadas não só para o ensino, mas para a pesquisa e a extensão, que sejam capazes de estimular a compreensão das teorias dos manuais e dos artigos do código penal, indissociáveis, sobretudo, à “compreensão das violências inerentes ao sistema penal”117, através do olhar sobre a realidade desse fenômeno.

É preciso, portanto, que aqueles que se proponham ao estudo jurídico-penal, na esteira do que ensina Zaffaroni118, se ocupem não só da lei, mas da realidade do delito, compreendendo, de início, que o Direito penal sozinho não pode dar respostas efetivas para esse estudo da realidade, logo, necessita realizar o diálogo contínuo e horizontal entre os diversos campos de saberes. Por ser a Universidade o ambiente eminentemente formativo dos futuros juristas, as avaliações também precisam refletir a interdisciplinaridade e a necessária criticidade para a compreensão da realidade e da questão criminal.

No sentido de propor novas formas de avaliação para as disciplinas jurídico-penais na FDUFBA, as narrativas dos entrevistados revelam ser necessário incorporar novas abordagens que estimulem a reflexão e a criticidade dos estudantes, que em muito corroboram com as exigências da Universidade pública119:

[...] essas atividades extra sala que são atividades diferenciadas, leitura fílmica, a questão de análise de livros né, pode ser dentro do conteúdo da disciplina ou como atividades extras, mas é de muita, de muita valia pra nós estudantes, porque querendo ou não nós saímos daquele ensino de conceitos pra uma análise do Direito na vida real ou pelo menos na vida simulada, que é na parte da questão dos livros ou na questão dos filmes, na questão dos seriados, então eu acho que sair um pouco dessa rotina de aula expositiva e aluno só como um mero expectador, recipiente pra esse conhecimento, seria um grande avanço [...] (Pedro, 8º semestre do diurno, 31 anos)

[...] eu acho que a gente poderia trabalhar muito mais com casos, acho que a gente podia ter um ensino mesmo assim jurídico penal muito mais focado a realidade e ao dia a dia, sabe? A gente lidar com casos, a gente lidar com algumas situações que a gente não vê e, na real, no dia a dia, na realidade da profissão e quando a gente sair daqui, a gente não vai fazer uma peça ou a gente não vai lidar com a situação e a gente vai identificar qual é a teoria de tantos e tantos anos que vem se repetindo, entendeu? Eu acho que o melhor modelo, na minha opinião, seria a gente lidar também com essa parte teórica, mas a gente ter um exercício muito maior de casos concretos, porque isso faz

117 CARVALHO, Salo. op. cit., p. 255.

118 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A questão criminal. 1ª ed. tradução de Sérgio Lamarão, Rio de Janeiro:

Revan, 2º reimpressão, 2017, p. 17.

119 Nesse sentido é o proposto pela Resolução nº 9 do CNE, de 29 de setembro de 2004 e o Projeto

com que o aluno seja criativo, pense criativamente [...] (Vanessa, 10º semestre do noturno, 25 anos)

As narrativas dos entrevistados apontam para a importância da compreensão da realidade do fenômeno criminal, que não pode ser limitado ao estudo das leis estabelecidas no Código Penal e nem na explicação de teorias pelos manuais de Direito penal. Essa realidade só pode ser percebida pelo refinado olhar proporcionado pelo diálogo interdisciplinar, associado às contribuições da cultura das humanidades, pois “em toda grande obra, de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um pensamento profundo sobre a condição humana”120, sendo, portanto, necessário para contribuir com uma compreensão mais

aprofundada da condição dos seres humanos como atores dos fenômenos sociais e, por sua vez, do fenômeno criminal.

Outro aspecto importante evidenciado nas entrevistas são as atitudes de alguns docentes, que tentam realizar uma postura diferenciada na formação jurídico-penal da FDUFBA, na tentativa de romper com os modelos de formação tradicionais utilizados e, com isso, propor aulas mais interdisciplinares, dialogadas e, que estimulem a criticidade dos estudantes:

[...] no semestre passado [professor X] pediu pra gente analisar uns episódios de Black Mirror [série de tv] e pediu para a gente associar com o Direito penal e o Direito processual penal e isso eu achei muito interessante, por que assim, foi um dos professores que saiu da rotina e fez com que a gente enxergasse o Direito penal, o Direito processual penal em outra área que não fosse essa área acadêmica, sala de aula, professor, aluno, e assim, foi muito interessante, muito interessante [...] (Pedro, 8º semestre do diurno, 31 anos)

[...] eu peguei [professor X] quase todas as disciplinas de penal que eu peguei foi com [professor X], então ele provoca nos alunos essa aproximação com a questão conceitual e também com a questão prática, não é só uma questão teórica, ele apresenta as discussões teóricas, mas sempre, é, amparando isso com as questões do dia a dia, então, foi bacana. (Marcos, 8º semestre do noturno, 30 anos)

[...] tive uma experiência muito boa por exemplo com Penal IV, foi a matéria que eu mais gostei, [professor X] trazia várias questões, varias [...] problematizava, trazia várias reflexões, a aula era muito boa, não era uma aula minimamente restrita ao que a lei tá dizendo, como é que funciona, como não funciona. Eu acho que inclusive foi uma excelente experiência que eu tive porque convidou vários, teve vários convidados durante a disciplina, inclusive gente que não era do Direito, pra falar sobre várias coisas. Teve uma aula específica que eu gostei muito que a gente tava falando sobre o processo de transsexualidade e [professor X] trouxe um rapaz trans de 17 anos, eu acho, a

aula foi riquíssima, sensacional, entendi muito, inclusive da lei, sabe? Sobre a aplicação da lei, sobre as conquistas, sobre alguns direitos e foi muito bom, acho que é um bom caminho [...] (Vanessa, 10º semestre do noturno, 25 anos)

Essas iniciativas trazidas pelos sujeitos entrevistados, possibilitam que os estudantes possam dialogar com os professores sobre os temas tratados em sala de aula, recolocando-os como protagonistas deste processo de ensino-aprendizagem121, o que contribui para uma percepção mais crítica das leis penais e, principalmente, das nuances da realidade do fenômeno criminal, através da interdisciplinaridade, do debate de casos práticos, das abordagens fílmicas, da literatura e do diálogo com a comunidade externa.

No entanto, por não se tratarem de propostas institucionais, prevista no Projeto Político Pedagógico da FDUFBA, essas inovações no modelo de formação jurídico-penal são extremamente pontuais. Isso faz com que ocorram algumas discrepâncias com relação ao modelo de formação jurídico penal adotado na Faculdade de Direito da UFBA:

[...] eu acho que varia muito também dos professores, entendeu? Eu tive professores muito diferentes, eu tive professores que chegam e apenas falam