• Nenhum resultado encontrado

“Poderia contar-m e um pouco da sua história até ao momento em que procurou o centro de em prego? O que espero é que me fale um pouco do seu percurso escolar, do que o(a) levou a de sistir da escola e, sobretudo, que m e fale da sua experiência de form ação (EFJ/Aprendizagem, etc). Poderá, também, fa la r de outras coisas que considere importantes para m elhor co n ta r a sua história. P o r exem plo: da família, dos amigos, dos tem pos livres, etc"

A - Temáticas centrais a ter como referência e questões possíveis:

A experiência alternativa de formação:

Como decorreu a formação? Como era o teu dia-a-dia durante esse período? Como estava organizado? Como era a relação com os formadores? Como era a relação com os colegas? O que aprendeste com eles? O que achaste dos espaços onde decorreu a formação? O que era parecido com a escola? O que era diferente da escola? Que importância Cala para ti?

A formação alternativa vs formação escolar

Quais as semelhanças com a escola? O que era diferente? O que achas que aprendeste na escola? E na acção de formação? E em outras situações?

A escola, o insucesso e o abandono escolar:

E a escola, que importância teve para ti? Agora, o que achas que aprendeste na escola? Com os professores? Com os teus colegas? Com outras pessoas? Agora, porque achas que abandonaste a escola? Voltarias para a escola? Voltarias a desistir? As coisas sempre correram da mesma forma na escola? Com que idade entraste para a escola? Alguma vez reprovaste? Se sim, porque achas que isso aconteceu? Sentias dificuldades? Em quê? Com quem falavas sobre isso? O que gostavas na escola primária e no 2° ciclo? Quando é que as coisas se começaram a tornar mais complicadas? Porquê? Antes da escola primária estiveste em algum jardim-de-infância e/ou ATL? Com quem ficavas quando não tinhas aulas? Com quem estudavas?

B - Temáticas secundárias

(visando um melhor enquadramento das temáticas centrais)

Tempos livres:

Como passavas os teus tempos livres na infância? E agora? O que mais gostas de fazer? Com quem mais gostas de estar?

A família:

E a tua família o que achou de teres desistido da escola? Com quem vives? Que idades têm? Em que trabalham? Estudaram até que ano? Conversas com eles sobre a escola, a formação ou o trabalho? Conversam sobre o quê? Com dala conversas mais? Sobre o quê? O que achas que te fazia falta aprender?

O trabalho:

E quanto ao trabalho? Já trabalhaste? Em que? Quando? Durante a escola? Depois da escola e antes da formação? E depois da formação? Quanto recebias? Gostaste? O que aprendeste?

O futuro:

O que gostarias de vir a fazer? Em que gostarias de trabalhar? Como imaginas a tua vida no futuro?

Durante os meses de Fevereiro a Maio de 2005 foram convocados, por correspondência, 11 jovens, seleccionados pela “riqueza34” dos seus percursos e pelos critérios atrás referidos. Dos 11, foram entrevistados apenas 7, já que os restantes não compareceram. Aos 7 jovens entrevistados foram, previamente, explicitados os objectivos da entrevista e do estudo e todos concordaram, prontamente, em colaborar. Aliás, a disponibilidade revelada por estes jovens35 foi absolutamente surpreendente36. As entrevistas foram gravadas em formato áudio37. Por razões técnicas, 2 das entrevistas ficaram inaudíveis. As restantes 5 entrevistas foram, posteriormente transcritas para documento de texto. Considerando as "fragilidades e resistências” emocionais de alguns destes jovens, bem como o carácter algo “ intrusivo” das entrevistas biográficas, considerou-se o desdobramento das mesmas em dois ou três momentos de form a a garantir alguma continuidade relacional que resultasse “contentora” em term os afectivos. A seguir, apresenta-se uma breve caracterização dos jovens entrevistados38, os quais tinham em comum uma história de repetidos insucessos escolares, antes da integração nas respectivas acções de formação:

“O Marco ”

Tinha 16 anos à data da entrevista e havia frequentado e abandonado, há pouco tempo, um curso de Educação e Formação de Jovens em contexto escolar. A acção de formação visava proporcionar-lhe o 9o ano de escolaridade e uma qualificação profissional de nível 2 na área de Electricidade de Instalações. Encontrava-se desempregado, à procura de emprego, mas pretendia vir a ser integrado num curso de Educação e Formação de Jovens num centro de formação profissional de gestão directa do IEFP, com vista a progredir até ao 9o ano e a obter uma qualificação profissional de nível 3 na área de Instalação e Reparação de Computadores.

34 “Riqueza” em termos da dinâmica das experiências vividas em todas as esferas dos seus percursos de vida

35 Refiro-me até à disponibilidade afectiva

36 Um dos jovens, por exemplo, recebeu uma proposta de trabalho entre a sua primeira e segunda entrevista e no contrato verbal que celebrou com o empresário, teve o cuidado de garantir que lhe seria dada disponibilidade para comparecer na entrevista.

37 com a devida autorização dos jovens

38 De forma a garantir a confidencialidade dos jovens, os seus nomes reais foram substituídos por nomes fictícios.

“A S ó n ia”

Tinha 17 anos à data da entrevista e encontrava-se a frequentar, há 10 meses, um curso de Educação e Formação de Jovens num centro de formação profissional de gestão directa do IEFP, com fim previsto para Março de 2006. A acção de form ação visava proporcionar-lhe o 9o ano de escolaridade e uma qualificação profissional de nível 2 na área de Práticas Técnico-Comerciais.

"O

R icardo

"

Tinha 18 anos à data da entrevista e encontrava-se a frequentar o 2o ano de um curso do sistema de Aprendizagem, em acção externa de um centro de form ação profissional de gestão directa do IEFP, com fim previsto para Janeiro de 2007. A acção de form ação visava proporcionar-lhe o 9o ano de escolaridade e uma qualificação profissional de nível 2 na área de Serralharia Mecânica.

"O P au /o ”

Tinha 18 anos à data da entrevista e havia concluído, há cerca de 2 anos, um curso de Educação e Formação de Jovens no âmbito de um projecto de parceria (“Escola Incluir”), envolvendo a escola secundária que frequentava; um centro de formação profissional de gestão directa do IEFP, uma I.P.S.S. com actividade na área de inserção de pessoas em risco e exclusão e a Autarquia Local. A acção de formação proporcionou-lhe o 9o ano de escolaridade e uma qualificação profissional de nível 2 na área de Mecânica de Automóveis. Encontrava-se desempregado, à procura de emprego, mas não pretendia colocação na área em que se diplomou.

“O Francisco ”

Tinha 17 anos à data da entrevista e havia concluído, há cerca de 9 meses, um curso de Educação e Formação de Jovens no âmbito de um projecto de parceria (“Escola Incluir”), envolvendo a escola secundária que frequentava; um centro de formação profissional de gestão directa do IEFP, uma I.P.S.S. com actividade na área de inserção de pessoas em risco e exclusão e a Autarquia Local. A acção de formação

proporcionou-lhe o 9° ano de escolaridade e uma qualificação profissional de nível 2 na área de Mecânica de Automóveis. Encontrava-se desempregado mas pretendia vir a ser integrado num curso do sistema de Aprendizagem, com vista a progredir até ao 12° ano e a obter uma qualificação profissional de nível 3 na área de Mecatrónica de Automóveis.

3.2. O TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

Após a realização e transcrição das entrevistas biográficas tornou-se necessário tratar a informação recolhida para que esta adquirisse um sentido, com vista à resposta à questão inicial de investigação. A análise qualitativa do conteúdo das entrevistas afigurou-se como sendo a técnica mais adequada â concretização deste objectivo.

3.2.1. A ANÁLISE QUALITATIVA DO CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS

A “com plexidade dos discursos exige o recurso a áreas diversificadas do saber, para

que se consiga captar a riqueza que o discurso encerra, ou seja, a riqueza do material obtido também está na base da complexidade da sua análise. A análise de conteúdo permite efectuar uma série de operações destinadas à interpretação de um corpus abundante, multiforme e recheado de informação. O problema reside, precisamente, no sentido a d a r a este conjunto de factos sem reduzir a riqueza das significações. A análise de conteúdo tem, p o r isso de se r ajustada aos objectivos e aos dados do estudo, não havendo modelos fixos e pré-estabelecidos” (Cavaco, 2002, p. 47).

No presente estudo pretendeu-se adoptar uma estratégia de análise semi-indutiva uma vez que se partiu de uma problemática, explicita no enquadramento teórico, mas considerou-se a possibilidade de reformular a mesma perante o sentido atribuído ao “material” recolhido das entrevistas. Apesar da inexistência de modelos fixos de análise de conteúdo pareceu-me aceitável a utilização, de forma flexível, de um modelo de a n álise te m á tica . De acordo com este tipo de análise, numa fase inicial e partindo de uma le itu ra flutuante”, asão identificadas as Ideias-força”, os acontecimentos e “m om entos-chave" na vida do narrador e os temas abordados”, o que permite "definir

as tem áticas para a análise de conteúdo das entrevistas biográficas”. As temáticas resultam, portanto da articulação entre a síntese do discurso dos entrevistados e os

objectivos de pesquisa” (Cavaco, 2002, p. 47). “Na anàiise de conteúdo não se trata de analisar toda a riqueza do discurso, de retirar do conteúdo todos os significados possíveis, m as apenas os significados pertinentes para o objecto de estudo” (Bertaux,

1997, p. 65, citado por Cavaco, 2002, p. 47). Cavaco (2002, p. 47) acrescenta ainda que este tipo de análise de conteúdo “permite identificar com facilidade as variações

individuais e as recorrências entre as várias entrevistas”.

Nesta investigação, após a transcrição das entrevistas, foram elaboradas sínteses das histórias de cada um dos jovens o que resultou de um trabalho prolongado, que começou por uma leitura inicial das transcrições das entrevistas sem qualquer intenção de análise ou decomposição. Pretendia-se, apenas, ficar com uma “imagem” global da história de cada jovem sem alterar os seus “ritmos” e “lógicas” discursivas individuais. Posteriormente, procedeu-se a uma tentativa de decomposição do discurso dos jovens com o objectivo de encontrar “sentidos latentes de interpretação” (Machado Pais, 2001, p. 102), pois “as histórias de vida são apreendidas numa discursividade linear que é

posteriorm ente decomposta para, a partir dos fragmentos decompostos, m ostrar-se uma nova composição, desta feita analítica" (ibidem).

De acordo com Machado Pais (2001, p. 105) o desafio da análise interpretativa é

“trabalhar os fragmentos de sentido, interconectando-os, revirando-lhes os sentidos".

Neste estudo pretendeu-se, precisamente identificar os fragmentos do discurso dos jovens, que m elhor nos ajudassem a compreender o sentido que estes construíram em torno das experiências formativas vividas, o que é, logicamente, indissociável dos sentidos que atribuem a toda a sua vida. Assim, a partir do trabalho de decomposição dos discursos, foram identificadas seis grandes temáticas (Quadro II), as quais foram decompostas em sub-temáticas. Estas temáticas e sub-temáticas foram seleccionadas por permitirem organizar o conteúdo das narrativas, de maneira a que delas fosse retirada a informação mais pertinente para os objectivos do estudo.

QUADRO II