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Relatório Sobre a Situação do Mercado de Emprego (RSME) em 22, contendo dados quer do Instituto Nacional de Estatística (INE), quer do Instituto do Emprego e

A FORMAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS DE BAIXA ESCOLARIDADE: O “PROBLEMA” E AS “SOLUÇÕES”

Relatório Sobre a Situação do Mercado de Emprego (RSME) em 22, contendo dados quer do Instituto Nacional de Estatística (INE), quer do Instituto do Emprego e

Formação Profissional (IEFP) refere que “a população desempregada, segundo o

Inquérito ao emprego do INE, de acordo com os valores médios de 2002 para o Continente, era de 266,8 mil. Relativamente a 2001, verificou-se um aumento de 26,7%, equivalente a mais 56,2 m il desempregados (...) O aumento da taxa de desemprego foi significativa para os jovens, atingindo 11,8%” (...) No fim de 2002 havia 24509 desempregados inscritos sem nenhum nível escolar. Os desempregados com o 1o ciclo do ensino básico estão representados, em m aior número com 33,4%. Comparativamente ao ano anterior houve um aumento dos desempregados inscritos em todos os níveis habilitacionais, sobretudo a p a rtir do 2o ciclo (...) Relativamente aos motivos que estiveram na origem das inscrições o “fim de trabalho não permanente” foi indicado pelo m aior número de desempregados representando 31,1% do total. O segundo e terceiro motivos foram o "foi despedido” e “ex-estudante”.” (Faro, 2003, pp.

12-14).

17 “ ta x a de sa íd a a n te c ip a d a ” refere-se ao total de Indivíduos, no m om ento cencftârio, com 18-24 anos que nSo concluíram o 3o ciclo do Ensino Básico e nSo se encontram a frequentar a escola, p o r cada 100 indivíduos do mesm o grupo etário.

1 “taxa de sa íd a p re c o c e ” designa o to ta l de indivíduos, no m om ento cencitârfo, com 18-24 anos que não concluíram o ensino secundário e nâo se encontram a frequentar a escola, p o r cada 100 indivíduos do m esm o grupo etário.

fCanavarro et al., 2004, p. 50).

9 NSo sâo divulgados os dados regionais quanto à “taxa de saída antecipada"

O mesmo relatório, mas referente ao ano de 2005, revela-nos que o desem prego em Portugal Continental já atingia cerca de 468 mil pessoas (Fernandes, 2005, p. 9), admitindo tratar-se do valor mais alto da última década. Deste elevado número de desempregados, cerca de 64 mil são jovens com menos de 25 anos (ibidem, p. 16), ou seja, 13,7% do total de pessoas em situação de desemprego. Mais importante ainda é notar que, do total de desempregados com o 1o ciclo do ensino básico, 1,7% eram jovens (ibidem, p. 19) e é, precisamente, nos desempregados com este nível de habilitação que se verifica a maior taxa de desemprego de longa duração, como seria de esperar (ibidem, p. 9). Em contrapartida, a taxa de satisfação da procura de emprego mostrou-se mais elevada nos jovens, naqueles que procuram em prego pela primeira vez e, sobretudo, nos detentores do 3o ciclo do ensino básico (ibidem, p. 10). Assim, Apesar da integração profissional dos jovens à procura do primeiro em prego ser mais “fácil", por razões que se prendem com a idade, com questões salariais e com políticas de incentivo financeiro à contratação destes, à medida que a idade avança, aumenta também a duração dos períodos de desemprego para as pessoas com menores níveis de escolaridade. Paradoxalmente, em 2005, cerca de 41 mil desempregados (cerca de 8,8% do total) eram detentores de um grau de escolaridade de nível superior (Fernandes, 2005, p. 16) e destes 56,6 % eram jovens entre os 25 e os 34 anos (ibidem, p. 19). Também é de notar, que neste ano, 5,3% dos desempregados não possuía qualquer grau de instrução (ibidem, p. 19).

Apresentados os dados da realidade, importa discutir as suas implicações. A questão do abandono escolar, e da consequente baixa escolaridade, dos jovens tem vindo a ser apresentada como um “problema” que carece de solução. Tal facto prende-se com a ideia de que a baixa escolaridade e a falta de qualificação dos jovens é uma das principais causas do desemprego de uns e da precariedade do emprego de outros. Contudo, e como nota Canário (2005, p. 166) “A elevação do nível de qualificações não

contribui para aum entar a oferta global do volume de emprego, nem define as suas modalidades", pois os diplomas são desvalorizados a partir do momento em que todos

os detêm. Os 41 mil desempregados, com nível superior de qualificação, são a prova em pírica desta afirmação. Contudo, é também verdade que o desemprego é mais acentuado, e de m aior duração, nas pessoas com menores níveis de escolaridade. Mas serão a educação e a formação as “soluções milagrosas” para este problema?

Para Canário (2005, pp. 166-167) a actualidade é marcada por fenómenos aparentemente contraditórios, ou seja, “um acesso mais democrático a níveis cada vez

m ais elevados de escolarização é concomitante com desigualdades sociais mais acentuadas; o progresso tecnológico e o consequente aumento de produtividade, em vez de gerarem emprego, aparecem associados, na Europa, a formas estruturais de desemprego de massas". Para o mesmo autor, tal “obriga a reequacionar o papel da educação e da escola".

As instituições educativas parecem estar, actualmente, mais sensibilizadas para os fenóm enos de natureza social. Pelo que se assiste a uma correspondência simétrica entre exclusão escolar e exclusão social. Assim, para Canário (2005, p. 164) não se pode considerar que haja um agravamento de problemas especificamente escolares, mas sim de problemas de cariz social de onde se destaca a raridade e precariedade do emprego. A propósito desta m aior sensibilização das instituições Machado Pais (2001, p. 402) cita Deleuze (1990), o qual “formula uma passagem histórica da sociedade

disciplinadora para a sociedade do controlo” explicando que essa passagem se

caracteriza pelo “desmoronamento dos muros que garantiam uma autonomia das

instituições20. Esta autonomia encontra-se crescentemente posta em causa. Com este R icardor de muros é cada vez mais difícil distinguir o dentro e o fora das instituições.’Assim, dentro e fora da instituição escolar há "zonas de obscuridade e de incerteza - e que se prendem (...) com a complexidade labiríntica de nossas sociedades” (Machado Pais, 2001, p. 413). Os jovens, na sua transição da escola para

o mundo do trabalho, vêm-se, por isso, perante “verdadeiras encruzilhadas”. A escola não parece servir o propósito, frequentemente apregoado, de preparar o futuro, porque este tem que ser construído, o que só é possível com a participação dos próprios jovens.

A raridade e precariedade do emprego estão na base de uma m aior fragilidade de grandes franjas da população o que, por sua vez, está no cerne da exclusão social. Este fenómeno conduz ao agravamento e produção de novas desigualdades, am eaçando a tão desejada coesão social, mas sobretudo comprometendo o processo

20 As instituições que constituíam a Sociedade Disciplinadora eram a escola, a família, a fábrica, o hospital, a prisão (Machado Pais, 2001, p. 402, citando Deleuze, 1990)

de construção de uma sociedade mais solidária. Mas se a educação não "resolve” o problema do desem prego e da exclusão social, qual o seu papel?

As medidas de educação e formação que têm vindo a ser criadas, como alternativa ao tradicional modelo escolar, assentam na lógica da causalidade directa entre maior nível de escolaridade e de qualificação e maior “em pregabilidade”. Se as evidências empíricas não com provam esta causalidade, directa e inequívoca21, então qual o sentido das referidas medidas, especialmente, na perspectiva dos seus destinatários?

5. INVENTÁRIO DE POLÍTICAS EDUCATIVAS E SOCIAIS DE PREVENÇÃO DO