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ediante os passos necessários para a articulação do debate e a construção argumentativa em torno das conjugações desta investigação, pertinente se faz evidenciar as correlações abordadas entre o global e o local na análise multiescalar. Sendo assim, propõe-se distinguir a questão escalar e suas implicações no cruzamento de informações e dados obtidos em revisões bibliográficas, fontes primárias (em campo) ou secundárias (base de dados), articulando as ligações entre as múltiplas facetas do recorte estudado.

Por este viés, a centralidade da abordagem multiescalar reside na vinculação entre níveis e escalas4 que, a priori, estão em conjugações diferenciadas,

mas que possuem ligações entre si num domínio causal/relacional (BARBIERI, 2007). Neste sentido,

[...] a construção e operacionalização de um marco conceitual multiescalar requer, pois, a identificação de elementos (ou fatores, ou variáveis) que conectem seu nível e escala de análise correspondente a outros níveis e escalas (BARBIERI, 2007, p. 231).

Particularmente, como aponta Montenegro Gómez (2006), o sistema analítico estruturado na escala se coloca como um acurado mecanismo de exame pormenorizado das políticas que envolvem as esferas do desenvolvimento, tendo em conta as múltiplas diferenças espáciotemporais.

4 Neste caso, escalas correspondem aos dimensionamentos a partir das relações em sociedade, ou

seja, os processos geográficos. Já os níveis remetem aos contextos administrativos possíveis a partir das conjugações escalares.

Pontualmente, a escala é importante nesta investigação pelo fato de, aqui, se abordar as questões das mudanças climáticas que, via de regra, são feitas em debates que envolvem diferentes países em macroperspectivas, numa tomada em que se centra nas interlocuções de atores provindos de movimentos sociais rurais no Brasil e que, ao mesmo tempo, pertencem a grupos sociopolíticos transnacionais que se dispõem na totalidade dos discutes climáticos, verificando as extensões locais em assentamentos rurais de reforma agrária que também são resultantes dos forçamentos de tais movimentos sociais. Adicionalmente, esta mesma circulação escalar envolve inúmeras condicionantes administrativas, correspondentes a amplos processos sociais, econômicos, territoriais/regionais e ambientais.

Como apontado por Barbieri (2007, p.233),

[...] um marco conceitual multiescalar envolve explicitar não apenas os efeitos independentes destes fatores (...) mas também como diversos fatores se interconectam e interagem de forma a afetar tal relação.

Com isto, intenta-se apresentar as contradições inseridas no seio das conjecturas agrárias e ambientais em macroescala a partir de movimentos sociais no campo e os alcances locais em assentamentos rurais de reforma agrária do Pontal do Paranapanema–SP. Por este viés, entende-se a medida multiescalar como resultado intrínseco às relações plurais, de modo que o local passa a se apresentar como fruto da processualidade contraditória dos interstícios territoriais globais, ao mesmo tempo em que o local se dispõe como parâmetro para as decisões e discernimentos em macroescala (BARBIERI, 2007; ZHANG; FURNAS, 2002; MONTENEGRO GÓMEZ, 2006).

Tendo isto traçado, a orquestração epistemológica sobre a escala em Montenegro Gómez (2006, p.43-44) possibilita assaz referência conceitual no que se vale de sua utilização, sendo que esta,

[...] não é só tamanho (escala da localidade, da província, da sub- região etc.) ou nível (segundo uma hierarquia escalar piramidal, a qual iria do mais simples ao mais complexo), mas, sobretudo, relação e entende esse processo como a necessidade de considerar um amplo número de relações, para dar conta da totalidade geográfica, analisada em cada escala [...].

Corroboram esta visão Jones (1998) e Cox (1998) apontando que a escala deve ser abordada como uma rede de interações e não como um palco determinado. Desse modo, a perspectiva escalar vai além do simples deslocamento angular entre o local e global ou global e local, configurando-se como uma medida relacional de diferentes óticas em instâncias múltiplas de ações (JONES, 1998; COX, 1998).

Assim, o próprio conceito de escala é histórico, sujeitando-se a alterações mediante os agentes sociais e as práticas envolvidas territorialmente (JONES, 1998). Com isto, não se pontua neste estudo o local como uma medida de área, mas sim como as interações que se desenvolvem a partir do ponto de análise rural, com enfoques em movimentos sociais no Brasil e assentamentos rurais de reforma agrária no mesmo país.

Silveira (2004) enfatiza que a atual dinâmica social das imposições diligentes da ciência, informação e tecnologia rompe com as demarcações meramente geométricas do espaço, expondo que:

[...] face a um período de globalização e fragmentação do território, alguns conceitos, e entre eles a escala geográfica, não são alheios a essas transformações e devem ser submetidos à discussão [...] (SILVEIRA, 2004, p.90).

A partir de Milton Santos (1996), Silveira (2004) destaca, ainda, que a escala deve ser entendida como organização dos sistemas de objetos e sistemas de ações que compõem a totalidade do espaço, tendo como percursos as incidências, ocorrências e situações em aspectos de conteúdos que se decidem ao desenrolar das relações (análise multiescalar).

Pelo motivo da investigação apresentar feições que versam sobre a questão climática, pontuando as dinâmicas globais dos debates políticos, as ações ligadas aos mecanismos coletivos internacionais como as COP’s e o Protocolo de Kyoto (1997), deslocando às dimensões dos posicionamentos brasileiros, paulistas, dos movimentos sociais em macroestrutura e, então, as vinculações observadas nos assentamentos rurais de reforma agrária no Pontal do Paranapanema-SP, é preciso ter em conta que o dimensionamento multiescalar se coloca como a relação fruto desse processo histórico de concretização e hiatos nas esferas da política climática a partir do prisma do examinado.

O local, assim designado, não remete à limitação areal dos assentamentos rurais de reforma agrária analisados, mas sim às interações entre os agentes sociais assentados junto às múltiplas esferas dos debates que vinculam mudanças no clima, agroecologia, reforma agrária, políticas públicas e auxílio/barramento das potencialidades em territorialidades, o que se comportaria, conjuntamente, como globalidade.

Desse modo, apresenta-se uma inflexão na direção do mundo para o assentado e, no contrapasso, do assentado para o mundo, de modo que se possam evidenciar as redes interativas de processos políticos, históricos e territoriais que se desenvolvem no Brasil e no Pontal do Paranapanema-SP, demonstrando conjecturas dimensionais contraditórias a serem incorporadas na política climática do país.

Assim sendo, é pertinente a compreensão geral da importância do tratamento temático através dos “estudos de caso”, denotando termos explicativos relacionais numa totalidade complexa.

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