• Nenhum resultado encontrado

10.1 Da Ação Revocatória

Aplica-se a ação revocatória somente em procedimentos de insolvência que conduzem à liquidação dos bens do devedor, ou seja, à falência. Diferencia-se da ação de direito civil, cujo objetivo visa à anulação de atos jurídicos, embora seja utilizada às vezes denominação para designarem ambas.

A propositura de uma ação revocatória pressupõe a declaração da falência do devedor insolvente mediante sentença judicial. O princípio da força atrativa do procedimento falimentar, geralmente reconhecido pelas diversas legislações nacionais, dentre elas a Lei de Falências nº 7661 em seu artigo 7º parágrafos 2º e 3º, sugere a competência do juízo da falência para processar uma ação revocatória. A mesma regra é válida exclusivamente quando a causa sub judice tiver conexão internacional.

A doutrina e a jurisprudência têm se mostrado a favor da competência internacional do juízo no domicílio do réu, principalmente quando a falência for declarada no estrangeiro. Explica-se pelo fato de que os ativos recuperados mediante ação revocatória fazem parte da massa falida, ou seja, na medida em que os credores sejam vitoriosos, pode existir um foro para abrir um procedimento de insolvência no país onde se processou a ação revocatória.

10.2 Ação Revocatória Interna e Externa

A competência internacional no Brasil para abrir um procedimento de insolvência contra o devedor se funda no seu estabelecimento principal, estabelecimento comercial secundário e em seu imóvel situado no País. Tratando-se de foros exclusivos ou absolutos.

A competência internacional do réu pode facilitar a ação revocatória quando a falência foi declarada no estrangeiro. É contumás a exigência legal de que o réu domiciliado

no país seja citado por carta rogatória em processos com conexão internacional. O Brasil também estabelece esse requisito legal, a não ser quando um tratado internacional disponha de outra forma.

Se a ação revocatória for intentada perante o juízo de falência no exterior, o processo pode prolongar-se indevidamente, levando-se em consideração que a citação via carta rogatória costuma ser morosa.

No Brasil, o juízo de falência, pela maioria dos doutrinadores sempre será internacionalmente competente para processar uma ação revocatória, independentemente do domínio do réu, beneficiado pelo ato jurídico praticado pelo devedor em prejuízo da massa falida. Quando a falência for declarada em país estrangeiro, segundo o artigo 88, I do Código de Processo Civil, a justiça brasileira é internacionalmente competente, se o réu for domiciliado no Brasil.

Artigo 88 – É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I –o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;

No caso do direito a ser aplicado ao ato jurídico praticado pelo devedor em prejuízo da massa falida, sujeito à ação revocatória, será, em princípio, a lex fori concursus. A interposição da ação revocatória pressupõe a declaração da falência do devedor insolvente, está intimamente ligado ao processo falimentar, o que justifica a aplicação da lex fori concursus quanto aos seus requisitos legais.

Quando a falência for declarada no Brasil, aplica-se o direito pátrio. Sendo o réu domiciliado no Brasil, mas sua falência declarada no estrangeiro, aplicar-se-á o direito doméstico, quando o devedor tiver no País o seu estabelecimento principal, comercial secundário ou um imóvel. Será aplicada a lex fori concursus quando o devedor possuir no Brasil apenas bens móveis

10.3 Dos Rendimentos Cumulativos de Credores Decorrentes de sua Satisfação Plena ou Parcial no Exterior

Ao ser aberto um procedimento de insolvência no país, ocorre a possibilidade de ser aberto outro no exterior, correndo paralelamente ao primeiro.

Para Rechsteiner20 o procedimento aberto no país pode ser territorial com os seus efeitos jurídicos limitados ao território nacional porque o devedor insolvente possui apenas um estabelecimento comercial secundário ou um imóvel aqui, situação jurídica que corresponde ao direito brasileiro. Normalmente, porém, o procedimento é um principal, isto é, quando o devedor possui o centro dos seus principais interesses no país, no Brasil o seu estabelecimento principal abrangendo, em princípio, todos os ativos do devedor, inclusive no exterior. Podem ocorrer em relação a ambos os tipos de procedimentos de insolvências, que seja aberto sobre o devedor um procedimento paralelo no exterior. Se isso ocorrer, é possível que o mesmo credor declare o seu crédito em todos os procedimentos de insolvência abertos contra o devedor tanto no país como no exterior. Caso receba satisfação total ou parcial do seu crédito, indaga-se como seu rendimento obtido no exterior será levado em consideração no procedimento doméstico.

Os requisitos legais de uma anulação dos atos jurídicos práticos pelo devedor durante o período suspeito anterior à declaração de sua falência, na medida em que a relação jurídica entre devedor e credor tem conexão internacional, surgem questões especificas. De acordo com o princípio da territorialidade, um procedimento de insolvência aberto no exterior basicamente não pode surtir efeitos jurídicos no território nacional. A grande maioria dos países inclui os ativos do devedor situados no exterior no procedimento de insolvência aberto no país. Os Estados que são favoráveis ao princípio da universalidade aplicam as mesmas regras. Somente a consideração de rendimentos recebidos no exterior é compatível com o

princípio da igualdade de tratamento dos credores, valendo também em procedimentos de insolvência com conexão internacional. Tal regra tem efetiva aplicabilidade em tratados internacionais.

No Brasil os rendimentos obtidos por credores no exterior devem ser levados em consideração em procedimentos de insolvência que aqui forem abertos, cabe ao credor fazer a declaração de seu crédito integral no procedimento de insolvência doméstico, apesar de uma eventual satisfação parcial de seu crédito no exterior. Será imputado o valor recebido no exterior à quota ou ao dividendo que o credor receberá no rateio do procedimento doméstico.

Esse credor não é privilegiado em relação aos outros credores da mesma categoria que declaram os seus créditos apenas no procedimento doméstico, no cálculo do valor imputável serão deduzidas as custas do credor que lhe foram causadas pelo recolhimento de seu crédito.

20

CAPÍTULO 11 CONVENÇÃO DA UNIÃO EUROPÉIA SOBRE PROCEDIMENTOS