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Questionário acerca do Consumo de Benzodiazepinas – Resultados e Conclusões

Parte II – Temas Desenvolvidos ao Longo do Estágio

2. Consumo de Benzodiazepinas

2.2.2. Questionário acerca do Consumo de Benzodiazepinas – Resultados e Conclusões

O questionário acerca do consumo de benzodiazepinas (Anexo XIII), foi desenvolvido com o objetivo de inquirir os utentes com uma prescrição de BZ acerca de: Sexo e idade; Princípio ativo, dosagem e posologia prescrita; Motivo da prescrição, tendo em conta as indicações terapêuticas das BZ; Duração do tratamento atual; Idade do utente quando recebeu a primeira prescrição de uma BZ.

As respostas foram completamente anónimas, sendo que as iniciais foram colocadas no formulário de modo a não repetir os mesmos utentes no tratamento de dados.

Destes itens, têm principal relevância a duração do tratamento e a indicação terapêutica dado que o objetivo principal era perceber qual a dimensão de utentes que fazia um tratamento prolongado com BZ e, entre estes, qual a indicação terapêutica mais comum. Para além disso, após a análise da literatura, foi também relevante perceber qual o princípio ativo mais prescrito entre os utentes da FB e se este era ou não coincidente com os dados nacionais.

O fundamento do questionário foi explicado aos profissionais da FB e foi pedido que, mediante a dispensa de uma BZ, na presença do utente a quem pertencia a prescrição, fossem realizadas as questões se o atendimento o permitisse. O propósito era que o próprio farmacêutico avaliasse se era pertinente a implementação do questionário no atendimento em causa, de modo a não perturbar o utente nem danificar a relação estabelecida durante o mesmo.

As principais dificuldades encontradas durante a implementação deste projeto variaram na sua etiologia. Em algumas situações, o problema centrava-se no facto de que não era o próprio utente a aviar as suas receitas. Isto acontecia principalmente em casos de idosos dependentes de um cuidador. Esta circunstância condicionou o número de inquéritos preenchidos, que não reflete o número de BZ vendidas diariamente na farmácia. Ainda, outra dificuldade depreende-se com a adesão dos profissionais que, por sua vez, se pode justificar com a mudança na rotina durante o atendimento e, também com o prolongamento do questionário ao longo de 3 meses, o que faz com que, inevitavelmente, não haja sentido de urgência no preenchimento do mesmo.

36 No que diz respeito às questões colocadas aos utentes, a principal dificuldade entre os mesmos era o conhecimento da duração do tratamento. Vários utentes sabiam que já tomavam aquele fármaco há décadas, mas não sabiam exatamente há quantos anos o faziam. Quando questionados acerca da idade que tinham quando lhes foi prescrito pela primeira vez uma BZ, também sentiam dificuldades em precisar um número e, na maior parte das vezes, associavam a uma etapa da vida, como por exemplo, reforma, morte de um familiar, entre outros. De um modo geral, todos sabiam reconstruir a história da prescrição, isto é, porque procuraram ajuda e qual o motivo subjacente à prescrição - insónia ou ansiedade. Os casos mais fáceis correspondiam a novas prescrições. Destes últimos, alguns eram referentes à utilização de BZ como relaxantes musculares em casos de patologias músculo-esqueléticas e, outras reportavam a alterações de prescrições devido a falhas terapêuticas ou a desmames.

Analisando os resultados, detalhados no Anexo XIV, é possível perceber que a amostra foi de 42 utentes, sendo que 69% eram do sexo feminino. Para além disso, os utentes com mais de 50 anos representam 73% da amostra e os com mais de 60 anos correspondem a 53%. Estes dados são congruentes com aqueles dos estudos mencionados nos capítulos anteriores. A nível de medicamentos, foram registados 46 nos inquéritos pois 4 utentes faziam mais do que uma BZ. Em relação aos princípios ativos prescritos, tal como nos dados apresentados para Portugal nos trabalhos já mencionados, o alprazolam corresponde à maioria dos fármacos analisados com 35% da amostra. Seguido do diazepam com 20% e o lorazepam com 9%. Esta análise já era expectável tendo em conta o panorama nacional, apesar de que nesta amostra o diazepam tem mais prescrições que o lorazepam.

Os motivos de prescrição são maioritariamente a ansiedade – 33%- e a insónia – 45%, sendo que 17% dos utentes referiu que tomava BZ para tratar insónia associada à ansiedade. Apenas 5% dos utentes tinha uma prescrição devido a perturbações músculo-esqueléticas, o que corresponde a 2 pessoas. Destas, 1 utente encontrava-se a fazer um tratamento de curto-prazo para uma contratura muscular e outro já fazia o tratamento há 10 anos.

No que diz respeito à duração de tratamento, 61% dos utentes já faz tratamento com a BZ analisada há mais de 2 anos e 39% já o faz há mais de 5. A percentagem de utentes com um tratamento de duração inferior a 1 ano é de 30% e a 6 meses de 24%. Destes últimos, o motivo de prescrição mais prevalente é a insónia – cerca de 50%. Ainda, o último parâmetro analisado foi a idade da 1ª prescrição de BZ. Na maior parte dos casos, esta data correspondia à data de início do tratamento atual, mas, no entanto, em alguns casos já tinha sido prescrito uma BZ anteriormente. Assim, constatou-se que 59% dos utentes tinha entre 30 a 60 anos quando lhe foi prescrito uma BZ pela primeira vez.

No geral, estes resultados eram expectáveis e encontram-se dentro do que já foi descrito para Portugal. No entanto, também os utentes da FB que se encontram a fazer tratamento de ansiedade e insónia com BZ já o fazem há mais do que o tempo recomendado, o que remete para a necessidade

37 de intervenção a nível dos cuidados de saúde. No futuro, seria interessante perceber qual a percentagem de utentes que está informado cerca das consequências do uso prolongado de BZ, qual a percentagem que já tentou fazer o desmame e, ainda, qual é o profissional de saúde que prescreveu a BZ.