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Capítulo 2  Revisão Bibliográfica 3 

2.1   Caracterização das raças bovinas Mertolenga e Barrosã 3

2.1.2  Raça Mertolenga 15 

O nome desta raça bovina está directamente associado a Mértola, sendo os bovinos que existiam nesta região considerados diferentes dos animais das regiões vizinhas (Frazão, 1961). O mesmo autor refere que o verdadeiro mertolengo era “aquele bovino adaptado, pela sua pequenez e rijeza, às terras ásperas, montuosas, bastante dobradas e parcas em forragem de Mértola e Alcoutim”

Bernardo de Lima (1873) referiu-se ao bovino mertolengo como um "alentejano pequeno, bem adaptado aos cerros de magras pastagens e duros carregos. Rijo para carrear e lavrar nas encostas e serras, produzindo o melhor boi de cabresto, existindo no Baixo Alentejo, nas terras de Mértola, Alcoutim e Martinlongo. Como boi de cabresto foi levado para o trato do gado de lide na Região do Ribatejo”.

Figura 2:11 Bovinos mertolengos com o fenótipo Rosilho

Actualmente o efectivo nacional inclui cerca de 14500 fêmeas reprodutoras inscritas no Registo Zootécnico/Livro Genealógico, repartidas por 210 criadores aderentes, das quais apenas cerca de 50% são exploradas em linha pura (www.mertolenga.no.sapo.pt, 2006).

Figura 2:12 Bovinos mertolengos com o fenótipo Unicolor

De acordo com o Livro Genealógico, os bovinos mertolengos distinguem-se no que concerne à pelagem em: Rosilho ou Mil-flores (Figura 2:11), Unicolor (Figura 2:12) e Malhado (Figura

2:13), não sendo aceites animais com cabeças malhadas e cabos (extremidades dos membros)

brancos. Possuem um perfil recto a subconvexo, cornos finos, brancos e escuros na ponta, de secção elíptica, em gancho ou em lira baixa. Esta raça revela um temperamento nervoso e elevada rusticidade, apresentando porte mediano, esqueleto fino, mucosas claras ou ligeiramente pigmentadas. A cabeça é de tamanho médio, as faces descarnadas e o focinho estreito. As orelhas são finas, e os olhos grandes e oblíquos. A raça Mertolenga é muito heterogénea, descendendo provavelmente da raça Berrenda com modificações introduzidas pelas raças Alentejana, Brava e Andalusia (Felius, 1995).

Figura 2:13 Bovinos mertolengos com o fenótipo Malhado

2.1.2.1 Caracterização geral do solar

A distribuição geográfica da Mertolenga engloba os distritos de Castelo Branco, Lisboa, Leiria, Santarém, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro (Figura 2:14) (despacho nº 7/94 de 04-01). Nas zonas geográficas definidas pelas bacias hidrográficas do Sado e Tejo predominam os efectivos de pelagem unicolor. Nas regiões de Portalegre, Évora e Beja predominam os efectivos de pelagem Rosilho e Rosilho mil-flores, estando o efectivo de pelagem malhada, na sua maioria, na margem esquerda do Guadiana. O estatuto de organismo privado de controlo e certificação foi reconhecido à associação de criadores de bovinos da raça Mertolenga (ACBM), por aviso publicado no D.R. nº 21 de 20/01/94.

O uso da denominação de origem protegida (DOP) está ao abrigo do Regulamento CE nº 1107/96 de 12/06.

2.1.2.2 Sistema de produção

A produção da raça bovina Mertolenga é realizada em explorações com dimensão média de 50 a 100 vacas por unidade produtiva. A reprodução pratica-se por cobrição natural com touro próprio. O abate dos novilhos é efectuado cerca dos 24 meses de idade (DSPMP, 1998).

Os animais são criados em sistema extensivo, com encabeçamentos médios de 1,4 cabeças por ha, ocorrendo o desmame dos vitelos entre os 6 e os 9 meses. A alimentação é constituída por pastagens naturais e melhoradas, palhas, fenos, silagens, restolhos, bolota e concentrado. Comercialmente podem apresentar-se como “carne de vitela”, proveniente de machos ou fêmeas

Figura 2:14 Solar de produção da carne Mertolenga-DOP ( )

abatidos entre os 6 e 10 meses, com peso de carcaça entre 90 e 120 kg; “carne de novilha”, proveniente de fêmeas abatidas entre os 15 e os 30 meses e peso de carcaça entre 180 e 220 kg; “carne de novilho” com origem em machos abatidos entre os 15 e os 30 meses de idade e peso de carcaça entre 200 e 250 kg.

O Registo Zootécnico da População Bovina Mertolenga teve início em 1978, com organização e orientação da Direcção-Geral dos Serviços Veterinários. Em 1979 com o registo dos primeiros nascimentos é criado o Livro Genealógico, que a partir de 1995 passou este a ser coordenado e desenvolvido pelos produtores, através da ACBM.

2.1.2.3 Características produtivas

Os bovinos mertolengos são animais com uma grande capacidade de aproveitamento de alimentos grosseiros de escasso valor nutricional. A fêmea apresenta ciclos ováricos que só são interrompidos em casos extremos de escassez alimentar. Em condições normais de maneio, esta apresenta elevado índice de fertilidade (90 a 95%) e curto intervalo entre partos. Destaca-se ainda a sua boa capacidade maternal quando explorada em linha pura e particularmente em cruzamento industrial, ao desmamar bezerros que podem ultrapassar 50% do seu peso vivo médio. Os animais à nascença apresentam entre 22 e 28 kg, atingindo em adulto um peso que varia, geralmente, entre os 300 e 450 kg. Um estudo efectuado por Santos et al., (1995) em novilhos puros inteiros e castrados com peso vivo médio de 486 kg revelou rendimentos comerciais superiores a 50%. Para além da exploração em linha pura, a Mertolenga é utilizada para a produção de vitelos cruzados em sistemas extensivos, filhos de touros de grande porte (Charolês ou Limousine).

2.1.2.4 Condições para beneficiar da denominação DOP

O uso da Denominação de Origem Protegida obriga a que a carne seja produzida de acordo com as regras estipuladas no caderno de especificações, as quais incluem:

• A identificação dos animais;

• O saneamento e a assistência veterinária; • O sistema de produção;

• A alimentação, as substâncias de uso interdito e as condições a observar no abate e conservação das carcaças;

• A entidade certificadora.

Comercialmente a carne da raça Mertolenga pode apresentar-se em carcaças ou em peças acondicionadas em sacos ou recipientes plásticos. A rotulagem deve cumprir os requisitos da

legislação em vigor, mencionando também a Denominação de Origem Protegida e ostentando a marca de certificação aposta pela respectiva entidade certificadora. Durante o período de recolha das amostras (2000-2001), o agrupamento responsável pela divulgação e comercialização da carne Mertolenga-DOP foi a MERTOCAR (sociedade de produtores de carne de qualidade, S.A.) e o organismo de controlo e certificação foi a CERTIALENTEJO (certificação de produtos agrícolas, Lda).

A marcas associadas à produção e comercialização da carne Mertolenga-DOP são apresentadas na Figura 2:15.

Figura 2:15 Algumas marcas associadas à produção e comercialização da carne Mertolenga-DOP

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