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Os Rebeldes de Junho: quem organizou essas manifestações em São Luís?

3.2 O Junho Ludovicense: caracterização das Manifestações de Junho em São Luís

3.2.1 Os Rebeldes de Junho: quem organizou essas manifestações em São Luís?

Sobre a identidade de quem organizou as manifestações, ressalta-se primeiramente que, diferentemente do que houve inicialmente em São Paulo, os protestos em São Luís não foram organizados pelo “Movimento Passe Livre - São Luís”, já que nesse período estava inativo na cidade.

O “MPL-São Luís” teve três tentativas de organização. Sobre a primeira articulação não há muitas informações142. Em 2006, organizou-se novamente após as manifestações do

141 Esse relatório foi elaborado pelo Comando de Policiamento Especializado (Batalhão de Polícia de Choque) da

Polícia Militar do Maranhão. Esses dados foram adquiridos por meio de solicitação ao Comando Geral da Polícia Militar do Maranhão por meio do Ofício Nº 23/2015– PPGPP protocolado no dia 16 de setembro de 2015.

142 De acordo com o Entrevistado B houve essa primeira formação do MPL, mas não soube informar o período,

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“Xô Rosengana”, quando um grupo oriundo desse protesto considerou necessário manter a organização popular dos jovens que estava forte naquele momento, para reivindicar outras demandas como [...] atuar na área do transporte coletivo com a bandeira do passe-livre estudantil. Estava formado então o segundo coletivo do MPL em São Luís que atuou organizadamente de 2007 a 2009, contudo sem estar filiado à federação nacional do MPL (Entrevistado B).

Em 2013, já no contexto das MJ, quando o MPL se consolidava como um movimento social de referência nacional, surgiu o terceiro coletivo na cidade, com o intuito de evitar uma apropriação indevida da sigla por integrantes de outras organizações. A explicação: Em 2013 no calor das manifestações populares em São Luís e em, consequência, da notoriedade que o MPL de São Paulo tinha dado à causa do transporte público de qualidade com a bandeira do Tarifa Zero surgiram alguns oportunistas passando-se por “organizadores do MPL em São Luís” com fins à representar a massa de protestantes nas ruas em reuniões governamentais na prefeitura de São Luís (Entrevistado B), e o trecho da nota143 publicada pelo “Coletivo Pró-articulação do Movimento Passe Livre São Luís”, esclarece esse fato:

1. O movimento atualmente encontra-se dissolvido vindo novamente a existir apenas após reunião de rearticulação do Coletivo São Luís do MPL.

2. As pessoas que tem se apresentado em reuniões com autoridades governamentais não possuem legitimidade para reivindicarem-se como membros do MPL São Luís. 3. Algumas destas pessoas pelo contrário tem um histórico de manobras políticas oportunistas junto ao movimento estudantil da UEMA e do movimento de Juventudes [...]

5. Antigos membros do MPL São Luís estão neste momento articulando uma ampla reunião de rearticulação do Coletivo para que a discussão e a luta em torno da pauta do movimento venham a ser realizadas de forma orgânica e organizada...

(O Movimento Passe Livre São Luís vem a público manifestar sobre o que segue, 2013).

Sem o protagonismo do MPL em São Luís é importante apresentar quais foram os sujeitos que organizaram os protestos. Destaca-se inicialmente que, como essas manifestações foram bastante plurais, abarcam uma variedade de configurações em seu processo de organização. De acordo com Costa (2013), os protestos formaram dois tipos de movimentos, tanto os produzidos espontaneamente, como os organizados pelos modos tradicionais através de sindicatos, federação de trabalhadores, etc. Ainda para Costa (2013,p.03), “uma das

143 Nota assinada pelo “Coletivo Pró-articulação do Movimento Passe Livre São Luís e divulgada no site do

“MPL-São Luís”, no dia 26 de junho de 2013. Ver Nota na íntegra em: https: //mplsaoluis.wordpress.com/2013/06/26/o-movimento-passe-livre-sao-luis-vem-a-publico-manifestar-sobre-o- que-segue/

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singularidades da 'primavera brasileira' no Maranhão foi a conjugação de movimentos de novo tipo com padrões tradicionais de mobilização e ação coletiva, além da combinação, numa visada abrangente, de questões urbanas (que predominaram no país) com a questão agrária, conferindo uma 'cor local' ao movimento”.

Compartilhando desse pensamento, elencam-se como protestos organizados de modo tradicional as manifestações “Periferia vai ao centro” (25/06), convocada pelo Quilombo Urbano, Luta Popular e CSP-Conlutas; a Manifestação dos indígenas (24/06) em frente à Funasa organizada por indígenas pertencentes às etnias Canela, Guajajaras e Kre-y; o Grito da terra (18/06), que ocorreu antes do grande ato do dia 19 e contou com a presença de muitos trabalhadores rurais; e os que aconteceram nos bairros da zona rural e municípios vizinhos, majoritariamente gestados por professores, alunos e funcionários de escolas próximas e por moradores. Afirma-se que estes protestos foram organizados por integrantes de movimentos sociais históricos, partidos, sindicatos e associações de bairro e estudantis.

Os demais protestos que seguiam a “liturgia” da terceira fase das Manifestações nas cidades brasileiras e, por isso, reforçavam o discurso da “espontaneidade” e da autonomia institucional (sem partido, sindicato ou instituição), foram convocados e organizados pelas “redes sociais”. Por isso, não é possível identificar grupos orgânicos – com exceção das duas maiores manifestações “#VEMPRARUA! São Luís” e o “Acorda Maranhão” que possuíram processos de organização, em certa medida, diferenciados.

O “VEMPRARUA! São Luís” não foi construído por um grupo ou movimento: afirmação confirmada por um dos manifestantes, ao ser questionado sobre a identidade do coletivo organizador do protesto: não era um grupo porque para se ter um grupo você precisa de uma série de princípios ou minimamente de um problema mínimo para defender então na minha avaliação não é um movimento. Foi um evento. O Vem pra Rua foi uma manifestação (Entrevistado D). Desse modo, sugere que as articulações realizadas foram apenas para a execução do ato, tanto que posteriormente não foram mais os responsáveis pelos vários atos de nome similar que aconteceram na cidade.

O “Acorda Maranhão”, diferentemente, é organizado por um grupo que surge nas redes sociais como uma ideia de movimento popular de combate a corrupção, para conscientizar a população da importância da participação nos acontecimentos políticos em nosso Estado e também no país (Entrevistado E) – fundado desde 2011 com integrantes oriundos dos protestos “Dia do Basta”, sobre os quais se falou anteriormente. Caracterizam-se

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como um movimento social apartidário, contínuo e gradativo [...] que acredita na reconstrução sociocultural da sociedade, no sentido de incentivar e conscientizar a participação política e crítica, ideologicamente dentro do grupo cada um tem sua opinião/ideologia política. Acreditamos que não deve haver extremismo ou intransigências (Entrevistado E) e consideram que “as manifestações são instrumentos de mudanças, tão forte, quanto o voto” (VIAS DE FATO, 2013, p.05).

Objetivaram atingir diversas camadas da população, fazendo uso das mídias e de conteúdos em linguagem adequada, possibilitando o debate público, coletivo e democrático sobre modos de resolução da problemática da corrupção, além de conscientizar os cidadãos sobre a realização de práticas honestas no cotidiano, alertando para a relevância da denúncia, da fiscalização dos agentes públicos, do controle, da pressão popular, de modo pacífico e democrático, pela preservação da civilização, da eficiência, da higidez das contas públicas e do cumprimento das funções estatais arrogadas; conscientizar a população a respeito da importância do voto e, adicionalmente, da responsabilidade de cada cidadão pelo país; dentre outros (Entrevistado E). Para cumprir esses objetivos, o grupo mobiliza a sociedade usando as redes sociais e realizando atividades na ruas, praças, escolas e faculdades da região.

Entre as atividades realizadas pelo grupo, elencam-se o Dia do Basta à Corrupção, “Fora Renan”, “Fora Sarney”, Operação 7 de Setembro e também ações sociais como o Acorda Maranhão Solidário e Acorda Maranhão Solidário de Natal dentre outros, e colaboraram com movimento “Salve Apaco”, com o Grupo de Ação Voluntária Mão Amiga (GAVMA) e mais recentemente com o Movimento Brasil Livre (MBL), relação que será explicitada posteriormente no trabalho.

Mesmo com a organicidade do grupo e o trabalho de divulgação que realizaram previamente, nota-se que o grupo Acorda Maranhão não conseguiu comandar o protesto já que, devido à dinâmica adotada nas manifestações em todo o Brasil, principalmente na terceira fase, vários outros grupos sentiram-se à vontade para direcioná-lo inclusive propor trajetos diferentes, o que causou conflito no dia da manifestação. De acordo com um militante do grupo, houve oportunismo de alguns partidos políticos com seus carros de som gigantes contra o pequeno carro de som do movimento Acorda Maranhão conhecido como “Águia” (Entrevistado E). O depoimento do integrante refere-se a versões que atestam que juventudes partidárias mesmo discursando em nome do apartidarismo estiveram nessa manifestação inclusive dispondo de infraestrutura como carro de som.

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Problematizando algumas características do grupo “Acorda Maranhão” como o nome que em analogia ao “Gigante Acordou” - bordão difundido em todo o país - negava o histórico de manifestações políticas na cidade; e a centralização na corrupção como questão moral – lembrando que alguns membros formaram o “Dia do Basta: a Corrupção” infere-se que em sua gênese o grupo já apresentava características conservadoras.

O formato de organização dessas manifestações e a diversidade de entidades políticas participantes foram impeditivos para um direcionamento ideológico único desses protestos. No Quadro 06, apresenta-se um mapeamento da diversidade de organizações partidárias, sindicais e de movimentos sociais temáticos identificados como participantes das MJ em São Luís, que apresentam diferentes matizes ideológicas.

Quadro 6 - Organizações presentes no Junho Maranhense144 TIPO

ORGANIZACIONAL

ENTIDADES PARTIDOS

(e juventudes partidárias)

Juventudes do PSOL, PCB PSTU, Juventude Socialista (JS/PDT), Juventude do PMDB (JPMDB), Juventude Socialista Brasileira (JSB – PSB), Juventude do PSDB, Juventude do PPS

SINDICATOS e CENTRAIS SINDICAIS

Associação de Professores da Universidade Federal do Maranhão (APRUMA), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos

Trabalhadores (CUT), CSP Conlutas, Sindicato dos Bancários

MOVIMENTOS SOCIAIS TEMÁTICOS

Estudantis Diretório Central de Estudantes (DCE/UFMA e UEMA), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Nacional dos Estudantes (UNE), Associação Nacional dos Estudantes Livres (ANEL), Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS/ UFMA), Grêmios.

Étnicos/gêne ro/ juventude/re ligiosos/ culturais/em defesa de questões urbanas.

União da Juventude Socialista (UJS), Fórum da Juventude Negra, Pastoral da Juventude (PJ), grupos LGBT, grupo de Skatistas, Movimento Quilombola do Maranhão (MOQUIBOM), Movimento HipHop, Marcha das Vadias (grupo feminista), Nossa São Luís, MOVA SL.

Fonte: Elaboração própria (2016)

A partir das informações nesse quadro, fica nítida a pluralidade de organizações que estiveram presentes nas ruas de Junho. Mas, a ênfase no discurso do “apartidarismo” propiciou a elaboração de um território aparentemente neutro que, na verdade, transformou-se num território de disputa de múltiplos grupos políticos que, mesmo não se identificando como organizadores ou até mesmo disfarçando sua identidade organizacional, disputaram espaço

144 Construiu-se esse mapeamento a partir das informações nos jornais do período, assim como das informações

dadas pelos entrevistados. No entanto, acredita-se que muitas outras organizações estiveram presentes nas manifestações de Junho de 2013 em São Luís.

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político. A rua tornou-se o local de construção da própria manifestação, dando margem para variadas sugestões em relação à pauta de reivindicação, aos símbolos a serem utilizados, ao trajeto do protesto, etc, diferentemente do que ocorre em manifestações organizadas de modo mais tradicional, quando todos os detalhes da manifestação são decididos em assembleia.

Entretanto, no caso onde é “tudo junto e misturado”, a identidade política dos manifestantes é variada, existindo militantes com ou sem engajamento político prévio. São considerados sem engajamento aqueles que estiveram nas ruas apenas para se sentirem incluídos no evento, ou seja, seguindo uma espécie de “modismo”.

Os com engajamento podem ser tanto os ativos militantes sindicatos, partidos, coletivos de jovens, Centros Acadêmicos (CAs), Diretórios Acadêmicos (DAs), movimentos sociais quanto aqueles que, mesmo não sendo militantes institucionalizados, possuem uma visão politizada (VIEIRA, 2013):

Ideologicamente não era um movimento socialista, anarquista, comunista, era tudo isso e mais. Muita gente nova que tem um grau de politização limitado. O próprio ato de queimar a bandeira beira esse tipo de desvio a direita. Então, ideologicamente era muito heterogêneo. Mas de forma geral, ou pelo menos da maioria tinha um forte caráter de ação contra o sistema, não o sistema capitalista em si, mas de contestação da ordem de alguma forma (Entrevistado D).

Estabelece-se, portanto, uma relação de formação política nessas manifestações, pois conforme essas disputas ideológicas, desenham-se e a correlação de forças empreendida as pessoas sem engajamento podem aderir às perspectivas progressistas ou conservadoras.

Essa variedade na composição política e ideológica aponta para outro questionamento sobre quais as classes sociais estiveram presentes em Junho de 2013 nas manifestações. Não foi realizada nenhuma pesquisa estatística que possibilitasse aferição numérica da dimensão socioeconômica dos manifestantes de Junho. Entretanto, infere-se que as manifestações centrais (e especificamente as duas maiores) seguiram o padrão nacional e tiveram como principais manifestantes representantes das classes médias. Nas manifestações nos bairros descentralizados, a presença maior é de das próprias classes populares que os habitam.

As Manifestações de Junho em São Luís, assim como no Brasil, expuseram as contradições existentes na sociedade capitalista. As diversas reivindicações por melhor qualidade na educação, saúde, infraestrutura e participação política direta apresentam uma crítica que atravessa o Estado Capitalista (e sua Democracia Burguesa) e evidenciam a distância grandiosa entre os que têm muito e os que nada têm (apenas a força de trabalho),

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abalando a aparente boa convivência entre esses dois polos (cheio de clivagens) na cidade que é “a expressão das relações sociais de produção capitalista, sua materialização política e espacial que está na base da produção e reprodução do capital” (IASI, 2013, p.41).

A pauta local de reivindicações não destoou da apresentada nas demais cidades brasileiras pois, apesar de difusa e ampla, convergia para a busca de melhores serviços públicos de educação, saúde, transporte, infraestrutura, saneamento (abastecimento de água/esgotamento), segurança pública e rechaço a figuras políticas, sendo coerente com o habitualmente solicitado em protestos anteriores na cidade.

Desse modo, as reivindicações não foram apenas rabiscos em cartazes pois, endossadas pelos moradores dos bairros da periferia e zona rural que se manifestaram intensamente na época, expuseram a cruel realidade vivenciada por esses moradores. Nesse sentido, Costa (2013, s. n) afirma:

as demandas mais abstratas por saúde, educação, segurança e transporte adquiriram sua face concreta e vimos, ao lado da juventude estudantil (secundarista e universitária), trabalhadores e trabalhadoras das periferias urbanas e até pequenos comerciantes (preocupados com o aumento do número de assaltos), pressionando e dirigindo suas queixas às secretarias de governo (da Prefeitura e do Governo do Estado) ou a uma estatal (Caema-Companhia de Águas e Esgotos).

A maioria das manifestações apresentava uma luta pela mobilidade urbana, principalmente referindo-se a melhorias no transporte público: novas alternativas de percurso, abrangência da linha de ônibus do município de São José de Ribamar para outros Terminais de Integração, nova licitação para linhas de ônibus, redução do preço da passagem, etc.

A relevância da questão da mobilidade urbana é observada desde o primeiro ato, quando os organizadores a definiram como o tema principal do protesto, como comprova a arte criada para divulgar o “#VEMPRARUA! São Luís” publicada na página de convocação no Facebook que, ao comparar o ônibus a uma lata de sardinha, denunciava as precárias condições que os usuários de transporte público coletivo são submetidos diariamente – na próxima figura:

139 Figura 10: Arte do protesto “#VEMPRARUA! São Luís”

Fonte: Página no Facebook do “#VEMPRARUA! São Luís” (2013)

Desse modo, o destaque para essa pauta não se deve apenas ao fato de ter sido o fio condutor dos primeiros dias de protesto em São Paulo e outras capitais, mas porque assim como nesses lugares, o transporte público em São Luís é um problema gravíssimo.

Embora a passagem de ônibus em São Luís não tivesse aumentado no período próximo ao contexto das manifestações, recorrentemente tem aumentos que parecem irrisórios, já que geralmente se estabelecem na margem dos R$ 0,20, como os que desencadearam as manifestações em São Paulo. No entanto, tornam-se relevantes, devido a dois aspectos principais: o alto custo para o orçamento familiar ao final do mês proporcionalmente à renda do ludovicense; e o fato desses aumentos não se reverterem em melhorias no transporte público.

A justificativa para os aumentos seria um provável prejuízo (crise) que o sistema de transporte em São Luís causaria aos empresários. Esse argumento torna-se contraditório ao se observar que em 2016 essas mesmas empresas recandidataram-se ao processo licitatório. Então, conforme afirmam Bezerra e Silva (s. p, 2015) “a crise é exatamente essa: a explosão dos lucros dos empresários de transporte integrado com a precariedade do serviço para os usuários. Uma falência impressionantemente mentirosa de um sistema altamente lucrativo”.

Destaca-se que o ônibus é o único meio de transporte público regular que opera na Ilha do Maranhão145 e não atende com qualidade os fluxos diários de pessoas que circulam nos municípios metropolitanos. O Sistema Integrado de Transporte (SIT), que possibilita ao usuário trocar de ônibus pagando apenas uma passagem, possui atualmente cinco Terminais

145 A Ilha do Maranhão agrega quatro municípios da Região Metropolitana de São Luís: São Luís, São José de

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de Integração (Praia Grande, Cohama, Cohab/Cohatrac, São Cristóvão e Distrito Industrial) e atende apenas os habitantes de São Luís e com total precariedade. O transporte público é controlado por apenas sete empresas e muitos dos que dele dependem para se locomover precisam usar o transporte público alternativo (micro-ônibus e vans) para chegar aos seus destinos (IPEA, 2015).

Esse relato sobre o transporte público em São Luís e municípios metropolitanos depõe sobre a deficiência na prestação de serviços públicos que, como se observa, é presente em outras áreas que também foram motes dos protestos. Essa precariedade na elaboração e efetividade nas políticas públicas existente no Estado e em São Luís refletem a conjugação da defesa de interesses econômicos privados e políticos que, em relação mutualística, operacionalizam o lucro em detrimento de melhores condições de vida da maioria da população.

As administrações públicas ao longo dos anos promoveram esse cenário, o que justifica as reivindicações mais marcantes terem sido contra figuras políticas da cidade e do Estado. Devido ao longo período em que o ex-presidente José Sarney e sua família dominaram o governo estadual e outros nichos políticos e o prestígio de articulações na esfera nacional, a solicitação pelo “fim da oligarquia Sarney” (Figura 11) tornou-se relevante ponto de pauta local, assim como nos protestos anteriores “Xô Rosengana” e “#ForaRoseanasarney” – abaixo visualizados:

Figura 11: “Fim da Oligarquia Sarney” vira reivindicação em Manifestações de Junho

Fonte: Página no Facebook do “Acorda Maranhão” (2013); Jornal Pequeno (2013)

Todas essas considerações traçam um desenho das MJ na cidade de São Luís, entretanto, para além da descrição, afirma-se a importância de compreendê-las a partir de relações sociais, econômicas, políticas e ideológicas interligadas, entendendo-as como lutas sociais, portanto, com contradições e produzindo disputas ideológicas. Nesse sentido, uma das

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questões mais significantes a serem analisadas no campo das ideologias é a ênfase no discurso do apartidarismo.