utilizados na avaliação de adultos: enfoque ambulatorial
INDICADOR EQUAÇÃO APLICABILIDADE
1. Recordatório de 24 horas – R24h
Foi desenvolvido por Bertha Burcke com a finalidade de mães registrarem o consumo alimentar dos filhos. É um método muito utilizado na prática clínica e, como o próprio nome sugere, serve para avaliar e quantificar todos os alimentos e bebidas consumidos nas últimas 24 horas ou, como é comumente estabelecido pelos profissionais, no dia anterior ao da entrevista. Assim, é um instrumento que representa o consumo atual do indivíduo, tendo como aspecto positivo a facilidade de recordação, já que o período a ser lembrado é recente (FISBERG et al., 2005).
O meio de investigação mais utilizado é a entrevista pessoal conduzida por profissional treinado, em que deve haver o cuidado para manter a postura mais neutra possível, evitando sinais de espanto, censura ou (des) aprovação do consumo alimentar, pois podem intimidar o indivíduo ou induzir respostas, aumentando a probabilidade de erros. Deve-se evitar também direcionar as perguntas sobre alimentos ou hábitos específicos, já que podem sugerir que estes devem fazer parte da alimentação do indivíduo. É imperativo que o entrevistador estabeleça um bom canal de comunicação, seja empático, porém sem induzir respostas (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007).
A entrevista usualmente é conduzida em ordem cronológica e, para facilitar a recordação, o avaliador pode utilizar frases como “agora me relate todos os alimentos que comeu ou
bebeu ontem, o dia todo, começando pelo primeiro alimento ou bebida consumido”, “você comeu alguma coisa entre o café-da-manhã e o almoço”, “antes de dormir você ingeriu algum alimento”. Evitar perguntas expressões tendenciosas “você tomou café da manhã?”, “você comeu pouco?”. O avaliador também pode fazer um levantamento prévio sobre o histórico da rotina de trabalho e do dia anterior (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007).
Outra técnica de R24 que tem sido utilizada é a de “passagens múltiplas”, comumente realizada em três fases: (1) o avaliador solicita ao indivíduo que faça breve listagem de todos alimentos que consumiu; (2) o avaliador obtém a descrição detalhada dos alimentos, ingredientes e forma de preparo, quantidade consumida, marca e variedade dos alimentos (ex.: banana-prata, banana-nanica etc) e tamanho das embalagens de produtos industrializados, local e horário da refeição etc; (3) ao final, o entrevistador faz uma revisão junto com o avaliado. Na primeira etapa, o entrevistador não precisa se preocupar em anotar as quantidades, não deve interromper o indivíduo e não se recomenda realizar a listagem em ordem cronológica. Na segunda etapa, o entrevistador deve investigar os alimentos que podem ter sido omitidos inicialmente. Para fechamento, o avaliador revisa a lista e demais informações a fim de reduzir os erros (JOHNSON; SOULTANAKIS & MATTHEWS, 1998). Segundo Rustishauser (2005), o método de múltipla passagem apresenta melhor estimulação dos processos cognitivos de lembrança do que estímulos de ordem cronológica.
É importante também avaliar itens alimentares normalmente omitidos, como balas, bebidas alcoólicas ou não, doces e alimentos de adição como azeite, sal, açúcar, margarina, manteiga, molhos para salada e outros condimentos (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007).
São fatores que podem levar a erros de mensuração relacionados ao avaliado: habilidade de recordar, nível de cooperação, humor, atenção, importância e frequência de consumo do alimento. A habilidade de o entrevistado recordar e quantificar todos os alimentos e bebidas consumidos de forma precisa é influenciada pelo sexo, idade (especialmente idades extremas), nível de escolaridade etc. (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007; FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).
É importante que o avaliador tenha bom conhecimento sobre alimentos, hábitos e costumes regionais e as formas de prepará-los. Uma preparação com o mesmo nome pode apresentar fichas técnicas diferentes. Por exemplo, o cuscuz nordestino é preparado com farinha de milho, água e sal, enquanto o paulista é preparado com ovos, carne, sardinha, azeitona etc. (FISBERG et al., 2005).
Não é tarefa fácil obter um relato preciso da quantidade consumida, o avaliado pode superestimar as porções pequenas e subestimar as grandes (fenômeno denominado flat slope). Para melhorar a percepção das quantidades dos alimentos, e consequentemente reduzir erros relacionados à quantificação, pode-se dispor de álbuns fotográficos (MONTEIRO et al., 2010; LOPES; BOTELHO, 2008; MONEGO et.al., 2013), kits de medidas caseiras (xícaras, copos, conchas, colheres etc.) e réplicas tridimensionais de alimentos (FISBERG et al., 2005).
São vantagens do método: o avaliado não necessita ser alfabetizado, o tempo de entrevista é relativamente curto, é de baixo custo e praticamente não exerce influência no comportamento alimentar (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007).
A investigação do consumo alimentar de apenas um dia pode ser aceitável para se estimar a média de consumo de energia e de macronutrientes por fornecer informações dos alimentos consumidos e quantidade (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009). Entretanto, a
interpretação dos dados deve ser feita com cautela, pois a ingestão pode ser atípica. Para obter uma estimativa mais precisa do consumo quantitativo de nutrientes, recomenda-se conhecer a dieta habitual do indivíduo, já que as consequências da alimentação inadequada aparecem após um tempo de ingestão alimentar insuficiente ou excessiva. Além disso, a variação intra- individual na ingestão de micronutrientes é bastante significativa. Assim, devem-se contemplar vários momentos de ingestão alimentar do indivíduo para se estimar o consumo habitual (KAC; SICHIERI; PETRUCCI, 2007).
Na prática clínica, é muito utilizado o diário alimentar habitual, que é um formulário semelhante ao R24. Entretanto, diferente do R24, é um instrumento que consiste na coleta de horários, local da refeição, alimentos e quantidade habitualmente consumidos, e pode, portanto, refletir a dieta habitual.
Quadro 1. Quadro Síntese – informações do R24.
Horário e local
casa/ restaurante/ lanchonete/
trabalho/ escola/ ocasião festiva/ casa de amigos/
casa de parentes.
Nome da refeição
café da manhã;
colação (lanche entre o café da manhã e o almoço); almoço; lanche da tarde; jantar; ceia. Alimentos, bebidas e preparações
Além dos nomes dos alimentos e preparações, se possível, registre: • marca comercial alimentos (ex.: rosquinhas da marca X, biscoito
wafer de chocolate da marca Y);
• variedade dos alimentos (ex.: manga rosa, manga espada, manga palmer etc).
Tipo/forma de preparo
• Nos alimentos compostos, ex.: café c/ leite, sopas, arroz de carreteiro, sanduíches etc. pergunte os ingredientes da preparação, as quantidades e as medidas utilizadas na composição.
Ex.: Sanduíche de queijo:
- 2 fatias de pão de forma integral marcaX®; - 1 folha de alface;
- 1 rodela média de tomate; - 1 fatia grande de mussarela.
• Registre se a preparação foi cozida em imersão ou vapor, refogada, frita, assada, à milanesa etc.
Quantidade
• No caso de alimentos como frutas, pães, biscoitos e ovos, perguntar quantas unidades foram consumidas. Ex.: 2 fatias de pão de forma, 1 pão francês, 5 biscoitos recheados etc.
• Nas carnes utilize unidades como: fatia (pequena, média, grande), pedaço (pequeno, médio, grande), posta (pequena, média, grande). • Não esquecer de descrever as medidas caseiras de referência (Ex.:
colher de sopa; colher de servir; conchas; pegador de macarrão). • Registrar o tamanho da embalagem comercial. Ex.: batata chips
marcaZ® 57g, 96g, etc. Fonte: Adaptado de FISBERG et al., 2005.