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2 QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE EXPERIÊNCIA E CONHECIMENTO?

2.2 UMA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICO-PEDAGÓGICA EM DANÇA

2.2.1 Recortando e Enfocando as Experiências

é feita por corpos e suas relações.

Compreender o corpo como desnecessário no estudo da disciplina teórica História da Dança, ou qualquer outra, é um tipo de conhecimento naturalizado que merece ser questionado e reconstruído ou, melhor dizendo, que deve estar aberto a experiências que possibilitem pensar, no caso, a referida proposição teórico-prática, de maneiras alternativas corponectivas. As aulas, sejam de Dança Contemporânea ou de História da Dança, só acontecem enquanto experiências instauradas pela relação entre corpos e destes com o ambiente. Desse modo o intuito foi construir um estudo de História da Dança que estimulasse experiências não pautadas apenas nos discursos teóricos elucubrativos. Muito embora estes também sejam corponectivos. Tanto a teoria como a prática só são, com corpo, apesar de certas compreensões modernas não o entenderem assim. Com seus procedimentos sensório-motores e conceitual-abstratos, que agem ao mesmo tempo, o corpo ele mesmo é teórico-prático.

2.2.1 Recortando e Enfocando as Experiências

Como mostra a imagem 4*, de modo geral, a estrutura das aulas se desenvolvia, primeiramente, com a visualização e o diálogo acerca de imagens (artefatos visuais) referentes ao período histórico estudado e a leitura de pequenos textos com aportes de nomes, datas, lugares, etc. Num próximo momento, com a perspectiva de estimular interpretações e elaborações pessoais em forma de comentários e de dança, eram propostas perguntas como: Como o corpo está expresso na imagem? Que histórias esse corpo conta para você? O que move estes corpos? Que perguntas as imagens fazem a você? Que história(s) e/ou imagem(s) você pode criar com isso?

*

As imagens (fotografias) referentes à experiência artístico-pedagógica em dança são utilizadas nesta dissertação por meio de autorização de uso de imagem para fins de pesquisa, publicação e exposição em eventos acadêmicos, científicos, artísticos e pedagógicos.

Imagem 4 – Corpos em relação com imagens

nas aulas de História da Dança I, Escola de Dança - FUNCEB (2010).

Foto de Odailso Berté.

Com essas e outras perguntas decorriam os momentos de criação de movimentos de dança, antecedidos, entremeados ou seguidos de comentários, dúvidas, anseios, descontentamentos, satisfações e outras perguntas. Momentos em que os corpos/educandos pensavam, criavam, imaginavam, sentiam e mostravam suas ideias e imagens acerca dos períodos, dos locais e dos corpos relacionados à História da Dança, em termos de movimento.

Mesmo tendo sido proposta uma metodologia que possibilitou outros modos para os educandos se relacionarem com os conteúdos e temas, em relação a estes, o plano de curso da disciplina (Anexo A) seguiu uma ordem cronológica da História como tradicionalmente se conhece, da seguinte forma:

Dança na antiguidade (pinturas rupestres).

Dança nas antigas sociedades grega, indiana e egípcia. Igreja e dança no Império Romano.

Renascimento: o nascimento do balé. Os balés da corte: dança e aristocracia.

Romantismo: estrelas e fadas. Os balés russos

Os balés de repertório

História e evolução da dança.

A ementa da disciplina (Anexo A) primava por uma abordagem histórica teórico-prática e panorâmica, no sentido de que os conteúdos não seriam esgotados, mas, postos em relação por meio de imagens, pequenos textos e perguntas. Para, assim, possibilitarem comentários, questionamentos, interpretações e criações pessoais e grupais, com a elaboração de movimentos de dança.

O que aqui é chamado de experiência artístico-pedagógica em dança compreende a disciplina História da Dança I, e nesta o enfoque está em dois trabalhos específicos realizados com os educandos. O primeiro deles, que introduziu os estudos, foi a criação de uma narrativa escrita com uma imagem de dança que cada educando escolheu. Seis narrativas foram escolhidas e articulam as reflexões do próximo capítulo. Outro trabalho, realizado no estudo dos balés de repertório, consistiu em uma criação coreográfica a partir de um balé de repertório. O trabalho aqui relatado é a coreografia “A Lagoa das Patas”, criada a partir do balé “O Lago dos Cisnes”. Acerca deste trabalho coreográfico, foi realizada outra atividade integrada à experiência artístico-pedagógica. Trata-se do reencontro realizado com o grupo de educandos criadores da coreografia “A Lagoa das Patas” que aconteceu em maio de 2011, reunindo seis dos oito integrantes que, na oportunidade, ainda estudavam na Escola de Dança da FUNCEB.

O reencontro foi realizado em duas etapas com o objetivo de proporcionar relações entre corpo, pergunta e imagem, no entanto, desta vez, com os educandos se relacionando com imagens (fotos e vídeo) deles próprios dançando a sua coreografia. Com um roteiro de perguntas instigadoras, o intuito era de que os educandos pudessem interagir, dialogar e perceber que perguntas as imagens e a dança lhes faziam, como também, questionar as referidas imagens e a dança.

Na primeira etapa do reencontro, o registro videográfico da coreografia foi o estímulo que, junto das perguntas, articulou as interações. Na segunda, em meio a doze fotografias da coreografia, os próprios educandos escolheram três delas e,

com estas, articularam suas considerações, interpretações e questionamentos, também por meio de perguntas.

Os educandos teceram relevantes questionamentos, entendimentos e considerações sobre corpo, dança e processo de criação, bem como sobre o envolvimento entre eles, com o trabalho, com as imagens e com o fazer artístico. Seus relatos foram gravados, transcritos e serão enfatizados no próximo capítulo, de acordo com os enfoques das categorias de análise que, como dito, atentam para questões de corpo e dança. Como modo de ação, o referido reencontro é próximo das abordagens acerca de grupos focais. Conforme Barbour (2009), qualquer discussão de grupo pode ser entendida como um grupo focal, desde que, o pesquisador esteja atento às interações entre as pessoas.

No grupo focal a interação, as conversas, as relações, podem ser orientadas por meio de tópicos, roteiro, perguntas e outros materiais de estímulo. Questões em comum entre os participantes auxiliam para que, na composição do grupo, as relações e conexões entre eles sejam apropriadas. Os participantes apresentam experiências, opiniões e perspectivas diferentes para que o debate aconteça. O pesquisador é o mediador que, envolvido com as ações, está atento aos modos dos participantes interagir, se relacionar, criar conexões, rupturas e questionamentos. (BARBOUR, 2009).

O reencontro com os educandos, embora com objetivo projetado em termos de suscitar análises, não ocorreu como uma atividade experimental coletora de dados a serviço de comprovações esperadas por uma pesquisa científica, como nos moldes modernos. Esse reencontro coemergiu dos entrecruzamentos da experiência artístico-pedagógica em dança com as proposições conceituais e o procedimento de Pina Bausch, operando como elemento que também estrutura a pesquisa. Nesta compreensão de pesquisa, as experiências são entendidas como já sendo cognitivas e com conteúdo conceitual, não necessitando de validações puramente científicas. Desse modo, o reencontro com os educandos não é um experimento submisso a análises comprobatórias, mas uma experiência que, de modo relacional, coarticula análises – corponexões – reflexões para entretecer o processo de feitura desta bricolagem reflexiva – pesquisa artístico-científica.

Portanto, as análises aqui realizadas com a experiência artístico-pedagógica em dança, dizem respeito a duas experiências específicas realizadas no processo

com os educandos da Turma A do segundo semestre de 2010, do já referido curso e escola. A primeira delas compreende as seis narrativas escritas pelos educandos, relativas ao trabalho introdutório da disciplina. E a segunda, uma coreografia intitulada “A Lagoa das Patas”, também por eles elaborada, relativa ao penúltimo trabalho do processo, e a atividade acerca das imagens (fotos e vídeo) dessa coreografia, realizado com seus respectivos autores em um reencontro, semelhante ao formato de grupos focais.

Outros trabalhos e atividades foram realizados ao longo do semestre de 2010 e também outro grupo de educandos, a Turma B, cursou a disciplina com as mesmas proposições. A escolha do referido grupo, dos respectivos trabalhos e imagens com os quais se tecem as análises, se deu mediante categorias de análise levantadas dos próprios trabalhos dos educandos e definidas por critérios que serão comentados a seguir.

2.3 CATEGORIAS DE ANÁLISE QUE EMERGEM DA EXPERIÊNCIA

Tendo a pergunta como um critério, olhou-se para os trabalhos dos educandos a fim de perceber neles questionamentos, indagações enfaticamente relacionadas ao problema da pesquisa e da própria articulação corpo – imagem – história – dança. Entendendo que este olhar para os trabalhos dos educandos consistiu em uma experiência interpretativa do pesquisador/educador, uma ação como a do pesquisador bricoleur interpretativo que, sendo corponectivo, está integralmente engajado na articulação da pesquisa. Em sua maioria, os trabalhos estavam relacionados com os propósitos da disciplina e da pesquisa, atestando inúmeras possibilidades de pertinentes reflexões. Todavia, por meio dos próprios critérios metodológicos de pesquisa que apontam para recortes específicos em torno do problema central da investigação, a escolha se deu pelos trabalhos, imagens e respectivo grupo mais diretamente relacionados ao problema desta pesquisa que enfoca relações entre corpo, pergunta e imagem na dança.