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CAPÍTULO II – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: ASPETOS TEÓRICOS E

2. Aspetos Teóricos

2.6. Recursos políticos

O processo de participação política requer um certo nível de competência política por parte dos cidadãos estando esta condicionada à posse de determinados recursos políticos. De acordo com Dahl recursos políticos compreendem,

…tudo o que uma pessoa ou um grupo tem acesso, que pode utilizar para influenciar direta ou indiretamente a conduta de outras pessoas. Variando com o tempo e o lugar, um número imenso de aspetos da sociedade humana pode ser transformado em recursos políticos: força física, armas, dinheiro, riquezas, bens e serviços, recursos produtivos, rendimentos, status, honra, respeito, afeição, carisma, prestigio, informação, conhecimento, educação, comunicação, meios de comunicação, organizações, posição, voto (…),entre muitos outros. (Dahal, 2001:195)

No debate sobre a adaptação de uma sociedade aos valores e procedimentos democráticos, Schlozman, Verba e Brady (2012) destacam-se na análise das desigualdades na distribuição dos recursos políticos numa sociedade democrática. Os

autores argumentam que a distribuição dos recursos cívicos em democracia é central para se compreender os processos de participação política,

…In a true democracy, the preferences and needs of all citizens deserve equal consideration. Yet equal consideration is only possible with equal citizen voice.(…) . Citizens are not equally likely to undertake actions to let public officials know what they want or need, political activists are not representative of the citizenry at large, and a particularly acute form of participatory distortion results from the fact that those who are disadvantaged by low levels of income and education are less likely to participate in politics. (Schlozman et al, 2012:2).

Partindo do pressuposto que o requisito básico, o direito à participação, está garantido em democracia, estes autores argumentam que as desigualdades entre os grupos no que concerne à eficácia em termos de se fazerem ouvir na praça pública são determinadas por diversos fatores, como sejam a motivação para a participação, a abundância de recursos, tais como o conhecimento, a habilidade, o dinheiro disponível, o tempo disponível e as ligações em rede envolvendo esses grupos etc.. Tal desigualdade de recursos dificultará a comunicação que, por sua vez, irá produzir mais desigualdades de recursos e, por sua vez, menos capacidade em se fazer ouvir e de influenciar politicamente,

…the motivation to take part and the resources so to do, as well as the connection to networks that foster activity - are unequally distributed and contribute to inequalities of political voice. The more unequal the distribution of the factors that foster participation across politically relevant groups, the more unequal is political voice. (Schlozman et al, 2012:16)

Um dos recursos basilares da participação política é a consciência política que, de acordo com Ana Belchior está diretamente ligado ao recurso educação: “o aumento do nível de educação está na origem do desenvolvimento da consciência política e das capacidades cognitivas individuais, aumentando o interesse e a participação políticos (…)” (Belchior, 2010:50).

Com efeito, nas sociedades economicamente mais abastadas, nas quais os cidadãos beneficiam de níveis de escolaridade elevados, melhores condições de saúde e mais acesso à informação serão, em princípio, reforçados os valores e princípios

democráticos que promoverão o desenvolvimento nos cidadãos de uma cultura política que lhes conferirá uma maior consciência crítica dando sentido à sua ação politica.

A este respeito, Andrea Campbell, fazendo especial referência ao grupo dos idosos nos EUA, que por muito tempo fora marginalizado, defende que o comportamento político deste grupo na atualidade, está em certa medida influenciado pelas políticas públicas, em particular pelas medidas implementadas nos setores da Saúde e da Segurança Social fornecedores de recursos, tais como pensões de reforma e, por conseguinte, tempo livre e, por outro lado, acesso à saúde, recursos estes que podem ser transformados em relevantes recursos políticos. Deste modo, é a combinação destes recursos que parece estar na base do estímulo à participação. “Social Security and Medicare transfer 40 percent of the federal budget to seniors, with significant effects on their political behavior” (Campbell, 2003:3).

Como reforço da sua argumentação, a Autora refere ainda que os idosos nos EUA não tiveram sempre o mesmo nível de atividade política. “Seniors were not always so politically active. In the 1950s, when Social Security benefits were modest and covered only a fraction of seniors, the elderly participated at lower rates than younger people.” (Campbell 2003: 3).

Já antes, no estudo de Almond e Verba (1963, ed.1989), é igualmente referido que a adesão a valores democráticos era mais saliente nos grupos de maior escolaridade, sendo especialmente esses que demonstraram alto grau de competência política subjetiva. É de mencionar ainda outros recursos de suma importância que se consubstanciam no acesso à comunicação e à informação, quer seja através das redes sociais onde o cidadão está imerso, quer seja através dos media na sua forma de imprensa escrita ou visual, desempenhando todos eles um papel de enorme relevo como formadores de opiniões e vontades, atribuindo sentidos e significados aos processos e aos factos sociais.

No que respeita ao acesso à informação, particularmente dos cidadãos mais velhos relativamente aos mais jovens, alguns autores (Johnson, 1990,1993; Streufert et al, 1990; Hershey et al, 1990), defendem que os cidadãos mais velhos têm menos acesso à informação, devido não só ao facto de não disporem da tecnologia de que usufruem os mais novos, mas igualmente pelo facto de necessitarem de dispor de mais tempo para

processar a informação bem como, de níveis de concentração que os cansam deixando muitas vezes a tarefa a meio. Contudo, recentes investigações, quer qualitativas, quer quantitativas não confirmam esta explicação e defendem que as estratégias usadas pelos mais velhos efetivamente não carecem de muita informação nova pois utilizam a que já detêm do passado (Riggle e Johnson, 1996:114).

No que respeita às redes sociais em particular, é a sua estrutura que irá determinar o conteúdo e o resultado dessas relações, podendo tornar-se um importante recurso político na medida em que, da sua estrutura, emerge interação indutora de partilha de ideias, opiniões, propostas, informações e motivações afetando e influenciando a ação social de cada cidadão (Castells e Cardoso, 2005:23).

De igual modo, a experiência de vida, o sentimento de pertença à comunidade, a autoestima, o interesse e a motivação pelos assuntos políticos, a capacidade física e psíquica para a mobilização, são outros dos exemplos de recursos que condicionam igualmente as suas atitudes e comportamentos políticos (Goerres, 2009).

Todavia, a grande maioria destes recursos políticos encontra-se distribuída de forma desigual mesmo nas sociedades democráticas atuais. Dada esta desigualdade na distribuição dos recursos políticos, existem cidadãos que possuem mais influência que outros na formulação das políticas, nas decisões e nas ações do governo, exibindo naturalmente comportamentos e atitudes políticas diferentes. Desta forma, a igualdade política dos cidadãos, fundamento moral da democracia, não é na íntegra observada, mesmo nos dias de hoje.