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5. BANCOS COMUNITÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO: CONCEITO, CONTEXTO E CARACTERÍSTICAS

5.2.1 A REDE BRASILEIRA DE BANCOS COMUNITÁRIOS

O reconhecimento dos bons resultados obtidos pela experiência do Banco Palmas e o potencial percebido que os BCDs comportam, em termos de ampliação das oportunidades de geração de trabalho, renda e redução das condições de pobreza, tornou a iniciativa conhecida, nacionalmente, nos meios políticos, acadêmicos e em alguns meios de comunicação. Isso permitiu que a metodologia começasse a ser replicada em outras comunidades do Brasil, além de ter gerado interesse em outros países.

De acordo com França Filho e Silva Jr (2006), a primeira experiência de replicação da metodologia realizada pelo Instituto Palmas foi a implantação do Banco PAR, em Paracuru/CE, no final de 2004. Logo depois, a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE) incorporou o apoio aos BCDs como diretriz política de apoio ao desenvolvimento territorial, que articula, simultaneamente, produção, comercialização, financiamento e formação cidadã.

As ações governamentais tiveram início em 2005, quando a SENAES, por meio de uma encomenda direta, aportou recursos para realização do Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários, proposto pelo Instituto Palmas. Com esse aporte de recursos, o Instituto deu início ao apoio à organização de BCDs, consolidando a metodologia e tornando referência de política nacional de incentivo ao crédito para a produção, consumo e desenvolvimento local (SILVA Jr; FRANÇA FILHO (2006).

Através da referida parceira com a SENAES/MTE, foram implantados mais quatro BCDs – Banco Bassa (Santana do Acaraú/CE), Banco Serrano (Palmácia/CE), Banco Bem (Vitória/ES) e o Banco Terra (Vila Velha/ES). Segundo Silva Jr. (2007), a parceria do Instituto Banco Palmas com a SENAES contribuiu para consolidar a metodologia dos BCDs. Nessa parceria, o Instituto Banco Palmas tem atuado na condição de assessor e formador de novos BCDs, enquanto a SENAES atua no fomento por meio de recursos públicos.

Segundo Passos (2007), o ano de 2005 foi um marco, não só para a criação de novos BCDs e apoio governamental, mas para a expansão em outros estados, com a implantação, em

outubro, do Banco Bem, em Vitória/ES, e, em novembro, do Banco Eco-Luzia, em Simões Filho/BA. Estes foram os dois primeiros BCDs não assessorados diretamente pelo Instituto Banco Palmas. Além da replicação da metodologia em outros estados, o ano de 2005 marca o surgimento de outras instituições atuando nos mesmos moldes do Instituto Banco Palmas, como a Associação de Artesãos Ateliê de Ideias, representante jurídica do Banco Bem, no Espírito Santo, e da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento Territorial, da Universidade Federal da Bahia (ITES/UFBA), na Bahia, responsável pela assessoria ao Banco Eco-Luzia. Assim, o processo de implantação e consolidação de novos BCDs ganhou novos apoios, de forma que, ao final de 2005, já havia seis Bancos em funcionamento e nove em processo de instalação em todo o país.

Outro fato relevante em 2005 foi a realização de uma parceria entre o Banco Popular do Brasil/Banco do Brasil e o Instituto Banco Palmas, com a finalidade de utilizar linhas de microcrédito e realizar serviços de correspondência bancária por parte de alguns BCDs, como forma de incrementar os seus recursos (MELO NETO; SILVA JÚNIOR, 2007).

Com o aumento do número de BCDs criados, foi necessário refletir sobre suas práticas e o seu papel político. Os debates ocorridos, em janeiro de 2006, na I Oficina Metodológica em Fortaleza/CE, culminaram com a criação da Rede Brasileira de Bancos Comunitários de Desenvolvimento e a realização do primeiro Encontro dessa Rede, que contou com a presença de representantes do Banco Palmas (CE), do Banco Bassa (CE), do Banco Serrano (CE), do Banco Par (CE), do Banco dos Empreendedores de Maranguape (CE), do Banco Eco-Luzia (BA), do Banco Bem (ES) e do Banco Terra/ES.

Essas parcerias permitiram à Rede de BCDs chegar ao início do ano de 2007 com 13 BCDs em funcionamento e 10 em processo de implantação, em nove Estados brasileiros. Nesse mesmo ano, em abril, no Ceará, foi realizado o II Encontro da Rede Brasileira de BCDs, em que teve lugar o debate de questões importantes para os Bancos Comunitários, tais como a elaboração de um marco teórico analítico para estes e orientações e princípios direcionados à Rede (MAGALHÃES, 2007).

Ao final de 2008, a Rede já contava com 37 BCDs em funcionamento, sendo 25 no Ceará, quatro no Espírito Santo, três no Piauí, dois na Bahia, um no Mato Grosso do Sul, um na Paraíba e um no Maranhão. Naquele momento, a Rede já vivia uma expansão considerável, uma vez que no espaço de um ano 24 BCDs haviam sido criados (MELO NETO SEGUNDO, 2009).

Em 2009, o Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão em Economia Solidária da Universidade de São Paulo (NACE/NESOL/USP) passou a integrar a Rede de

BCDs, na condição de replicador da metodologia e assessoramento, apoiando a implantação de BCDs em São Paulo e região Sudeste. Em 2010, o Núcleo apoiou a criação de cinco Bancos, através de convênio com a SENAES/MTE; parceria esta que fortaleceu a Rede de BCDs, pois representava a participação de mais uma instituição universitária, dando-lhe maior credibilidade e contribuindo com reflexões e discussões acerca da sua natureza, além de ampliar a visibilidade dentro da academia. Segundo França Filho (2013), a ITES/UFBA e o NESOL/USP se consolidaram enquanto parceiros importantes para reflexão teórica e aprimoramento das experiências no cotidiano, através da assessoria e apoio às práticas de BCDs.

Em novembro de 2009, a Rede participou do I Fórum do Banco Central para Inclusão Financeira, realizado em Salvador/BA. Esse Fórum reuniu diversos atores ligados às microfinanças, de forma a apresentar a visão dos atores estatais, de mercado e da sociedade civil quanto às estratégias para inclusão financeira, no sentido de atender às necessidades da população brasileira por serviços financeiros e bancários. Nesse encontro, os BCDs apresentaram o papel das moedas sociais para inclusão financeira, em que se destacaram os casos internacionais de moedas sociais e a participação dos BCDs na complementariedade do sistema financeiro. Durante o Fórum, foi assinado o Acordo de Cooperação Técnica BACEN/SENAES/MTE, que propõe o desenvolvimento de ações coordenadas entre o BACEN e a SENAES nas atividades de estudo e acompanhamento das moedas sociais no Brasil. Esse acordo representou um avanço para as ações dos BCDs, na medida em que estes deixam de agir apenas como um fiscalizador das moedas sociais no país e passam a reconhecer o seu funcionamento (BACEN, 2009).

A Rede de BCDs chegou ao final de 2009 com o total de 49 BCDs implantados, sendo 25 no Ceará, cinco em São Paulo, quatro na Bahia e, também, no Espírito Santo, 03 no Piauí e em Minas Gerais, e apenas um nos estados da Paraíba, do Mato Grosso do Sul, do Pará, do Maranhão e do Rio Grande do Sul, apoiados por iniciativas de diversas instituições (MELO NETO; MAGALHAES, 2010).

Em 2010, já se tinham o Instituto Banco Palmas, o Ateliê de Ideias/Banco Bem, a ITES/UFBA e o NESOL/USP como entidades de assessoria e apoio aos BCDs, atuando em todas as regiões do Brasil, o que legitimou essas organizações a assumirem de maneira informal a coordenação da Rede de BCDs.

O ano de 2010 foi fundamental para o fortalecimento e reconhecimento dos Bancos Comunitários. No início daquele ano, diante das mobilizações em municípios de diversas regiões do país interessadas em implantar experiências de BCDs, a Rede elaborou uma nota

pública, intitulada “Papel dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento na visão da sua Rede”, em que se apresentaram considerações sobre a natureza singular dos Bancos Comunitários, suas principais características e objetivos, o papel do correspondente bancário no BCD, além de alguns aspectos relativos à compreensão da Rede Brasileira enquanto um movimento social (FRANÇA FILHO, 2013).

Em seguida, foram realizados dois eventos na cidade de Fortaleza/CE que marcaram a trajetória dos BCDs: o II Encontro da Rede Brasileira de BCDs e a I Conferência Nacional de Finanças Solidárias. O resultado desse II Encontro permitiu o fortalecimento da articulação política entre as entidades presentes e, principalmente, a assinatura da chamada pública de apoio às finanças solidárias, pela SENAES/MTE, intitulada “Ação de fomento às finanças solidárias com base em bancos comunitários e fundos solidários”. A chamada pública (edital) visava apoiar os segmentos das finanças solidárias, quais sejam: os BCDs, os Fundos Rotativos Solidários e as Cooperativas de Crédito Solidário. Já a I Conferência Nacional de Finanças Solidárias permitiu um encontro entre as diferentes modalidades de finanças solidárias, em que se buscou afirmar a sua singularidade, seu modo de operar, seus objetivos, sua sustentabilidade e o reconhecimento do Estado (FRANÇA FILHO, 2013).

O resultado da chamada pública de apoio “às finanças solidárias, com base em bancos comunitários e fundos solidários” foi a aprovação das entidades da Rede de BCDs para criar e apoiar experiências de BCDs no Brasil, sendo quatro entidades regionais (N, NE, CO, SE) e uma nacional. O Instituto Palmas é a entidade considerada Nacional; o NESOL/USP é a representante da região sudeste; a ITES/UFBA, a da região Nordeste; o Ateliê de Ideias, a da região Centro-Oeste, e uma nova entidade, o Instituto Capital Social da Amazônia, da região Norte. Nenhuma instituição da região Sul apresentou proposta.

No ano de 2012, a Rede de BCDs realizou seu III Encontro Nacional, com a participação de mais de 80 Bancos, com a principal finalidade de discutir a articulação da sua rede e estruturar uma coordenação que pudesse levar a cabo ações de caráter nacional. Decidiu-se pela confirmação das entidades que já cumpriam esse papel e pela ampliação da coordenação, com a entrada do Banco Tupinambá – Belém/PA, Banco União Sampaio – São Paulo/SP, Banco Pirê – Dourados/MS e o Banco dos Cocais – São João do Arraial – PI.

Segundo França Filho (2013), a atuação das entidades de apoio aos BCDs, nos anos de 2010 e 2011, foi marcada pela execução desse projeto nacional. As propostas somadas, além do apoio e outras ações, previam a criação de 43 novos BCDs. A Rede, então, em 2011, passou por um processo importante de expansão do número de experiências, levando-a a alcançar um total de103 BCDs implantados no Brasil.

5.3 UM ENTENDIMENTO SOBRE O FUNCIONAMENTO E OS TIPOS DE AÇÕES DOS