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2.4   Colaboração Científica 41

2.4.3   Redes de coautoria no Brasil 46

Como se apresenta a análise de redes em Ciência da Informação no Brasil? Foram selecionadas para esta análise três revistas nacionais da área de Ciência da Informação:

Perspectivas em Ciência da Informação, editada pela Escola de Ciência da Informação da

Universidade Federal de Minas Gerais (ECI/UFMG); Transinformação, editada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Pontifícia Universidade Católica

de Campinas (PUC Campinas), e Informação & Sociedade: Estudos, editada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O critério para a seleção dessas revistas foi a qualificação A do sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A base utilizada para a busca dos artigos foi a Web of Science (WoS) a partir do portal de periódicos da Capes, considerando-se os descritores ciência de redes (network science), rede social (social network) e coautoria (co-authorship). As produções selecionadas foram publicadas no período de 2009 a 2015.

O corpus da pesquisa consistiu de 18 artigos, publicados nas seguintes revistas:

Perspectivas em Ciência da Informação – 11 artigos, Transinformação – três artigos e Informação & Sociedade: Estudos – quatro artigos.

Nos artigos avaliados a definição de conceitos sobre análise de redes e colaboração científica se mostrou presente uma vez que o método é relativamente novo se comporado com outros métodos da Ciência da Informação. Ferreira (2011) define rede social de informação como “um conjunto de pessoas com algum padrão de contatos ou interações entre as quais se estabelecem diversos tipos de relações e, por meio delas, circulam diversos fluxos de informação”. Já as autoras Tomaél e Marteleto (2013) consideram a ARS o método de estudo de redes sociais por meio do mapeamento e da descrição das ligações entre os atores envolvidos. Uma outra definição é apresentada por Vilan Filho, Souza e Mueller (2008) que definem autoria múltipla como “o texto científico assinado por mais de um autor”. Eles alertam que a autoria múltipla indica que houve colaboração, sem especificar detalhes a respeito disso, havendo apenas concordância em assumir a responsabilidade conjunta pela produção.

De acordo com Oliveira et al. (2014), a análise de redes de coautoria permite identificar as relações de colaboração científica no ambiente acadêmico e analisar a confiabilidade de redes de coautoria científica considerando a participação dos pesquisadores e a intensidade das relações de coautoria existentes em uma rede. Ferreira (2011) considera que a ARS é um importante instrumento para se estudar relacionamentos que proporcionam o compartilhamento da informação e do conhecimento. Para Vilan Filho, Souza e Mueller (2008) analisar redes permite estudar as interconexões organizacionais e avaliar fenômenos complexos, tais como relações de poder, fluxo de informação e distribuição de recursos.

Os trabalhos dos pesquisadores da Ciência da Informação sobre a colaboração científica também apresentam as possibilidades quando da aplicação dos métodos. Duarte (2011) considera, ao analisar as redes sociais de produção científica com suas conexões, que

estas são redes cooperativas de pesquisadores que contribuem para o desenvolvimento da ciência, que se constitui em uma atividade colaborativa e social. Essa cooperação permite melhorar o resultado, maximizando o potencial do conhecimento e da produção científica. Duarte (2012) entende que as redes sociais de cooperação científica possibilitam o crescimento, o compartilhamento, o desenvolvimento e a inovação. Essas redes sociais cooperativas são formadas por grupos de pesquisa, inclusive pesquisadores geograficamente distantes, com o intuito de obter visibilidade, reconhecimento, experiência, aumento de acesso a fontes competitividade e evitar o isolamento.

Outros pesquisadores defendem o uso da Análise de Redes e seus métodos. Vanz e Stumpf (2010) entendem que a utilização de estudos de redes é importante para o estudo de coautoria, pois estes auxiliam o entendimento do fenômeno. De acordo com Maia e Caregnato (2008), nos estudos a respeito da colaboração científica observa-se um fortalecimento do método de ARS. O método permite identificar relações, vínculos e interações entre atores. Também permite identificar a posição de centralidade, que sugere que atores centrais detêm poder, pois possuem menos restrições e mais oportunidades de acesso à informação em uma estrutura de relações sociais. Pinto, Igami e Bressiani (2010) entendem que comunicar a descoberta científica é imprescindível para a atividade científica e para o progresso da ciência. O principal canal formal de comunicação científica é o periódico científico, e os artigos publicados constituem-se na forma definitiva de publicação dos resultados de uma investigação.

Em um estudo sobre as aplicações dos métodos de ARS com outros métodos da Ciência da Informação, Vanz e Stumpf (2010) apresentam uma série de conceitos importantes. As autoras entendem que observar como os cientistas se comportam, se relacionam, se organizam e como transmitem informações entre si permite compreender a produção e o uso do conhecimento científico. No entanto é feito uma consideração afirmando que embora a literatura relacione a colaboração científica à coautoria ou a trate como sinônimos, a coautoria é uma faceta da colaboração científica porque não mensura a colaboração na sua totalidade e complexidade. Isso porque nem sempre todas as pessoas listadas como autores são as responsáveis pelo trabalho intelectual produzido. De maneira a se aprofundar e validar as colaborações as autoras discorrem que tem sido utilizadas técnicas para a investigação da coautoria, tais como a bibliometria e a cientometria. As autoras consideram as motivações dos pesquisadores para a colaboração científica como produto da sistematização da literatura nacional e internacional (VANZ; STUMPF, 2010, p. 50-51):

1. “desejo de aumentar a popularidade científica, a visibilidade e o reconhecimento pessoal;

2. aumento da produtividade;

3. racionalização do uso da mão de obra científica e do tempo dispensado à pesquisa; 4. redução da possibilidade de erro;

5. obtenção e/ou ampliação de financiamentos, recursos, equipamentos especiais, materiais;

6. aumento da especialização na ciência;

7. possibilidade de ‘ataque’ a grandes problemas de pesquisa; 8. crescente profissionalização da ciência;

9. desejo de aumentar a própria experiência através da experiência de outros cientistas; 10. desejo de realizar pesquisa multidisciplinar;

11. união de forças para evitar a competição; 12. treinamento de pesquisadores e orientandos;

13. necessidade de opiniões externas para confirmar ou avaliar um problema; 14. possibilidade de maior divulgação da pesquisa;

15. como forma de manter a concentração e a disciplina na pesquisa até a entrega dos resultados ao resto da equipe;

16. compartilhamento do entusiasmo por uma pesquisa com alguém;

17. necessidade de trabalhar fisicamente próximo a outros pesquisadores por amizade e desejo de estar com quem se gosta”.

Dentre os artigos analisados foi percebido a utilização prática dos métodos em diferentes áreas sendo a principal delas a própria Ciência da Informação e os seus autores. Silva, Pinheiro e Reinheimer (2013) mapearam o desenvolvimento da pesquisa na área da comunicação científica com base nos artigos publicados nas principais revistas de CI no Brasil. Os autores relatam uma rede altamente conectada e a aglutinação de alguns trabalhos e autores em torno dos autores mais influentes, resultados coerentes com a de outros presquisadores.

Ainda na Ciência da Informação Graeml (2010) analisa as estruturas social e intelectual (relacionamentos sociais) de pesquisadores com base em redes de coautoria e em redes de cocitação, utilizando medidas de coesão da análise de redes em redes de coautoria, a saber: densidade, distância e coeficiente de agrupamento. Identificam-se rede de coautoria fragmentada e formação de grupos menores de colaboração entre pesquisadores, resultando

em descentralização da produção científica na área pesquisada e na construção de redes de autoria mais sólidas.

Os resultados de Silva, Barbosa e Duarte (2012) mostram outro recorte dentro da CI. Os autores analisam as redes sociais de coautoria dos pesquisadores mais produtivos na área de CI no Brasil utilizando a análise de redes sociais. A parte mais significativa dessa rede constituiu-se de pesquisadores mais produtivos, e a maioria das produções foi elaborada em coautoria.

A pesquisa de Oliveira, Souza e Castro (2014) já utilizam a análise sociométrica para verificar padrões de interações entre as bibliotecas do Consórcio das Universidades Federais do Sul-Sudeste de Minas Gerais. O estudo buscou identificar as bibliotecas que apresentam posição favorável para a busca e trocas de informações e, consequentemente, possuem melhores condições para gerar inovação na rede.

Outros trabalhos na CI discorrem sobre o uso das métricas como densidade, diâmetro e distância, centralidade e componentização ou clusterização de grupos. Bordin, Gonçalves e Todesco (2014) analisaram a relação entre pesquisadores em redes em coautoria para diagnosticar a produção e a colaboração científica utilizando métricas de análise de rede social.

Acerca dos problemas com o uso do método Barbastefano (2013) alerta para as ambiguidades nos nomes dos autores em estudos de redes sociais baseadas em coautoria, tais como homônimos, grafias diferentes, mudanças de nomes, nomes incompletos e abreviações.