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3.4 TEMÁTICAS RELACIONADAS AO GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA

3.4.1 Redução da Maioridade Penal

Há um fenômeno no país sempre quando ocorre um crime hediondo cometido por algum jovem: a retomada do debate público sobre a redução da maioridade penal. Em 2015, o tema veio a público, novamente porque o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, desarquivou o Projeto de Emenda Constitucional – PEC – 171/1993 do deputado Bendito Domingos, PP-DF, cuja proposta é “Altera a redação do art. 228 da Constituição Federal (imputabilidade penal do maior de dezesseis anos)34”.

Na ocasião da votação da PEC, 01/07/2015, o projeto não foi aprovado. Todavia, com uma manobra no texto retirando os crimes de tráfico e roubo qualificado, no dia 02/07/2015, o texto foi aprovado e seguiu para aprovação no Senado Federal. Outra PEC proposta pelo Senador Aloysio Nunes Pereira – PSDB –SP, 33/2012, também propõe reduzir a imputabilidade penal de 18 para 16 anos. Esta última PEC, neste ano, foi exaustivamente coberta pelos jornais do Brasil35 e não foi votada por atuação de organismo como a Anistia Internacional e a Organização das Nações Unidas36.

Infelizmente, o debate é superficial sobre um projeto de lei que tem um impacto direto na juventude brasileira, porque não se discutem os dados reais dos crimes que os jovens cometem e há outra discussão política de que a menoridade penal é um direito fundamental, garantido na Constituição, ou seja, é cláusula pétrea, o que seria, caso aprovada pelo Congresso, uma lei inconstitucional. A esse respeito, Pessanha (2009) argumenta:

33 Segundo Traquina (2008), a previsibilidade geral das notícias deve-se à existência de critérios de noticiabilidade,

isto é, a existência de valores notícias que os membros da tribo jornalística partilham. Os valores notícias seriam algumas características que alguns fatos/acontecimentos devem ter para ser noticiados nos jornais. Ex: importância dos envolvidos, importância da temática, brevidade, quantidade de pessoas, interesse público, exclusividade, entre outros.

34 Informações sobre a PEC 171/1993 podem ser vistas no site

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14493>. Acesso em: 2 nov. 2017.

35 Algumas notícias sobre a temática: <https://noticias.r7.com/brasil/comissao-do-senado-deve-votar-reducao-da-

maioridade-penal-30102017> e <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/09/23/reducao-da-maioridade-penal- ignora-estatisticas-e-falhas-na-educacao-dizem-especialistas/>. Acesso em: 2 nov. 2017.

36 Como esta notícia <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/09/27/apos-pressao-da-onu-e-

Existe expressa previsão constitucional sobre a inimputabilidade penal aos menores de dezoito anos, quando a constituição cidadã prescreveu no artigo 228 que “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Contrário ao que equivocadamente apresenta e tenta fazer crer os meios de comunicação, os menores de dezoito anos são sim puníveis, não pelo Código Penal, mas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O que a mídia tenta apresentar é uma questão equivocada, distorcida, sem apresentar os números da criminalidade por parte dos menores (PESSANHA, 2009, p. 11).

Como afirma a autora, imputabilidade não significa que não há penalidade. Porém, quem regulamenta a punição é o Estatuto da Criança e do Adolescente e não o Código Penal. O Código Penal, de 1940, definiu a idade biológica a partir de 18 anos como a idade que, no Brasil, a pessoa que cometeu um crime pode respondê-lo e ser condenado criminalmente. Isso significa que imputabilidade penal é a possibilidade de responsabilizar um indivíduo pela violação da lei ou prática de um crime e maioridade penal é a idade que o indivíduo responde pela violação da lei. No Brasil, a imputabilidade e a maioridade penal são a partir dos 18 anos, garantidos na Carta Magna, em seu art. 228. Ou seja, se um jovem dos 12 aos 17 anos cometer alguma infração, ele não é julgado como um adulto, por meio do Código Penal; ele é julgado como um menor, que ainda está em formação e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

Ao ser questionado sobre a redução da maioridade penal e o ECA, o promotor público Anderson Andrade disse que o problema na redação do Estatuto foi colocar responsabilização do jovem e adolescente em vez de responsabilização penal. Isso gerou uma sensação de que jovem, no Brasil, não é punido e ocasionou emendas constitucionais para “regulamentar a punição” em seguida (o ECA é publicado em 1990 e a PEC 171 é de 1993).

O Estatuto da Criança e do Adolescente ele tem duas grandes vertentes: uma de proteção - da criança e do adolescente e uma vertente de responsabilização, que eu chamo de responsabilização só do adolescente pelo cometimento do ato infracional, o crime, segundo o artigo 103 do Estatuto, é crime. Então, na vertente de proteção o estatuto foi muito bem a avaliação é positiva, há várias vitórias: ele diminuiu a mortalidade e o trabalho infantil, criou boas regras para a adoção. No âmbito da responsabilização ele não teve sucesso. Hoje em dia as instituições de internação são minipresídios, não são internatos. A lei fala em internação, remete a internato que seria um educandário. Então você vê índices muitos baixos de ressocialização do adolescente, a medida em meio aberto não funciona e a medida em meio fechado só funciona deixando o adolescente trancado. Desde que foi aprovado o estatuto já começaram a ser propostas emendas, o estatuto vem sendo muito reformado, refundado, mas só nessa parte de proteção, nessa parte aqui de responsabilização quase não se mexeu porque o grande medo é que se diminua a idade penal, se você for mexer nisso. O estatuto ele foi aprovado em 1990, logo após a aprovação da Convenção dos Direitos da Criança de 1989 que é um tratado internacional que influencia todo mundo. São 194 países que assinam esse tratado, essa Convenção dos Direitos da Criança, é o tratado que mais firmas de países tem no mundo. O Brasil foi o primeiro, pelo menos no mundo ocidental, a adaptar o seu ordenamento jurídico à convenção. Então eu acredito que a responsabilização foi mal regulada. O Brasil

pagou um preço por essa primazia, por ter sido o primeiro. Eu entendo, por exemplo, que esses dois temas não deveriam ter sido tratados no mesmo diploma legal. Outros países, por exemplo, Espanha, Chile, que tem uma lei de proteção e uma lei de responsabilização, que lá no Chile, por exemplo, chama “responsabilidade penal do adolescente” (ANDRADE, 2017, informação verbal).

Uma das críticas recebidas pela mídia é não informar que o adolescente e o jovem são julgados por cometerem atos infracionais dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente. No Brasil, a responsabilização começa aos 12 anos. Só que o tempo máximo de punição são 3 anos37 e é dada preferência por medidas socioeducativas, antes de o adolescente ou o jovem cumprir regime fechado, isso dependendo da infração cometida.

Nessa direção, Bressan e Vella (2017), a partir dos dados da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2014)38, afirmam que no país há 24.628 jovens e adolescentes cumprindo internação, internação provisória e semiliberdade. O índice de adolescentes atendidos pela Fundação Casa, no estado de São Paulo, foi de 111% no período de 2006 a 2013. Além disso, os jovens em medida socioeducativa, em sua maioria, também são pardos e pretos, com os seguintes dados:

 Em relação à composição de raça/cor, 56% foram considerados pardos/pretos, 21% brancos e 1% de cor amarela. O restante deles (22%) não teve registro quanto a sua cor.

Os dados do Estado de São Paulo apontam que, em julho de 2014, 93,91% dos adolescentes internados apresentavam defasagem escolar. Tais dados demonstram que a seletividade do sistema penal se reproduz da mesma forma no sistema de justiça juvenil: a raça e a classe social são determinantes para a internação.

 Aqueles que têm contato com o funcionamento do sistema socioeducativo sabem que a ocorrência de agressões é constante. Um dos mais recentes casos ocorreu na unidade Parada de Taipas da Fundação CASA. Contrariando as alegações das adolescentes internadas, da Defensoria Pública e Ministério Público, que indicaram a existência de indícios de maus tratos às jovens, a Corregedoria da Fundação Casa concluiu que não houve agressão39.

37Atualmente, está na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal o Projeto de Lei 219/2013, de autoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e relatoria do senador José Pimentel (PT-CE). A PL propõe a alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para que as medidas de internação possam durar 8 e não 3 anos em casos de atos equiparados a crimes hediondos. Como consequência dessa mudança, a proposta prevê que o jovem possa, excepcionalmente, cumprir a medida até os 26 e não mais 21 anos. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/22/pl-2192013-ilusao-punitivista-na-desconstrucao-de-um- sistema-socioeducativo-no-brasil>. Acesso em: 2 out. 2017.

38 BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Levantamento anual Sinase. 2014. Brasília: MDH, 2014. Disponível em:

<http://www.sdh.gov.br/noticias/pdf/levantamento-sinase-2014>. Acesso em: 2 nov. 2017.

39 BRESSAN, Marina S.; VELLA, Leticia Ueda. PL 219/2013 – a ilusão punitivista na (des)construção de um

A cor desses jovens, o baixo índice de criminalidade e a punição corroboram as teorias apresentadas em seção anterior sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe, também identificando uma das etapas do genocídio da juventude negra, que é ser preso e cumprir medida socioeducativa. O Matheus Maciel foi um desses jovens que, antes de ser assassinado, já tinha sido apreendido por tráfico de drogas.

Outra crítica, oriunda de alguns juristas, é reduzir a imputabilidade para 16 anos. Para muitos, isso se constitui uma cláusula pétrea, pois não é um projeto de lei que altera isso, mas uma emenda constitucional, e ainda assim, questionável (PESSANHA, 2009).

Nesse sentido, o advogado Gabriel Sampaio, na ocasião, na secretaria de assuntos legislativos no Ministério da Justiça, disse que dialogar sobre a redução da maioridade penal foi uma das tarefas mais árduas que teve porque as pessoas procuram soluções simples para problemas complexos. A esse respeito, ele indaga: “Você reduz a maioridade penal, as pessoas estão mais protegidas por que jovens vão deixar de praticar atos infracionais por que a redução da maioridade penal aconteceu?”.

Ademais, a falta de estudos e pesquisas que embasem a relação redução da maioridade penal e, consequentemente, a redução de crimes praticados pelos jovens e adolescentes também é uma crítica apontada por Gabriel Sampaio e Anderson Andrade. Outro problema apontado por Gabriel Sampaio, que corrobora a tese de Pessanha (2009) é que a redução da maioridade penal é inconstitucional.

Reduzir a maioridade penal cria problemas. Amplia os problemas porque primeiro, é inconstitucional. Nós tivemos uma constituição de 1988 que reconheceu os direitos das crianças e dos adolescentes. Qual que é um dos principais reconhecimentos que a constituição dá? Encarar a criança e o adolescente como sujeito de direito, como pessoas que merecem uma especial atenção do estado para realizar seus direitos e garantias e isso reconhecido até os 18 anos de forma que o Estado tem que entrar na vida das crianças e do adolescente ou atuar na defesa dos direitos dessa criança e do adolescente. Promovendo educação, promovendo acesso a saúde, promovendo direitos para essas crianças. Reduzir a maioridade penal cria problemas. Amplia os problemas porque primeiro, é inconstitucional. Então se for aprovado numa votação da Câmara, mas se ela algum dia ver a ser aprovada de forma definitiva e promulgada, por exemplo, pelo Congresso Nacional, ela certamente vai ser objeto de uma ação direta de inconstitucionalidade (SAMPAIO, 2007, informação verbal40).

A própria Câmara dos Deputados, em 2007, fez um breve estudo sobre a redução da maioridade penal e a redução da criminalidade. Em 18 páginas, o consultor legislativo responsável por realizar o estudo, Alexandre Sankievicz, a partir dos dados do Mapa da

<http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/22/pl-2192013-ilusao-punitivista-na-desconstrucao-de-um- sistema-socioeducativo-no-brasil/>. Acesso em: 2 nov. 2017.

Violência, da exposição de crimes cometidos por jovens na mídia e de argumentos favoráveis e contrários à redução da maioridade penal, apresentou como primeira constatação algo que é quase certo: a redução da maioridade penal não provocará a redução dos índices de criminalidade. Exemplo recente em nossa história que serve de indício para a confirmação da tese é a antiga lei de crimes hediondos (SANKIEVICZ, 2007).

Ao afirmar que não reduz a criminalidade e relacionar com os crimes hediondos, Sankievicz sustenta a afirmação por meio de dados estatísticos depois da promulgação da lei.

De acordo com dados apresentados pela Presidente da Comissão de Estudos do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, mesmo após a promulgação da Lei 8.072/90, o crime de homicídio doloso teve um crescimento de 31,72%, entre 1994 e 1998, e a prática de tráfico de entorpecentes aumentou 101,71%, entre 1991 e 1998; os crimes de latrocínio, extorsão mediante sequestro, estupro e atentado violento ao pudor permaneceram praticamente estáveis (SANKIEVICZ, 2007)41.

Outra informação que consta deste estudo afirma que os jovens são mais vítimas da violência do que agentes dela.

Os dados revelam que o jovem é muito mais vítima do que autor da violência, não obstante na imprensa apareça de modo distinto. Segundo os professores Ronaldo César Henn e Carmen de Oliveira, após pesquisa realizada no ano de 2001, nos quatro primeiros meses daquele ano as estatísticas revelaram que para cada adolescente que praticava um homicídio havia quase cinco adolescentes que morriam vítimas de homicídio (SANKIEVICZ, 2007)42.

O relatório da Unicef de 2007, corrobora a informação apresentada por Sankievicz, ou seja, crimes hediondos, como os homicídios são crimes de exceção cometidos por jovens. De acordo com Bocato (2013):

Dos crimes praticados por adolescentes, utilizando informações de um levantamento realizado pelo ILANUD [Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente] na capital de São Paulo durante os anos de 2000 a 2001, com 2.100 adolescentes acusados da autoria de atos infracionais, observa-se que a maioria se caracteriza como crimes contra o patrimônio. Furtos, roubos e porte de arma totalizam 58,7% das acusações. Já o homicídio não chegou a representar nem 2% dos atos imputados aos adolescentes, o equivalente a 1,4 % dos casos43.

41 SANKIEVICZ, Alexandre. Breve análise sobre a redução da maioridade penal como alternativa para a

diminuição da violência juvenil. Brasília: Câmara dos Deputados, 2007. Disponível em:

<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1201/breve_analise_sankievicz.pdf?sequence=1>. Acesso em: 2 fev. 2017.

42 SANKIEVICZ, Alexandre. Breve análise sobre a redução da maioridade penal como alternativa para a

diminuição da violência juvenil. Brasília: Câmara dos Deputados, 2007. Disponível em:

<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1201/breve_analise_sankievicz.pdf?sequence=1>. Acesso em: 2 fev. 2017.

43 Adaptado da Reportagem de BOCATO, Vinicius. Razões para não reduzir a maioridade penal. Revista

Fórum. 2013. Disponível em: <http://revistaforum.com.br/blog/2013/04/razoes-para-nao-reduzir-a-maioridade-

Bocato (2013)44 também apresenta o seguinte gráfico, que mostra os tipos de atos infracionais cometidos pelo adolescente em São Paulo, durante os anos de 2000 a 2001.

Figura 14 – Gráfico que apresenta Ato Infracional atribuído ao adolescente

Então, é possível verificar que os dados dos atos infracionais que os jovens e adolescentes cometem são menores se compararmos com os 42.291 jovens assassinados no Brasil, apenas no ano de 2014.

O advogado e jornalista Rodrigo Chia, que estudou a redução da maioridade penal nos jornais impressos na dissertação de mestrado (CHIA, 2016), questiona: qual é o objetivo ao se reduzir a maioridade penal? Nessa perspectiva, ele aponta:

O espaço do texto de opinião seja o texto de opinião em si, que não sejam os editoriais, em tese é justamente o espaço que permite uma análise mais aprofundada. Mesmo nesses espaços você não vê essa análise. Como é que fatores como a situação socioeconômica, familiar, afetiva todas as questões que são importantes na discussão desse tema não aparecem? Uma coisa que eu fico sempre impressionado é que se você vai discutir maioridade penal, você tem que pensar no que você quer com a redução da maioridade penal. Qual seu objetivo. Você quer se vingar? O menor foi lá e matou, estuprou, seja lá o que ele fez é propiciar vingança para os parentes da própria vítima ou você quer resolver ou reduzir a incidência da violência? Geralmente o objetivo visto como mais legítimo é eu quero reduzir a violência. Aí entra uma série de questões de direito penal, mas a princípio o direito penal não serve para saciar a vingança pessoal das pessoas, de quem é vítima ou de enfim de quem é próxima. Ele serve para tentar conter a prática de determinadas condutas que a sociedade em determinado momento histórico considera inadequadas, incompatíveis com a vida em sociedade e tal. Essa é uma discussão que eu acho que é essencial para a gente debater,

44 Adaptado da Reportagem de BOCATO, Vinicius. Razões para não reduzir a maioridade penal. Revista

Fórum. 2013. Disponível em: <http://revistaforum.com.br/blog/2013/04/razoes-para-nao-reduzir-a-maioridade-

a questão da maioridade penal, de novo, você não vê debate nem aqui no Legislativo e nem nos Meios de Comunicação (CHIA, 2007, informação verbal45).

Sob o título Eles sabem o que fazem: o discurso da maioridade penal nos meios de Comunicação, Chia selecionou textos publicados nos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo e nas revistas Veja e Época no período de 01/03/2015 a 31/08/2015, período em que houve a tramitação da PEC 171/93 na Câmara dos Deputados.

Para a análise, a metodologia utilizada foi análise do discurso, e as conclusões a que a dissertação chega são as seguintes:

Ao assumir um discurso que se funda em ameaças projetadas, a ensejar respostas concretas de caráter violento e excludente, a mídia ingressa também, a partir de sua posição privilegiada, no terreno das virtualidades. Os casos criminais espetacularizados, os eventos pontuais relatados como se fossem corriqueiros, enfim, o superdimensionamento da insegurança e da impunidade, descritas em termos de “sensações”, criam uma realidade virtual em que medidas urgentes são sempre necessárias para lidar com situações “alarmantes”. Basta conferir a “apavorante criminalidade”, a “crescente ameaça”, a “barbárie” e outros quadros terríveis descritos nos exemplos que analisamos sobre a questão da maioridade penal (CHIA, 2016, p. 63).

Esse caráter alarmante, apavorante e de ameaça esvazia as possibilidades de discutir mais profundamente o porquê da redução da maioridade penal, a situação familiar, socioeconômica e afetiva desses jovens e adolescentes, além de problematizar aspectos jurídicos que a mudança da lei irá impactar na vida desses jovens. Como já foi afirmado nesta seção, as punições dos jovens por meio de medidas socioeducativas são uma das etapas, talvez a penúltima, para que eles possam ser reinseridos socialmente ou assassinados.

Após discutir sobre a redução da maioridade penal, serão apresentados o programa do governo federal, o Juventude Viva (Brasil, 2014) , criado para reverter o alto índice de letalidade dos jovens no Brasil, em especial, o dos jovens negros.