• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1: QUADRO TEÓRICO

1.1 Paradigmas científicos: abrangência, influências e evolução

1.1.3 Reflexões acerca do conhecimento científico

Do conjunto de conhecimentos que apresentamos, percebemos a necessidade de se am- pliar perspectivas para a geração do conhecimento científico e a sua transformação em reali- dade. Assim, um paradigma da complexidade vem se apresentando, com alicerces construídos sob uma “[...] extensa teia de ideias e teorias que vão se entrelaçando [...]” (OSORIO, 2013, p. 36) e com o seu desenvolvimento em plena atividade, ao lado do paradigma da simplificação.

Para este trabalho, nos alinhamos com Borgatti (2008), Larsen-Freeman e Cameron (2008), Mariotti (2010), Osorio (2013), Capra e Luisi (2015) quando seus estudos exploram a ideia de que não se pode lidar com a abordagem da complexidade por meio de um pensamento simplificador. Porém, não será por causa disso que a ciência desenvolvida sob o paradigma da simplificação deva ser descartada. Entendemos que, pelos próprios princípios de diálogo e de inclusão do novo paradigma, pode ser possível a convivência de ambos, com trocas e com be- nefícios mútuos e complementares. Sobre esta possibilidade, Mariotti diz (2010, p. 36-37),

Nós humanos, temos necessidade de reduzir o desconhecido ou o pouco co- nhecido ao conhecido. É obvio que em determinados momentos um certo grau de reducionismo é necessário e até mesmo indispensável. É o que ocorre em situações urgentes e nos primeiros instantes das crises, circunstâncias nas quais é preciso tomar decisões e/ou providências imediatas [...] é uma resposta instintiva de luta e de fuga... uma reação primitiva, que nos humanos como nos demais mamíferos está localizado no tronco cerebral [...] O que é questi- onável é ater-se sempre15 a tais referências como estratégia única para li- dar com o novo, o diferente e suas complexidades. O reducionismo pode funcionar em certas circunstâncias e criar problemas em outras.

Por conta disso, continua o autor, faz-se pertinente o estudo sob a abordagem da complexidade, buscando “abertura para a percepção das nuances, para os espectros de possibilidades existentes entre polos antagônicos”; decidindo “examinar o que há entre os opostos”; e investigando “as possibilidades”, a “diversidade”, o multifacetado e muitas vezes, o incerto e imprevisível, tanto quanto foi e tem sido ainda necessário buscar apoio nas certezas que o paradigma da simplifi- cação tenta oferecer (MARIOTTI, 2010, p. 36).

Capra e Luisi (2015, p. 112) reforçam essas ideias colocando que, “a ênfase nas relações, nas qualidades e nos processos não significa que os objetos, as quantidades e as estruturas não são mais importantes”. Assim, quando

[...] falamos em mudanças de perspectiva, não queremos dizer com isso que o pensamento sistêmico elimina completamente uma perspectiva em favor da

outra, mas, em vez disso, que há uma interação complementar entre as duas perspectivas, uma mudança entre figura e fundo [...] (p. 112). Os autores ainda ressaltam que quando a figura é preenchida por relações, qualidade e proces- sos, está implicada também, uma mudança de pensamento, por exemplo, do autoafirmativo para o integrativo; do reducionista para o holístico; do linear para o não linear; bem como uma res- pectiva mudança de valores, da autoafirmação à integração; do quantitativo ao qualitativo; e da dominação à parceria. Nenhuma delas “é intrinsecamente boa ou má” (p. 38).

Borgatti (2008) também contribuiu para que assumíssemos um olhar inclusivo e inte- grador no que diz respeito a relações entre o paradigma da simplificação e o da complexidade. Isso ocorreu, à medida em que sua pesquisa nos levou a considerar os desdobramentos dos abalos e das oscilações que atingem a dominância do mais antigo. Entre eles, o de que ultrapas- samos o estágio de reconhecimento da “ ‘complexidade na ciência’ ” (p. 198) e o de que hoje já estão sendo desenvolvidas “ ‘ciências da complexidade’ ”, “[...] como uma abordagem alter- nativa/complementar ao mecanicismo científico [...]” (p. 197), caracterizada por

[...] uma pluralidade, onde existem aspectos equivalentes, concorrentes, anta- gônicos e complementares, embora predomine o reconhecimento comum de que a complexidade na dinâmica dos sistemas é devida, principalmente, à não- linearidade [...] (BORGATTI, 2008, p.197-198).

Nessa perspectiva, “[...] trata-se do reconhecimento da complexidade nas ciências com suas contribuições diversificadas, seus aspectos especializados como também suas questões trans- disciplinares, suas limitações e potencialidades [...]” (p. 198). Com isso, diferentes áreas do conhecimento (entre elas, colocamos a do ensino e da aprendizagem de LAd), têm aprendido a lidar com aquilo que reconhecem ser os seus sistemas complexos.

Assim, chegamos ao século XXI, enfrentando “um momento de perplexidade no pro- cesso disruptivo de passagem de um padrão de conhecimento para outro. De troca de para- digma” (ABRANCHES, 2017, p. 30). Relacionamos esta fase, ao período de transição de para- digmas no qual a pesquisa de Borgatti (2008, p.145) nos situa, tecendo considerações acerca do tempo que um paradigma leva para se estabelecer e concluindo que

[...] mesmo, que uma efetiva consolidação de um novo paradigma ainda não esteja realmente ocorrendo, tudo leva a crer que o processo de transição pas- sou do seu ponto de retorno, sendo possível que esteja caminhando para um estágio final de transição [...].

Em nosso estudo, consideramos este momento, sobretudo, como sendo de significativas contribuições para uma ampliação no quadro de paradigmas científicos, no qual buscamos saber da complexidade, lidando com seus paradoxos, incertezas e indefinições; bem como juntando

“coisas, pessoas e situações, para que de sua integração surjam ideias novas”, “[...] sem perda da condição de individualidade, da singularidade de cada coisa e situação” (MARIOTTI, 2010, p. 91).

Quanto a alcançar um estágio de consolidação, questionamos esta condição se ela em algum momento suscitar um estado de conhecimento acabado e um fechamento para a emer- gência de concepções que dinamizariam pressupostos do novo paradigma pois, será isso com- patível ao que se busca com o paradigma da complexidade e ao que o torna um modelo cientí- fico complementar ao do paradigma tradicional? E ainda, dadas as oscilações que abrangem a trajetória de transição de paradigmas científicos e as características centrais de fenômenos olha- dos sob esse outro prisma, não seria mais coerente continuar assumindo o status de paradigma em construção que abriga conhecimento inacabado?

Segundo Capra e Luisi (2015), chegamos então ao final da segunda década do ano 2000 em um mundo superpovoado e globalmente interconectado, com questões relacionadas à ener- gia, ao meio ambiente, à mudança climática, à segurança alimentar e financeira, à saúde e à educação. Ao lado de serem investigados por meio de um modelo científico mais antigo, eles também têm sido percebidos por um mais novo que reconhece-os como problemas sistêmicos e compõem perspectivas para lidar com eles e agir com base em seus princípios para uma compreensão mais satisfatória da realidade de que fazemos parte. Nosso estudo foi elaborado com o propósito de contribuir para isto.

Na próxima seção, encadeamos ao nosso repertório teórico estudos da Educação, da Linguística, da Linguística Aplicada e nossas questões da área de ensino e de aprendizagem de LAds.