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3 REPENSANDO A TRAJETÓRIA SÓCIO-HISTÓRICA DE CONSTITUIÇÃO DO

4.4 Reflexões finais à luz da Gestão Social

Diante do contexto de evolução vivenciado pela AE da Unipampa, já descrito até aqui, pode-se verificar que a política vem sendo desenvolvida em consonância com o dispositivo legal que a norteia e que tem uma ampla e diversificada equipe, bem como um orçamento crescente, mesmo nos períodos de contingenciamentos nos repasses às universidades públicas pelo Governo Federal. Tem o apoio da gestão superior, a qual fornece ainda suporte financeiro à política, pelo entendimento de que esta representa uma política relevante no contexto social da Unipampa, na perspectiva da garantia da permanência efetiva de um significativo número de alunos (Unipampa, 2014a).

A partir disso, considera-se pertinente definir algumas categorias (a partir dos elementos potencializadores e limitadores constatados na pesquisa) a serem problematizadas com vistas a instigar a reflexão em torno de eventuais proposições à qualificação da política. A problematização destas categorias, que emergiram a partir dos dados e observações da realidade da política institucional, é pertinente para (re)pensar estratégias de qualificação da AE na Unipampa. Para compor a reflexão em torno destas temáticas, tomou-se como base os preceitos basilares da gestão social. Esta opção se justifica pelo fato da possível aproximação verificada entre as finalidades da AE e os pressupostos da GS. No Quadro 19, procurou-se relacionar as finalidades que regem a AE na Unipampa com as categorias teóricas centrais à gestão social, a partir dos estudos de Tenório (1998, 2005 e 2006).

Quadro 18 – Aproximações teóricas entre as finalidades da AE na Unipampa e a Gestão Social

Síntese das finalidades da AE Pressupostos48 da Gestão Social

I. Inclusão universitária (na perspectiva da igualdade de direitos);

Inclusão social – redução de assimetrias socioeconômicas

II. Democratização das informações e do acesso

Espaços públicos – bem-comum

III. Equidade Valorização dos atores sociais

IV. Apoio às formas de participação Participação – controle social V. Qualificação trajetória acadêmica

(redução tempo de conclusão e condições de permanência)

Promoção da igualdade e justiça social

Fonte: Elaborado pela autora, com base em Tenório (1998, 2005 e 2006) e na Resolução Unipampa 84/2014

Analisando o Quadro 19, pode-se interpretar que estes pressupostos estão alicerçados na perspectiva da efetivação de direitos, com vistas a beneficiar coletivos, em detrimento de privilégios individuais. Ambos relacionam-se com a implementação de políticas públicas, no sentido de garantir o respeito à pluralidade, a criação de espaços de participação e a promoção da autonomia e da inclusão a partir da redução de desigualdades.

É mister mencionar que algumas categorias poderiam ser relacionadas com duas ou mais finalidades elencadas. Entretanto, em princípio, as informações foram sintetizadas desta maneira para melhor visualização pelo leitor. Com base nessa proximidade teórica e finalística entre os dados descritos no Quadro 19, passa-se a propor a reflexão acerca de elementos destacados na pesquisa, quais sejam: gestão (de recursos humanos, principalmente); e monitoramento e avaliação (de programas, processos e da política, como um todo). Além disso, frisa-se que as categorias aqui relacionadas (decorrentes da investigação) foram constatadas em dados ou mesmo desveladas do ‘não dito’, apreendidas e interpretadas a partir da observação das relações que se estabelecem no setor e nas interlocuções para a materialização da AE.

De acordo com a conceituação de gestão social, os procedimentos gerenciais são considerados processuais, contínuos, uma vez que a realidade é constantemente transformada e influenciada pelas relações de poder que a compõem e/ou determinam no modo de produção capitalista. Assim, também a representatividade deve ser entendida enquanto processo que está permeado de interesses e de contradições, os quais dependem da participação dos atores sociais para que, dialogicamente, os solucionem a partir do respeito às opiniões diversas e da

48 É importante explicar que não estão contidos neste quadro síntese todos os pressupostos da GS, tampouco a

riqueza de detalhamento destes para a fundamentação desta perspectiva teórica e gerencial. A intenção é relacionar as categorias centrais ali expressas, uma vez que, entende-se que ambas referem-se à condições indispensáveis à garantia de direitos.

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prática de consensos que representem o melhor para o coletivo. Contudo, para que a participação e a representação na qual se sustenta o conceito de gestão social passem a se efetivar, há que se evoluir da democracia representativa para uma democracia deliberativa, indo além da representação, por meio da participação em espaços decisórios e, consequentemente, pelo exercício do controle social.

Feita a defesa da gestão social como elemento fundamental para o sucesso de políticas como a assistência estudantil, iniciam-se as disposições sobre a gestão dos recursos humanos. Diante dos dados e da observação dos processos de trabalho em AE na Unipampa, percebe-se a intenção da atuação na direção da gestão social, o que interpreta-se como uma potencialidade. Contudo, a Universidade é um espaço de severas batalhas de egos e disputas por poder e status. Nesse sentido, ainda hão de ser conquistados espaços formais de participação dos segmentos que compõem a comunidade acadêmica, nos processos decisórios, tendo em vista que, atualmente, não raro, somente a 'elite burocrática' tem esse acesso e, muitas vezes pressionados pela exigência de imediata solução para a demanda ou pressões externas à Universidade (principalmente de natureza financeira ou política), não podem, não conseguem conclamar a participação de um grupo maior nas tomadas de decisão, como também há respostas que à gestão não convém buscar junto à comunidade.

A PRAEC Unipampa, atualmente, conta com uma equipe extremamente qualificada, diversificada e comprometida. Mesmo descentralizada, a equipe (ou as equipes), tem conduzido com extrema competência as ações previstas na Resolução 84/2014, bem como as ações propostas após a aprovação deste documento (a partir das demandas que emergiram do contexto dos campi), devendo ser destacada como elemento potencializador desta política. Uma vez que, poucas equipes alocadas diretamente nas pró-reitorias e unidades de execução da AE são tão numerosas e diversificadas, acredita-se que esta equipe poderia, inclusive propor a composição de uma comissão ou grupo de trabalho (até mesmo no âmbito do Fonaprace) para elaboração, em conjunto com as demais IFES, de uma Norma Operacional de AE, relativa aos recursos humanos, suas atribuições e competências na materialização da política.

Contudo, percebeu-se alguns pontos na gestão desses recursos humanos que precisam ser revistos. Dentre estes aspectos, inicia-se mencionando a necessidade de repensar as referências de chefia, para o respaldo dos servidores e unificação das equipes. Pode-se aferir, ainda, que há uma necessidade iminente de definição sobre os rumos da política no que tange à alocação das equipes no setor da gestão (Pró-reitoria propriamente dita). Concorda-se

que a aproximação com a Reitoria pode agilizar e garantir melhor interlocução política com as demais pró-reitorias. Contudo, os servidores alocados em São Borja estão, em sua maioria, bastante desconectados dos processos decisórios e dos trabalhos de elaboração, embora sejam todos técnicos com considerável experiência profissional, não têm tido participação efetiva junto à equipe gestora desta pasta, salvo algumas exceções.

A troca e a partilha sistemática de informações e conhecimentos ampliam, grandemente, a relação de cumplicidade e unidade entre as equipes, cujo rendimento poderia ser mais satisfatório, não fosse a aparente dicotomia que se colocou entre ambas, ao que parece, pela distância geográfica. “A informação ainda está muito centrada em algumas pessoas, ocorrendo assim perdas de relevantes conhecimentos institucionais” (SOUZA; KOBIYAMA, 2010, p. 4). A definição deste cenário se mostra urgente, uma vez que, além de otimizar os trabalhos, passa-se a proporcionar a reintegração dos profissionais num novo contexto de possibilidades. Desta forma, poderão sentir-se, novamente, atuantes em prol da comunidade ‘unipampeana’, partícipes do processo de amadurecimento/consolidação da instituição, seja por meio da assistência estudantil ou outra atividade condizente com sua área de formação/nomeação.

Nessa mesma perspectiva, a redução da segmentação das atividades, conduziria também a uma maior integração entre os servidores componentes da equipe, além de otimizar os recursos humanos disponíveis à materialização da política na Instituição, cuja evolução (conforme já mencionado) apresentou percentuais significativamente positivos, desde 2010. Se observa que as atividades vêm sendo realizadas, ao longo dos anos, de forma bastante 'asséptica' entre 'assuntos estudantis' e 'assuntos comunitários'. Contudo, essa departamentalização, segundo Souza; Kobiyama (2010) dificulta a gestão das áreas diversas e, mais do que isso, alocam os interesses departamentais acima dos interesses globais/gerais. O trabalho mais articulado e compartilhado facilitaria, inclusive a execução de ações como as da área de saúde, por exemplo, que contam com número reduzido de servidores de formação específica que, por isso, precisam desdobrar-se para atender as dez unidades acadêmicas nas atividades propostas, mesmo com auxílios dos NuDEs.

Outro ponto que se deve ressaltar com relação à equipe é relativo às capacitações. Embora tenha que se destacar que já ocorrem espaços desta natureza, em especial acerca de elementos do processo de trabalho relacionado à análise socioeconômica, porém, é necessário que os gestores da pasta busquem, juntamente com outras Pró-reitorias e com o Núcleo De Desenvolvimento de Pessoal (NUDEPE), ampliar estes espaços em número e variação

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temática, considerando que os servidores dos NuDEs têm atuações em várias frentes, tais como suporte aos alunos com deficiências ou necessidades educacionais especiais, ou ainda com a orientação docente no processo de ensino-aprendizagem. É necessário que as temáticas das ações de capacitação continuem partindo dos próprios servidores, a fim de garantir sua motivação na participação e na atuação profissional.

Por fim, mas não menos importante, cumpre à gestão da AE, continuar a valorizar as experiências locais bem sucedidas, tais como metodologias de atendimento, de registros, arquivamento, bem como projetos ou ações pertinentes às áreas de intervenção da política. O reconhecimento do trabalho realizado proporciona o sentimento de participação efetiva, além de motivar novas proposições. Outrossim, contribui para a padronização das atividades e processos, com vistas a atingir um atendimento igualitário na AE.

Levando em conta que as equipes, embora às vezes desarticuladas ou segmentadas, têm atuado com comprometimento em sanar as demandas que chegam ao setor, pode-se ainda ponderar a viabilidade da formalização de um instrumento de monitoramento dos processos de trabalho, considerando a análise das atividades desempenhadas em cada função da estrutura organizacional e da equipe como um todo, servindo como base para discussões sistemáticas e coletivas de definição e/ou readequação de demandas. Supõe-se que a definição de instrumento ou estratégias de monitoramento, facilitaria o reconhecimento das áreas temáticas demandadas ou carentes de capacitação, bem como subsidiaria as análises sobre necessidade de (re)alocação ou de suplementação de recursos humanos específicos nos NuDEs e na PRAEC. O viés técnico da avaliação, incluindo aqui o monitoramento, é um instrumento utilizado para controle da gestão (ARRETCHE; FARIA; apud SANTOS, 2014).

Não obstante, instrumentos de monitoramento fornecem bases para processos de avaliação, os quais não vêm sendo executados sistematicamente pelo setor (exceto as pesquisas de satisfação dos usuários com os serviços dos Restaurantes Universitários, que tratam-se, portanto e basicamente, de pesquisas de opinião). Conforme destacado pelas auditorias, a avaliação do PNAES também está prevista entre as demandas emergentes e urgentes do Fonaprace (2012). Este fórum, inclusive discutiu o estabelecimento de indicadores para a avaliação do PNAES no encontro nacional de maio deste ano, em Brasília. No entanto, a pauta não foi finalizada e, nesse sentido, nacionalmente, ainda não há um instrumento/mecanismo para a referida avaliação.

A Comissão de Avaliação Institucional, apoiada no Art. 7º do Regimento da Unipampa, incisos IV e VII, realiza a avaliação do setor de AE (cujo processo de avaliação,

em 2017, ocorrerá em novembro). Contudo, não mensura eficiência, eficácia e efetividade das ações, tampouco seus impactos efetivos na trajetória acadêmica dos beneficiários.

O sucesso de políticas públicas depende em grandes proporções de um processo de avaliação sério e minucioso, do qual se desvinculem (ou minimizem ao máximo) os interesses e as alianças políticas, em benefício dos interesses públicos. Importante ainda frisar que não basta aplicar metodologias de monitoramento e avaliação sem traçar planos estratégicos de utilização desses dados na qualificação das ações que compõem a política. A avaliação pela simples avaliação é um processo tão nulo quanto a sua ausência. A avaliação de ser “[...] um instrumento que permite identificar os resultados alcançados por um programa a partir de critérios baseados na racionalização onde a eficiência, eficácia e efetividade ocupam lugar central” (TAVARES; COTTA; THOENING apud SANTOS, 2014, p. 255).

Diante do exposto, apesar de constar na estrutura organizacional do setor uma assessoria de planejamento e avaliação, não foram formalizadas ainda estratégias endógenas de avaliação, que possam somar à avaliação institucional, mas, mais do que isso, que sirvam de subsídio ao monitoramento e às melhorias constantes nos processos de trabalho e nas atuações profissionais do setor. Somente ações pontuais de avaliação têm sido realizadas, mais no sentido de subsidiar o processo de avaliação institucional. Contudo, a “ativação” do segmento “avaliação” da Assessoria de Planejamento e Avaliação, destinando pessoal para criação de um plano anual de avaliação da política (processos e programas), talvez com a orientação e o auxílio da própria Comissão de Avaliação Institucional, parece ação importante e, relativamente, possível ao setor.

A julgar pela PRAEC e pelas demais instituições pesquisadas, poucos são as universidades que conseguem vivenciar espaços de efetivação da gestão social (enquanto modelo prático de gestão), mediante o exercício do controle social, da participação e da representação. Com relação à participação e representação do segmento estudantil, a PRAEC, especialmente na pessoa do gestor atual, tem buscado uma aproximação direta e constante com o movimento e representações estudantis da Universidade. Contudo, conforme mencionado anteriormente, é necessário que estes espaços de representação evoluam nas discussões e na construção de consensos sobre o que, de fato, é demanda que emerge e representa o coletivo discente da Unipampa. O setor tem procurado auxiliar no desenvolvimento desta consciência sobre a necessidade de participação do corpo discente nos espaços formais de representação estudantil internos e externos à Instituição, instigando e apoiando de diversas formas os momentos, movimentos e eventos desta natureza.

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Considerando que a PRAEC é a Pró-reitoria que trabalha pela garantia dos direitos de assistência aos acadêmicos (por isso, talvez, comparada à assistência social), entende-se que deva atuar nesta perspectiva, não só no que diz respeito à participação dos alunos, mas na comunidade acadêmica como um todo. Replicar sistematicamente espaços como os Fóruns de Assistência Estudantil, reportando-se além dos segmentos internos à instituição também aos atores externos de relevância na execução da política no município, fortaleceria tanto os espaços de participação, quanto proporcionaria oportunidade extra de divulgação das atividades realizadas, numa iniciativa de incentivo ao controle social.

Já que, somente ocorre o controle social se a comunidade acadêmica participar ativamente, por meio de espaços tais como os conselhos, os fóruns, seminários e chamamentos para audiências populares, além, é claro, do controle que pode e deve ser exercido pelo portal da transparência, portal do orçamento e demais mecanismos da sociedade civil organizada, convém manter estes canais fomentados sistematicamente nas unidades e na Pró-reitoria. Seria ainda interessante resgatar a atuação de estagiários da comunicação social junto à Pró-reitoria, para reativação do PRAEC Informa, informativo referenciado positivamente nos processos de auditoria, bem como na atualização do site institucional, com imagens e matérias acerca das atividades desenvolvidas pelas equipes, acrescentando que deveriam ainda constar informações locais (campi) na página da PRAEC (tais como as equipes locais, contatos dos servidores e registros de ações de trabalho).

Em suma, foram destacados e problematizados os elementos que compõem a política de AE da Unipampa, os quais envolvem a representação; a prevalência do espírito de coletivo e do bem-comum em detrimento dos interesses individuais; a importância dos espaços de trocas e de diálogo na redução de distanciamentos e da segmentação das ações inerentes à materialização da política; e, finalmente, sobre a importância do controle social na avaliação e no (re)dimensionamento da política, reiterando-se a necessária garantia da participação efetiva nos processos decisórios.

Tenório (2005) refere-se à centralidade da participação49 na conceituação de gestão social, uma vez que esta forma gerencial só se efetiva por meio de relação dialógica. E, na perspectiva da dialogicidade, as decisões devem ser tomadas a partir de consensos obtidos após discussões coletivas50 (nas quais todos têm direito à fala) na esfera pública51, em prol do

49 Neste mesmo texto, Tenório afirma que a participação é naturalmente presente na vida dos indivíduos, uma vez

que vivemos a partir do estabelecimento de relações sociais. Contudo, a participação cidadã, pressupõe a consciência de indivíduo sobre a relevância da sua participação da definição do seu destino (TENÓRIO, 2005).

50 Nessas discussões, as diferenças e as contradições são debatidas a fim de alcançar os termos que melhor

bem-comum de uma sociedade, região e/ou de um território. Em suma, o autor traz o conceito de Gestão Social como:

[...] o processo gerencial dialógico o qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação (ação que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social – público, privado ou de organizações não-governamentais). O adjetivo social qualificando o substantivo gestão será entendido como o espaço privilegiado de relações sociais em que todos têm o direito à fala, sem nenhum tipo de coação (TENÓRIO, 2005, p. 102).

Outrossim, é verídico que em espaços de decisão ocorrem jogos de interesses, nos quais, por vezes, em razão de estratégias/alianças políticas, interesses individuais ou de uma minoria, se sobressaem aos interesses coletivos (ou de uma maioria, não representada significativamente). Os conselhos universitários, os meios de representação, bem como espaços de gestão (tais como cargos e funções de chefia e direção), ainda precisam evoluir em muitos sentidos a fim de se tornarem, de fato, possibilidades de tomadas de decisões pelo bem-comum, no sentido da gestão social, embora formalmente já sejam compostos numa perspectiva democrática. Além das limitações da representatividade, a gestão estratégica está entranhada nos processos gerenciais de grande parte das organizações contemporâneas, sejam estas públicas ou privadas.

Finalmente, acredita-se que a democracia deliberativa só poderá ser efetivamente construída sob a igualdade de condições sociais, econômicas, culturais, assim fortalecendo os atores sociais na produção e reprodução das relações sociais que compõem o seu cotidiano. Acredita-se que a garantia dessa igualdade de condições, constitucionalmente prevista e, frequentemente, ausente no nosso mundo vivido, valem tanto para a condução da política de AE - cujo coletivo (público-alvo) carece de programas que lhes proporcionem de fato a redução dessas disparidades para o atingimento de seus objetivos acadêmicos -, quanto para as relações profissionais e institucionais que se estabelecem e que se articulam para sua implementação, dada a complexidade e abrangência.

Para Dallabrida, Siedenberg e Fernández (2004), o desenvolvimento territorial depende da solidez dos quadros de ações coletivas, de um projeto ou visão consensual de futuro e de atores e instituições fortalecidos e atuantes. Nesse sentido, compreende-se a Universidade e, paralela a ela, a política de AE, como componentes imprescindíveis deste processo, uma vez que atuam na produção e disseminação de conhecimento e cultura,

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minimizando disparidades, instrumentalizando coletivos e outras instituições nos debates e proposições de empreendimentos e políticas públicas centrais ao desenvolvimento.

O desenvolvimento de um país, estado ou região perpassa questões como estrutura econômica, assistência à saúde e acesso à educação de qualidade em todos os níveis. A estruturação e consolidação de políticas em torno destas questões permeiam desde a história de formação do país, bem como as características culturais da população que ali vive. Nesse ambiente de constantes transformações, a educação destaca-se como fator primordial para a construção de uma cidadania mais justa e igualitária (FLECK, 2011, p. 286).

Para finalizar, cita-se uma frase de Tenório (2009, p. 3)52, a qual resgata a responsabilidade do Estado e do mercado na prática de uma gestão republicana. O autor afirma que “o conceito de gestão social seria desnecessário se tanto o agente público como o econômico praticassem uma gestão republicana: uma gestão preocupada com a justiça social, com o interesse pelo bem comum e não com interesses privados”. A crítica ao Estado, pelo fato da gestão pública estar 'descolada' da res publica, carrega em si uma crítica ao sistema (modelo