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Reflexões sobre concepção, metodologia e estatísticas dos estudos empíricos

63 O crescimento endógeno «é o que ocorre na ausência de aumentos exógenos de produtividade tais como atribuídos ao

3. Estudos empíricos sobre as relações entre a política fiscal e o crescimento económico

3.1. Reflexões sobre concepção, metodologia e estatísticas dos estudos empíricos

Se as relações entre a política fiscal e o crescimento económico foram, e

continuam a ser, objecto de muitos estudos académicos teóricos, em termos de

evidência estatística aquelas relações não são muito notórias, apesar do elevado

número de artigos publicados nesta área66.

No entanto, as investigações empíricas falham em estabelecer resultados

conclusivos acerca das ligações entre tributação (ou mais genericamente, variáveis

de finanças públicas) e crescimento económico. Vários estudos, como os de Engen e

Skinner (1992), Kormendi e Meguire (1985), Wright (1996), Myles (2000), Widmalm (2001),

Blanchard e Perotti (2002), encontram uma relação negativa entre taxa média de

66 Uma pesquisa por palavras chave efectuada por Nijkamp e Poot (2004), durante o período 1983-1998, permitiu-lhes

identificar 550 estudos empíricos sobre o efeito do sector público no crescimento (Landau (1986) considera que, antes de 1983, praticamente não existiram estudos empíricos nesta matéria).

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impostos e crescimento económico; no entanto, outros, como os de Koester e

Kormendi (1989), Easterly e Rebelo (1993a), Slemrod (1995b), Mendoza et al (1997) são

agnósticos. Estas contradições parecem residir «nos testes, não na teoria» devido à

«incorrecta escolha de indicadores das taxas de impostos e das estruturas fiscais»

(Padovano e Galli (2002): 530). Acresce que, na maior parte dos estudos cross-country,

que predominam nesta área de investigação67, o crescimento é estudado a partir de regressões em que a variável dependente é a taxa de crescimento média do PIB para

um conjunto de países. No entanto, estes estudos diferem muito em termos de

enquadramento teórico, de variáveis explicativas incluídas nas regressões

(nomeadamente no que se refere a indicadores de política fiscal), países incluídos na

amostra, período de tempo considerado, e metodologias seguidas, entre outros; facto

pelo qual o resumo das principais conclusões obtidas na literatura empírica carece, de

algumas observações prévias, e que nos serve de reflexão para o estudo empírico que

se realiza no Capítulo IV.

Em primeiro lugar, há que questionar se os países são uma unidade de

medida apropriada, ou se os estudos não deveriam ser realizados a um nível mais

desagregado. A taxa de crescimento económico de um país depende das

tendências que se verificam a nível mundial em sectores chave da economia, bem

como de factores específicos do país que influenciam todos os sectores da

economia68 e, nesta decorrência, a não decomposição torna-se limitativa não só para o estudo das determinantes do crescimento de um só país, mas também porque,

numa análise cross-country, pode-se estar a perder relações significativas uma vez que

se introduz alterações no crescimento que são induzidas por factores internacionais e

dever-se-ia «expurgar a componente do crescimento nacional que reflicta as

tendências mundiais dos principais sectores da economia» (Levine e Renelt (1991): 5).

67 Engen e Skinner ((1996): 626) notam que a vantagem de realizar estudos entre países resulta da amostra incluir países com

diferentes estruturas fiscais para testar a correlação e causalidade entre política fiscal e crescimento.

68 Stockman (1988) procede a esta decomposição num estudo que integra sete países da OCDE e os EUA, e conclui que a

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No entanto, a falta de dados disponíveis a um nível tão desagregado limita a

realização deste tipo de estudos.

Uma outra questão, relacionada com a anterior, prende-se com o tipo de

países a integrar na amostra que seja representativa de uma mesma população.

Muitos dos estudos cross-country incluem apenas países desenvolvidos, outros, países

em vias de desenvolvimento, e muitos integram as duas categorias69: a título de exemplo, na amostra de Nijkamp e Poot (2004) de estudos empíricos sobre o impacto

da política fiscal no crescimento económico, 48,8% dos estudos englobam países

desenvolvidos, 22,8% países menos desenvolvidos e 28,5% os dois tipos. O

enviesamento da agregação pode causar a possível fragilidade das estimativas dos

coeficientes das variáveis de política fiscal. Garrison e Lee (1992) mostram que os

efeitos negativos das taxas marginais de crescimento não se verificam quando

desagregam a amostra de 63 países em industrializados e não industrializados. Acresce

que, se a política fiscal pode ter efeitos aceleradores em alguns países e retardadores

do crescimento noutros, a agregação da amostra num único coeficiente pode

original resultados enviesados (Padovano e Galli (2002). Por outro lado, os autores que

separam em populações distintas os países desenvolvidos dos países em

desenvolvimento estão a utilizar como critério o rendimento per capita o que, de

acordo com Levine e Renelt (1991), pode não ser muito claro e, em consequência,

deve-se averiguar se os resultados dos estudos se alteram quando se utilizam critérios

de selecção distintos.

Em segundo lugar, existem problemas de mensuração e disponibilidade de

dados. Os dados estatísticos disponíveis para muitos países são insuficientes, em termos

de desagregação e dimensão temporal desejada, e não existe harmonização nos

indicadores utilizados por cada país para avaliar a dimensão do sector público, ou

69 Barro (1989b) exclui os principais países produtores de petróleo, argumentando que «... estes países têm tendência para

apresentarem valores elevados do PNB per capita, mas [...] actuam como se fossem países com baixos valores de rendimento. Este comportamento provavelmente pode ser explicado, entendendo esses países como tendo recebido quantias elevadas de recursos naturais, mas não são muito avançados em termos de tecnologia, capital humano, etc.» (p. 18).

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alterações na produtividade, entre outros70. Se, para os países desenvolvidos, a qualidade e disponibilidade da informação, nomeadamente em séries temporais mais

longas, é mais acessível, e se há muitos estudos que se reportam apenas a países

desenvolvidos, há outros que se centram em países menos desenvolvidos e alguns

integram as duas categorias. Acresce o facto de muitas variáveis de política

económica não serem mensuráveis, como a protecção dos direitos de propriedade,

eficiência do sistema legal, grau de estabilidade política, entre outras, e que são

potencialmente importantes na explicação do crescimento económico. Por outro

lado, utilizam-se indicadores como a taxa de imposto ou despesas públicas,

procurando-se inferir deles a política prosseguida, mas que podem não reflectir as

políticas subjacentes. Tratando-se, também, de efeitos no crescimento de longo prazo,

muitos estudos utilizam observações num período de tempo relativamente curto (5 a

10 anos). Se pensarmos que algumas acções de política governamental,

nomeadamente a implementação de infraestruturas, necessitam de um tempo

suficientemente longo para efectivarem o seu impacto no crescimento de longo

prazo, nomeadamente pela complementaridade existente com determinados tipos

de capital privado, a utilização de períodos de tempo relativamente curtos pode

ocultar estes efeitos71. Garrison e Lee (1992) ao estenderem o período de análise de Koester e Kormendi (1989) de 1970-79 para 1970-84 deixam de verificar a relação

negativa robusta encontrada por aqueles autores.

Em terceiro lugar, nas regressões cross-country há que ter em atenção a

interpretação dos coeficientes estimados, uma vez que não representam relações

comportamentais: para Ram (1986) os parâmetros estimados reflectem médias entre

países e não se aplicam a um único país. Por outro lado, não se tratam de parâmetros

estruturais: o sinal de um coeficiente estimado é o «sinal de correlação parcial entre

[...] [taxa de crescimento do PNB per capita] [...] e cada regressor, considerando os

70 Carr (1989) e Ram (1989) discutem alguns assuntos de mensuração.

71 Nijkamp e Poot (2004) concluem que quanto maior é o período de tempo considerado na amostra maior é a

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outros regressores constantes. O teste t correspondente [...] pode ser entendido como

um teste da robustez das correlações parciais (Kormendi e Meguire (1985): 146) e, por

isso, as regressões cross-country devem ser entendidas como «estabelecendo padrões

de correlações [...] que só a teoria nos fornece um meio de interpretar esses padrões»

(Levine e Renelt (1991): 9).

A estas limitações de carácter geral acrescem outras dificuldades

conceptuais, metodológicas e estatísticas que se torna necessário evidenciar,

permitindo fazer um enquadramento para a revisão da literatura empírica sobre esta

matéria e o estudo empírico que se desenvoolverá.

Uma delas prende-se com a variedade e natureza dos candidatos a

indicadores de política fiscal. Como refere Tanzi e Zee (1997) há três candidatos a

indicadores de política fiscal: despesas públicas, impostos e défices72, mas, no entanto, a vasta literatura existente não favorece sistematicamente um em favor de outro (Fu,

Taylor e Yucel (2003): 3). Levine e Renelt (1992) concluem que as variáveis mais

utilizadas nos estudos empíricos que procuram mostrar as relações entre a política

fiscal com as taxas médias de crescimento per capita em estudos cross-country são:

i. Dimensão do sector público na economia;

ii. Despesas públicas desagregadas;

iii.Taxa de crescimento das despesas públicas;

E acrescentam, no seu estudo:

iv. Défices das administrações públicas; e,

v. Taxas de impostos desagregadas.

No entanto, a utilização daqueles indicadores não deixa de suscitar alguns

72 Muitos autores utilizaram as despesas públicas para medirem os efeitos da política fiscal no crescimento económico,

como Ram (1986), Aschauer (1989a), Barro (1978, 1990), Easterly e Rebelo (1993a), Barro e Sala-i-Martin (1995), Ambler e Paquet (1996), Agell et al (1997), Folster e Henrekson (2001); outros as taxas de impostos, como Engen e Skinner (1996), Rebelo (1991), Xu (1994), Lucas (1990), Stokely e Rebelo (1995), Mendoza et al (1997), Karras (1999), Romero de Ávila e Strauch (2003); ou indicadores do défice como Easterly e Rebelo (1993a), Martin e Fardmanesh (1990), Kneller et al (1999).

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problemas, conforme ressaltam Levine e Renelt (1991, 1992), em particular:

i. Do lado das despesas se, por um lado, os governos fornecem bens públicos

essenciais que favorecem o crescimento económico, por outro, em muitos

casos, desperdiçam recursos e afectam-nos a despesas que não induzem

crescimento: «os recursos governamentais podem ser dispendidos em

actividades para as quais o governo não tem um papel claro» (Levine e

Renelt (1991): 39). Do lado das receitas, podem definir impostos que reduzam

as diferenças entre custos privados e sociais, ou aplicar impostos que

distorçam as decisões privadas; ou também, com o mesmo efeito, aplicar

regulamentações;

ii. Quando se utilizam como indicadores de política fiscal variáveis agregadas

da dimensão do governo, não se tem em conta a forma de aplicação das

despesas públicas o que, potencialmente, tem impactos muito distintos no

crescimento;

iii.A utilização de dados simples sobre as despesas públicas, sem ter em conta

se existe ou não eficiência na aplicação dos recursos públicos, não

conduzem a interpretações rigorosas das relações entre política fiscal e

crescimento.

iv. No que se refere à construção de medidas de impostos, levantam-se

algumas dificuldades, nomeadamente:

 A definição da base fiscal: os países menos desenvolvidos apresentam uma base fiscal menor, devido à evasão fiscal e à menor dimensão do sector

formal, e a obtenção de receitas fiscais exige taxas de impostos mais

elevadas; por outro lado, quando se utilizam variáveis ponderadas pelo PIB, a

taxa média de impostos aparece como sendo menor para alguns países,

sem se traduzir os efeitos de redistribuição que a política fiscal possa ter;

 Há dificuldades em calcular as taxas marginais de impostos e, por vezes, calcula-se uma média nacional das taxas marginais de impostos, não tendo

155  É muito difícil construir medidas que traduzam realidades tão complexas como o sistema fiscal: os tipos de impostos, a sua estrutura e a eficiência do

sistema fiscal varia muito de país para país.

Levine e Renelt (1992) concluem que nenhum dos indicadores de política

fiscal analisados (peso das despesas públicas no PNB; peso das despesas públicas,

excluindo as despesas em educação e defesa, no PNB; peso no PNB das despesas

públicas em formação de capital, em educação e em defesa, consideradas

individualmente); e défice das Administrações Públicas) está robustamente

correlacionado com o crescimento. Esta fragilidade dos indicadores fiscais pode

resultar da incapacidade de cada um deles captar totalmente o alcance da política

fiscal (Fu et al (2003): 3).

A título de exemplo, e como se viu, um aumento nas despesas públicas pode

simultaneamente expandir ou contrair o crescimento económico, dependendo da

forma como é financiado. Se for acompanhada por um aumento correspondente nos

impostos, ao aumentar a dimensão do sector público, torna-se numa política

contraccionista, podendo verificar-se o inverso no caso de ser financiada por défice. A

utilização de combinações de indicadores de política fiscal pode captar, de um

forma mais abrangente, a posição da política fiscal 73.

Muitos dos estudos utilizam o nível de fiscalidade médio, em grande parte

medido pelo peso das Receitas fiscais no PIB, para estudar as relações empíricas

73 Fu, Taylor e Yucel (2003) consideram que a combinação de indicadores de política fiscal conduzem a resultados mais

estáveis e facilmente interpretáveis entre as diversas especificações. Ao analisarem, para a economia americana no período 1983-2002, três combinações de indicadores de política fiscal  reduções de impostos financiados por um correspondente aumentos no défice, aumento nas despesas governamentais financiadas por um aumento correspondente dos impostos, e um aumento nas despesas governamentais financiadas por um aumento correspondente no défice  concluem que se as reduções de impostos são consistentemente expansionistas e os aumentos da despesa contraccionistas, o défice é um indicador discutível da posição da política fiscal. Um aumento no défice pode ser simultaneamente contraccionista ou expansionista, dependendo da forma como a acção de política fiscal é financiada: aumentos nos impostos que reduzem o défice são contraccionistas, mas reduções nas despesas que reduzem o défice são expansionistas (Fu et al ( 2003): 3-4, 10-11).

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fiscalidade-crescimento, enquanto os modelos teóricos se baseiam na optimização de

escolhas individuais. No entanto, a variável realmente relevante para esta análise é a

taxa marginal efectiva ou a progressividade efectiva (no caso de um imposto ou de

um sistema fiscal, respectivamente) e, tendo presente que muitos países desenvolvidos

apresentam taxas de impostos progressivas em vez de proporcionais, a utilização de

taxas médias subestima os efeitos na tributação no crescimento (Kay (1990), Cnossen e

Bird (1990)). Com um sistema de impostos progressivos a taxa marginal é sempre maior

do que a taxa média. Na prática, os sistemas fiscais sobre o rendimento apresentam

diferentes níveis de isenção, e várias taxas marginais interligadas com o sistema de

Segurança Social. Diferenças significativas também se verificam para os imposto sobre

o rendimento de pessoas colectivas (isenções, permissões de depreciações) e IVA

(isenções, diferentes taxas).

Também a correlação entre taxas médias de impostos e despesas públicas

e, uma vez que há despesas públicas que favorecem o crescimento económico, o

coeficiente estimado das taxas médias pode reflectir não só o potencial efeito

negativo dos impostos como o potencial efeito positivo das despesas públicas,

tornando o seu resultado estatisticamente insignificante (Padovano e Gali (2002)).

Particular acuidade deve ser dada às regressões que utilizam as taxas

médias de impostos e, como variável de controlo, o rendimento inicial, nas quais, em

muitos casos, não evidenciam relações significativas entre política fiscal e crescimento

(Padovano e Gali (2002)). Estas duas variáveis captam a elasticidade rendimento da

procura de serviços públicos (lei de Wagner) e, por isso, são objecto de

multicolineariedade.

Se bem que, como referimos anteriormente, a variável relevante de política

fiscal seja a taxa marginal ou a progressividade dos impostos, o seu cálculo suscita

grandes dificuldades, dado que não são observáveis nas estatísticas, recorrendo-se a

quatro métodos distintos (Marzo (2005)):

i. A recolha das taxas de impostos estatutárias sobre o rendimento, mas que

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dos poderes políticos dos países menos desenvolvidos;

ii. A construção de taxas marginais a partir das receitas fiscais específicas,

obtidas da base fiscal associada;

iii.A utilização de um procedimento de ponderação do rendimento para

ajustar as taxas de impostos; e,

iv. A estimação das taxas marginais através de regressões de cada taxa de

imposto em relação à sua base fiscal (método introduzido por Koester e

Kormendi (1989) e desenvolvido por Padovano e Gali (2002)), que melhoram

a precisão das estimativas através da introdução do nível de uma variável

dummy, para ter em conta os efeitos das reformas fiscais nas taxas médias, e

da inclinação da dummy no caso das taxas marginais.

Enquanto o primeiro método sobrestima os custos da tributação, os últimos

três subestimam-nos.

Apesar de todas estas considerações, a dificuldade de obtenção de taxas

marginais, leva a que, muito frequentemente, se recorram a taxas médias para a

análise do impacto da política fiscal no crescimento económico.

Também a diversidade de metodologias de pesquisa, de tipos de dados e

metodologia econométrica torna difícil a conclusão, em termos empíricos, dos efeitos

da actividade do Estado na economia. Se bem que a maior parte dos estudos se

desenvolvam com modelos de séries temporais e de regressões, destes, uns utilizam

modelos de regressão com dados seccionais, outros dados em painel74 e, ainda, análises de séries temporais.

Acresce, ainda, que nos modelos com dados em painel e seccionais, muitos

são regressões tradicionais de crescimento, isto é, regressões lineares em que a

variável dependente é o produto ou rendimento nacional real e, a variável

74 Nijkamp e Poot (2004) concluem, no entanto, que os resultados não diferem muito entre regressões que utilizam dados em

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independente, um indicador de política fiscal. Na realidade, o sector público fornece

serviços muito variados, que influenciam o crescimento de forma muito distinta, e que

aquele tipo de relação não capta. Mesmo no caso em que as despesas públicas são

aplicadas em despesas que aceleram o crescimento podem «existir trade-offs não

lineares complexos entre os efeitos benéficos dos serviços públicos e as implicações

perniciosas dos impostos distorcivos» (Levine e Renelt (1992): 951), que as regressões

lineares com dados seccionais para vários países não captam. Nijkamp e Poort (2004)

concluem que as regressões lineares convencionais dão menos suporte à hipótese

tradicional que aumentos na dimensão do sector público, despesas em defesa e taxas

de impostos retardam ou reduzem o crescimento e aumentos nas despesas em

educação e infraestruturas o aumentam. Para os autores, metodologias alternativas  análise das séries temporais, estudos de equilíbrio geral e ao nível micro  são mais eficientes na captação dos efeitos da política fiscal no crescimento.

Também a especificação do modelo afecta o valor e significância

estatística do coeficiente da variável da política fiscal (Levine e Renelt (1992), Slemrod

(1995b) e, muitos dos estudos realizados, não integram análises de robustez): estudam-

se as relações entre sector público e crescimento mas a robustez das relações entre

taxas de impostos (ou mais genericamente, política fiscal) deve ser controlada através

da inclusão de outras proxies de política fiscal ou de outras políticas.

Nas especificações dos modelos, se bem que muito variadas, as variáveis de

controlo mais utilizadas são o crescimento da população ou da força de trabalho, a

acumulação de capital  através da taxa de investimento e poupanças  ou o rendimento inicial75.

A revisão da literatura permite concluir da importância do rendimento inicial,

que valida a convergência condicional, isto é que países pobres, ceteris paribus,

tendem a crescer mais rapidamente que países ricos (discutida em Landau (1983),

75 Levine e Renelt (1991), numa revisão da literatura empírica, dos 41 estudos analisados, 33 incluem o peso do investimento,

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Barro (1984), Kormendi e Meguire (1985)). Kormendi e Meguire (1985) encontram uma

correlação negativa entre rendimento per capita inicial e taxa de crescimento do PNB

real para 47 países no período 1950-77. Também Levine e Renelt (1992) encontram

uma correlação negativa robusta entre PNB real per capita e o seu nível inicial, no

período 1960-89, desde que na regressão se inclua a taxa de inscrição no ensino

secundário inicial. Nijkamp e Poot (2004: 111-112) concluem existir suporte para a

corrente que defende que a não inclusão do rendimento inicial entre as variáveis

explicativas do crescimento pode ser uma forma de erro de especificação, quando se

testa o efeito da política fiscal no crescimento. Na sua amostra, dos estudos que

excluem o rendimento inicial da especificação do modelo, apenas 37% validam a

crença tradicional, contra 52% dos estudos que a incluem. Como de acordo com a lei

de Wagner existe uma correlação entre nível de rendimento e consumo público, a

não inclusão daquela variável enviesa o coeficiente da variável de política fiscal. No

entanto, existe alguma controvérsia acerca da forma adequada de realizar o teste de

convergência em regressões de crescimento com dados seccionais e em painel, bem

como sobre as conclusões dos estudos (Evans e Karras (1996), Quah (1996)).

No que respeita ao impacto do crescimento da população no PIB per

capita, se bem que em alguns estudos seja negativo, Levine e Renelt (1992)

consideram esta correlação frágil, ou seja, é necessário seleccionar um conjunto de

informação condicionante particular para se encontrar uma relação robusta.

No que se refere à acumulação de capital, a maior parte dos estudos

integram-na e, de acordo com Levine e Renelt (1992), o peso do investimento no PNB

apresenta uma relação positiva robusta com o PNB real per capita o que é