• Nenhum resultado encontrado

3.2 SUB-BACIA DO CÓRREGO GUARÁ

3.2.1 Região Administrativa do Guará (RA X Guará)

nesta dissertação.

3.2.1 Região Administrativa do Guará (RA X - Guará)

A Região Administrativa do Guará foi criada em 1989, por meio do Decreto nº 11.921, de 25 de outubro (DISTRITO FEDERAL, 1989). Atualmente, é composta por Guará I, Guará II, Quadras Econômicas Lúcio Costa (QELC), Guarazinho, Vila ZHIS (Zona Habitacional de Interesse Social), Jóquei Clube de Brasília, Reserva Ecológica do Guará e Parque Ecológico Ezequias Heringer (conhecido como Parque do Guará), que é atravessado pelo córrego Guará em toda a sua extensão (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006b).

Segundo a Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006a), a Região Administrativa do Guará possui uma área de 37,50 km² e população de 12.989 habitantes (5,6% da população total do Distrito Federal), apresentando densidade demográfica de 346,37 hab/km2. A maioria dos moradores tem idade entre 35 a 49 anos. Limita-se, ao norte, com a poligonal do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA); rodovias DF-97 e DF–095; ao sul, com o córrego Vicente Pires; a leste, com a rodovia DF–003, poligonal do Setor de Postos e Motéis Sul e poligonal do setor JK; a oeste, com o córrego Vicente Pires, setor Park Way, rodovias DF–079 e DF-085 e o córrego do Valo.

Os primeiros habitantes do espaço urbano da RA X - Guará foram funcionários da Companhia Urbanizadora da Capital do Brasil (NOVACAP), que construíram suas casas, em sistema de mutirão, em 1967 (FIGURA 8). Paralelamente a esse movimento, a Sociedade de Habitações de Interesse Social (SHIS) construiu três mil casas. Constituiu-se, assim, o núcleo do Guará I, que foi inaugurado em 21 de abril de 1969 (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Administração do Guará., [s.d]). Em setembro de 1969, iniciou-se a urbanização do segundo núcleo, denominado Guará II, que seria inaugurado em 2 de março de 1972. A expansão deu-se no sentido Sul, em direção ao Núcleo Bandeirante. Os novos habitantes eram funcionários públicos dos últimos ministérios transferidos para a nova Capital, industriários e comerciários (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Administração do Guará, [s.d]).

Figura 8- Primeiras casas da Região Administrativa do Guará, 1967.

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Administração do Guará, 2006.

Em 1984, foi implantado na RA X - Guará o Setor de Oficinas Sul (SOF/SUL), atendendo uma reivindicação dos moradores, incomodados com as oficinas que funcionavam em área residencial, bem como dos donos de oficinas, que queriam um local específico para os seus estabelecimentos.

Em 1985, o Governo do Distrito Federal (Governador José Ornellas) implantou um programa de assentamento que transferiu, para o Guará II, 523 famílias residentes nas invasões da Vila União, Guarazinho, Vila Socó e Vila da CEB. Dois anos depois, foi criada mais uma quadra residencial para abrigar outras duzentas famílias oriundas de uma invasão na Super Quadra Norte 110, do Plano Piloto.

Como era comum na concepção de urbanismo que predominava à época (e ainda predomina hoje, no Distrito Federal), os planos do Guará I e II foram desenhados nos gabinetes dos órgãos governamentais de planejamento urbano, sem maiores preocupações com as características naturais da paisagem e condições do terreno. Assim, muitos lotes são localizados em área de nascentes ou nas faixas de proteção de cursos d’água, que no Brasil são alvo de preservação permanente desde 1934, quando foi editado o primeiro Código Florestal (PAVIANI, 2003).

As novas ocupações urbanas planejadas pelo Governo do Distrito Federal para a RA X - Guará são:

- O Setor Habitacional Vertical Sul (SHVS SOF - Park Sul), em área de 72,5 hectares localizada junto ao trevo do Park Shopping, que engloba duas

glebas do Parque Ecológico Ezechias Heringer. O SHVS seria formado por vários condomínios residenciais verticais, com prédios de sete a vinte e sete andares: um acréscimo populacional estimado em 26 mil pessoas. Em 29 de outubro de 2001, a organização não governamental Patrulha Ecológica, entrou com uma ação civil pública contra a Terracap, junto à Vara da Fazenda Pública de Brasília, com pedido de concessão de liminar para a paralisação de qualquer ação tendente à implantação do novo setor, por vários motivos, dentre eles a falta de um estudo de impacto ambiental (PATRULHA ECOLÓGICA, [s.d.]).

- A criação das Quadras 48, 50, 52, 54 e 56 do Guará II, aprovada em 2006 pelo Conselho de Planejamento Urbano e Territorial do Distrito Federal. O projeto é composto de 1,3 mil lotes e vinte projeções para apartamentos de seis andares, no limite leste do Parque Ecológico Ezechias Heringer, em uma área de 98,92 hectares (CORREIO WEB, 2006).

Na Região Administrativa do Guará, predominam as moradias do tipo casa geminada e apartamento em prédios, ocorrendo também o uso misto indústria- habitação e comércio-habitação, conforme demonstra o Gráfico 1, a seguir.

5.612 24.068 391 56 28 56 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 Apartamento Casa Kitnete Barraco

Prédio comercial/Industrial/Residencial Outros

Gráfico 1- Domicílios urbanos segundo o tipo de residência na RA X em 2004

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004.

No Guará I (FIGURA 9), o gabarito máximo permitido para prédios residenciais é de três andares e, no Guará II (FIGURA 10), de seis andares. As denominadas

Quadras Internas (QI) são destinadas a prédios residenciais e comerciais e, as Quadras Externas (QE), a casas residenciais (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Administração Regional do Guará, 2007).

Figura 9- Vista aérea do Guará I Fonte:SUPERBRASÍLIA, 2007

Figura 10- Vista aérea do Guará II Fonte: SUPERBRASILIA, 2007

O grau de instrução da população residente na RA X é alto (GRÁFICO 2). Cerca de 42% das pessoas cursaram o segundo grau ou níveis superiores de educação. A taxa de analfabetismo, em 2004, era de 1,2%.

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000

35000 Sabe ler e escrever

Alf abetização de adultos Pré-escolar 1º grau incompleto 1º grau completo 2º grau incompleto 2º grau completo Superior Incompleto Superior completo Mestrado Doutorado

Gráfico 2- Grau de instrução dos residentes na RA X em 2004. Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004.

9,5 5,9 17 24,3 26,6 16,6 Até 1 s.m 1 a 2 s.m 2 a 5 s.m 5 a 10 s.m 10 a 20 s.m mais de 20 s.m

A maioria da população da RA X tem renda bruta mensal de 5 a 20 salários mínimos (GRÁFICO 3).

Gráfico 3- Distribuição dos domicílios por classe de renda bruta mensal na RA X em 2004. Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004

As principais atividades exercidas pelos residentes na RA X são administração pública e comércio. Porém, há quase 50 mil pessoas sem remuneração.

No Guará II foi criado, em 2000, um setor de confecções denominado Pólo de Modas, com uma área de 138,5 mil metros quadrados, destinado a abrigar empresas de confecção de roupas, bijuterias e calçados. Porém, encontram-se ali vários outros

usos, tais como oficina mecânica, empresa de telecomunicação, consultório fisioterapêutico e residências. Há também, no Guará II, um Setor de Oficinas, que a exemplo do Pólo de Modas, além de oficinas abriga residências e vários tipos de comércio, dentre eles, padarias, farmácias, armarinhos, restaurantes e bancos.

Quanto aos serviços de saneamento, tem-se que o abastecimento de água e o esgotamento sanitário são realizados quase que totalmente pela rede geral da CAESB. A coleta de lixo, feita pelo sistema de limpeza urbana, é de praticamente 100% (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006a).

No que se refere à infra-estrutura de esporte, cultura e lazer, a RA X - Guará conta com o Centro Administrativo Vivencial e Esportivo (CAVE), onde se encontram o Estádio do CAVE, com 7.398 m² e capacidade para 7.000 espectadores; um kartódromo, com 5.740 m² e capacidade para 1.500 espectadores; um ginásio coberto, com 2.038 m² e capacidade para 1.000 espectadores; e um teatro de arena. Existem também 18 quadras de esporte e 37 praças, localizadas nas quadras residenciais. Em algumas dessas praças, os projetos “É pra Malhar” e “Ginástica nas Quadras” promovem ginástica com acompanhamento de professores.

A Casa da Cultura, vinculada à Administração Regional e com biblioteca pública, promove shows, atividades culturais, eventos tradicionais da cidade, cursos e oficinas. O Arco da Cultura, localizado ao lado da Feira Permanente, realiza shows teatros e atividades diversas. No Salão de Múltiplas Funções ocorrem cursos e eventos. Além disso, a RA X conta com 11 salas de cinema (no Park Shopping), um clube (SESC, no Guará I), um calçadão de 1,7 km para caminhadas, no Guará I, e outro com 8 km, no Guará II.

Em virtude de sua importância para a cultura e o lazer da população do Distrito Federal, bem como por seu papel na conservação do córrego Guará, o Parque Ecológico Ezechias Heringer é descrito a seguir de forma mais detalhada. De acordo com o zoneamento instituído pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do Distrito Federal (Lei Complementar nº 17/97), o Parque situa-se em Área Especial de Lazer Ecológico, uma categoria que abriga Unidades de Conservação de Uso Sustentável, onde é permitido o desenvolvimento de atividades de lazer e educação ambiental.

- Parque Ecológico Ezechias Heringer

O Parque, conhecido localmente como Parque do Guará, é um dos 67 parques urbanos existentes no Distrito Federal, dos quais muitos estão depredados, com ocupações antigas, abrigando chácaras e invasões irregulares e com alto grau de antropização (BRAGA e PIRES, 2000).

A cronologia inicial dos eventos que levaram à criação desse Parque é descrita no Plano Diretor do Parque do Guará (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993), financiado pela empresa Metrô-DF, como medida compensatória pela utilização de parte da área do Parque. Esse Plano tornou-se obsoleto sem que tivesse sido iniciada a sua implementação. Os eventos são os seguintes:

- 1960: a Companhia Urbanizadora da Capital do Brasil (NOVACAP) repassa ao Distrito Federal as áreas dos Parques Zoobotânico, Bioeconômico e Guará, com o objetivo de preservar as margens do córrego Guará.

- 1977: ocorre a primeira regularização do “Parque do Guará”, com a fixação de sua área em 1.348.777,96 m2, por meio do Decreto nº 3.597/97, que aprovou as plantas PR-130/1 e PR-131/1, conforme cópia de documento registrado no Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal (ANEXO A). Todavia, um ano depois, constata-se que essa área havia sido destinada pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) a acréscimos nos Setores de Indústria e Abastecimento e de Inflamáveis.

- 1984: o Decreto nº 7.910/84 homologa a Decisão nº 01/84, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Distrito Federal, que regularizava o Parque do Guará e a ele destinava as Áreas 02, 03 e 04, do Setor de Áreas Isoladas Oeste. Posteriormente, essas áreas são alteradas pelo Decreto nº 8.129/84, que homologa, mais uma vez, a Decisão nº 01/84 do CAU e destina ao Parque as Áreas 28, 29 e 30.

- 1994: com a Lei nº 756, o Parque do Guará passa a denominar-se Parque Ecológico Ezequias Heringer, em homenagem ao eminente botânico e químico, professor da Universidade de Brasília, que realizou vários estudos na região. - 1998: a Lei nº 1.826/98 cria o Parque Ecológico Ezechias Heringer, com área

total de 306,44 hectares, define seus objetivos3 e a localização nas Áreas nº 27 e 28 da Região Administrativa do Guará (RA X), conforme a planta URB nº 26/95 e o Memorial Descritivo MDE 26/95.

As configurações da área original (como Parque do Guará) e da área atual do Parque podem ser constatadas na Figura 11. A Estrada Parque do Guará (EPGU), que conecta a RA X ao Plano Piloto de Brasília, corta o Parque e faz com que seja formado por duas áreas descontínuas4.

De acordo com Costa e Braga (2004), áreas protegidas no modelo de parques urbanos quase sempre ocasionam conflitos entre a população local e os interesses do meio ambiente, uma vez que nem sempre são criadas em atendimento a demandas locais, como também não se procura resolver a situação fundiária, antes de implantá-las.

Identificamos como principal foco do conflito de interesses em torno das políticas ambientais urbanas, a tensão entre o uso público e privado dos recursos econômicos, sociais, culturais, bióticos e abióticos da cidade e de seu entorno. Os recursos sejam eles materiais, como os elementos do quadro natural, ou sócio-culturais como a interação nos espaços de convivência urbana, são, por princípio, públicos. Entretanto, seu uso se dá, na maioria dos casos, de forma privada. A forma pela qual os recursos são utilizados obedece à lógica de valorização do capital no espaço urbano e reflete-se diretamente sobre a qualidade de vida das populações e do espaço urbano em questão, retificando e reproduzindo desigualdades, conflitos e contradições (COSTA ; BRAGA, 2004, p. 199).

3

De acordo com a Lei nº 1.826, de 13/01/98 (art 3º, I, II, III, IV e V), os objetivos do Parque Ecológico Ezequias Heringer são: garantir a preservação dos ecossistemas remanescentes, com recursos bióticos e abióticos; promover a recuperação de áreas degradadas com espécies vegetais nativas da região; proporcionar à população condições para a realização de atividades culturais, educativas e de lazer, em contato harmônico com o meio natural; disciplinar a ocupação da área e incentivar a pesquisa para possibilitar o repovoamento da área com a fauna do cerrado. O Parque deve ser administrado por um conselho gestor composto paritariamente por representantes do Governo do Distrito Federal, de entidades de proteção ambiental e entidades comunitárias, em consonância com um plano diretor.

4

Os limites da Área nº 27 são: Estrada Parque do Guará (EPGU), Estrada Parque de Indústria e Abastecimento (EPIA), Setor de Postos e Motéis Sul (SPMS) e Área Especial 10 do Setor Residencial de Indústria e Abastecimento II (SRIA); e da Área nº 28: Estrada Parque do Guará (EPGU), QE 23 do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Horto do Guará, CAVE, Rede de alta tensão, Área dos Transmissores da Rádio Nacional de Brasília, Setor de Serviços Públicos do SIA, Estrada Parque de Indústria e Abastecimento (EPIA) e Park Shopping (DISTRITO FEDERAL, 1998).

LEGENDA Área original do Parque do Guará - 1977 Área do Parque Ezechias Heringer - a partir de 1998

Figura 11 - Configuração espacial do Parque Ecológico Ezechias Heringer em 1977 e a partir de 1998.

Fonte: GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO. Plano Diretor do Parque do Guará, 1993, p. 21, atualizado pela autora.

Em estudo realizado por Ganem e Leal (2000), o Parque Ecológico Ezequias Heringer é o parque do Distrito Federal a apresentar o maior número de ocupações irregulares, representadas por moradores permanentes (chacareiros) e moradores temporários (FIGURAS 12 e 13, respectivamente). Essas ocupações são apontadas como o principal fator de alteração da biodiversidade local e da qualidade da água do córrego Guará.

Com uma paisagem típica de Cerrado - veredas, matas de galeria, campo de murundus, campo sujo e cerrado sensu stricto -, o Parque teve sua vegetação natural reduzida às matas de galeria, pela urbanização do entorno e pela ação de chacareiros (FIGURA 14). Na Área 27, a maior parte de vegetação foi degradada e o solo apresenta processos erosivos. O mesmo ocorreu na área 28, principalmente na margem direita do córrego Guará, que: “Em função da ocorrência de água, foi objeto de ocupação por chácaras cm atividades de pequenas magnitudes, pomares

e pequenas barragens” (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993. p. 24).

Figura 12 - Habitação permanente na Área 28 do Parque Ezechias Heringer Fonte:Google ,2007 .

Figura 13 - Habitação temporária na Área 27 do PEEH. Fonte: MENDONÇA, 2003

Figura 14 - Desmatamento na Área 28 do Parque Ecológico Ezechias Heringer, 2001. Fonte: A autora.

As ocupações irregulares interferem diretamente no meio ambiente, como denuncia Souto Maior (CORREIO BRAZILIENSE, de 15/07/2005): “A presença de moradores em um parque vai contra a finalidade para a qual ele foi criado, restringe o direito de uso da população e causa impacto ambiental. Para fazer uma casa, é preciso desmatar, retirar água, despejar esgoto e depositar o lixo. Se muita gente fizer isso em um parque, ao mesmo tempo, não há como conservá-lo”.

Todavia, apesar da pressão antrópica, o número de espécies de flora nativa ainda preservadas chama a atenção: 53 espécies de árvores, 59 de arbustos e 72 de orquídeas, o que corresponde a mais de 30% da flora de orquídeas do Distrito Federal.

Registra-se, também, a ocorrência de plantas em extinção, como o Podocarpus brasiliensis, única espécie de pinheiro nativo existente no Distrito Federal5. Dentre as dezenove espécies existentes de flora exótica, foram identificadas dezesseis espécies de árvores frutíferas, algumas formando pomares em áreas de preservação permanente (APP).

A Lei Complementar nº 265/99 (DISTRITO FEDERAL, 1999) define os Parques Ecológicos e de Uso Múltiplo do Distrito Federal como Unidades de Uso Sustentável (art. 3º) e proíbe o uso residencial, permanente ou temporário, no seu interior, ressaltando que: “§ 1º O disposto no caput não se aplica única e exclusivamente à moradia temporária do Administrador em exercício”. Respaldada nessa Lei Complementar, a extinta Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação (COMPARQUES) removeu do Parque, em 2004, cerca de 200 famílias de chacareiros.Em novembro de 2005, outras 157 famílias foram transferidas para Samambaia, porém, 69 famílias ainda permanecem na área, por decisão judicial.

5

De acordo com o Plano Diretor (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993), as fitofisionomias encontradas no Parque são: Brejo - ecossistema de origem antrópica, com vegetação herbácea-arbustiva, nas planícies permanentemente encharcadas (área da Lagoa de Estabilização); Campo úmido estacional - relaciona-se a solos rasos, sujeitos à inundação em um período do ano. Naturalmente, é uma área de gramíneas e campos de murundus. No Parque, está localizado nas bordas da mata de galeria do Córrego Guará. Encontra-se bastante alterado por processo de degradação, com alta densidade de plantas invasoras. Os campos de murundus foram drenados e arados, tendo sido extintos; Campo sujo de cerrado - nessa formação, a predominância é de gramíneas de até 1 metro, sendo que os arbustos e subarbustos estão distribuídos esparsamente e não ultrapassam 3 m de altura. No Parque, o campo sujo foi totalmente destruído em algumas áreas, devido principalmente à retirada de cascalho. Está presente apenas em um pequeno espaço, na Área 27; Cerrado sensu stricto - caracteriza-se por estrato arbóreo de até 8 m de altura, com árvores retorcidas, de casca grossa, galhos tortuosos e folhas espessas. Essa formação ocupava a maior área do Parque, apresentando descaracterização a partir de 1986. Foram enumeradas 47 espécies na área de estudo, todavia, as áreas remanescentes não foram identificadas no levantamento; Mata de galeria - considerada área de preservação permanente (APP), é uma formação localizada ao longo de cursos d’água e cabeceiras de nascentes. Atinge porte arbóreo de até 30 metros.

- Reserva Ecológica do Guará

Localizada entre o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e o Guará I, a Reserva Ecológica do Guará6 é uma unidade de conservação de uso restrito à pesquisa científica, com acesso sujeito à autorização prévia do órgão ambiental. É seccionada pela Rodovia DF-085 (EPTG), conforme pode ser observado na Figura 15.

Figura 15 - Reserva Ecológica do Guará Fonte: Google,2007.

Criada pelo Decreto nº 11.262, de 16 de setembro de 1988, compreende uma área de 194 hectares, destinada à proteção da Mata Ciliar e nascentes do córrego Guará, bem como dos Campos de Murundus e do Cerrado, ali existentes. Exerce uma função muito importante ao formar um corredor ecológico com a ARIE do

6

A categoria Reserva Ecológica foi instituída no Brasil pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do Meio Ambiente), e regulamentada pelo Decreto nº 89.336, de 31 de janeiro de 1994. Constitui área de preservação permanente, de acesso restrito à pesquisa científica. Tem como objetivos abrigar exemplares de fauna e flora ameaçados de extinção e proteger nascentes, lagoas, matas ciliares, veredas, encostas, topos de morros, montes e montanhas.

Riacho Fundo e do Jardim Zoológico, permitindo o trânsito da fauna entre essas áreas e o Lago Paranoá (DISTRITO FEDERAL, 2007).

De acordo com Fonseca (2001), na Reserva encontram-se espécies endêmicas e raras da flora do Distrito Federal, como o Pinheiro do brejo (Podocarpus brasiliensis) e várias espécies de orquídeas, e fauna típica de Mata Ciliar. Dentre as fitofisionomias do Cerrado, foram identificados: Brejo, Campo Úmido Estacional, Campo Sujo de Cerrado.

Durante a década de 1960, Ezechias P. Heringer iniciou o levantamento da flora das Orchidaceae da Reserva, que resultou em uma coleção com cerca de 50 espécies. Segundo Batista et. al. [s/d]:

Para todo o bioma cerrado, a Reserva Ecológica do Guará, embora com área pequena, representa a localidade conhecida com maior número de táxons de Orchidaceae. [...], rivaliza ou mesmo sobrepuja, em número de táxons, outras áreas consideradas ricas em diversidade para a família e pertencentes a outros biomas.

Na Reserva, a área oposta ao Guará I está preservada quanto aos aspectos físicos e biológicos, apesar da drenagem da Rodovia levar ao córrego Guará sujeiras e óleo, depositados na rodovia EPTG. Todavia, a área onde se encontram as nascentes do córrego encontra-se sob pressão antrópica: “(...) próximo à linha férrea se encontra uma comunidade de catadores de lixo que exerce uma significativa degradação na região, espalhando lixo, desmatando, cavando poços e utilizando a água para vários usos” (STARLING; GONÇALVES, 2004, p. 38).

3.2.2 Região Administrativa do Setor de Indústria e Abastecimento (RA XXIX -