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Efeitos da ocupação urbana na sustentabilidade ambiental do córrego Guará, Distrito Federal

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TÂNIA MARIA FARIA DOS PASSOS

EFEITOS DA OCUPAÇÃO URBANA NA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CÓRREGO GUARÁ, DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental, da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Área de Concentração: Planejamento e

Gestão Ambiental.

Orientadora: Sueli Corrêa de Faria

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P289e Passos, Tânia Maria Faria dos.

Efeitos da ocupação urbana na sustentabilidade ambiental do Córrego Guará, Distrito Federal / Tânia Maria Faria dos Passos. – 2007.

106 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2007.

(3)

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA Tânia Maria Faria dos Passos

EFEITOS DA OCUPAÇÃO URBANA NA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CÓRREGO GUARÁ, DISTRITO FEDERAL

Dissertação aprovada em 18 de dezembro de 2007 para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental.

Banca Examinadora:

______________________________________________ Profª Dra. Sueli Corrêa de Faria - UCB

Orientadora

_______________________________________________ Dra. Jacqueline Low-Beer

Examinador Externo

_______________________________________________ Prof. Dr. Flávio Giovanetti de Albuquerque - UCB

(4)

À minha mãe, Téa; ao meu irmão, João Carlos; e aos meus filhos, Víctor, Tayná, Talyta e Marcos Aurélio;

Ao meu avô, Crisanto (in memoriam),

A meu pai, João Passos (in memoriam), tio Antônio (in memoriam), avó Victalina (in memoriam), tia Talita, primos Antônio Ricardo e Marcelo, cunhadas Ana Vitória e Michele, sobrinhos Felipe, Letícia e Ana Clara, e ao amigo de todas as horas Sr. Jéferson, (minha “pequena grande família”), pela união, cumplicidade, carinho e torcida.

Ao meu marido, Marcos Aurélio, pelo apoio, companheirismo e compreensão.

À Lucinha (in memorian), pelo exemplo de coragem, resignação e amor à vida.

(5)

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Doutora Sueli Corrêa de Faria,

pelo carinho, paciência, amizade e pelos conhecimentos

transmitidos.

A todo o corpo docente doPrograma de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental, da Universidade

Católica de Brasília, em especial, aos Professores Antônio

José, Paulo Carneiro e Gustavo Baptista, pelas preciosas

contribuições.

Aos Professores Doutores Jacqueline Doris Low-Beer e Flávio

Giovanetti Albuquerque, que aceitaram participar da banca

examinadora.

A todos os amigos do Mestrado, pela alegria, amizade e

diferenças, que fizeram com que a Turma 2004 fosse a melhor,

em todos os sentidos.

À Eni, que me ajudou a não desistir.

Aos outros componentes de meu grupo de estudo, que deu

certo mesmo “entre tapas e beijos”: Kalley e Wender, pelos

momentos inesquecíveis.

À Gleusa, pela sinceridade, apoio, conselhos e críticas.

À amiga tão especial, Samara, pela torcida, amizade e apoio.

Aos amigos do Centro Educacional 02, do Guará, Tarcísio (o

Chefe), Vera, Denise, Zênia, Rita, Ana Adélia, Cleide, Eleude,

Cássia, Simone, Angélica, Aluísio, Neusa, Ágatha, Antônio

Carlos e Patrícia, que me incentivaram desde o começo, pela

amizade e pela torcida.

Ao meu amigo Gustavo, pela alegria, tranqüilidade, torcida e

pelas vezes que me substituiu no trabalho, para que eu

pudesse terminar a dissertação.

Aos meus amigos espirituais, pelos ensinamentos.

E, principalmente, a Deus, que colocou todas essas pessoas

tão especiais no meu caminho e me deu a oportunidade de

agradecer a cada uma delas, por meio da realização de um

(6)
(7)

RESUMO

Esta dissertação analisa os efeitos da ocupação urbana na sustentabilidade ambiental do córrego Guará, um dos principais contribuintes do Lago Paranoá, no Distrito Federal. A área de drenagem do córrego representa 13,6% da área da sub-bacia do Riacho Fundo, que abriga os usos antrópicos mais agressivos e apresenta a pior qualidade de água dentre as cinco sub-bacias que compõem a bacia do Lago Paranoá. O entorno do córrego é ocupado, à direita, pelo Guará I e II, Candangolândia e Setor de Postos e Motéis; à esquerda, pelo Setor de Inflamáveis, Setor de Indústria e Abastecimento, Setor de Oficinas Sul e Jardim Zoológico de Brasília. Nessa área, os usos antrópicos tipicamente urbanos – habitação individual e coletiva, comércio, prédios administrativos, garagem de veículos pesados, oficinas, armazenamento de cargas e inflamáveis, parques e áreas de esporte e lazer – são responsáveis por assoreamento, erosão, compactação e impermeabilização do solo, alterações hidrológicas e fragmentação da vegetação. Esses processos afetam a qualidade da água do córrego e, conseqüentemente, do Lago Paranoá. O método utilizado na avaliação da sustentabilidade ambiental do córrego Guará foi a Análise do Risco Ecológico (FARIA, 1996), que possibilita quantificar e espacializar os riscos de danos que as atividades antrópicas representam para os fatores naturais da paisagem e, em conseqüência, para a sustentabilidade do desenvolvimento humano, em um determinado espaço geográfico. Esse método utiliza-se de um modelo que agrega indicadores de sensibilidade dos fatores naturais a danos causados por usos antrópicos e de intensidade de danos potencialmente causados por usos antrópicos aos mesmos fatores naturais, para identificar riscos ecológicos, com base em funções lógicas do tipo e/ou (álgebra booleana). O conhecimento científico dos riscos ecológicos que ameaçam a sustentabilidade do córrego Guará orienta para um ordenamento do uso do solo mais comprometido com a conservação dos recursos hídricos em espaços urbanos.

PALAVRAS-CHAVE: ocupação urbana, planejamento ambiental, planejamento ecológico, análise do risco ecológico, recursos hídricos, córrego Guará (Brasília, Distrito Federal).

(8)

ABSTRACT

This dissertation analyses the effects of urban occupation on the environmental sustainability of the Guara stream, one of the main contributors to the Paranoa reservoir, in Brasilia, Brazil. The drainage area of this stream represents 13,6% of the Riacho Fundo basin, which houses the most aggressive human uses and presents the worst water quality within the five small basins that compose the Paranoa one. The surroundings of the stream are occupied by the urban settlements Guara I, Guara II and Candangolandia, and by Sector of Gas Stations and Motels at the right side; at the left side, they are occupied by Sector of Inflammables, Sector of Industry and Supply, Sector of Garage and the Zoological Garden of Brasília. It is an area of typical urban uses – individual and collective housing, commerce, administrative buildings, garages for heavy vehicles, storage of loads and inflammables, parks, and sports and recreation plots. Such uses have been responsible for silting-up, erosion, compact andimpervious soil, hydrological alterations, and vegetation fragmentation. These processes affect the water quality of the stream and, as a consequence, of the Paranoa reservoir. The method used for evaluation of the environmental sustainability of the Guara stream was the Ecological Risk Analysis (FARIA, 1996), which allows the quantification and space delimitation of the risk of damages presented by the human activities over the landscape's natural factors and, consequently, to human development sustainability, within a determined geographical space. It makes use of a model that aggregates indicators for measuring the natural factors sensitivity to damages caused by the human uses, and indicators for the intensity of damages potentially caused by human uses to the same natural factors. The aggregation method is based on logical functions of type and/or (Boolean algebra). The scientific knowledge about the ecological risks that threaten the Guara stream's sustainability is helpful to guide actions towards an urban land use committed to the hydrological resources conservation.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABRH - Associação Brasileira de Recursos Hídricos

ANA - Agência Nacional de Águas

APA - Área de Proteção Ambiental

APP - Área de Preservação Permanente

ARE - Análise de Risco Ecológico

ARIE - Área de Relevante Interesse Ecológico

CAESB - Companhia de Saneamento do Distrito Federal

CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo

CAVE - Centro Administrativo Vivencial e Esportivo

CEASA - Central de Abastecimento do Distrito Federal

CEEIBH - Comitê Especial do Meio Ambiente

CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos

COAMA - Coordenação de Assuntos de Meio Ambiente

CODEPLAN - Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central

COMPARQUES- Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação do Distrito Federal

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

DF - Distrito Federal

(10)

EPGU - Estrada Parque do Guará

EPIA - Estrada Parque Indústria e Abastecimento

EPTG - Estrada Parque de Taguatinga

ETE - Estação de Tratamento de Esgoto

GDF - Governo do Distrito Federal

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHAB - Instituto de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

JZB - Jardim Zoológico de Brasília

NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Capital do Brasil

OD - Oxigênio Dissolvido

ONU - Organização das Nações Unidas

PDAD - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio

PDOT - Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal

PEEH - Parque Ecológico Ezechias Heringer

PEOT - Plano Estrutural de Organização Territorial do Distrito Federal

PLANIDRO - Plano Diretor de Água e Esgoto e Controle da Poluição do Distrito Federal

(11)

POUSO - Plano de Ocupação e Usos do Solo no Distrito Federal

PNRH - Plano Nacional de Recursos Hídricos

QELC - Quadras Econômicas Lúcio Costa (Distrito Federal)

RA - Região Administrativa

SEDUH - Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal (extinta em 2007))

SEDUMA - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal

SEEDF - Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal

SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente (extinta)

SEMARH - Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal (extinta em 2007)

SEMATEC - Secretaria Extraordinária de Meio Ambiente Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (extinta)

SGCV - Setor de Garagens e Concessionárias de Veículos (Distrito Federal)

SGTC - Setor de Garagens de Transporte Coletivo (Distrito Federal)

SHVS - Setor Habitacional Vertical Sul (Distrito Federal)

SIA - Setor de Indústria e Abastecimento (Distrito Federal)

SIN - Setor de Inflamáveis (Distrito Federal)

SINGREH - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

(12)

SMPW - Setor de Mansões Park Way (Distrito Federal)

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SOF- SUL - Setor de Oficinas Sul (Distrito Federal)

SPMS - Setor de Postos e Motéis Sul (Distrito Federal)

SPO - Setor Policial (Distrito Federal)

SRIA - Setor Residencial de Indústria e Abastecimento (Distrito Federal)

STRC - Setor de Transporte Rodoviário e de Cargas (Distrito Federal)

(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Esquema básico da Análise de Risco Ecológico...35

Figura 2- Estrutura formal de uma árvore de avaliação. ...36

Figura 3 - Matriz de integração para obtenção do Risco Ecológico. ...37

Figura 4- Mapa da sub-bacia do córrego Guará, Distrito Federal ...39

Figura 5- Imagem satélite da sub-bacia do córrego Guará, Distrito Federal ...40

Figura 6 - Unidades hidrográficas da bacia do Lago Paranoá...41

Figura 7– Localização do córrego Guará na bacia do Lago Paranoá. ...42

Figura 8- Primeiras casas da Região Administrativa do Guará, 1967. ...45

Figura 9- Vista aérea do Guará I ...47

Figura 10- Vista aérea do Guará II ...47

Figura 11 - Configuração espacial do Parque Ecológico Ezechias Heringer em 1977 e a partir de 1998. ...52

Figura 12 - Habitação permanente na Área 28 do Parque Ezechias Heringer...53

Figura 13 - Habitação temporária na Área 27 do PEEH...53

Figura 14 - Desmatamento na Área 28 do Parque Ecológico Ezechias Heringer, 2001. ...53

Figura 15 - Reserva Ecológica do Guará ...55

Figura 16- Região Administrativa do SIA - RA XXIX ...57

Figura 17- Área urbana da Região Administrativa da Candangolândia - RA XIX...58

Figura 18- Sede da NOVACAP - 1956 ...58

Figura 19- Alojamento dos candangos - 1956...59

Figura 20- Rua dos Engenheiros - 1956 ...59

Figura 21 - Configuração espacial do Jardim Zoológico de Brasília...60

Figura 22 - Níveis de integridade química do córrego Guará, 2004. ...67

Figura 23 – Níveis de integridade física do córrego Guará – 2005 ...69

Figura 24 – Níveis de integridade biótica no córrego Guará – 2005 ...71

Figura 25 - Árvore de avaliação da sensibilidade do córrego Guará a danos. ...73

Figura 26 - Mapa de sensibilidade do córrego Guará a danos causados por usos antrópicos localizados na sub-bacia. ...76

Figura 27 - Interrupção da mata de galeria na Área 27 do Parque Ecológico Ezechias Heringer. ...78

Figura 28 – Assoreamento e lixo no córrego Guará, no PEEH. ...79

Figura 29 - Depósito de lixo na Área 28 do Parque Ecológico Ezechias Heringer. ..79

Figura 30 – Criação de cabras na Área 28 do PEEH. ...79

(14)

Figura 32 – Ferro velho no Setor de Oficinas Sul , adjacente ao PEEH. ...81 Figura 33 – Campo de treinamento na área externa do Estádio do CAVE com o

Parque Ecológico Ezechias Heringer em segundo plano – 2007...82 Figura 34 - Árvore de Intensidade de danos ao córrego Guará. ...86 Figura 35- Mapa de intensidade de danos potenciais causados por usos antrópicos

(15)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Breve histórico da evolução da gestão dos recursos hídricos no Brasil...31 Quadro 2 - Resultados da análise da água coletada no córrego Guará em março de

2004 ...66 Quadro 3 - Avaliação dos parâmetros de integridade física do córrego Guará - 2005

...68 Quadro 4 - Avaliação da integridade biótica do córrego Guará - 2005...70 Quadro 5– Indicadores de sensibilidade do córrego Guará a danos causados por

(16)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Domicílios urbanos segundo o tipo de residência na RA X em 2004 ...46 Gráfico 2- Grau de instrução dos residentes na RA X em 2004...48 Gráfico 3- Distribuição dos domicílios por classe de renda bruta mensal na RA X em

2004. ...48 Gráfico 4- Domicílios urbanos segundo o tipo de residência na RA XIX -

Candangolãndia. ...61 Gráfico 5- Distribuição dos domicílios por classe de renda da RA XIX -

Candangolândia ...62 Gráfico 6– Distribuição da população urbana residente com 10 anos e mais de idade

...62 Gráfico 7- População urbana residente por grau de instrução na RA XIX -

(17)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...18

1 INTRODUÇÃO...19

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ...19

1.2 OBJETIVOS ...20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...22

2.1 OCUPAÇÃO DO SOLO E MEIO AMBIENTE NO DISTRITO FEDERAL...22

2.2 SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS...27

2.3 RISCO ECOLÓGICO...33

3 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: SUB-BACIA DO CÓRREGO GUARÁ 39 3.1 CÓRREGO GUARÁ ...40

3.2 SUB-BACIA DO CÓRREGO GUARÁ...43

3.2.1 Região Administrativa do Guará (RA X - Guará) ... 44

3.2.2 Região Administrativa do Setor de Indústria e Abastecimento (RA XXIX - SIA) ... 56

3.2.3 Região Administrativa da Candangolândia (RA XIX) ... 57

4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...63

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO...65

5.1 SENSIBILIDADE DO CÓRREGO GUARÁ A DANOS CAUSADOS POR USOS ANTRÓPICOS NA SUB-BACIA ...65

5.2 INTENSIDADE DE DANOS POTENCIAIS CAUSADOS POR USOS ANTRÓPICOS AO CÓRREGO GUARÁ ...77

5.3 RISCO ECOLÓGICO NO CÓRREGO GUARÁ ...89

6 CONCLUSÕES...92

(18)

ANEXO A PRIMEIRA REGULARIZAÇÃO DO PARQUE ECOLÓGICO EZECHIAS HERINGER ...101

ANEXO B PARÂMETROS AVALIADOS NO PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE MANANCIAIS DO DISTRITO FEDERAL, DA CAESB...103

(19)

APRESENTAÇÃO

A análise de como a sustentabilidade ambiental do córrego Guará está sendo afetada pela ocupação urbana de sua bacia de drenagem é apresentada, nesta dissertação, em uma seqüência de seis capítulos.

O primeiro deles, introdutório, contextualiza o problema dos efeitos da ocupação desordenada da sub-bacia do córrego Guará e detalha os objetivos da pesquisa. O segundo capítulo traz uma revisão bibliográfica de temas pertinentes à pesquisa, com foco na ocupação do solo e meio ambiente no Distrito Federal, sustentabilidade dos recursos hídricos e análise de risco ecológico.

O terceiro capítulo oferece um breve histórico e descreve aspectos socioeconômicos das Regiões Administrativas, do Guará, da Candangolândia e do SIA, todas elas inseridas na sub-bacia estudada.

No quarto capítulo, são descritos os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa, onde foi aplicado o método Análise do Risco Ecológico (FARIA, 1996). O quinto capítulo apresenta e discute os resultados obtidos, os quais embasam as conclusões e sugestões que se encontram no sexto capítulo com que se encerra o trabalho.

(20)

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

No Distrito Federal, a expansão acelerada e desordenada da malha urbana pode ser considerada como o principal componente da redução das áreas de cerrado e das alterações nos corpos hídricos. De acordo com Ribas (2004, p. 34),

Brasília cresce e se consolida [...] com uma configuração espacial rarefeita, marcada por grandes vazios urbanos, tendo o Plano Piloto como centro, onde se concentram a oferta de empregos, serviços e equipamentos urbanos coletivos, enquanto as demais cidades são relegadas a certo abandono quanto a estes benefícios urbanos.

Localizado em uma área formada pelas três maiores bacias hidrográficas do país (Tocantins/Araguaia, Paraná e São Francisco), o Distrito Federal é uma região de cabeceiras de drenagem, com rios de pequenas vazões, que sofrem uma pressão crescente da ocupação urbana em suas margens, com graves conseqüências para a qualidade e quantidade da água que abastece ou serve ao lazer da população. Isso porque o crescimento acelerado dos assentamentos urbanos leva à remoção da cobertura vegetal e à impermeabilização dos solos, em um processo que acarreta mudanças nas taxas de infiltração e escoamento das chuvas, e que também provoca aumento da poluição dos recursos hídricos (MAIOR, 2006).

Silveira (2004, p. 91) afirmam que:

[...] as possibilidades de abastecimento para o DF, no futuro, podem estar comprometidas devido, principalmente, à ocupação irregular urbana e seus efeitos, como poluição da água (lixo e esgoto), erosão do solo e assoreamento dos rios, e impermeabilização do solo. Estima-se que, atualmente, cerca de 400.000 pessoas utilizem a água proveniente de fontes subterrâneas.

(21)

moradores se instalaram às margens do ribeirão Riacho Fundo, dando origem à Cidade Livre (atual Região Administrativa do Núcleo Bandeirante). Posteriormente, a área passou a abrigar: Guará, Cruzeiro, Candangolândia, Setor de Indústria e Abastecimento, Aterro do Jóquei, Setor de Oficinas Sul, Setor Policial, Setores de Combustíveis, Aeroporto Internacional de Brasília, CEASA, parte da SMPW, parte do Setor Militar Urbano e parte de Brasília e Águas Claras.

Em conseqüência da ocupação intensiva, dos desmatamentos, da remoção da mata ciliar, da exposição e degradação dos solos, de movimentações de terra e da impermeabilização do solo, tem-se um aporte considerável de sedimentos no ribeirão Riacho Fundo, que está gerando o assoreamento do braço sul do Lago Paranoá. Até mesmo a Reserva Ecológica do Guará, onde se encontram as nascentes do córrego Guará, e o Parque Ecológico Ezechias Heringer, contíguo à Reserva, são alvo de ocupações irregulares, o que contribui para a degradação dos recursos hídricos, na bacia do Lago Paranoá.

Ressalte-se que, em 1970, com o Plano Diretor de Água, Esgoto e Controle da Poluição do Distrito Federal (PLANIDRO), o Governo do Distrito Federal procurou estabelecer um limite populacional para a área do Plano Piloto e recomendou a não ocupação dos espaços livres, na bacia do Lago Paranoá (SILVEIRA, 2004).

1.2 OBJETIVOS

- Objetivo geral

Esta pesquisa procura analisar de que forma a sustentabilidade ambiental do córrego Guará, no Distrito Federal, é afetada pela ocupação urbana de sua sub-bacia.

- Objetivos específicos

a. Caracterizar a estrutura atual de uso e ocupação do espaço, na sub-bacia do córrego Guará, bem como os seus condicionantes legais e institucionais;

(22)

c. Analisar a intensidade de danos potenciais ao córrego Guará em decorrência dos usos antrópicos existentes na sua sub-bacia;

(23)

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 OCUPAÇÃO DO SOLO E MEIO AMBIENTE NO DISTRITO FEDERAL

No Brasil, a urbanização verificou-se inicialmente no Recôncavo Baiano e na Zona da Mata do Nordeste, a partir do século XVIII, época em que a assim chamada “casa da cidade” tornava-se a residência principal dos senhores de engenho.

Segundo Santos (2005), a base do povoamento brasileiro, com o surgimento das cidades, foi a expansão da agricultura comercial e a exploração mineral. A mecanização da produção e do território trouxe novo impulso e nova lógica ao processo de urbanização: “Subordinado a uma economia natural, as relações entre lugares eram fracas, inconstantes, num país com tão grandes dimensões territoriais” (SANTOS, 2005, p. 22).

O índice de urbanização no Brasil pouco se alterou, entre o fim do período colonial e o fim do século XIX. A população urbana cresceu de 6,8% para 10,7%, entre 1890 e 1920. Porém, veio a triplicar, passando de 10,7% para 31,24%, no período de 1920 a 1940, quando o número dos residentes em áreas urbanas saltou de cerca de 4 milhões para 6 milhões de habitantes (VILLELA; SUZIGAN, 1973 apud SANTOS, 2005).

Entre 1940 e 1980, enquanto triplica a população brasileira total, a população urbana multiplica-se sete vezes e meia, chegando a 68,86%:

É apenas após a Segunda Guerra Mundial que a integração do território se torna viável, quando as estradas de ferro até então desconectadas na maior parte do país, são interligadas, constroem-se estradas de rodagem, pondo em contato as diversas regiões entre elas e com a região polar do país, empreende-se um ousado programa de investimentos em infra-estruturas. [...] O país se torna um grande exportador de produtos agrícolas não tradicionais (soja e cítricos), parcialmente beneficiados antes de se dirigiram ao estrangeiro, quanto de produtos industrializados (SANTOS, 2005, p. 39).

(24)

ecossistemas naturais. A construção do meio urbano ocorre por meio “da inserção de novos elementos advindos do desenvolvimento técnico e tecnológico e dos meios de produção da sociedade”.

Para Rolnik (2005), no Brasil, a urbanização acelerada e desordenada1, ocorrida a partir da década de 1960, além de evocar progresso e desenvolvimento, acelerou o processo de comprometimento ambiental e passou a retratar e reproduzir as injustiças e desigualdades da sociedade. A cidade, então, passou a ser dividida entre a porção legal, rica e com infra-estrutura, e a ilegal, pobre e precária. A população, que está em situação desfavorável, acaba tendo pouco acesso às oportunidades de trabalho, cultura ou lazer, e passa a ocupar áreas periféricas, sem infra-estrutura, ou áreas ambientalmente frágeis. Essa ocupação irregular provoca vários problemas, tais como: erosões, enchentes, contaminação dos recursos hídricos, excesso de resíduos sólidos, etc.

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) e a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, que instituiu o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) estabeleceram novas regras e instrumentos orientadores para o planejamento e gestão urbana e, em 2003, foi criado o Ministério das Cidades, fortalecendo a idéia de que os assuntos de política urbana e territorial devem receber tratamento prioritário por parte do Governo.

No Distrito Federal, o modelo de crescimento e expansão urbana não é diferente daquele encontrado no restante do país. As atitudes governamentais com relação à ocupação do espaço pautaram-se pela crença em uma ilimitada abundância territorial, na permanência de baixos custos energéticos e no estrito controle demográfico. Lúcio Costa afirmou na época: “No caso de Brasília, tratava-se de conceber uma cidade para a capital do país no deserto, na savana, como se fosse na Sibéria, compreende? Não tinha nada, não tinha paisagem. A cidade não tinha que se adaptar a nenhuma ambientação local” (TAMANINI, 2003, p.190).

Com o propósito de ser o centro do poder político do país e considerando que sua construção se configurou em um excelente atrativo de postos de trabalho, além de uma grande esperança de vida nova, Brasília arregimentou, para sua construção, um fenomenal exército de imigrantes, dos quais os trabalhadores representavam a maior parte, o que, já de início, criou uma série de problemas sociais, ambientais e

1

(25)

urbanísticos causados por aquele êxodo.

O Governo do Distrito Federal durante a década de 1970, tentou atenuar as correntes migratórias fechando seu espaço urbano. A principal preocupação era assentar a população migrante fora da Bacia do lago Paranoá, objetivando assegurar a capacidade limite do lago e a preservação de Brasília como cidade administrativa (OLIVA, 2001). Segundo Paviani (2003), esta foi uma ação indireta importante na periferização: a população de baixa renda foi empurrada para além dos limites do Distrito Federal, seja em terrenos legalizados pelo esquema especulativo, seja em terras invadidas.

Luciene Silva explica a origem da periferização:

Na implantação, a imagem central estava alicerçada no discurso da cidade igualitária, ideal, capital da esperança, em que o sonho deveria ser desfrutado igualmente entre todos e buscava o apoio político para a transferência da capital. No entanto, na prática, iniciou-se a separação das classes inferiores por meio da criação de cidades distantes de Brasília em até 40 km. As práticas de uso do território foram entre elas a possibilidade de lucros decorrentes da rápida valorização da terra urbana equipada pelo governo no Plano Piloto (SILVA, 2003, p. 58)

A divisão do território do Distrito Federal em Regiões Administrativas foi estabelecida pela Lei nº 4.545/64, que instituiu as Administrações Regionais, às quais cabe representar o Governo distrital e promover a coordenação dos serviços com o interesse público local. Atualmente, são 29 as Regiões Administrativas do Distrito Federal, com algumas cidades distanciando-se até 75 quilômetros entre si e até 45 quilômetros do Plano Piloto de Brasília (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004).

Em 1970, a empresa PLANIDRO elaborou o Plano Diretor de Água, Esgoto e Controle da Poluição do Distrito Federal, com a finalidade de proteger a bacia do Lago Paranoá. Esse plano recomendava o não adensamento dos espaços livres na bacia.

(26)

Distrito Federal - PEOT, que indicou o Eixo Taguatinga - Ceilândia - Gama como o mais adequado em termos de transporte, abastecimento de água e esgotamento sanitário. Na década de 80, foram elaborados o Plano de Ordenamento Territorial - POT (1985) e o Plano de Ocupação e Uso do Solo do Distrito Federal - POUSO (1986-1990), sendo que este último Plano continha diretrizes relativas à preservação ambiental.

Um documento decisivo, em termos de reflexões sobre o uso do solo do Distrito Federal, é o texto “Brasília Revisitada 85-87”, elaborado por Lúcio Costa, por solicitação do Governador José Aparecido de Oliveira , que constitui o anexo I do Decreto 10.829/1987 (COSTA, 1987), que trata do tombamento de Brasília. Nele, o urbanista preocupa-se em complementar e preservar as características do Plano Piloto e propõe a criação de seis áreas de expansão.

Na década de 1990, foi instituída uma política de implantação de Parques ecológicos urbanos. Em 1992, a Assembléia Legislativa aprovou o Plano Diretor de Ordenamento Territorial - PDOT, que foi revisado em 1997.

Oliveira (2004, p. 1) afirma que:

Hoje, com apenas 44 anos, o Distrito Federal tem uma população superior a dois milhões de habitantes, e por isso encontra-se com os mesmos problemas das grandes metrópoles, de países em desenvolvimento, como, por exemplo: um alto índice de desemprego; um sistema de saúde .sucateado; e um dos mais graves para a questão ambiental, a falta de moradia, especialmente para as classes baixa e média, o que tem promovido a ocupação desordenada do solo urbano. Essa situação aliada à falta de planejamento para o ordenamento territorial nas áreas localizadas fora dos limites estabelecidos para o Plano Piloto [...] tem contribuído, e muito, para o surgimento de situações de desmando por parte de especuladores, tal como a geração de parcelamentos irregulares de toda natureza, inclusive com invasão de terras públicas.

Steinberger (2003) identifica os seguintes períodos, na história ambiental do Distrito Federal:

(27)

propor a divisão do Distrito Federal em três áreas: metropolitana, núcleos satélites e rural. Em 1970, o Plano Diretor de Água e Esgoto e Controle da Poluição do Distrito Federal faz recomendações quanto à ocupação urbana em relação aos recursos hídricos.

1974-1985 - O Decreto nº 2.739/74 ordena a formulação de um Plano Diretor para o Distrito Federal, referendando as três áreas propostas no Código Sanitário de 1966. No ano seguinte, realiza-se um zoneamento sanitário. Áreas de preservação e de conservação são delimitadas, em 1977, no Plano de Expansão e Organização Territorial (PEOT). São elaborados o Plano de Ordenamento Territorial - POT (1985) e o Plano de Ocupação e Uso do Solo do Distrito Federal - POUSO (1986-1990),

bem como criados o Parque Ecológico do Guará (1984) e o Jardim Botânico (1985).

1986-1989 - São criadas a Estação Ecológica da Universidade de Brasília e a APA da Bacia do Gama/Cabeça de Veado (1986); a APA do Cafuringa, as ARIE Santuário de Vida Silvestre do Riacho Fundo e do Lago Paranoá, as Reservas Ecológicas do Gama e do Guará (1988); a ARIE dos córregos Taguatinga e Cortado, e a APA do Lago Paranoá (1989). Em 1986, são criadas a Coordenação de Assuntos de Meio Ambiente (COAMA) e a Secretaria Extraordinária de Meio Ambiente Ciência e Tecnologia (SEMATEC).

1990-2003 - Instituídas dezenove novas Unidades de Conservação, elaborado o Mapa Ambiental (2000) pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH); legalizada a área da Reserva da Biosfera do Cerrado; criado o Pólo Ecológico de Brasília e aprovado o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT).

Steinberger (2003, p. 279) conclui que, apesar do significativo número de Unidades de Conservação de âmbito distrital, representando 42% da área do Distrito Federal, e da farta legislação, não houve uma legítima preocupação ambiental quando no seu planejamento inicial:

(28)

imenso volume de decisões tomadas, em que um relativamente curto espaço de tempo, confunde e dá a falsa impressão de que existe uma grande preocupação ambiental no Distrito Federal. Trata-se de uma falácia, pois essas ações, na sua maioria, foram pontuais, refletindo posturas isoladas que alimentaram vários conflitos sobre o território e não formam um conjunto coeso.

2.2 SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

O conceito de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland (ONU, 1991) - “aquele que se propõe a satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras” - tem sido interpretado de diversas formas. Segundo Fenzl (1998), a diversidade de interpretações deve-se à abstração e à falta de elementos mensuráveis. De um modo geral, levam-se em consideração dois princípios básicos: a taxa de consumo dos recursos renováveis deve ser menor que a sua capacidade de renovação; e a quantidade de resíduos produzidos deve ser menor que a capacidade de absorção dos ecossistemas.

Gouvêa (2003) considera que o conceito de sustentabilidade é interpretado de forma diferente em cada cultura, uma vez que as necessidades e o ponto de vista da conservação e manutenção dos recursos naturais diferem em cada região do planeta: “o que pode, por exemplo, ser considerado ótimo para um tuaregue do Saara, certamente não é o mais adequado a um nova-iorquino ou a um cidadão da região do Planalto Central brasileiro” (GOUVÊA, 2003, p. 303).

Capra (2003) afirma que é necessária uma definição operacional de sustentabilidade, com a consciência de que não é necessário inventar uma comunidade sustentável, mas modelá-la de acordo com os ecossistemas naturais. Segundo Romero (2003), o conceito de sustentabilidade definido no Relatório Brundtland é uma noção equivocada, uma vez que não leva em consideração a diversidade social e as formas de apropriação e uso dos recursos naturais. Para a autora, as diferenças culturais e históricas dos espaços construídos, ou seja, os fundamentos que definem as feições diferenciadas, são a premissa fundamental do urbanismo sustentável:

(29)

Para Guillén (2004, p. 62), o conceito de sustentabilidade deve ser percebido como uma idéia revolucionária:

Por que acredito na necessidade de levar a cabo um processo repulsivo, subversor e revolucionário de nossos projetos, de nossos modelos? Porque estamos tratando de destruir aquilo que destrói e, por isso, acredito que estamos construindo. E construímos tratando de conservar o que já vinha sendo construído desde há muito tempo.

A mudança de paradigma não se dará somente com as leis de mercado, uma vez que estas não funcionam completamente para as questões ambientais. O autor destaca dois fatores principais: os recursos naturais em sua maioria são considerados bens livres, ou seja, não possuem preço estipulado; e, mesmo para os recursos naturais que têm preço, o mercado não é justo:

[...] o que esse mercado liberal tem permitido é a concentração de poder em companhias que têm se situado à margem do mercado e cuja atuação, por conseguinte, já não pode ser controlada pelas leis de mercado, pois são elas próprias quem as ditam. Como conseqüência, por esse caminho não poderemos, de forma alguma, pensar que alcançaremos níveis de sustentabilidade (GUILLÉN, 2004, p. 68)

Segundo Pesci (2004, p. 128), a solução encontra-se em uma nova mudança de paradigma:

Não há problemas ecológicos, os ecossistemas funcionam. O que há, são problemas de inserção incorreta do homem e suas atividades nos sistemas ecológicos que é algo completamente diferente. Não é o ecologismo que vai salvar a realidade, mas uma nova cultura do homem, o que chamamos novo humanismo, capaz de interagir adequadamente com os sistemas naturais.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (WWF/BRASIL, [s.d.]), os três maiores problemas globais, que são obstáculo às metas de sustentabilidade mundial, são: mudanças climáticas, perda da biodiversidade e deterioração dos recursos hídricos. Os problemas são interdependentes, ou seja, a ação antrópica causa alterações nos recursos hídricos, que por sua vez interferem na mudança climática e na perda da biodiversidade.

(30)

Além da quantidade reduzida de água doce, a poluição química, física e biológica, o desperdício e a ocupação desordenada do solo são ameaças a esse recurso (CATALÃO ; RODRIGUES, 2006).

Christofidis (2006, p. 96) assinala que “[...] a escassez de água face às necessidades dos ecossistemas, dos consumos das populações e usos em atividades produtivas, gera uma redução de disponibilidade de água que se apresenta tanto na crise atual na saúde, como ocorrerá na crise do amanhã da vida”. Segundo o autor, no Brasil, as perdas de água em áreas urbanas chegam a 50% e, nos próximos quinze anos, cerca de três bilhões de pessoas no mundo estarão sofrendo com a escassez de água.

No Brasil, tem-se que muitos rios que cruzam áreas urbanas estão poluídos. Além de aumentar os custos de tratamento das águas, esse desequilíbrio provoca problemas de saúde e danos ambientais, ou seja, a urbanização é um dos fatores que demonstram a complexidade da gestão dos recursos hídricos. Outro fator que demonstra essa complexidade é a heterogeneidade da disponibilidade, do abastecimento e do tratamento da água no Brasil. Por exemplo, na região Sudeste, há água disponível, porém, a concentração populacional é muito alta, ou seja, a água “per capita” é muito menor que na região Norte, onde a capacidade hídrica é menor. A disponibilidade hídrica per capita do Distrito Federal é a terceira menor do país, ou seja, está abaixo do ideal.

Setti (1996) entende gestão de recursos hídricos como a forma pela qual se pretende equacionar e resolver as questões relativas aos recursos hídricos, bem como fazer o uso adequado visando a otimização dos recursos.

(31)

de todos; a bacia hidrográfica como unidade de planejamento; e a água como recurso natural limitado, dotado de valor econômico. O Quadro 1, elaborado a partir de consulta à legislação, apresenta os principais fatos na história da gestão dos recursos hídricos, no país.

Ano Fatos principais na evolução da gestão dos recursos hídricos no Brasil

1930 Criado o Ministério da Agricultura e a Diretoria de Águas pelo Decreto n º 19.448,

de 3 de dezembro, logo depois transformada em Serviço de Águas.

1934 Edição do Código de Águas, pelo Decreto n º 24.643, de 10 de julho, que permite

a expansão do sistema hidrelétrico brasileiro.

1940 Serviço de Águas torna-se Divisão de Águas pelo Decreto nº 6.402/40.

1968 Divisão de Águas é transformada no Departamento Nacional de Águas e Energia

Elétrica (DNAEE), pelo Decreto nº 63.951/68.

1973 Criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), no âmbito do Ministério

do Interior pelo Decr et o nº 73.030, de 30 de out ubro.

1978 Criado o Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas

(CEEIBH) pela Portaria Interministerial nº 90, de 29 de março. O comitê fica

responsável pela criação de comitês executivos em diversas bacias

hidrográficas.

1980/84 Ocorre o diagnóstico das bacias hidrográficas brasileiras. O DNAEE classifica as

águas de 2.500.000 km2 de bacias hidrográficas. Em 1983, acontece em Brasília

o Seminário Internacional sobre Gestão de Recursos Hídricos.

1986 Criado Grupo de Trabalho com participação de órgãos e entidades federais e

estaduais para propor a organização de um sistema de gerenciamento de

recursos hídricos. Publicada, em 18 de junho, a Resolução CONAMA nº 20, que

classifica as águas doces, salobras e salinas em nove classes, segundo seus

usos principais.

1987 A Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) manifesta-se, por meio da

“Carta de Salvador”, sobre a necessidade de criação de um Sistema Nacional de

Recursos Hídricos e de revisão da legislação, de modo a contemplar a gestão

descentralizada e participativa. Criado o Conselho Estadual de Recursos

Hídricos pelo governo de São Paulo.

1988 Surgem os primeiros comitês de bacias, constituídos a partir das próprias

(32)

Gravataí.

1989 Publicada a Lei nº 7.990/89, que institui compensação financeira aos Estados,

DF e Municípios, pelo resultado da exploração de recursos hídricos para fins de

geração elétrica, entre outros.

1997 Publicada a Lei nº 9.433, em 8 de janeiro (Lei das águas), que institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos (SINGREH).

2000 Publicada a Lei nº 9.984, de 17 de julho, que cria a Agência Nacional de Águas

(ANA).

2006 Aprovado, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em 30 de

janeiro de 2006, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),pela Resolução

Nº 58 de 30 de janeiro, que traz as diretrizes, metas e programas para assegurar

o uso sustentável da água no Brasil.

Quadro 1- Breve histórico da evolução da gestão dos recursos hídricos no Brasil.

Fonte: A autora

Para Freitas (2003, p. XIII):

Com a aprovação da Lei das Águas (Lei 9433/97), o país passou a contar com um arcabouço jurídico entre os mais modernos existentes no mundo, onde são definidos os instrumentos de gestão indispensáveis para a regulação do setor: planos da bacia, enquadramento dos corpos d’água, cadastro e outorga, cobrança pelo uso, compensação à União e aos Estados e Municípios e elaboração de um sistema de informação. Os objetivos são aumentar a eficácia e garantir a continuidade das estruturas de gestão, descentralizar as ações, tornando mais participativo o processo de tomada de decisão, principalmente com o envolvimento dos próprios usuários e, finalmente, regular a competição entre os usos, de forma a reduzir os conflitos e a rápida degradação dos recursos hídricos.

Também o Código Florestal - Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965 (BRASIL, 1965), preocupa-se com a proteção dos recursos hídricos, ao considerar como Áreas de Preservação Permanente as florestas e demais formas de vegetação natural:

• situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal;

(33)

qualquer que seja sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;

• no topo de morros, montes, montanhas e serras;

• nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive;

• nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; • nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo,

em faixa nunca inferir a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

• em altitude superior a 1.800 (hum mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;

• destinadas a atenuar a erosão das terras; a fixar as dunas; a formar faixas de proteção ao longo das rodovias e ferrovias; a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas e a assegurar condição de bem-estar público.

A legislação hídrica, no Brasil, tem por objetivo a manutenção de padrões de qualidade da água superficial para o uso a que é destinado o curso d’água. Assim, “os segmentos dos rios não precisam ficar ‘mais limpos que o necessário’ para um determinado uso humano. A estratégia envolvida é a de não permitir que a descarga total de efluentes cause deterioração acima dos níveis designados” (RAMOS SICSU, 1993, p. 76).

A água é um recurso partilhado por diversos setores. Portanto, o planejamento e a gestão dos recursos hídricos levantam problemas de natureza intersetorial e multidisciplinar. Nos processos decisórios ligados à gestão da água, é preciso levar em conta, na resolução dos problemas, três vertentes fundamentais: Ações, Arenas e Atores. O problema central está associado à relação entre a necessidade e disponibilidade, no espaço e no tempo, em quantidade e qualidade. A maneira como é feita essa compatibilização e a visão da sociedade são influenciadas pelos instrumentos e base de conhecimento, pela estrutura e processos formais e informais de tomada de decisão, e pelos agentes dos segmentos público, profissional e econômico (COSTA ; BRAGA, 2004).

(34)

instrumentos, devem tratar não apenas da água em si, mas integrar-se com outras políticas públicas, na área social e ambiental.

2.3 RISCO ECOLÓGICO

A Análise do Risco Ecológico (ARE) é um método para o planejamento espacial de bases ecológicas e tem, como referencial teórico, a Teoria do Planejamento Ecológico, desenvolvida em 1972 por pesquisadores alemães da Akademie für Raumforschung und Landesplanung de Hannover, motivados pelo que Odum denominara “funções do equilíbrio ecológico”, em 1969 (FARIA, 1996).

A Teoria do Planejamento Ecológico apresenta-se como base conceitual para viabilizar as recomendações de um planejamento espacial comprometido com a idéia do ecodesenvolvimento, que orienta as discussões na Conferência de Estocolmo, em 1972. Propõe que o planejamento regional e local “passe a ser dotado de uma orientação ecológica, com a inserção de componentes ecológicos nos seus sistemas de objetivos e deixando clara a ordem de valor desses componentes, ao definir os objetivos e suas inter-relações” (FARIA, 2004a, p. 10). O método Análise do Risco Ecológico foi estruturado, entre 1974 e 1975, por Aulig, Bachfisher, David, Kiemstedt e Müller, da Universidade de Munique, com uma aplicação prática no planejamento da região da Média Francônia. Em pesquisa realizada entre 1979 e 1983, Faria introduz novos condicionantes de planejamento à concepção original, em resposta a críticas da comunidade científica alemã ao método. Uma aplicação prática da nova versão do método foi realizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 1981, com o objetivo de demonstrar suas possibilidades de utilização na realidade brasileira (FARIA, 2004b).

Salas (2002, p. 43) afirma que:

El Análisis de Riesgo Ecológico (ARE) es una metodología para la evaluación ambiental. Esta metodología puede ser utilizada tanto para la evaluación ambiental del territorio en el marco de la planificación ecológica, como también en la evaluación de impacto ambiental (EIA) de proyectos y en la evaluación ambiental estratégica (EAE) de programas y planes.

(35)

The AER method is an EIA approach that is appropriate for modeling area sensitivity, identifying route (in general, project) alternatives, and for assessing the environmental compatibility of the identified alternatives. The approach supports GIS application in environmental assessment. The method produces several maps useful in the decision-making process […]. It therefore makes room for arguments to be presented based on the collected data.

Segundo Faria (2004b), o método Análise do Risco Ecológico possibilita avaliar as inter-relações entre os usos existentes e os fatores naturais que caracterizam um determinado espaço, a partir da análise das relações de troca entre o sistema das atividades antrópicas (causador de efeitos negativos) e o sistema dos fatores naturais (receptor e difusor desses efeitos negativos), conforme pode ser observado na Figura 1. Trata-se, portanto, de operacionalizar a relação Uso (causa) - Efeito

ecológico desencadeado - Usos atingidos. Na ARE, entende-se risco ecológico como risco de danos aos fatores naturais, no sentido de se expressar a insegurança de que esses danos ecológicos venham a ocorrer, de fato.

(36)

Figura 1 Esquema básico da Análise de Risco Ecológico.

Fonte: FARIA, 1996, p. 15.

(37)

efeitos da poluição vai depender das características dos fatores naturais nesse mesmo espaço. Todavia, a complexidade do modelo não deve ser aumentada pela consideração de um número cada vez maior de indicadores, sob pena de se ter os erros de medição potencializados. Além do mais, o modelo deve permanecer sempre transparente (FARIA, 2004b).

A operacionalização das relações entre usos antrópicos e fatores naturais implica realizar análises de impacto ambiental com base em informações deficientes. Assim, a disponibilidade de dados é o fator determinante na operacionalização da Análise do Risco Ecológico. Faria (2004b) ressalta que a vantagem do modelo de quantificação utilizado na ARE, quando comparado com outros métodos de planejamento ecológico (p. ex.: Análise do Potencial de Uso). As funções de agregação pela lógica matemática (álgebra booleana), representadas na forma de diagramas do tipo “árvore” (FIGURA 2), garantem a transparência do método, passo a passo.

Figura 2- Estrutura formal de uma árvore de avaliação.

Fonte: FARIA, 1996, p. 22.

De acordo com Salas (2002), a ARE parte de uma base metodológica de caráter qualitativo, que fundamenta os resultados por meio da intersubjetividade2, possibilitando, assim, uma abordagem mais adequada às situações de incerteza na avaliação. O autor descreve como principais elementos metodológicos da ARE:

2

(38)

a) Baseia-se em um modelo conceitual que define uma ação, uso ou atividade que origina um efeito ambiental relevante, que resulta em risco ecológico para o componente afetado.

b) Refere-se ao risco como probabilidade quantitativa de ocorrência de algum efeito adverso.

c) Utiliza, geralmente, uma escala ordinal com três níveis: alto, médio e baixo. d) A sensibilidade é o resultado da integração da importância ecológica dos componentes ambientais e sua vulnerabilidade ou susceptibilidade aos efeitos negativos.

e) Os efeitos negativos de certas ações, usos ou atividades são avaliados pelos níveis de intensidade.

f) O resultado da integração entre sensibilidade e intensidade é o risco ecológico (FIGURA 3).

Figura 3 - Matriz de integração para obtenção do Risco Ecológico.

Fonte: SALAS, 2002, p. 48.

Os passos metodológicos para a realização da Análise do Risco Ecológico são os seguintes (Faria, 2004):

• Input: informações sobre condicionantes básicos para o planejamento na região a ser analisada (inclusive o espaço natural a preservar) e sobre a estrutura atual do espaço regional.

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qualidade natural básica (p. ex.: potencial natural para lazer). Esses subsistemas são considerados complexos de causa-efeito e denominados Áreas de Conflito.

• Segundo Passo: Agregação dos indicadores representativos dos efeitos negativos provenientes dos usos, formando a grandeza complexa Intensidade dos Danos Potenciais, dentro de cada Área de Conflito.

• Terceiro Passo: Agregação dos indicadores da aptidão para receber um determinado uso e da interdependência entre efeito negativo e recursos naturais, formando a grandeza complexa Sensibilidade a Danos, dentro de cada área de conflito.

• Quarto passo: Combinação da Intensidade dos Danos Potenciais com a Sensibilidade a Danos, formando a grandeza agregada Risco de Danos.

(40)

3 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: SUB-BACIA DO CÓRREGO GUARÁ

A sub-bacia do córrego Guará (FIGURA 4), no Distrito Federal, abriga a Região Administrativa do Setor de Indústria e Abastecimento (RA XXIX), grande parte das Regiões Administrativas do Guará (RA X) e da Candangolândia (RA XIX), e a parte da Região Administrativa de Brasília (RA I) correspondente ao Setor Policial (SPO). Nela se encontram a Reserva Ecológica do Guará, onde se localizam as nascentes do córrego, bem como o Parque Ecológico Ezechias Heringer e parte do Jardim Zoológico de Brasília, que são atravessados pelo córrego, em seu caminho rumo ao ribeirão Riacho Fundo.

Figura 4- Mapa da sub-bacia do córrego Guará, Distrito Federal

(41)

Ribeirão Riacho Fundo Córrego Guará

Lago Paranoá

A Figura 5 mostra uma imagem satélite da sub-bacia do córrego Guará, onde pode ser observada a sua configuração espacial, com destaque para o trajeto percorrido pelo córrego.

Figura 5- Imagem satélite da sub-bacia do córrego Guará, Distrito Federal

Fonte: Google ,2007.

3.1 CÓRREGO GUARÁ

JZB

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representada na Figura 6 em cor azul claro. Sua bacia de drenagem, com uma área de 31,1 km², representa 13,6% da sub-bacia do ribeirão Riacho Fundo (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993).

(43)

A bacia de drenagem do Lago Paranoá tem área total de 1.034,07 km², área superficial de 37,50 km² e volume total de 498 x 106 m³ (FONSECA, 2001). Totalmente inserida no território do Distrito Federal, tem como principais corpos d’água: lago Paranoá, ribeirão do Gama, ribeirão Riacho Fundo, ribeirão Canjerana, ribeirão Antas, ribeirão do Bananal, ribeirão do Torto, ribeirão Taquari, ribeirão Jerivá e ribeirão Palha. O córrego Guará alcança o ribeirão Riacho Fundo pouco antes da desembocadura deste, no lago Paranoá, conforme é indicado na FIGURA 7.

Figura 7– Localização do córrego Guará na bacia do Lago Paranoá.

(44)

O ribeirão Riacho Fundo, com curso principal de 13 km de extensão, é um dos principais contribuintes do lago Paranoá e sua bacia possui uma área de 225,4 km². Tem como afluentes, na margem esquerda, os córregos Guará e Vicente Pires, e na margem direita, o córrego Ipê. Os cursos d’água que compõem a sub-bacia do Riacho Fundo apresentam a pior qualidade de água dentre as cinco sub-bacias que compõem a bacia do lago Paranoá, dado que ali se encontra também a maior densidade e diversidade de ocupação (SANTOS et al., 2004).

A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) enquadra o córrego Guará na Classe 3, conforme os critérios estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357/05 (BRASIL, 2005), ou seja, sua água destina-se ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; pesca amadora; recreação de contato secundário; e dessedentação de animais (STARLING, 2005)

O entorno do córrego é ocupado, à direita, por Guará I, Guará II, Candangolândia e Setor de Postos e Motéis; e à esquerda, pelo Setor de Inflamáveis (SIN), Setor de Indústria e Abastecimento SIA), Setor de Oficinas Sul (SOF-SUL) e Jardim Zoológico de Brasília (FIGURA 4). Na área predominam: o uso residencial unifamiliar e multifamiliar, o comércio de bens e serviços, e prédios e instalações de uso coletivo e institucional. Embora o esgoto dessa área seja coletado e levado por emissários até à Estação de Tratamento de Esgotos da Asa Sul (ETE-SUL), o córrego recebe esgoto de ligações clandestinas, bem como detergentes, óleos e graxas, que são lançados na rede de águas pluviais pelos postos de lavagem de veículos e lubrificação, do Setor de Oficinas Sul.

3.2 SUB-BACIA DO CÓRREGO GUARÁ

A área da sub-bacia do córrego Guará divide-se em três Regiões Administrativas, a saber: A RA X - Guará, a RA XXIX – SIA e a RA XIX – Candangolândia, abrangendo ainda uma pequena parte da RA I – Brasília. Essas Regiões são descritas, a seguir, em relação à história da ocupação e situação socioeconômica atual.

(45)

córrego (FIGURA 4). Por isso, a descrição detalhada da região não é apresentada nesta dissertação.

3.2.1 Região Administrativa do Guará (RA X - Guará)

A Região Administrativa do Guará foi criada em 1989, por meio do Decreto nº 11.921, de 25 de outubro (DISTRITO FEDERAL, 1989). Atualmente, é composta por Guará I, Guará II, Quadras Econômicas Lúcio Costa (QELC), Guarazinho, Vila ZHIS (Zona Habitacional de Interesse Social), Jóquei Clube de Brasília, Reserva Ecológica do Guará e Parque Ecológico Ezequias Heringer (conhecido como Parque do Guará), que é atravessado pelo córrego Guará em toda a sua extensão (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006b).

Segundo a Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006a), a Região Administrativa do Guará possui uma área de 37,50 km² e população de 12.989 habitantes (5,6% da população total do Distrito Federal), apresentando densidade demográfica de 346,37 hab/km2. A maioria dos moradores tem idade entre 35 a 49 anos. Limita-se, ao norte, com a poligonal do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA); rodovias DF-97 e DF–095; ao sul, com o córrego Vicente Pires; a leste, com a rodovia DF–003, poligonal do Setor de Postos e Motéis Sul e poligonal do setor JK; a oeste, com o córrego Vicente Pires, setor Park Way, rodovias DF–079 e DF-085 e o córrego do Valo.

Os primeiros habitantes do espaço urbano da RA X - Guará foram funcionários da Companhia Urbanizadora da Capital do Brasil (NOVACAP), que construíram suas casas, em sistema de mutirão, em 1967 (FIGURA 8). Paralelamente a esse movimento, a Sociedade de Habitações de Interesse Social (SHIS) construiu três mil casas. Constituiu-se, assim, o núcleo do Guará I, que foi inaugurado em 21 de abril de 1969 (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Administração do Guará., [s.d]).

(46)

Figura 8- Primeiras casas da Região Administrativa do Guará, 1967.

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Administração do Guará, 2006.

Em 1984, foi implantado na RA X - Guará o Setor de Oficinas Sul (SOF/SUL), atendendo uma reivindicação dos moradores, incomodados com as oficinas que funcionavam em área residencial, bem como dos donos de oficinas, que queriam um local específico para os seus estabelecimentos.

Em 1985, o Governo do Distrito Federal (Governador José Ornellas) implantou um programa de assentamento que transferiu, para o Guará II, 523 famílias residentes nas invasões da Vila União, Guarazinho, Vila Socó e Vila da CEB. Dois anos depois, foi criada mais uma quadra residencial para abrigar outras duzentas famílias oriundas de uma invasão na Super Quadra Norte 110, do Plano Piloto.

Como era comum na concepção de urbanismo que predominava à época (e ainda predomina hoje, no Distrito Federal), os planos do Guará I e II foram desenhados nos gabinetes dos órgãos governamentais de planejamento urbano, sem maiores preocupações com as características naturais da paisagem e condições do terreno. Assim, muitos lotes são localizados em área de nascentes ou nas faixas de proteção de cursos d’água, que no Brasil são alvo de preservação permanente desde 1934, quando foi editado o primeiro Código Florestal (PAVIANI, 2003).

As novas ocupações urbanas planejadas pelo Governo do Distrito Federal para a RA X - Guará são:

- O Setor Habitacional Vertical Sul (SHVS SOF - Park Sul), em área de 72,5

(47)

glebas do Parque Ecológico Ezechias Heringer. O SHVS seria formado por vários condomínios residenciais verticais, com prédios de sete a vinte e sete andares: um acréscimo populacional estimado em 26 mil pessoas. Em 29 de outubro de 2001, a organização não governamental Patrulha Ecológica, entrou com uma ação civil pública contra a Terracap, junto à Vara da Fazenda Pública de Brasília, com pedido de concessão de liminar para a paralisação de qualquer ação tendente à implantação do novo setor, por vários motivos, dentre eles a falta de um estudo de impacto ambiental (PATRULHA ECOLÓGICA, [s.d.]).

- A criação das Quadras 48, 50, 52, 54 e 56 do Guará II, aprovada em 2006

pelo Conselho de Planejamento Urbano e Territorial do Distrito Federal. O projeto é composto de 1,3 mil lotes e vinte projeções para apartamentos de seis andares, no limite leste do Parque Ecológico Ezechias Heringer, em uma área de 98,92 hectares (CORREIO WEB, 2006).

Na Região Administrativa do Guará, predominam as moradias do tipo casa geminada e apartamento em prédios, ocorrendo também o uso misto indústria-habitação e comércio-indústria-habitação, conforme demonstra o Gráfico 1, a seguir.

5.612

24.068

391 56 28 56

0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000

Apartamento Casa

Kitnete Barraco

Prédio comercial/Industrial/Residencial Outros

Gráfico 1- Domicílios urbanos segundo o tipo de residência na RA X em 2004

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004.

(48)

Quadras Internas (QI) são destinadas a prédios residenciais e comerciais e, as Quadras Externas (QE), a casas residenciais (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Administração Regional do Guará, 2007).

Figura 9- Vista aérea do Guará I

Fonte:SUPERBRASÍLIA, 2007

Figura 10- Vista aérea do Guará II

Fonte: SUPERBRASILIA, 2007

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0 5000 10000 15000 20000 25000 30000

35000 Sabe ler e escrever

Alf abetização de adultos

Pré-escolar 1º grau incompleto 1º grau completo 2º grau incompleto 2º grau completo Superior Incompleto Superior completo Mestrado

Doutorado

Gráfico 2- Grau de instrução dos residentes na RA X em 2004.

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004.

9,5 5,9 17 24,3 26,6 16,6

Até 1 s.m

1 a 2 s.m

2 a 5 s.m

5 a 10 s.m

10 a 20 s.m

mais de 20 s.m

A maioria da população da RA X tem renda bruta mensal de 5 a 20 salários mínimos (GRÁFICO 3).

Gráfico 3- Distribuição dos domicílios por classe de renda bruta mensal na RA X em 2004.

Fonte: GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2004

As principais atividades exercidas pelos residentes na RA X são administração pública e comércio. Porém, há quase 50 mil pessoas sem remuneração.

(50)

usos, tais como oficina mecânica, empresa de telecomunicação, consultório fisioterapêutico e residências. Há também, no Guará II, um Setor de Oficinas, que a exemplo do Pólo de Modas, além de oficinas abriga residências e vários tipos de comércio, dentre eles, padarias, farmácias, armarinhos, restaurantes e bancos.

Quanto aos serviços de saneamento, tem-se que o abastecimento de água e o esgotamento sanitário são realizados quase que totalmente pela rede geral da CAESB. A coleta de lixo, feita pelo sistema de limpeza urbana, é de praticamente 100% (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN, 2006a).

No que se refere à infra-estrutura de esporte, cultura e lazer, a RA X - Guará conta com o Centro Administrativo Vivencial e Esportivo (CAVE), onde se encontram o Estádio do CAVE, com 7.398 m² e capacidade para 7.000 espectadores; um kartódromo, com 5.740 m² e capacidade para 1.500 espectadores; um ginásio coberto, com 2.038 m² e capacidade para 1.000 espectadores; e um teatro de arena. Existem também 18 quadras de esporte e 37 praças, localizadas nas quadras residenciais. Em algumas dessas praças, os projetos “É pra Malhar” e “Ginástica nas Quadras” promovem ginástica com acompanhamento de professores.

A Casa da Cultura, vinculada à Administração Regional e com biblioteca pública, promove shows, atividades culturais, eventos tradicionais da cidade, cursos e oficinas. O Arco da Cultura, localizado ao lado da Feira Permanente, realiza shows teatros e atividades diversas. No Salão de Múltiplas Funções ocorrem cursos e eventos. Além disso, a RA X conta com 11 salas de cinema (no Park Shopping), um clube (SESC, no Guará I), um calçadão de 1,7 km para caminhadas, no Guará I, e outro com 8 km, no Guará II.

(51)

- Parque Ecológico Ezechias Heringer

O Parque, conhecido localmente como Parque do Guará, é um dos 67 parques urbanos existentes no Distrito Federal, dos quais muitos estão depredados, com ocupações antigas, abrigando chácaras e invasões irregulares e com alto grau de antropização (BRAGA e PIRES, 2000).

A cronologia inicial dos eventos que levaram à criação desse Parque é descrita no Plano Diretor do Parque do Guará (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993), financiado pela empresa Metrô-DF, como medida compensatória pela utilização de parte da área do Parque. Esse Plano tornou-se obsoleto sem que tivesse sido iniciada a sua implementação. Os eventos são os seguintes:

- 1960: a Companhia Urbanizadora da Capital do Brasil (NOVACAP) repassa

ao Distrito Federal as áreas dos Parques Zoobotânico, Bioeconômico e Guará, com o objetivo de preservar as margens do córrego Guará.

- 1977: ocorre a primeira regularização do “Parque do Guará”, com a fixação de

sua área em 1.348.777,96 m2, por meio do Decreto nº 3.597/97, que aprovou as plantas PR-130/1 e PR-131/1, conforme cópia de documento registrado no Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal (ANEXO A). Todavia, um ano depois, constata-se que essa área havia sido destinada pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) a acréscimos nos Setores de Indústria e Abastecimento e de Inflamáveis.

- 1984: o Decreto nº 7.910/84 homologa a Decisão nº 01/84, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Distrito Federal, que regularizava o Parque do Guará e a ele destinava as Áreas 02, 03 e 04, do Setor de Áreas Isoladas Oeste. Posteriormente, essas áreas são alteradas pelo Decreto nº 8.129/84, que homologa, mais uma vez, a Decisão nº 01/84 do CAU e destina ao Parque as Áreas 28, 29 e 30.

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total de 306,44 hectares, define seus objetivos3 e a localização nas Áreas nº 27 e 28 da Região Administrativa do Guará (RA X), conforme a planta URB nº 26/95 e o Memorial Descritivo MDE 26/95.

As configurações da área original (como Parque do Guará) e da área atual do Parque podem ser constatadas na Figura 11. A Estrada Parque do Guará (EPGU), que conecta a RA X ao Plano Piloto de Brasília, corta o Parque e faz com que seja formado por duas áreas descontínuas4.

De acordo com Costa e Braga (2004), áreas protegidas no modelo de parques urbanos quase sempre ocasionam conflitos entre a população local e os interesses do meio ambiente, uma vez que nem sempre são criadas em atendimento a demandas locais, como também não se procura resolver a situação fundiária, antes de implantá-las.

Identificamos como principal foco do conflito de interesses em torno das políticas ambientais urbanas, a tensão entre o uso público e privado dos recursos econômicos, sociais, culturais, bióticos e abióticos da cidade e de seu entorno. Os recursos sejam eles materiais, como os elementos do quadro natural, ou sócio-culturais como a interação nos espaços de convivência urbana, são, por princípio, públicos. Entretanto, seu uso se dá, na maioria dos casos, de forma privada. A forma pela qual os recursos são utilizados obedece à lógica de valorização do capital no espaço urbano e reflete-se diretamente sobre a qualidade de vida das populações e do espaço urbano em questão, retificando e reproduzindo desigualdades, conflitos e contradições (COSTA ; BRAGA, 2004, p. 199).

3

De acordo com a Lei nº 1.826, de 13/01/98 (art 3º, I, II, III, IV e V), os objetivos do Parque Ecológico Ezequias Heringer são: garantir a preservação dos ecossistemas remanescentes, com recursos bióticos e abióticos; promover a recuperação de áreas degradadas com espécies vegetais nativas da região; proporcionar à população condições para a realização de atividades culturais, educativas e de lazer, em contato harmônico com o meio natural; disciplinar a ocupação da área e incentivar a pesquisa para possibilitar o repovoamento da área com a fauna do cerrado. O Parque deve ser administrado por um conselho gestor composto paritariamente por representantes do Governo do Distrito Federal, de entidades de proteção ambiental e entidades comunitárias, em consonância com um plano diretor.

4

(53)

LEGENDA

Área original do Parque do Guará -

1977

Área do Parque Ezechias Heringer -

a partir de 1998

Figura 11 - Configuração espacial do Parque Ecológico Ezechias Heringer em 1977 e a partir de 1998.

Fonte: GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO. Plano Diretor do Parque do Guará, 1993, p. 21, atualizado pela autora.

Em estudo realizado por Ganem e Leal (2000), o Parque Ecológico Ezequias Heringer é o parque do Distrito Federal a apresentar o maior número de ocupações irregulares, representadas por moradores permanentes (chacareiros) e moradores temporários (FIGURAS 12 e 13, respectivamente). Essas ocupações são apontadas como o principal fator de alteração da biodiversidade local e da qualidade da água do córrego Guará.

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e pequenas barragens” (GDF/CODEPLAN/COORDENAÇÃO ESPECIAL DO METRÔ & HIDROGEO, 1993. p. 24).

Figura 12 - Habitação permanente na Área 28 do Parque Ezechias Heringer

Fonte:Google ,2007 .

Figura 13 - Habitação temporária na Área 27 do PEEH.

Fonte: MENDONÇA, 2003

Figura 14 - Desmatamento na Área 28 do Parque Ecológico Ezechias Heringer, 2001.

Imagem

Figura 10- Vista aérea do Guará II  Fonte: SUPERBRASILIA, 2007
Gráfico 3- Distribuição dos domicílios por classe de renda bruta mensal na RA X em 2004
Figura 14 - Desmatamento na Área 28 do Parque Ecológico Ezechias Heringer, 2001.
Figura 17- Área  urbana da Região Administrativa da Candangolândia - RA XIX   Fonte: Google, 2007
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Referências

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