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Relação com a nudez

No documento Corpo e identidade feminina (páginas 188-191)

58% 39% 3% 0% não sente dificuldades em se desnudar se desnuda, mas se preocupa com sua aparência

evita que o parceiro a observe desnuda

não soube responder. Infelizmente, eu gostaria de ser, assim, bem diferente” (Mulher 5, ênfase dela)

“Sim, sim por causa ... esse problema que eu tive de princípio de anorexia, acho que ficou um coisinha aqui na minha cabeça e é uma coisa minha mesmo. Eu não me sinto completamente à vontade, mesmo namorando há muito tempo.” (Mulher 10, 18 anos). “Quando eu me desnudo eu me preocupo com a minha aparência porque eu sou uma mulher de 51 anos, então é óbvio que o meu senso estético e o meu senso crítico estão acima, infelizmente, de questões assim, do homem fragmentado, ou seja, apesar de eu perceber isso, eu não consigo me abster desta preocupação” (Mulher 30, 51 anos) “Ah, sempre me preocupa a minha aparência, sempre me incomodou. Eu sou ligada em manter o peso, deixar a perna durinha, a barriga, me incomoda, tanto que quando eu tive bebê, eu tava fora do peso e você fica com aquela barriga meio flácida devido à gestação, sempre me incomodou, mais a mim do que a ele.” (Mulher 45, 43 anos)

Somente uma entrevistada afirmou, categoricamente na entrevista gravada, não sentir nenhuma vergonha de expor seu corpo ao parceiro:

“Nenhuma vergonha. Acho até engraçado algumas mulheres dizerem que não conseguem tirar a roupa de luz acesa, se cobrir na relação, eu acho que quando você está com alguém você tem que ter a maior intimidade possível, então eu não tenho nenhum tabu com o meu corpo, muito pelo contrário” (Mulher 16, 36 anos)

Segundo Goldenberg (2004), a preocupação com um padrão específico de corpo tem atrapalhado a vida sexual tanto de mulheres quanto dos homens, embora os segundos não se importem tanto com a forma dos seus próprios corpos, incomodando-se mais com as insatisfações femininas. Um de seus entrevistados afirmou: “Muitas vezes estamos no meio da transa, no maior clima e ela pergunta: estou gorda? Ou insiste em transar no escuro para eu não ver o corpo dela. Perco totalmente o tesão” (Homem, 35 anos, solteiro, engenheiro). A autora também cita mais duas pesquisas, uma do Journal of Sex Research, que entrevistou 200 mulheres universitárias e concluiu que um terço da amostra, independentemente de serem magras ou gordas, preocupam-se com a imagem corporal que seus parceiros fazem delas durante o ato sexual. A outra pesquisa, coordenada por Camita Abdo, do projeto sexualidade, Hospital das Clínicas, entrevistou 3.000 homens e mulheres, de todas as classes sociais. A pesquisa apontou que 35% das mulheres pesquisadas alegam falta de libido, e o motivo apontado é a angústia de não corresponder à mulher de corpo perfeito que aparece nas revistas e propagandas de TV. (Goldenberg, 2004: 43-4).

Segundo Thébaud (s/d), os movimentos de revalorização da sexualidade e do desejo feminino são acompanhados de uma pressão normativa em prol dos modelos de aparência, inspirados pelas modelos e atrizes de televisão. A publicidade vende-lhes os meios para alcançar a beleza, mas, fundamentalmente, vende-lhes representações de si próprias.

É justamente isso o que a presente pesquisa percebeu. As mulheres, inclusive aquelas casadas há muito tempo, vivem uma situação curiosa: devido ao tempo de relacionamento, a tendência seria diminuir o pudor frente ao parceiro, por causa da intimidade que os anos lhes conferem; no entanto, como o corpo – embora bonito - passou por transformações e já não corresponde aos modelos de perfeição, as mulheres ficam mais constrangidas frente aos parceiros do que ocorria no passado. Se por um lado ocorreu uma maior erotização da sociedade brasileira, que vem reclamando mais liberdade sexual às mulheres, incentivando-as a buscar o prazer, a investir em técnicas de sedução (no passado mal vistas), por outro lado, surge um novo algoz do desejo feminino: os padrões estéticos rígidos e inalcançáveis. Diante das mulheres perfeitas que aparecem na mídia, as mulheres “comuns” não se reconhecem e, portanto, também não se aceitam. Daí a necessidade de suplantar esta “normalidade” por meio da malhação e, principalmente, das cirurgias plásticas.

A exposição do corpo na praia ou em piscinas é outro fator de constrangimento para as mulheres, porque nestas situações, além do parceiro, outros homens e, sobretudo outras mulheres vão estar observando o corpo uns dos outros, a cobrança pela perfeição tornando-se ainda maior e as mulheres temendo os comentários negativos sobre sua aparência, ainda mais se a exposição ocorrer na presença de conhecidos e amigos. Em enquête realizada entre suas leitoras, a “revista dieta já”, perguntou: “Você dispensa programas como ir à praia ou a uma festa por causa do excesso de peso?” tendo 51,5% responderam “sim” e 48,5% responderam “não” ( Dieta já. Ano VIII – maio de 2004 ).

Das entrevistadas, 3% chegam a não ir à praia, ou vão com roupa comum e alegam ter esquecido o biquíni, só para não se sentirem constrangidas a expor um corpo que não se assemelha ao corpo veiculado nos meios de comunicação. 65% vão à praia e não têm pudores quanto à exposição do corpo, e 31% cobrem as partes do corpo de que não gostam:

Muitas também alteraram suas respostas por ocasião da entrevista gravada:

“Não, não, eu não vou por um biquíni se eu tiver gorda, vou por um maiô. Então as pessoas na praia, na rua, nas academias, escondem... tem sempre um ridículo que vai né? Mas eu acho que mudou, as pessoas escondem sim” (Mulher 2, 31 anos)

“É, na praia, assim, eu não vou deixar de tomar sol porque eu me acho gorda, nem nada, mas se tem alguém em que eu esteja interessada, eu não mostro a perna, eu tenho estrias, isso me incomoda bastante, então eu coloco a canga assim do lado, pra cobrir um pouco, mas eu não deixo de fazer as coisas que eu gosto por causa disto, eu só dou uma disfarçada” (Mulher 6, 19 anos)

“É que eu tenho um lado racional muito forte, então se é pra ir pra praia e ficar com neura é melhor não ir. Quando eu era bailarina, eu já tive muito problema com peso, eu já cheguei a não ir ou ia, mas não levava o biquíni, arranjava uma desculpa, e eu tinha um corpo super normal, mas a minha concepção do meu corpo era de que ele estava imenso, porque as meninas com quem eu fazia aula estavam secas, esturricadas, então o meu ponto de referência era muito baixo. Eu chegava a ir pra praia de calça jeans, de camiseta, aí minha mãe me levou para o psicólogo, tudo, pra eu ter uma noção, uma melhor percepção do meu corpo.” (Mulher 8, 25 anos).

“Na praia dá um pouquinho de receio sim. Não vou dizer pra você que vou por fio dental porque não vou. Porque eu tenho vergonha por não estar com um corpo tão perfeito, eu gosto de perfeição, como não tem, eu coloco uma coisa que não vai mostrar tanto quanto uma garota perfeita usaria.” (Mulher 15, 31 anos).

Em ocasiões como praia e piscina, você...

0%

3% 1%

31% 65%

evita estes locais

frequenta, mas fica de short e camiseta

cobre as partes do corpo das quais não gosta

usa trajes de banho sem se incomodar

não respondeu

No documento Corpo e identidade feminina (páginas 188-191)