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A relação entre a inflação medida pelo IHPC e a inflação medida pelo IHPC

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 62-66)

excluindo produtos energéticos e

produtos alimentares

Embora a inflação medida pelo IHPC na área do euro tenha sido muito baixa ou mesmo negativa desde o final de 2014, a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares tem oscilado em níveis perto de 1% durante o mesmo período (ver Gráfico A). A presença de uma considerável diferença entre a inflação global e a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares já ocorreu no passado, embora se tenha observado mais frequentemente um padrão oposto (com a inflação global mais elevada). O facto de a inflação global ter vindo a registar valores inferiores à inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares desde 2014 renovou o interesse na relação entre as duas medidas de inflação e no papel desta última na análise económica da estratégia de política monetária do BCE.

Tipicamente, a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares e a inflação global apresentam um elevado grau de co-movimento, sendo que a primeira apresenta um desfasamento em relação à última. O desfasamento pelo qual a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares se correlaciona mais estreitamente com a inflação global tem diminuído desde a crise financeira. Para ilustrar esta situação, o Gráfico B mostra que, após a crise, o co- -movimento com um desfasamento de 6 meses (linha vermelha) se tornou mais forte do que o co-movimento com um desfasamento de 12 meses (linha verde). O facto de a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares apresentar um desfasamento em relação à inflação global no curto prazo está sobretudo relacionado com diferenças na velocidade da transmissão dos choques de preços das matérias-primas para as várias componentes do IHPC. Por exemplo, um choque sobre os preços do petróleo é transmitido quase imediatamente à componente energética do IHPC e, por conseguinte, à inflação global medida pelo IHPC, mas existe um desfasamento da respetiva transmissão a outras componentes do IHPC, através de efeitos indiretos e, possivelmente, de segunda

Gráfico A

Inflação medida pelo IHPC da área do euro e inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares

(taxas de variação homólogas (%))

-1 0 1 2 3 4 5 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 IHPC

IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares

Fonte: Eurostat.

ordem. O desfasamento mais curto com o qual ocorreu a correlação máxima nos últimos anos pode apontar para uma transmissão ligeiramente mais rápida, embora possa também captar simplesmente uma simultaneidade no momento e direção dos choques sobre os preços do petróleo e outros choques que afetem as componentes não energéticas do IHPC.

A inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares é um fraco indicador da evolução da inflação global em horizontes de curto prazo, podendo, contudo, ser mais informativa do que a própria inflação global no que se refere a tendências inflacionistas de médio prazo. Este desempenho mais fraco da inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares como indicador de curto prazo deve‑se ao facto de esta se encontrar desfasada face à inflação global. O quadro apresenta a raiz quadrada do erro quadrático médio (root mean squared error ‑ RMSE) para as previsões da inflação global com uma antecedência de 3, 6, 12 e 24 meses tanto para a inflação global como para a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares. Em horizontes mais curtos, como 3 e 6 meses, a inflação global atual fornece previsões mais precisas do que a atual inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares, embora esta última tenha um melhor desempenho nas previsões da inflação global com uma antecedência de 12 e 24 meses. Tal é consistente com uma situação em que choques pontuais sobre o nível dos preços, resultantes de uma variação dos preços das matérias-primas, afetem a taxa da inflação global apenas durante os doze meses seguintes, e não ao longo de um horizonte mais alargado. A conclusão estatística de que a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares tem uma capacidade de previsão mais forte para as pressões inflacionistas a médio prazo resulta do facto de ter menos “ruído” do que a inflação global, como confirmado por todas as medidas de volatilidade apresentadas no quadro. Por conseguinte, a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares é útil numa análise para além dos choques de curto prazo.

A inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares não é uma medida “ideal” da inflação subjacente1. Não existe uma definição amplamente aceite da inflação subjacente, embora, na prática, qualquer medida desta natureza deveria captar as componentes mais persistentes da inflação e, assim, acompanhar as tendências de inflação. Contudo, o IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares pode, a qualquer altura, ser afetado por fatores temporários que não tenham quaisquer implicações para o médio prazo (por 1 Para uma análise mais pormenorizada deste tema, ver a caixa intitulada “Os subíndices do IHPC são

medidas da inflação subjacente?”, Boletim Mensal, BCE, dezembro de 2013.

Gráfico B

Correlações e estrutura de desfasamentos entre a inflação global e a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares

(coeficiente de correlação) -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

correlação máxima (independentemente do desfasamento) correlação contemporânea

inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares com desfasamento em relação à inflação global de 6 meses

inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares com desfasamento em relação à inflação global de 12 meses

Fontes: Eurostat e cálculos do BCE.

Nota: As correlações são calculadas ao longo de um período móvel de oito anos. Os resultados são qualitativamente semelhantes quando se analisa outros horizontes, como um período móvel de cinco anos.

exemplo, efeitos indiretos de variações dos preços das matérias‑primas, variações dos preços administrados, impostos indiretos ou efeitos de calendário). Além disso, as próprias componentes dos produtos energéticos e alimentares excluídas podem apresentar uma dinâmica mais persistente, por exemplo, devido a tendências dos preços das matérias‑primas, como observado no início dos anos 2000. Esta dinâmica pode ter implicações para a inflação no médio prazo, pelo que deve ser captada por uma medida da inflação subjacente. O facto de os preços dos produtos alimentares e energéticos poderem ter uma componente persistente reflete‑se no facto de a inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares ser um indicador enviesado da inflação global no médio prazo, uma vez que a respetiva média de longo prazo se tem mantido abaixo da inflação global. Os preços dos produtos energéticos têm aumentado a uma taxa média anual ligeiramente abaixo de 4% desde 1999, provocando um desvio entre a inflação global média e a inflação média medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares.

O BCE formulou o respetivo objetivo de estabilidade dos preços em termos da inflação global principalmente devido à sua relevância na medição do poder de compra dos cidadãos. A preservação do poder de compra da moeda, medida pelo índice de preços mais representativo, incluindo os produtos energéticos e alimentares (que representam cerca de 30% do cabaz de consumo), é o que realmente importa para os consumidores. Além disso, qualquer medida de inflação que exclua algumas das rubricas no cabaz de consumo sofre de um certo grau de arbitrariedade, o que pode prejudicar a credibilidade do objetivo de política.

A orientação de médio prazo da política monetária do BCE garante que não é colocada uma ênfase indevida na evolução da inflação a curto prazo.

O grau de controlo muito imperfeito que os bancos centrais podem exercer sobre qualquer medida da inflação no curto prazo é uma das principais razões pelas quais a estratégia de política monetária do BCE tem sido articulada em termos de estabilização da inflação no médio prazo. A orientação de médio prazo da política monetária torna possível proceder a uma análise para além de evoluções transitórias e incidir nas tendências de inflação subjacentes. Embora, em determinadas circunstâncias, o banco central possa prolongar a duração do horizonte de médio prazo durante o qual se compromete a colocar a inflação em linha com o seu objetivo, este horizonte não pode ser alargado de tal forma que os cidadãos já não consigam verificar devidamente se o objetivo do banco central foi atingido.

Quadro

Média, volatilidade e capacidade de previsão da inflação global, janeiro de 1999‑fevereiro de 2016

Média Volatilidade Capacidade de previsão da inflação global em vários horizontes Taxa de inflação média Desvio padrão Coeficiente de variação Variação absoluta média RMSE 3 meses RMSE 6 meses RMSE 12 meses RMSE 24 meses Inflação global 1.79 0.95 0.53 0.18 0.50 0.75 1.18 1.36

Inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e

alimentares 1.43 0.46 0.32 0.11 0.91 0.95 1.02 1.14

Fontes: Eurostat e cálculos do BCE.

Notas: O coeficiente de variação é o desvio padrão dividido pela média. A variação absoluta média é a média do valor absoluto da primeira diferença mensal de cada medida de inflação. A raiz quadrada do erro quadrático médio (RMSE) é a raiz quadrada da média das diferenças quadráticas face à taxa de inflação global futura com uma antecedência de 3, 6, 12 e 24 meses. As estatísticas são calculadas com base em taxas de crescimento homólogas.

Em consonância com estas considerações, todos os bancos centrais das principais economias industrializadas centram‑se na inflação global quando formulam os respetivos objetivos de estabilidade dos preços. Contudo, muitos bancos centrais, incluindo o BCE, acompanham um vasto conjunto de medidas de inflação subjacente, abstraindo‑se da volatilidade de curto prazo, a fim de determinar tendências inflacionistas. Além da inflação medida pelo IHPC excluindo produtos energéticos e alimentares, o BCE acompanha várias medidas de inflação com base em exclusões e com base em modelos, bem como a evolução das expetativas de inflação de longo prazo2.

2 Ver a caixa intitulada “Has underlying inflation reached a turning point?”, Boletim Mensal, BCE, julho de 2015 e o artigo intitulado “Inflation expectations in the euro area: a review of recent developments”, Boletim Mensal, BCE, fevereiro de 2011.

Caixa 8

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 62-66)