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Tendências atuais dos preços do petróleo

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 43-46)

Os preços do petróleo caíram 70% desde julho de 2014. Numa perspetiva a mais longo prazo, a descida dos preços do petróleo pode ser explicada por anteriores investimentos avultados e inovações tecnológicas que deram origem a um aumento da produção de petróleo, numa altura de enfraquecimento do crescimento.

Os avanços tecnológicos desencadearam a revolução do óleo de xisto nos Estados Unidos e vários anos de elevados preços do petróleo, num contexto de forte

investimento nas economias de mercado emergentes, encorajaram investimentos em larga escala no petróleo. Devido a um considerável desfasamento entre o investimento e a produção, a oferta resultante entrou no mercado quando a procura de petróleo já não estava a crescer. Embora a oferta de óleo de xisto tenha começado a aumentar e o crescimento da procura mundial começado a abrandar já em 2010 (por exemplo, na China), as perturbações da oferta nos principais países produtores de petróleo (Líbia, Irão, Rússia e Iraque), relacionadas com as tensões geopolíticas, apoiaram os preços do petróleo durante alguns anos antes da queda abruta no verão de 2014. A decisão estratégica da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de não compensar a descida de preços com um corte na produção, tomada na reunião de novembro de 2014, deu origem a uma nova descida dos preços.

Embora a queda dos preços do petróleo desde 2014 tenha sido impulsionada por fatores quer do lado da procura quer do lado da oferta, os resultados baseados num modelo mostram que a descida inicial pode ser sobretudo explicada por aumentos da oferta. Mais recentemente, porém, a procura tem sido o fator dominante (ver Gráfico A). De acordo com os cálculos dos especialistas, cerca de 60% da descida em 2014 deveu ‑se a fatores relacionados com a oferta. Após uma recuperação nos dois primeiros trimestres de 2015, os preços do petróleo caíram de novo, tendo os fatores relacionados com a procura desempenhado um papel crescente. Isto é em larga medida um reflexo do abrandamento da procura agregada, embora as espetativas de menores preços relacionadas com o crescimento em mercados emergentes e a decisão da OPEP de não reduzir a oferta (o que é ilustrado pelo choque da procura por motivos de precaução) tenham também contribuído para a recente descida.

Gráfico A

Desagregação dos preços do petróleo baseada num modelo

(esquerda: contributos acumulados dos diferentes choques petrolíferos em pontos percentuais, julho de 2014 = 0; direita: preço nominal do petróleo em USD por barril)

30 40 50 60 70 80 90 100 110 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 T3 2014 T4 2014 T1 2015 T2 2015 T3 2015 T4 2015 T1 2016 oferta de petróleo

procura agregada mundial

procura de petróleo por motivos de precaução preço do petróleo

Fonte: Cálculos dos especialistas do BCE.

Notas: A última observação refere ‑se a janeiro de 2016. As desagregações históricas foram normalizadas para começar no zero em julho de 2014, quando os preços do petróleo bruto Brent começaram a cair. Um contributo descendente indica que um “choque petrolífero” específico contribuiu para reduzir os preços do petróleo e vice- ‑versa. O “choque de oferta de petróleo” capta alterações exógenas na produção de petróleo, o “choque da procura agregada mundial” capta alterações nos preços do petróleo que são endogenamente causadas pela evolução do crescimento económico mundial e o “choque da procura de petróleo por motivos de precaução” capta alterações nas expetativas relativas ao equilíbrio entre a procura e a oferta de petróleo no futuro, como se reflete nas existências de petróleo. A desagregação tem por base Kilian, L. e Murphy, D.P., “The role of inventories and speculative trading in the global market for crude oil”, Journal of Applied Econometrics, 29 (3), 2004, pp. 454 ‑78, utilizando dados sobre os preços do petróleo, a produção mundial de petróleo e uma aproximação para as existências mundiais de petróleo e a atividade económica mundial.

A oferta da OPEP tem registado uma tendência

ascendente desde meados de 2014, enquanto a procura de petróleo por parte de países não pertencentes à OCDE se manteve forte ao longo de 2015. A procura de petróleo nos países da OCDE diminuiu no final de 2015, devido principalmente às condições de um inverno ameno nos Estados Unidos e na Europa, bem como ao sentimento económico mais fraco nas grandes economias de mercado emergentes (ver Gráfico B).

Demorará algum tempo até que o atual excesso de oferta possa ser absorvido. O aparecimento do óleo de xisto dos Estados Unidos e, de forma mais

generalizada, a exploração de petróleo não

convencional constituem uma alteração estrutural do lado da oferta que pode resultar na manutenção de preços do petróleo baixos durante mais tempo. Um excesso de oferta de quase 1.4 milhões de barris por dia, em média, ao longo de 2014 ‑2015 levou as existências de petróleo bruto da OCDE a atingir máximos históricos (ver Gráfico C)1.

Espera ‑se no entanto que, com o tempo, ocorra um reequilíbrio. Um limite inferior teórico para os preços do petróleo está relacionado com o nível do custo marginal da produção de óleo de xisto nos Estados Unidos, estimado em cerca de USD 35 por barril em média2.

Contudo, vários tipos de produção de petróleo, como o óleo de xisto dos Estados Unidos, continuaram a crescer ao longo do último ano, embora os preços do petróleo se situassem abaixo dos respetivos custos marginais estimados. Com efeito, vários outros fatores desempenham um papel, para além destes custos marginais específicos da produção. Em primeiro lugar, os custos marginais diferem acentuadamente, dependendo do tipo de petróleo e do campo petrolífero específico, pelo que estas médias são apenas um indicador aproximado do momento em que a produção poderia ser afetada. Em segundo lugar, é importante tomar em consideração a deflação de custos3 e a maior eficiência de produção,

1 A procura média mundial de petróleo em 2014‑15 rondou 93.6 milhões de barris por dia e a oferta média mundial de petróleo 95 milhões de barris por dia. O excesso de oferta ascendeu a cerca de 1.5% da procura mundial diária de petróleo.

2 Little, Arthur D., “Where now for oil?”, Viewpoint, 2015.

3 A deflação de custos é uma descida generalizada do custo da produção de petróleo, que pode ter origem, por exemplo, em ganhos de eficiência de produção ou menores custos dos serviços (como sejam, taxas de serviço reduzidas para os empreiteiros responsáveis pela perfuração de poços de petróleo ou para as atividades de apoio, como a prospeção, cimentação, revestimento e tratamento de poços). Gráfico C 750 800 850 900 950 1,000 1,050 1,100 1,150 1,200 60 65 70 75 80 85 90 95 100 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 global oil demand

global oil supply OECD crude oil inventories

Gráfico B

Oferta e procura de petróleo a nível mundial

(milhões de barris por dia; variações homólogas)

-1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 T3 2014 T4 2014 T1 2015 T2 2015 T3 2015 T4 2015 oferta na OPEP

oferta em países não pertencentes à OPEP

procura em países não pertencentes à OCDE procura na OCDE

Fonte: Agência Internacional da Energia.

Gráfico C

Procura, oferta e existências de petróleo

(esquerda: procura e oferta mundiais de petróleo em milhões de barris por dia – variável fluxo; direita: existências de petróleo bruto na OCDE em milhões de barris – variável stock) 750 800 850 900 950 1000 1050 1100 1150 1200 60 65 70 75 80 85 90 95 100 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 procura mundial de petróleo

oferta mundial de petróleo existências de petróleo bruto na OCDE

Fonte: Agência Internacional da Energia.

ou seja, os custos marginais podem diminuir devido aos avanços em termos de produtividade. Contudo, existem já sinais de que o número de plataformas petrolíferas desceu nos Estados Unidos, indicando uma diminuição da oferta ao longo do tempo4.

A atual curva de futuros indica que os preços do petróleo deverão manter‑ ‑se num intervalo de USD 30 ‑45 por barril ao longo dos próximos dois anos.

Relativamente a esta projeção, os riscos em sentido descendente para os preços do petróleo do lado da oferta estão relacionados com novos aumentos da produção mundial de petróleo, devido a um regresso mais forte do que o esperado do petróleo iraniano e à continuação da resistência da produção por parte de países não pertencentes à OPEP, em particular o óleo de xisto dos Estados Unidos. Do lado da procura, um abrandamento mais forte do que o esperado em economias emergentes poderá afetar negativamente a procura de petróleo. Os principais riscos em sentido ascendente são cortes mais fortes do que o esperado na produção de petróleo, devido a tensões geopolíticas e a maiores retrocessos em termos de oferta, se os preços do petróleo se mantiverem persistentemente baixos. A partir de 2017, embora prevaleçam ainda os principais riscos em sentido descendente, os riscos serão cada vez mais no sentido ascendente, visto que os elevados cortes em despesas de capital podem ter como resultado um estreitamento mais rápido do equilíbrio entre oferta e procura do que o atualmente refletido na curva de futuros, logo que a atividade económica mundial recupere.

Caixa 3

Condições de liquidez e operações

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 43-46)