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Relação parasita-hospedeiro: Uma ferramenta no entendimento da poluição ambiental?

No documento Tópicos em Fisiologia Comparativa (páginas 73-76)

Vinicius Queiroz

Sobreviver sem interagir é algo inviável, ou seja, não existe vida isoladamente. Assim, ao longo de sua vida, qualquer organismo deve interagir com outros seres vivos e com o próprio ambiente a fim de adquirir recursos para sua sobrevivência. Neste contexto, tem-se o termo simbiose, em contraposição ao termo assimbiose, este último englobando as interações com os fatores não vivos do ambiente (Lewis, 1988).

O termo simbiose, cunhado em 1879 por Anton de Bary, pode ser definido como uma associação entre duas ou mais espécies de organismos (de Bary, 1879). Esta associação pode ser permanente, com os participantes nunca estando separados, ou pode ser de longa duração. Intuitivamente, esta definição já exclui interações entre populações, que são associações entre indivíduos da mesma espécie (Paracer & Ahmadjian, 2000).

Apesar de a definição da palavra simbiose não limitá-la a nenhuma modalidade de interação, seu uso vem sendo feito de uma maneira mais restrita, onde muitas vezes é utilizada como sinônimo de mutualismo (Noble & Noble, 1976). Como visto em sua definição, simbiose é um termo mais amplo, sob o qual diversos tipos de interações – prejudiciais ou benéficas – podem ser consideradas. Das muitas subdivisões existentes, as mais conhecidas são: comensalismo, mutualismo e parasitismo. O comensalismo pode ser sucintamente definido como uma associação onde um dos participantes é beneficiado e o outro não é nem prejudicado nem recebe benefícios. No mutualismo, o benefício é para ambos os organismos envolvidos, enquanto no parasitismo um vive à custa do outro (Paracer & Ahmadjian, 2000). Este último é relativamente um dos mais importantes e disseminados tipos de interação biológica presente na natureza. Todos os grupos existentes têm registros de parasitas, desde esponjas até os vertebrados mais derivados.

A definição de parasitismo vem do grego, onde o termo “parasita” pode ser entendido como: “o que come na mesa do outro” ou mais formalmente, “o que vive à custa do outro” (Noble & Noble, 1976). É um tipo de simbiose onde um dos participantes (o parasita) se beneficia à custa do outro (o hospedeiro). Nesta relação, , o fator primário a ser considerado é a nutrição.

Mesmo sendo geralmente observado sob a luz da simbiose, o parasitismo tem sido apontado como uma forma de predação (Begon et al., 2007). Porém, de forma simples, pode-se diferenciar um predador de um parasita pelos mecanismos utilizados para obter

alimento. Predadores são animais que se alimentam por fagotrofia e utilizam processos ativos para capturar o alimento, enquanto os parasitas geralmente são osmotrofos absortivos, estando sobre ou dentro de outros organismos (Lewis, 1988). Além disso, diversas outras características são apontadas para diferenciar um do outro (Noble & Noble, 1976).

Apesar do tão conhecido aspecto nutricional da relação parasita-hospedeiro ser um ponto chave na definição do termo, existem alternativas mais arrojadas tentando definir esta relação. Determinadas propostas insistem que o parasita tem de necessariamente ser prejudicial ao hospedeiro (Smyth, 1994). Outros vão um pouco mais longe e propõem que parasita é todo simbionte que tem potencial de matar o hospedeiro (Crofton, 1971). Propostas com um viés mais fisiológico também são apresentadas: alguns autores pontuam os aspectos bioquímicos nesta relação. Cameron (1956) coloca que: parasita é aquele indivíduo que tem uma dependência de algum fator metabólico advindo de outro organismo que é sempre maior que ele. Smyth (1962) pontua algo semelhante, mas acrescenta que alguns subprodutos metabólicos do parasita são de utilidade para o hospedeiro.

Tendo em vista que: a relação parasita-hospedeiro é um dos modos de vida mais comuns encontrados na natureza (Price, 1980); e que existem mais espécies parasitas que de vida livre (Windsor, 1998); é de se esperar que este grupo de organismos filogeneticamente não relacionados seja utilizado como sensor de poluição ambiental (Mackenzie, 1999). Neste contexto temos a parasitologia ambiental, que vem atuando na busca de indicadores de impacto antrópico no ambiente, utilizando como ferramenta os organismos parasitas e as suas relações com seus hospedeiros (Sures, 2004).

Os trabalhos mais antigos nesta área remontam da década de 80 (Greichus & Greichus, 1980; McCahon et al., 1988). Vários são os grupos utilizados como sensores de impacto ambiental (Sures, 2004; Mackenzie, 1999) e diversas são as possibilidades de exploração. A relação parasita-hospedeiro pode ser utilizada como ferramenta na determinação de contaminação de sedimento, eutrofização, metais pesados, etc (Sures, 2004) e os efeitos geralmente observados são a diminuição na diversidade e riqueza de parasitas, aumento na prevalência e densidade dos organismos, entre outros (Sures, 2004).

Sendo assim, é possível verificar que a relação entre parasitas e seus hospedeiros não estão completamente estabelecidas, existindo muitas “brechas” nos conceitos. No entanto, pode-se utilizar essa tão importante interação como uma ferramenta na avaliação de impactos ambientais, e muitos trabalhos vêm estabelecendo as bases desta nova área de investigação.

Referências bibliográficas

Cameron, T. W. M. 1956. Parasites and parasitism. New York, Wiley, 322p.

Crofton, H. D. 1971. A quantitative approach to parasitism. Parasitology, 62: 179-193. De Bary, A. 1879. The Phenomenon of Symbiosis. Privately printed in Strasburg. 30p.

Greichus, A. & Greichus, Y. A. 1980. Identification and quantification of some elements in the hog roundworm, Ascaris lumbricoides suum, and certain tissues of its host. Int. J. Parasitol. 10, 89–91.

Lewis, D. H. 1988. Symbiosis and Mutualism: crisp concepts and soggy semantics. In: Boucher, D. H. The Biology of Mutualism: Ecology and Evolution. Oxford University Press. 390p. Mackenzie, K. 1999. Parasites as Pollution Indicators in Marine Ecosystems: a Proposed Early

Warning System. Marine Pollution Bulletin, 38(11): 955 -959.

McCahon, C. P.; Brown, A. F. & Pascoe, D.1988. The effect of the acanthocephalan

Pomphorhynchus laevis (Mu¨ ller 1776) on the acute toxicity of cadmium to its intermediate

host, the amphipod Gammarus pulex (L.). Archives of Environmental Contamination and Toxicology. 17, 239–243

Paracer, S. & Ahmadjian, V. 2000. Symbiosis: An Introduction to Biological Associations. Oxford University Press, 304p.

Price, P.W. 1980. Evolutionary Biology of Parasites. Princeton University Press, Princeton. Smyth, J. D. 1962. Introduction to Animal parasitology. London, English University press. Smyth, J. D. 1994. Introduction to Animal parasitology. Cambridge University Press, 553p.

Windsor, D. A. 1998. Most of the species on earth are parasites. International Journal for Parasitology 28, 1939±1942.

Efeitos da poluição antrópica na fisiologia de invertebrados

No documento Tópicos em Fisiologia Comparativa (páginas 73-76)