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REPRODUÇÃO OU NÃO: EIS A QUESTÃO Endocrinologia Reprodutiva e os desruptores endócrinos

No documento Tópicos em Fisiologia Comparativa (páginas 121-125)

Gabriela Brambila de Souza gabriela.brambila@gmail.com

O sistema endócrino é composto por glândulas que secretam substâncias com ação no organismo estas são chamadas de hormônios. Todas as funções fisiológicas e comportamentais são reguladas diretamente por hormônios ou modificadas por sua ação (Norris e Lopez, 2011). Há ainda uma interação entre o sistema nervoso (S.N.) e o sistema endócrino (S.E.), em que o S.N. transduz sinais, que podem ser externos ou internos, para posterior ação e liberação de hormônios pelo S.E. (Migaud et al., 2010). Os constituintes principais do S.E. são: glândula tireoide e paratireoide, glândula pineal, glândulas adrenais, hipófise, ovários, testículos e placenta.

A reprodução é um processo de perpetuação das espécies, transmitindo as alterações ocorridas no seu genoma para as gerações descendentes (Vazzoler, 1996). Este processo é totalmente dependente dos sistemas nervoso e endócrino e é controlado por estímulos ambientais com maior ou menor intensidade de acordo com a espécie em questão. Tais estímulos como, por exemplo, fotoperíodo, temperatura, sazonalidade, qualidade da água, pluviosidade são perceptíveis através de órgãos sensoriais e transduzidas pelo sistema nervoso, que ativa o sistema endócrino (Migaud et al., 2010).

Uma maior garantia de sobrevivência da prole ocorre quando existe uma sincronização entre as variáveis ambientais adequadas para cada espécie, o desenvolvimento gonadal e a ovulação(Baldisserotto, 2002; Zaniboni-Filho).

Apesar de a reprodução poder ser modulada por estímulos externos, endogenamente é controlada pelo sistema neuro-endócrino, mediado pelo eixo hipotálamo-hipófise- gônadas. Os estímulos ambientais, transduzidos pelo sistema nervoso, estimulam o hipotálamo a sintetizar e liberar um neuro-hormônio chamado hormônio liberador das gonadotropinas (GnRH), que por sua vez estimula as células gonadotrópicas da adeno- hipófise a sintetizar e liberar as gonadotropinas, chamadas de hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). Via corrente sanguínea o FSH e o LH atingem às gônadas e estimulam a produção dos hormônios esteróides gonadais (Bombardelli et al., 2006).

Em fêmeas, o FSH age nas células da teca do folículo ovariano, estimulando as mesmas a captar o colesterol e convertê-lo em testosterona. Este andrógeno é transportado

até as células foliculares onde atua a enzima aromatase que converte a testosterona em estradiol(Baldisserotto, 2002). O estradiol, por sua vez age na maturação e crescimento do oócito (processo também mediado pelo FSH) (Lowe-Mcconnel, 1999),com o aumento nos níveis plasmáticos de estradiol e testosterona, há uma inibição da síntese de FSH, pelo processo conhecido como feedback negativo, e um estimulo junto com a ação do GnRH para secreção de LH nas fases finais do crescimento (Swanson et al., 2003). O LH em animais ovíparos estimula as células da teca a produzir progestágenos, responsável pela maturação final do oócito e ovulação (Melamed et al., 1998; Swanson, et al., 2003). Já em mamíferos o pico de LH induz a ovulação e depois do oócito ser liberado há a formação do corpo lúteo que é o responsável pela produção de progesterona que vai manter a gestação ou vai baixar caso não haja fecundação (Genuth, 2000).

Nos machos o hipotálamo também é modulado exogenamente por fatores ambientais (Korf, 2006). Este então passa a sintetizar e secretar o GnRH que estimula a adenohipófise a sintetizar as gonadotropinas FSH e LH (Rocha e Rocha, 2006). O FSH é o primeiro hormônio gonadotrópico a ser liberado no ciclo reprodutivo, ocorrendo nos primeiros estágios da maturação gonadal, e estimula a produção de 17β-estradiol pelas células de Leydig nos testículos que posteriormente serão convertidos em andrógenos pela estimulação de LH estes andrógenos participam do processo de maturação final e liberação de gametas(Banerjee e Khan, 2008).

Disruptores endócrinos são agentes químicos que tem ações agonistas ou antagonistas dos hormônios naturais (Datson et al., 1997; Witorsch, 2002), ou seja, podem mimetizar ou bloquear o efeito de um hormônio ou ainda alterar sua secreção, seus mecanismos de ação ou seus níveis metabólicos ( Norris and Lopez, 2011). Muitas destas substâncias podem estar presentes no meio ambiente, ou por serem naturais do solo se expondo por meio das erosões ou por contaminações e podem se acumular no solo e nos sedimentos de rios s (Meyer et al, 1999).

O DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) é um dos disruptores endócrinos mais bem estudados, sua ação estrogênica tem sido atribuída à capacidade de um dos seus isômeros se ligar aos receptores estrogênicos (Soto et ai., 1994). Com isso podem causar feminização de pássaros machos (Fry, 1995), inversão sexual com ovários funcionais e capacidade de se reproduzir em machos de Medaka após micro injeção do componente nos ovos e produção de vitelogenina em machos de truta arco-íris (Edmunds et al., 2000).

As consequências de interromper os processos reprodutivos podem se estender para além do indivíduo, com efeitos adversos emergentes dentro de hierarquias sociais, crescimento populacional, estrutura da comunidade e funcionamento do ecossistema (

Norris and Lopez, 2011).

Referências Bibliográficas

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