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Sistema Sensorial: Uma Abordagem Comparativa

No documento Tópicos em Fisiologia Comparativa (páginas 85-88)

Daniele Victoratti do Carmo dani.vic@hotmail.com

Todos os organismos interagem o tempo todo com o seu ambiente por meio de fatores bióticos: os seres vivos, ou por meio de fatores abióticos: temperatura, umidade, vento, pH, salinidade, solo, chuva, luz, gravidade, pressão, oxigênio, etc. E em seu meio interno, os seres lidam com fatores como: nutrientes, água, oxigênio, excretas, fadiga, etc. Ou seja, todos os animais necessitam de informações precisas sobre seus ambientes para que suas decisões sejam adequadas.

A capacidade que um ser vivo tem de reagir a estímulos é chama de irritabilidade. Esta propriedade é essencial e está presente em todos os níveis evolutivos: os organismos unicelulares apresentam uma irritabilidade geral e uniforme e com o desenvolvimento da multicelularidade, aparece a necessidade der conduzir a informação dentro do organismo. Certas células se especializaram, intensificando a sua capacidade de reagir a um estímulo, aumento então, a rapidez de condução.

Estas células são os neurônios que fazem conexões com outros neurônios e com células de suporte chamadas de células da glia, as quais não são excitáveis, formando um sistema nervoso, especializado em receber estímulos, transmiti-los na forma de impulso a diversas partes do organismo e comandar respostas dos efetores.

O neurônio tem a sua estrutura básica praticamente semelhante ao longo da evolução dos metazoários: o neurônio de um celenterado é essencialmente semelhante, em estrutura e função a uma célula nervosa humana. Ao longo da escala zoológica o sistema nervoso foi gradativamente se tornando mais elaborado, mas este grau de complexidade e alterações das estruturas dos neurônios não foi alcançado de forma brusca: os neurônios se tornaram mais numerosos e houve um aumento de suas interconexões.

A maioria das células é moderadamente sensível a muitas formas de energia: mecânica, elétrica, radiante, química, etc, mas somente as células sensoriais ou também chamadas células receptoras conseguem detectar um tipo específico de energia e de transformá-la em alterações elétricas, ou seja, traduzir na linguagem de potenciais de ação, que são os únicos dados passíveis de serem transmitidos aos centros integradores superiores.

Os receptores podem ocorrer de forma isolada ou se organizar em tecidos que formam os órgãos sensoriais, estes que constituem o sistema sensorial . A organização

celular dos órgãos sensoriais permitiu a análise dos estímulos de modo mais preciso do que poderia ser realizado por células receptoras isoladas.

Estas células receptoras estão divididas em três grupos: o primeiro são os exteroceptores que captam estímulos do meio externo, fornecendo informações ao animal gerando ajustes comportamentais. O segundo grupo é chamado de interoceptores que respondem a sinais dentro do corpo e comunicam as informações ao cérebro por vias que normalmente não estão ao nosso nível de consciência: como a pressão osmótica nas células, temperatura, o pH, composição sanguínea, entre outras, isso nos permite sentir fome, sede, náuseas etc. O ultimo grupo pertence aos proprioceptores que monitoram a posição dos músculos e articulações, tendões e órgãos internos do corpo. A função desses receptores é a de informar ao sistema nervoso central sobre a posição, movimento do corpo e o grau de estiramento ou força de contração.

Nesta aula vamos abordar com mais detalhes somente os receptores que captam estímulos externos ao ambiente, que são fundamentais para a sobrevivência do organismo em seu meio, fornecendo informações sobre alimento, temperatura, predadores, identificação de fêmeas, machos ou indivíduos do mesmo grupo, etc.

Uma classificação mais tradicional (desde Aristóteles) destes receptores os agrupam em 5 sentidos: audição, olfato, paladar, tato e visão. Mas o que são os sentidos? Um sentido é um sistema que consiste em um grupo de um tipo de células sensoriais que responde a um fenômeno físico específico, e que corresponde a um determinado grupo de regiões do cérebro onde os sinais são recebidos e interpretados. Discussões sobre o número de sentidos que os seres humanos possuem tipicamente surgem da classificação dos vários tipos de células e as regiões do cérebro correspondentes.

Na escala evolutiva a lista de estímulos aos quais os diferentes animais respondem é muito mais extensa. Uma classificação mais apropriada baseia-se no seu estímulo adequado - no tipo de energia a qual os receptores são sensíveis:

1. Quimiorreceptores: são sensíveis a estímulos químicos, como por exemplo, os receptores de gustação e olfação;

2. Fotorreceptores: são sensíveis a energia luminosa, como por exemplo, os receptores da retina;

3. Mecanorreceptores: respondem a estímulos mecânicos, detectando deformações mecânicas, receptores de som, equilíbrio, movimento, pressão, tensão e contato; 4. Termorreceptores: são sensíveis a variações de temperatura, como os receptores de

calor, frio e radiação infravermelha.

Uma descrição fisiológica sensorial deve incluir dois aspectos: primeiro, as propriedades da célula receptora, que permitem a esta célula sensorial receber informações do ambiente. Um segundo aspecto seria considerar a forma como o sistema nervoso processa as informações das células sensoriais para produzir sensações reconhecíveis. Quaisquer distorções produzidas pelas células sensoriais ou pelo posterior processamento proporcionarão certa característica à nossa percepção de um determinado estímulo, conseqüentemente esta característica parecerá ser do próprio estímulo.

Referências:

ECKERT, R. et al. Fisiologia animal: mecanismos e adaptações. 4 Eds. Madrid : McGraw Hill- Interamericana, 2002.

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Principios de neurociencia. 4a Eds. Madrid : McGraw-Hill Interamericana, 2001.

ROMERO, S. M. B. Fundamentos de neurofisiologia comparada. 1 Eds. Ribeirão Preto: Holos, 2000.

No documento Tópicos em Fisiologia Comparativa (páginas 85-88)