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4 JORNAL DO ALMOÇO – RBS TV SANTA ROSA/RS

4.4 Relacionamento com o público

Dá para se dizer que o Jornal do Almoço é feito 100% baseado na opinião do público. As pautas são, em sua maioria, sugeridas pelo telespectador. Essa relação se dá graças ao posicionamento que a emissora adotou desde o início, quando instalou-se na região de Santa Rosa. Dando espaço para a comunidade aparecer na televisão e indo para as ruas, atrás da opinião, para buscar histórias e fatos que interessassem ao público, a interatividade já vem sendo trabalhada há 23 anos na RBS TV Santa Rosa.

Os materiais enviados pelo telespectador são recebidos por telefonemas, e-mails e também por contato direto da comunidade com os repórteres, em reportagens externas. As sugestões e também conteúdos recebidos passam por uma checagem de dados. No caso de denúncias, é feita uma reportagem e, na sequência, é passada no telejornal, durante a apresentação. Esse novo formato de fazer jornalismo com a participação do telespectador revela, de acordo com Amorim, um estilo participativo. Essa mudança pode ser considerada como um grande marco no século XXI, como o próprio título deste trabalho já apresenta:

O jornalismo participativo que, como dissemos, consiste na modalidade em que cenas cotidianas são registradas por pessoas que não possuem qualquer vínculo ou formação jornalística e são utilizadas pelos veículos na cobertura do dia a dia. A presença dos receptores nos produtos jornalísticos, seja por meio da fala, texto ou imagem, não é advento da contemporaneidade. Não obstante, a expressiva facilidade para a participação propiciada pelas novas tecnologias, e o espaço cada vez maior que vem sendo dado a ela, pode ser considerado um marco do fazer jornalismo no século XXI e do ser receptor numa época em que todos somos capazes de fazer informação (AMORIM, 2009, p. 6-7).

No trecho, o autor quis destacar o fato de que as novas tecnologias estão proporcionando novas ferramentas ao telespectador que não apenas assiste à televisão, mas também participa. Os novos recursos apresentam-se como um advento da contemporaneidade. Essa tendência mostra-se como um recurso de força, pois qualquer cidadão é capaz, a partir dessa percepção, de fazer informação, de se tornar também um emissor e não ser apenas espectador.

O Jornal do Almoço, além de passar matérias noticiosas, de interesse público, também está indo em busca de problemas da cidade a partir das denúncias feitas pelos telespectadores. O telejornal está tendo o intuito de aproximar-se mais do público, para que, dessa forma, ele sinta-se parte integrante da produção e consequentemente da sociedade.

A pessoa, quando liga, está, normalmente, com algum problema. Quer reclamar de algum serviço, de alguma coisa. Ela vê na TV ou seu primeiro canal de ajuda ou o último recurso. Você vai precisar ouvir e ser sensível o suficiente para entender. Pra nós, às vezes, a pauta não é tão relevante, mas para a pessoa que sugere é. Por isso a gente tem que aprender a entender a dificuldade do cidadão e, lembrando também da audiência, achar uma forma de prender as pessoas. O telespectador liga para a emissora sabendo que não vamos resolver, mas que vamos tentar ajudar, apresentar o problema para os órgãos interessados (MATTOS, 2014).

O JA dedica tempo e espaço para a opinião pública de uma forma abrangente; no entanto, o recurso não é usado apenas para beneficiar a comunidade, estreitando relações. O interesse também é em divulgar o nome do telejornal e o da emissora na região. A produção está mais voltada para a sociedade, ou seja, está mais ligada ao jornalismo comunitário. O interesse do jornal não é apenas interagir com o público, criando, assim, vínculos e credibilidade, mas está interessado também em apresentar assuntos da emissora, como campanhas locais. Um exemplo é a ação “O trânsito que eu quero”, criada para conscientizar motoristas e pedestres quanto ao trânsito seguro na região. Com matérias realizadas nas ruas, destacando a campanha, o repórter divulga a iniciativa da RBS, mostrando a preocupação da empresa com o assunto, e, ao mesmo tempo, alerta a comunidade sobre o tema:

Esse realismo da televisão, essa coisa da vida real e das pessoas, é o que nos move. É o que nos faz estar aqui. Um exemplo forte pode ser citado na cobertura de acidentes de trânsito. A gente mostra o acidente porque é uma lição. Porque as pessoas correm, fazem manobras perigosas. Então, esse é o nosso trabalho. Um trabalho de informação, de conscientização. Um trabalho sério, mas sempre baseado nas pessoas. Na nossa comunidade (SACKIS, 2014).

A imagem que o apresentador transmite ao telespectador, fazendo uso de ferramentas voltadas à opinião pública, é positiva. Com um exemplo heroico, uma espécie de defensor dos fatos, ele busca, diante das reivindicações, uma solução. Porém, a sugestão vira notícia apenas depois de ser avaliado o interesse de cada espectador. Assumindo a postura de receptor, o apresentador deixa, conforme o momento e a exigência da informação, o perfil jornalístico de lado, para assumir um lugar mais próximo do público. Dessa forma, ele é capaz de denunciar acontecimentos ao mesmo tempo em que trabalha para obter soluções.

As liberdades de informação e de expressão postas em questão na atualidade não dizem respeito apenas ao acesso da pessoa à informação como receptor, ao acesso à informação de qualidade irrefutável, nem apenas no direito de expressar-se por “quaisquer meios” – o que soa vago, mas de assegurar o direito de acesso do cidadão e de suas organizações coletivas aos meios de comunicação social na condição de emissores/produtores e difusores – de conteúdo. Trata-se, pois, de democratizar o poder de comunicar (PERUZZO, 2007, p. 11-12).

O público do Jornal do Almoço, de acordo com pesquisa atualizada, realizada no primeiro semestre de 2014, disponibilizada pela emissora, mostra o real perfil do público do telejornal. A maioria dos telespectadores são mulheres. Elas correspondem a 56%, enquanto os homens 44%. Destes, 40% são pessoas entre 21 e 40 anos de idade. Relacionando a classe social, a maior parte pertence às chamadas classes B e C, são 64%. Sobre o grau de escolaridade, 64% possuem ensino superior. Com base nisso, o telespectador do Jornal do Almoço define-se, em sua maioria, em mulheres, de 21 a 40 anos, pertencentes às classes B e C, com ensino superior.

Gráfico 5 Gráfico 6 13% 40% 20% 18% 9%

Faixa etária do telespectador do JA

ATÉ 20 ANOS DE 21 A 40 DE 41 A 50 DE 51 A 60 ACIMA DE 61 5% 64% 31%

Classe social do telespectador do JA

A B e C D e E

Gráfico 7

A participação do telespectador é grande nos telejornais da RBS TV Santa Rosa. Na região, o público é participativo. As produções são voltadas, acima de tudo, para o público alvo apresentado nas pesquisas. De acordo com Lisiane, as pessoas ligam muito para a empresa, mandam vários e-mails. Com a questão das redes sociais, por a emissora não possuir um perfil local no Facebook, o espectador acaba deixando recados na página pessoal dos próprios repórteres e apresentadores do grupo. “Essa interação, esse vínculo conosco, geram ótimas reportagens. Trabalhos de uma qualidade e relevância incontestável para a comunidade” (SACKIS, 2014). O grupo, na região, possui uma espécie de rede de colaboradores, que ajudam a construir o Jornal do Almoço diariamente, por meio da participação pública.

Os critérios de seleção são relacionados com a relevância do fato e o alcance da informação. Porém, na emissora, a opinião do público é valiosa. Uma sugestão nunca é desperdiçada, e sim aproveitada, reciclada se necessário. Unir um dado a outro faz com que a programação ganhe espaço na comunidade. Agindo assim, o público percebe que está sendo ouvido, está ganhando espaço, voz. Se sente importante, como se fosse parte da equipe. Os profissionais do grupo, dessa forma, afirmam que o sucesso da emissora na região há mais de 20 anos se dá graças à atenção que dedicam ao telespectador local.

Uma iniciativa diferenciada, com que a RBS TV Santa Rosa conta, é o Fórum do Telespectador. Uma vez por mês a equipe do telejornalismo da emissora se reúne com algumas pessoas que foram selecionadas entre a comunidade. São cidadãos de diferentes

56% 44%

Sexo do telespectador do JA

FEMININO MASCULINO

públicos e idades que sugerem pautas. Destes encontros sai material “muito bacana”, de acordo com Lisiane. As apostas nas ideias do público dão certo na região e acabam gerando ótimos resultados. Os participantes do fórum apresentam assuntos e ao mesmo tempo sentem- se gratificados por fazerem parte da produção.

É muito interessante ter esse outro lado pra nós. Às vezes, como profissional, acabamos ficando tão regrados no que aprendemos na faculdade, que quando nos permitimos com o coração e a mente abertos conseguimos perceber o melhor daquilo que realmente incomoda e aflige as pessoas e também daquilo que elas gostam, que admiram, que acham bacana, as coisas do bem (SACKIS, 2014).

Um exemplo que destaca com clareza a importância da participação do público no Jornal do Almoço e o envolvimento dele com a produção aconteceu na campanha Cabelaço, que visa arrecadar cabelo para a confecção de perucas para crianças com câncer. Segundo Lisiane, uma senhora ligou para a emissora dizendo que gostaria muito de doar o cabelo pelo fato de ser uma paciente de câncer e ter que passar por uma quimioterapia, onde perderia o cabelo da mesma forma, e gostaria de saber como proceder com a iniciativa. No primeiro momento ela estava sendo apenas uma telespectadora em busca de informação. Porém, ao perceber que aquele relato renderia uma boa história que serviria como exemplo às pessoas, Lisiane sugeriu que ela desse uma entrevista à equipe de reportagem. No início ela negou e disse que, se resolvesse, entraria em contato novamente com a emissora. No outro dia ela ligou, agendando o encontro com a equipe: “Foi um dos depoimentos mais emocionantes que nós tivemos nessa questão dos cabelos. Ela era uma pessoa super bacana. Comunicativa. Fez o corte no cabelo e ficou mais bonita ainda” (SACKIS, 2014).

De telespectadora ela passou a personagem principal na história real. A participação do público, às vezes, parece insignificante para ele mesmo, mas para o jornalista não. Histórias assim, vindas por meio de uma simples ligação, de uma mera informação, geram ótimas reportagens de conscientização e superação. A participação do telespectador na produção do Jornal do Almoço é aberta, sem limites.

As pessoas nos ligam e dizem ‘ah Lisiani, estou falando contigo’. Acho muito legal isso porque elas têm essa proximidade. E essa proximidade é um ponto muito favorável para fazer as nossas matérias. A gente precisa ter essa atenção das pessoas. Sempre digo aos meus repórteres, vai na matéria de coração aberto (SACKIS, 2014).

As ferramentas utilizadas pela RBS TV Santa Rosa, para estreitar o relacionamento como a comunidade, são eficazes na medida em que dão espaço à opinião. Desenvolver matérias, campanhas, programas voltados ao telespectador e à preservação de sua vida, como

relacionado neste capítulo no exemplo da campanha do trânsito criada pensando na segurança da comunidade, evidencia o comprometimento com o público e o nível satisfatório de interatividade exigido pela atualidade para o sucesso da informação. O espaço que o Jornal do Almoço dedica ao público, às sugestões do telespectador, fortalece os 22 anos de existência da emissora na região.