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Da ridigez à interatividade: novas formas de aproximação com o público após a queda da bancada no telejornalismo

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

ANDRÉ DA COSTA

DA RIGIDEZ À INTERATIVIDADE: NOVAS FORMAS DE APROXIMAÇÃO COM O PÚBLICO APÓS A QUEDA DA BANCADA NO TELEJORNALISMO

Ijuí, RS 2014

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ANDRÉ DA COSTA

DA RIGIDEZ À INTERATIVIDADE: NOVAS FORMAS DE APROXIMAÇÃO COM O PÚBLICO APÓS A QUEDA DA BANCADA NO TELEJORNALISMO

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo – da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social.

Orientador: Professor MSc. Marcio da Silva Granez

Ijuí, RS 2014

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A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A MONOGRAFIA

DA RIGIDEZ À INTERATIVIDADE: NOVAS FORMAS DE APROXIMAÇÃO COM O PÚBLICO APÓS A QUEDA DA BANCADA NO TELEJORNALISMO

ELABORADA POR ANDRÉ DA COSTA

Como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________________ Professor MSc. Marcio da Silva Granez (orientador)

__________________________________________________ Professor MSc. André Gagliardi (banca titular)

__________________________________________________ Professor MSc. Celestino Perin (banca suplente)

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AGRADECIMENTOS

Ao chegar aqui, no fim de mais uma caminhada, é indispensável demostrar gratidão às pessoas que, de alguma forma, me apoiaram a trilhar este percurso com determinação. Foram

muitos os que estiveram ao meu lado durante os quatro anos de estudos de Graduação, ajudando a superar obstáculos que surgiam ao longo do trajeto.

Primeiramente, agradeço a Deus, por ter me guiado e capacitado para desempenhar com exatidão esta profissão tão encantadora que é o jornalismo. A Ele minha eterna gratidão,

pela sabedoria e forças enviadas para continuar sempre de cabeça erguida rumo aos meus objetivos.

Obrigado à minha família, que sempre esteve ao meu lado. Em especial aos meus pais, que estiveram comigo nos momentos mais difíceis e, mesmo assim, não desanimaram, não esmoreceram, mas que sempre me motivaram a continuar. A homenagem também vai para a

minha namorada, que não mediu esforços para estar ao meu lado. Que, por muitas vezes, dispensou do seu tempo para lutar junto comigo, dando-me forças.

Agradeço ao professor Marcio da Silva Granez, orientador desta monografia, pelo empenho e dedicação ao avaliar o trabalho, apontar os caminhos certos.

Estendo a gratidão a todos os professores da Unijuí, que em quatro anos me apresentaram o mundo do jornalismo e aprofundaram meus conhecimentos na área pela qual sou apaixonado. São eles os grandes responsáveis pela minha formação e por tudo o que vou

levar para a carreira profissional.

Obrigado à equipe da RBS TV Santa Rosa por ter aberto as portas da emissora para a realização deste estudo. Agradeço, em especial, à coordenadora de telejornalismo do grupo,

Lisiane Sackis, pela disponibilidade e apoio à pesquisa, juntamente com os demais profissionais que colaboraram para o sucesso do trabalho.

Aos meus amigos, pela grande parceria e por todos os momentos que vivemos e ainda teremos juntos. Por tudo o que vocês representam, pelos momentos de felicidade absoluta e

mesmo as tristezas que compartilhamos, meu muito obrigado. A todos sou imensamente grato.

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“Não basta olhar. Não basta escrever. Não basta

divulgar. É preciso viver o fato. Sentir pulsar nas veias e bombear o coração. Quando isso acontece, morre o contador de histórias e nasce o jornalista.”

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RESUMO

Este trabalho surgiu da necessidade de o público conhecer um pouco mais sobre as facetas usadas pelo telejornalismo brasileiro e gaúcho para obter aproximação e intimidade com o telespectador. Além disso, a especulação foi sobre os reais motivos de os telejornais estarem dando espaço para a voz da comunidade e assim, consequentemente, estarem adotando esse novo formato de fazer notícia, mais participativo e dinâmico, com uma interatividade maior em comparação com o formato antigo. O trabalho irá apresentar o telejornal Jornal do Almoço, do Grupo RBS TV, como foco de pesquisa. A análise se deterá na participação do telespectador no jornal, levando em consideração o espaço que ele dedica ao envio de sugestões e também críticas. O estudo pondera a hipótese de se realmente existe a questão da interatividade ou se o telejornal está usando apenas mais uma estratégia para alavancar os índices de audiência.

Palavras-chave: Interatividade. Telejornal. Telejornalismo participativo. Telespectador. Linguagem. Jornal do Almoço. RBS TV.

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ABSTRACT

This work emerged from the need of the public to know a little more about the facets used by Brazilian and "gaúcho" television journalism to achieve closeness and intimacy with the viewer. Furthermore, the speculation was about the real reasons why the newscasts are giving space for the community's voice and , thereafter, are adopting this new format of making news more participatory and dynamic, with greater interactivity compared to the old format . The paper will present the newscast "Jornal do Almoço", from RBS TV Group, as the focus of research. The analysis will be detained on the participation of the viewers in the newcast, considering the space it devotes to suggestions and also criticism. The study considers the hypothesis of the existence of an actual interactivity or if the newscast is only using a strategy to boost the ratings.

Keywords: Interactivity. Newscast. Participatory television journalism. Viewer. Language. "Jornal do Almoço". RBS TV.

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LISTA DE IMAGENS Imagem 1 ... 45 Imagem 2 ... 46 Imagem 3 ... 47 Imagem 4 ... 47 Imagem 5 ... 52 Imagem 6 ... 52 Imagem 7 ... 59 Imagem 8 ... 65 Imagem 9 ... 67 Imagem 10 ... 72 Imagem 11 ... 81

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: O consumo cresceu mais que o PIB ... 40

Gráfico 2: A TV é o meio mais utilizado pelos gaúchos ... 41

Gráfico 3: O tempo dedicado ao meio é cada vez maior ... 42

Gráfico 4: Preferida durante todo o dia ... 43

Gráfico 5: Faixa etária do telespectador do JA... 77

Gráfico 6: Classe social do telespectador do JA ... 77

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 12

1 A MAGIA DA FIGURA EM MOVIMENTO ... 15

1.1 O surgimento da televisão no Brasil ... 15

1.2 O telejornalismo brasileiro desde o princípio ... 20

1.3 Reflexos da mudança tecnológica ... 25

2 A PRODUÇÃO JORNALÍSTICA ... 27

2.1 Seleção de fatos cotidianos ... 27

2.2 A notícia como principal ferramenta dos meios de comunicação ... 30

2.3 Critérios na busca de fontes e na criatividade de edição ... 33

3 PERFIL TELEVISIVO: A INTERATIVIDADE MULTIMÍDIA ... 36

3.1 Aproximação por meio da linguagem ... 36

3.2 Telejornal e telespectador: uma relação interativa ... 37

3.3 Interatividade como forma de atrair audiência ... 39

3.4 A transformação da experiência com a TV ... 44

3.5 O processo da interatividade ... 49

4 JORNAL DO ALMOÇO – RBS TV SANTA ROSA/RS ... 55

4.1 Contextualizando ... 55

4.2 Mais de 20 anos de Jornal do Almoço ... 58

4.3 Como os profissionais da emissora avaliam as mudanças ... 62

4.4 Relacionamento com o público ... 75

4.5 Síntese ... 80

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 85

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CONSIDERAÇÃOS INICIAIS

Este projeto objetiva um estudo baseado em análise das transformações do telejornalismo. O intuito dialoga com a nova realidade dos profissionais frente à necessidade de interação e maior abrangência de conhecimentos. Compõe-se de um estudo de caso sobre as formas de aproximação com o público no Jornal do Almoço, programa da afiliada da Rede Globo de Televisão, do Grupo RBS, tendo em vista um apontamento sobre as novas facetas do jornalismo no século XXI. O case do trabalho é o principal telejornal da RBS TV. A análise foi realizada a partir da observação da produção do programa e de entrevista em profundidade com jornalistas do veículo. O princípio é abordar os avanços do telejornalismo, a interatividade com o público, o diálogo ao apresentar as notícias e a posição do jornalista perante o telespectador.

Como os demais meios de comunicação, a televisão possui função primordial na vida das pessoas. O telejornalismo e a televisão são os responsáveis pela construção da identidade social na contemporaneidade. Mesmo inconscientemente, os dois firmam com o público um diálogo diário, fortalecendo laços invisíveis entre o público e a mídia.

Sinônimo de audiência, o profissional estabelece intimidade e proximidade com o receptor, definindo a satisfação do telespectador. Esse estudo visa analisar como o telejornalismo se adapta às exigências da sociedade. Esta interação que acontece entre telespectador e meio de comunicação vem trazendo ao profissional de jornalismo a necessidade de abranger, cada vez mais, as diversas características que o telejornalismo possui.

Enfatizando a importância e a necessidade de um telejornalismo interativo, inovador e, ao mesmo tempo, próximo da sociedade, trouxemos por meio deste trabalho profissionais que atuam em telejornais que, de alguma forma, contribuem para a excelência da informação independentemente dos formatos de apresentação que a televisão exige. Tendo como estudo de caso o Jornal do Almoço, principal telejornal do Grupo RBS, buscamos, mediante contato com jornalistas, analisar sua relação com o novo cenário da notícia, destacando a importância do profissional multimídia no século XXI.

Com a necessidade de oferecer formas atrativas e interativas ao público, e com o surgimento de novas formas de prender a atenção do telespectador em frente à televisão, o telejornalismo no século XXI mudou. Mas será que a nova linguagem e formato adotado

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agradaram o telespectador? Com análise voltada para o Jornal do Almoço, indaga-se: o que os profissionais de comunicação e o público local acharam da transformação?

Em um período em que tudo se transforma e cultua-se a inovação, os veículos de comunicação, principalmente a televisão, passaram por fortes e significativas mudanças. Daí surgiu o interesse em responder às questões destacadas anteriormente. Os avanços do telejornalismo e a interatividade com o público se tornaram questões fundamentais no cenário da notícia. Com uma análise precisa vamos pontuar as principais mudanças e reflexos do estilo.

Os principais objetivos deste trabalho de conclusão de curso são mostrar o novo formato contemporâneo do telejornalismo. Ao mesmo tempo, queremos ressaltar as mudanças e adaptações realizadas para obter aproximação com o público. Dessa forma, revelar o novo perfil dos apresentadores, enfatizando a naturalidade, espontaneidade e a liberdade do profissional. Com isso, abordaremos o atual cenário de apresentação da notícia, descobrindo a opinião do telespectador sobre a postura dos âncoras e a nova linguagem, tanto oral como corporal, adotada na apresentação e na produção do noticiário.

Inicialmente, por meio de pesquisa aprofundada, contextualizaremos a história da televisão. Em seguida, essa história será enfatizada no contexto brasileiro, relacionando-o ao mundial. Aqui, busca-se apresentar a importância dos meios de comunicação para a sociedade na formação de opinião e sentido. Em seguida, abordar o surgimento do telejornalismo e os formatos que o estilo apresentava em seu princípio. Após, o objetivo é explanar sobre o perfil do âncora e as funções desenvolvidas. No decorrer do trabalho, evidenciar a importância do profissional multimídia, em destaque no século XXI.

A abordagem do estudo de caso inicia apresentando a emissora da RBS TV de Santa Rosa com foco no Jornal do Almoço. Baseando-se em dados disponibilizados pela empresa, saber o que o telespectador pensa sobre o formato com e sem bancada. Juntamente com a análise, descobrir a opinião do público sobre a postura e a linguagem usada e os motivos pelos quais colabora com a produção. Analisar também, por meio de entrevista em profundidade, como os profissionais da emissora avaliam as mudanças.

Levantamentos bibliográficos e entrevistas com profissionais que atuam na área, fazendo uso de citações de autores e entrevistados, com os quais foi abordado o assunto, enriquecerão o trabalho. Diálogos com profissionais que passaram do telejornalismo de bancada para o espontâneo também fazem parte do planejamento de estudos. Leitura de livros de teoria, sites e artigos que abordam temas correlatos ao da pesquisa fundamentarão o raciocínio e o resultado apresentado ao final deste trabalho.

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Os objetivos iniciais não propunham uma crítica, mas sim uma comparação entre a forma antiga de se fazer televisão e a adotada atualmente. Mais interativa e com um perfil inovador de profissional. Tratando o fato de forma a contribuir na prioridade e na conservação do hábito de manter-se informado assistindo a telejornais, o telejornalismo soube explorar sua potência enquanto área de comunicação. A partir da pesquisa, os telejornais poderão ser vistos de um ângulo mais completo. Dessa forma, o telespectador poderá analisar a interatividade e a pluralidade na informação.

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1 A MAGIA DA FIGURA EM MOVIMENTO

1.1 O surgimento da televisão no Brasil

Como os demais meios de comunicação, a televisão possui função primordial na vida das pessoas. Juntamente com ela surge o telejornalismo. Ambos estão entre os responsáveis pela construção da identidade social na contemporaneidade. Mesmo inconscientemente, os dois firmam com o público um diálogo diário. Fortalecem laços invisíveis entre telespectador e mídia. Ao longo da trajetória desse meio tão popular, há uma história. Uma série de mudanças, tanto na forma de produzir como de apresentar. Com o passar do tempo, o que se fez foi aprimorá-lo. Surgiram novas linguagens, formatos e cenários.

Com televisão nos Estados Unidos e na Europa, os brasileiros não esconderam o desejo de tê-la no Brasil. Porém, para isso acontecer não bastava apenas ambição do povo. Seria necessário o poder aquisitivo de algum grande empresário. De perfil visionário. Empreendedor, arrojado e progressista. Estas eram as principais características do jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. “Em fins da década de 1940 o pioneiro reuniu seus amigos mais íntimos e comunicou: ‘Vamos instalar uma emissora de televisão em São Paulo, e já providenciei a encomenda do aparelhamento’” (SAMPAIO, 1984, p. 199).

Quem julgava inconcebível a iniciativa de instalar uma emissora no país, deparou-se com a concretização da ideia no dia 18 de setembro de 1950. A data foi marcada com a inauguração da primeira emissora brasileira. A solenidade aconteceu na capital paulista. Denominada como Televisão Tupi Difusora (TV Tupi), foi pioneira em caráter regular, na América Latina. Com a novidade, o Brasil colocou-se em quarto no mundo na radiodifusão de imagens. Dono do império chamado Diários Associados, Chateaubriand possuía 36 rádios, 34 jornais e 18 canais de televisão. O período era favorável ao desenvolvimento da televisão e também ao telejornalismo no país.

Na década de 50, o Brasil passava por importante processo de desenvolvimento econômico, social e político. A indústria nacional crescia intensamente, os centros urbanos se transformavam com atividades comerciais, financeiras, de serviços e de educação. Na política, Getúlio Vargas assumia a presidência, substituindo o general Eurico Gaspar Dutra. O ambiente era favorável ao desenvolvimento da TV e, consequentemente, à consolidação do telejornalismo brasileiro (SECCHIN, 2007, p. 4).

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A televisão foi estabelecida oficialmente em setembro de 1950, porém começou a ser propagada em fevereiro de 1949. Juntamente com uma empresa americana, chamada RCA Victor, Chateaubriand adquiriu os equipamentos necessários para preparar a emissora. Para facilitar e agilizar os serviços, nomeou três diretores responsáveis para a implantação. Mário Alderighi, Cassiano Gabus Mendes e Georges Henry foram os indicados.

O que poucos sabem da história do veículo brasileiro é que o lançamento da TV Tupi foi realizado aos trancos e barrancos. Com muitos contratempos. Quando percebido, período antes da data de implantação oficial, que em São Paulo não existia um aparelho sequer para captar as imagens transmitidas, Chateaubriand obrigou-se a tomar medidas drásticas. Ações ilegais. Sem tempo hábil para importar os televisores até a data de inauguração, ordenou a entrada de aparelhos contrabandeados no Brasil. A decisão adotada foi necessária em virtude da demora se encomendadas de forma legal, por causa da burocracia exigida. Já na capital paulista, antes da inauguração, os receptores foram instalados em estabelecimentos comerciais da cidade. Em bares e lojas.

Nessas análises históricas sobressaem as memórias de um tempo cuja marca mais evidente eram as ações improvisadas. Improviso que levou ao extremo de se descobrir, na hora mesmo da inauguração, que não havia receptores para um público ainda em formação. Nessas histórias há sempre referência ao fato de Chateaubriand ter 'contrabandeado' duzentos aparelhos, espalhados pelas ruas de São Paulo, para que pudessem ser vistas as imagens do primeiro dia de transmissão (RIBEIRO, SACRAMENTO, ROXO, 2010, p. 17).

A orquestra do maestro e também diretor da TV Tupi na época Georges Henry marcou a primeira transmissão da emissora. Com a melodia de Antonio Manoel de Espírito Santo e Benedito Macedo, a inauguração foi ao som de Cisne Branco. Uma das peculiaridades na época foi Hebe Camargo. Considerada rainha da televisão brasileira, surgiu do rádio. Ela seria a estrela do encerramento da solenidade. Faria um show, onde cantaria “Canção da TV”. No entanto, um incidente tirou a voz de Hebe, deixando-a rouca. Com isso, Lolita Rodrigues e Vilma Bentivegna foram as escolhidas para substituí-la.

Atingindo grande parte do território brasileiro, o rádio era o meio de comunicação mais popular no país na época. Justamente nesse período surgiu a TV Tupi. Com isso dificuldades já eram previstas. Para evitar contratempos, dois anos antes da instalação da emissora no Brasil, os Diários Associados iniciaram um processo de capacitação de seus radioatores. Por meio de iniciativas cinematográficas, medidas foram adotadas para popularizar a imagem dos artistas, já que, com o surgimento da televisão, as vozes juntar-se-iam com os rostos.

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Em decorrência de o rádio ser o veículo de comunicação de maior abrangência e audiência em 1950, a televisão brasileira acabou sendo assinalada como um meio publicitário. A origem veio do modelo apresentado pelas emissoras estrangeiras, norte-americanas. Por não ter um público significativo, não teve sucesso com anunciantes. Usando o veículo como estratégia, as agências de propaganda de outros países com sedes no Brasil manifestavam domínio sobre o meio de comunicação até mesmo na programação. Aproveitando-se de seu conhecimento, interferiam nas produções da emissora.

Nos primeiros anos os patrocinadores determinavam os programas que deveriam ser produzidos e veiculados, além de contratar diretamente os artistas e produtores. O patrocinador decidia sobre tudo e à emissora restava a tarefa de ceder estúdios e equipamentos e pôr o programa no ar [...] Exatamente por isso, durante as duas primeiras décadas de nossa televisão, os programas eram identificados pelos nomes dos patrocinadores. Em 1952, e por vários anos subsequentes, os telejornais tinham denominações como: ‘Telenotícias Panair’, ‘Repórter Esso’, ‘Telejornal Bendix’, ‘Reportagem Ducal’ ou ‘Telejornal Pirelli’. Os demais programas também tinham nome do patrocinador: ‘Gincana Kibon’, ‘Sabatina Maisena’ e ‘Teatrinho Trol’ (MATTOS, 2002, p. 70).

Com o passar do tempo, a televisão se consagrou. Tornou-se o veículo de comunicação preferencial. O “queridinho” das agências de propaganda. No entanto, em decorrência destes fatores, foi apenas na década de 60 que conseguiu alcançar o posto de estratégia publicitária mais evidente e significante do Brasil.

O autor do livro “Um perfil da TV brasileira”, Sérgio Mattos, para melhor apresentar a evolução da televisão no país, dividiu o perfil global do veículo em fases. São seis partes que apresentam o desenvolvimento do meio através de períodos. Compreendida entre os anos de 1950 a 1964, está a chamada fase elitista. Na sequência, de 1964 a 1975, a populista. De 1975 a 1985 destaca-se o desenvolvimento tecnológico. Logo vem a transição e expansão internacional de 1985 a 1990. Já a globalização e a TV paga estão entre 1990 e 2000. Como última divisão, Mattos salienta a convergência e qualidade digital, com início em 2000 e estendida até os dias de hoje.

Considerado um equipamento luxuoso, a televisão foi vista com olhos diferentes na fase elitista. O custo de um aparelho chegava a se igualar ao de um carro da época. Quem tinha um receptor em casa era apenas a alta sociedade. Membros da considerada elite econômica. Eram eles os proprietários dos primeiros 200 televisores contrabandeados por Chateaubriand para a inauguração da TV Tupi, em 1950.

No ano seguinte o cenário já era diferente. Em 1951 o país passou a fabricar seus próprios aparelhos. A marca era Invictu. Com a iniciativa brasileira, o valor de um televisor ficou mais acessível. Em um curto período, o equipamento tomou a casa da população. O

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sonho de ter acesso à mídia diferenciada, com som e imagem, diferente do rádio, tornava-se, aos poucos, realidade. Enquanto em 1950 existiam apenas 200 receptores no país, trazidos pelo pioneiro Chateaubriand, em 1952 o Brasil contava com mais de 10 mil equipamentos. Assim, ano a ano o número aumentava. Todos queriam acompanhar os programas veiculados: “ato este que veio facilitar o acompanhamento, ainda no mesmo ano, dos capítulos da primeira telenovela brasileira. Com o título de ‘Sua vida me pertence’” (MATTOS, 2002, p. 95).

Baseado em um programa de rádio de sucesso, em 1952 foi implantado na TV Tupi o telejornal Repórter Esso. O nome é devido ao apoio publicitário recebido na produção, o que sustentava a transmissão. O perfil do programa mostrava um apresentador e patrocínio de uma única marca. Com o sucesso da experiência, o estilo foi adotado em todas as emissoras inauguradas por Chateaubriand no Brasil. Porém, este não foi o primeiro telejornal brasileiro. As produções jornalísticas eram vistas desde o segundo dia de funcionamento da TV Tupi. O programa noticioso, semelhante ao radiofônico, chamava-se “Imagens do Dia”, como vamos resgatar na história do telejornalismo no Brasil mais adiante.

O golpe de estado de 1964 aconteceu durante a fase populista da televisão. Devido ao novo cenário econômico, os veículos de comunicação foram afetados. A mídia passou a exercer outra função. Focou-se na difusão. O meio se viu entre a produção de bens duráveis e não-duráveis. O desenvolvimento nacional foi direcionado para a industrialização. Com isso a televisão foi se popularizando. A partir daí, o improviso foi deixado de lado. Foi esquecido. Quem ganhava espaço era o formato norte-americano, julgado como um perfil centrado. De mais credibilidade e percepção profissional.

Os governantes pós-64 estimularam a promoção de um desenvolvimento econômico rápido, baseado num tripé formado pelas empresas estatais, empresas nacionais e corporações multinacionais. Promovendo reformas bancárias e estabelecendo leis e regulamentações específicas, o Estado, além de aumentar sua participação na economia como investidor direto de uma série de empresas públicas, passou a ter à sua disposição, além do controle legal, todas as condições para influenciar os meios de comunicação através das pressões econômicas (Mattos, 1985 apud MATTOS, 2002, p. 105).

Foi no período populista que também surgiu a TV Globo. Já na fase do desenvolvimento tecnológico, a emissora começou a competir no mercado exterior. A importância das produções dava-se devido ao aperfeiçoamento e profissionalismo do trabalho. De acordo com Mattos, neste período a televisão começou a ficar menos dependente. No entanto, no aspecto publicitário a realidade ainda era a mesma. Enquanto a liberdade

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prevalecia economicamente e tecnologicamente, quando o assunto envolvia as agências de propaganda, o vínculo continuava sendo o mesmo desde o princípio da televisão no país.

Dando percepção para o mercado estrangeiro, a competitividade entre grandes redes surgiu na fase de transição e expansão internacional. Mas ainda no período compreendido pelo desenvolvimento tecnológico, em 1980, foi a vez de o Grupo Silvio Santos surgir. Contudo, as transmissões só iniciaram no ano seguinte, em 1981, sob o nome de Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).

Com grande maturidade técnica e empresarial, é na fase compreendida entre os anos de 1985 e 1990 que, de acordo com Mattos, a televisão passou pela primeira eleição presidencial por voto popular.

Os debates entre os candidatos, transmitidos pelas redes de televisão, atingiram os mais altos índices de audiência, influindo decisivamente nos resultados. Observe-se que depois de empossado, Fernando Collor de Mello, da mesma maneira que os presidentes militares e o presidente da Nova República, também está fazendo uso da mídia eletrônica para buscar respaldo para as medidas governamentais que vem adotando (MATTOS, 2002, p. 124).

Na fase da globalização e da TV paga, em 1990, iniciou-se o processo da televisão por assinatura. A partir do surgimento da nova base, com formato adotado americano, foram percebidos também os primeiros anseios rumo à interatividade. Em 1992 estreava o programa Você Decide. A pioneira no estilo foi a Rede Globo. Por apresentar um formato diferenciado, com a participação do público, a produção agradou o telespectador, destacando-se como um sucesso na programação da emissora. A partir do estilo adotado, foi estabelecido um laço entre o telespectador e a televisão. A interatividade ganhou espaço e o gosto do público.

No final dos anos 90, o país já demonstrava um avanço significativo em termos de transmissão. Eram seis operadoras de televisão por assinatura. Elas surgiram graças ao espaço dado em 1995, com a instituição da Lei da TV, de número 8.977. Contudo, no Brasil a TV a cabo não teve muito sucesso na época. O número de assinantes era pequeno, devido ao poder aquisitivo da população. Já nos Estados Unidos, o setor lidera o mercado. Existem mais pessoas com sinal pago do que aberto.

Os primeiros indícios de uma convergência digital são destacados na última fase salientada por Mattos. Definida como convergência e qualidade digital, a divisão apresenta os avanços do meio de comunicação desde 1999, um ano antes de o período iniciar de fato. O princípio crucial para a transformação foi marcado com a mudança do sistema analógico para o digital. Com a nova medida, o país ganhou uma televisão com qualidade de som e imagem.

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No livro “O Âncora e o Neoliberalismo: A privatização do Sentido”, os autores Roberto Ramos e Osvaldo Biz asseveram a singularidade que os meios eletrônicos possuem sobre a imprensa, referenciando a realidade e os perfis do jornalismo e da televisão. Ainda na fase da convergência e qualidade digital, as mídias uniram-se. A vez parece ser da interatividade. Da aproximação com os diversos meios e públicos.

A mídia impressa e eletrônica parece possuir uma força cultural e ideológica, espantosamente, admirável. Cria modismos, estilos, e os vende, com um invulgar comportamento econômico e comercial. Parece ser um significante, que tece a realidade e os perfis das subjetividades. No Brasil, a mídia eletrônica, sobretudo, através da televisão, parece transcender a sua singularidade. Pluraliza uma diversidade de papéis e práticas. Tal superdimensionamento cultural e ideológico pode dialogar com um repertório de fatores (RAMOS, 1998 apud BIZ, 2007, p. 9).

Desde 2000, com a última fase da televisão destacada por Mattos, a sociedade faz uma leitura de tudo que vê no veículo, influenciando-se pelo que é mostrado. Com recursos subjetivos, o novo cenário, apresentado principalmente nos telejornais, é onde a opinião do público é formada. É ali que se compõe um diálogo interativo com o receptor. O conjunto dos recursos ajuda a construir uma relação entre o estúdio, ambientes familiares e a rua. Essas mudanças acabam contribuindo para que os telespectadores tenham confiança no que é noticiado, facilitando e firmando um elo de credibilidade entre os dois. A interatividade nas produções televisivas, principalmente no novo telejornalismo, desperta no público a sensação de contato direto com a informação.

1.2 O telejornalismo brasileiro desde o princípio

A história da televisão é interligada com a do jornalismo brasileiro. Com os avanços da comunicação no país, representado pela chegada da TV, oferecer algo diferenciado e atrativo era fundamental. Não bastava abordar os acontecimentos da época apenas com a imagem e voz de um apresentador. Era necessário, desde lá, como atualmente, dar credibilidade para a notícia. Mostrar os fatos e não apenas narrá-los.

A linguagem jornalística na televisão tem um traço específico que a distingue: a imagem. A força da mensagem icônica é tão grande que, para muitas pessoas, o que a tela mostra é o que acontece, é a realidade. Por isso, a TV ocupa um status tão elevado, o que faz com que os telespectadores, especialmente os pouco dotados de senso crítico, lhe dêem crédito total, considerando-a incapaz de mentir para milhões

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de pessoas. O fato de ter na informação visual o seu elemento mais expressivo determina que haja um entrosamento sincronizado entre imagem e palavra (REZENDE, 2000, p. 76).

O telejornalismo veio à tona no momento certo. No mais oportuno. Com a chegada da televisão ao Brasil, sentiu-se a necessidade de informar um público curioso com a novidade em preto e branco. Um dia após o lançamento da TV Tupi em São Paulo, o programa jornalístico “Imagens do Dia” deu vida à notícia. Foi o primeiro telejornal brasileiro. Quem o apresentava era o locutor, produtor e redator Ruy Rezende, vindo do rádio.

Sem estar dentro de uma programação sólida, o produto não tinha um horário fixo para exibição. Todos os dias ia ao ar por volta das nove horas da noite. Analisando o nome do telejornal, a impressão é de que possuía uma produção de vídeo frequente. Porém, grande parte das imagens usadas era de cinema e documentários. Materiais que sobravam e eram reutilizados para dar vida à informação. Os critérios de produção não existiam naquela época. Muito menos a convergência. Os textos eram trazidos do rádio e lidos da mesma forma. Sem correções e adaptações.

Com locução em off, um texto em estilo radiofônico, pois o rádio era o modelo que se tinha na época. Entrava no ar entre as nove e meia e dez da noite, sem qualquer preocupação com a pontualidade. O formato era simples: Rui Rezende era o locutor, produtor e redator das notícias, e algumas notas tinham imagens feitas em filme preto e branco, sem som (PATERNOSTRO, 1999, p. 35).

De acordo o autor do livro “Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial”, Guilherme Jorge de Rezende, os primeiros telejornais da década de 50 eram precariamente produzidos e carentes de qualidade. Devido à má condição técnica disposta, as coberturas externas não eram realizadas. Não tinham espaço no programa. No entanto, o ao vivo tomava a maior parte do tempo dos noticiários.

Mesmo com tantas dificuldades e com uma linguagem radiofônica, a TV Tupi resolveu arriscar e lançar um segundo programa jornalístico. Desta vez, Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para a nova aposta. Chamado Telejornal Brahma, o programa contava com a colaboração de Luis Jatobá. Enquanto isso em São Paulo, com pouco mais de um ano no ar, o Imagens do Dia se despedia do público para dar espaço a um telejornal que, segundo Rezende, seria pontual. Surgiu então o Telenotícias Panair, que tinha duração de vinte minutos diários. O período era cômodo ao avanço da televisão e também aos novos métodos de informação. Ao jornalismo.

Ganhando mais dinamismo, o telejornalismo foi se modificando. O modelo brasileiro, inspirado no norte-americano, apresentava dois jornalistas na bancada, diferente do que será

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analisado neste trabalho, o Jornal do Almoço, que atualmente possui apenas um âncora, tanto nos telejornais locais da RBS TV como no estadual. No período, não havia um padrão definido quanto ao formato do programa. No início, o estilo jornalístico não transmitia aos telespectadores expressão e muito menos força.

Em 1953, no dia 17 de junho, estreava o terceiro telejornal da televisão brasileira. Ele seria o primeiro jornal de sucesso no Brasil. O nome carregava o patrocinador. Repórter Esso se manteve no ar por cerca de 20 anos. Apresentado por Kalil Filho, o programa se manteve até 1970. Como os cariocas não poderiam ficar para trás, o Rio de Janeiro recebeu uma versão em 1954. Diferente do Imagens do Dia, o Repórter Esso tinha horário certo para exibição, às oito da noite. Com a frase “Aqui fala o repórter Esso, testemunha ocular da história”, o telejornal divulgava o nome do apoiador, juntamente com um slogan que marcava a produção.

Estava decidido o término do Repórter Esso também na televisão, e com data marcada: 31 de dezembro de 1970. No entanto, ate chegar a esse momento, a síntese, no rádio e na televisão, acompanharia vários episódios da história brasileira, noticiando e influenciando a opinião pública, o que conferiu ao programa uma das maiores audiências da comunicação nacional e internacional (KLÖCKNER, 2011, p. 187).

Com os telejornais ganhando espaço e o gosto do público, surgiu o primeiro repórter de vídeo da TV brasileira. José Carlos de Morais, mais conhecido como Tico-tico, foi lançado no jornal Edição Extra, apresentado por Maurício Loureiro Gama. Esse foi o primeiro programa jornalístico vespertino no país.

Com o cenário próximo da ditadura militar, foi criado o Jornal de Vanguarda, na TV Excelsior do Rio de Janeiro em 1962. O programa era uma tentativa de atingir os incomodados da época com a situação de opressão que se aproximava. O telejornal foi criado por Fernando Barbosa Lima. A proposta inovou. Locutores e comentaristas foram colocados na produção. Um deles foi Célio Moreira. Como os demais jornais, não ficou muito tempo em exibição. Em 1968 foi retirado do ar por censura. Seguindo a mesma linha do Jornal de Vanguarda, surgiu na TV Excelsior de São Paulo, um ano após a estreia no Rio de Janeiro, o Show de Notícia. Ficou no ar de 1963 a 1964. O responsável pela produção jornalística era Fernando Pacheco Jordão.

Criado pelo diretor de jornalismo da emissora Rede Globo de Televisão, no dia 1º de setembro de 1969 estreou o Jornal Nacional (JN), o primeiro telejornal da emissora, produzido no país. Apresentado por dois âncoras, Cid Moreira e Hilton Gomes, o programa jornalístico que ia ao ar todas as noites tornou-se, com o tempo, referência para a imprensa

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nacional. Por ser um telejornal inovador, o programa foi o primeiro da televisão brasileira a mostrar reportagens em cores e internacionais ao vivo. Hoje, mesmo com bancada, o JN é líder de audiência em todo o país. Ao longo dos anos, novos âncoras surgiram, mas o telejornal não perdeu a essência de levar, todas as noites, notícias relevantes, claras e com credibilidade ao público.

As tradicionais saudações de abertura, como bom dia, boa tarde e boa noite, que dão início aos telejornais brasileiros, foram incorporados pelo Jornal Nacional. Desde a época da criação do programa, a saudação noturna é responsável pela interação com o telespectador, gerando uma resposta positiva do público com o apresentador.

O telejornalismo recebe grande confiabilidade do público pela aceitação que a televisão transmite. Um fato apresentado em um telejornal, passando credibilidade, dificilmente será questionado por alguém. Com o objetivo de atrair e levar informação ao maior número de pessoas, o jornalismo possui o desafio de ser claro e apresentar uma linguagem interessante, sem ser repetitiva. Diariamente a televisão traça estratégias de comunicação voltadas para os gostos do público, assegurando uma aceitação satisfatória, tanto da televisão como dos telespectadores, com o meio de comunicação.

Os escritores americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, no livro “Os Elementos do Jornalismo. O que os jornalistas devem saber e o público exigir”, perguntam-se para que serve o jornalismo. Na obra, eles mencionam as mudanças que a área sofreu com o passar do tempo.

De fato, não importa quanto o jornalismo tenha mudado. Sua finalidade tem permanecido extraordinariamente constante, embora nem sempre bem servida, desde que a noção de “imprensa” surgiu há mais de trezentos anos. E apesar de todas as mudanças na velocidade, técnica, e a natureza da difusão das notícias, sempre existiram uma teoria e uma filosofia claras do jornalismo, que fluem da própria função das notícias. À medida que ouvíamos cidadãos e jornalistas, ouvíamos que essa obrigação para com a cidadania engloba vários elementos. A imprensa nos ajuda a definir nossas comunidades, nos ajuda a criar uma linguagem e conhecimentos comuns com base na realidade (KOVACH, 2000 apud ROSENSTIEL, 2004, p. 30).

Experimentando o telejornalismo matutino, em 1977 o Bom Dia São Paulo estreou como forma de prestação de serviço. Às sete horas da manhã, de segunda a sexta-feira, a exibição apresentava um formato comunitário, utilizando a chamada unidade portátil de jornalismo. Em seguida, surgiu a TV Mulher, em 1980. Dedicado ao movimento de liberação feminina, lançou a jornalista Marília Gabriela. O debate de temas como sexualidade, direitos humanos e saúde da mulher eram pautados no programa exibido das 8 às 11 da manhã.

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Gerado em Brasília, em 1983, o noticiário em rede nacional Bom Dia Brasil abordava assuntos relacionados à política e também à economia. Com assuntos mais amplos, o telejornal apresentava ao vivo pautas também de São Paulo. Atualmente o programa é gerado do Rio de Janeiro e ao longo dos anos adaptou seu formato às exigências do público. Com uma linguagem jornalística, o cenário sofreu alterações, porém a essência matutina continua a mesma do princípio.

A década de 1980 foi marcada pela extinção da emissora pioneira brasileira. A TV Tupi foi cassada pelo governo militar e dividida entre dois empresários da época. Silvio Santos e Adolfo Bloch foram os beneficiados com o fim da primeira emissora do país. Com isso, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) surgiu. Fortificando-se com investimentos jornalísticos, a emissora lançou no dia 4 de setembro de 1988 o TJ Brasil. O telejornal foi o responsável pela figura de âncora na apresentação. Com espaço para a opinião, o jornalista Boris Casoy, hoje profissional da Rede Bandeirantes, marcou o estilo no país.

Apesar de a Rede Globo ter introduzido o conceito de rede de televisão no Brasil aproximando-se dos padrões técnicos e de produção norte-americanos, a partir do acordo com a Time-Life, nem todas as formas de produção foram adotadas imediatamente ou copiadas de forma fiel ao modelo original. E o conceito de âncora é um exemplo disso. Muitos jornalistas se definem como âncoras no Brasil sem nunca terem, de fato, atuado ou exercido esse papel. Este papel começou a tomar forma de fato no Brasil com o jornalista Boris Casoy, em 1988, quando foi contratado pelo SBT para ancorar o Telejornal Brasil. Mas o próprio Boris ressalta que, antes dele, Joelmir Beting já havia exercido o papel de âncora à frente do Jornal da Bandeirantes nos início dos anos 80 (SILVA, 2009, p. 73).

Com o passar do tempo, ter um aparelho televisor em casa se tornou mais fácil. Com isso, surgiu a necessidade de criar uma programação dedicada às classes C, D e E. O programa Aqui Agora estreou no SBT em 1991. Com uma abordagem mais sensacionalista do que os demais jornais existentes até então, o jornal trazia reportagens policiais. Os flagrantes e denúncias ganharam espaço. O objetivo do estilo era conquistar a audiência do público, com uma linguagem mais apelativa. Aventura, violência e tensão era o foco das produções. Ficou no ar até 1997 e era considerado como jornalismo comunitário. Com característica opinativa, a Rede Bandeirantes aproveitou o momento da extinção do Aqui Agora do SBT para lançar o Jornal da Band, em 17 de fevereiro de 1997.

No ar desde 15 de outubro de 1996, a Globo News foi o primeiro canal de televisão brasileiro a exibir jornalismo 24 horas por dia. Inspirado no perfil americano da CNN, as produções começaram apenas com programação fechada. Como TV paga. Com o passar do tempo, optou pela reapresentação da TV aberta e criação de formatos informativos. Com

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assuntos variados, o noticiário tornou-se o carro chefe do telejornal. Com acontecimentos relatados a cada hora, o estilo chamou a atenção das outras emissoras. Foi quando a Band News entrou no ar em 2001. Dando notícias a cada quarenta minutos, o jornal continuou seguindo o modelo americano. A CNN continuou inspirando os telejornais brasileiros.

Como o quarto poder na sociedade, os meios de comunicação se revelam desde o advento da imprensa. Com a finalidade de atingir interesses específicos, o jornalismo nos ajuda a definir nossas comunidades, baseados em uma realidade próxima, geralmente apresentada pela mídia. Em um ambiente marcado por avanços tecnológicos, surge o jornalismo como apresentador e reprodutor de acontecimentos relevantes e importantes para a formação de opinião da sociedade.

1.3 Reflexos da mudança tecnológica

Na segunda metade do século XX a Internet foi criada. O sistema de transmissão de dados via computador reúne todos os formatos de mídia em um só lugar. A Internet começa a se disseminar pelo mundo em 2000 e, de acordo com a Internet World Stats, 1,96 bilhão de pessoas tinham acesso à Internet em junho de 2010, o que representa 28,7% da população mundial. Texto, áudio, vídeo e foto, reunidos em uma só mídia, assustaram a maioria da sociedade.

Quando o rádio foi criado, no século XIX, acreditava-se que era o fim das publicações impressas e que o futuro das comunicações estava ali. [...] E o que dizer do sentimento de pânico quando a TV foi criada, no século XX. Seria o fim do Rádio? [...] Agora, século XXI, nossa discussão se acirra. [...] Será que com a Internet, tudo vai acabar? (TRAVASSOS, 2008, p. 01).

Assim como a cada evolução da tecnologia, estimava-se que as mídias anteriores iriam acabar. Uma realidade que não foi nunca comprovada. Mas a sociedade, com tantas opções de receber informações, acabou se entregando ao novo, e deixando as mídias mais antigas, como o rádio e a televisão, de lado. Assim, por sua vez, o telejornalismo não poderia continuar sendo o mesmo. De olho nas novas formas de comunicar, reformulou-se e começou a trabalhar com novas formas e técnicas de levar à sociedade a informação e o entretenimento.

A sociedade faz uma leitura de tudo que vê na televisão, influenciando-se pelo que é mostrado. Com recursos subjetivos, o novo cenário, apresentado nos telejornais, compõe um

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diálogo interativo com o receptor com a ajuda de movimentos de câmera e enquadramento. O conjunto dos recursos ajuda a construir uma relação entre o estúdio, ambientes familiares e a rua. Essas mudanças acabam contribuindo para que os telespectadores tenham confiança no que é noticiado, facilitando e firmando um elo de credibilidade entre os dois. A interatividade do novo telejornalismo desperta no público a sensação de contato direto com a informação.

O público de diferentes classes sociais, religiões, idade e sexo despertou interesse pela televisão a partir do casamento entre som e imagem. No jornalismo a união é essencial para transmitir credibilidade no que é mostrado. Com as novas formas de fazer telejornalismo, a sensação que as pessoas têm, a partir da interatividade do âncora, é de que o apresentador fala diretamente com elas. Demonstrando a importância desse diálogo do profissional ao noticiar, telespectadores chegam a conversar com os jornalistas como se eles os ouvissem. Participando, mesmo que indiretamente, da informação, muitos acreditam que a televisão não é capaz de mentir pelo fato de estar mostrando imagens para o telespectador. E no jornalismo isso é fortemente evidenciado para que não seja perdido o foco da informação com seriedade.

Conforme observado no artigo produzido para o XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul 2013 (COSTA, GOI e GRANEZ), sobre a mesma temática abordada neste trabalho, a disseminação de mídias permite aos profissionais trabalharem no mesmo espaço físico. Porém há dificuldades. Os jornalistas de jornais, por exemplo, tendem a ver os da TV como superficiais e os de rádio como uma categoria inferior. Os da Web nem são considerados jornalistas e por isso há a necessidade de treinamento e mudança de rotinas. Os repórteres de jornais deverão aprender a manejar câmeras de vídeo digital, editar fotos digitais e serem capazes de apresentar relatos orais. Já os da TV têm de aprender técnicas de redação, usar máquinas fotográficas digitais e contextualizar a informação.

A fusão que vem acontecendo entre os veículos impressos, a televisão e o rádio com a Internet é o que se pode chamar de convergência midiática. Programas de redes de telecomunicações que possuem seu espaço na Internet são exemplos disso, nos quais as informações dadas pelo programa exibido na televisão são postadas na mídia, através de um site.

Nota-se que essa busca por profissionais multimídia vem ocorrendo tanto em empresas nacionais como internacionais. Os mais entusiastas acreditam que dessa maneira se constrói o jornalista do futuro em que o homem dos mil e um recursos trabalha sozinho, equipado com uma câmera de vídeo digital, telefone satélite, laptop com software de edição de vídeo e HTML, e ligação sem fios à Internet. Assim será capaz de produzir e editar notícias para

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várias mídias: televisão, um jornal impresso, o site da empresa na Internet, e ainda áudio para a estação de rádio do grupo.

Quando os suportes de comunicação passaram a permitir o agrupamento de vários tipos de mídia, surgiu a necessidade de um profissional que se adequasse a essa situação. Ao entrar em uma empresa o profissional acaba optando por apenas um suporte, porém, por ter conhecimento das outras áreas afins, se torna um profissional mais dinâmico e flexível (MURTA, 2010, p. 65).

O que se percebe é a busca dos profissionais por se tornarem completos, saber manipular vídeos e áudios, escrever bem e entender de fotografia. Um profissional com capacidade técnica para produzir dentro dos diversos suportes que a mídia oferece é mais valorizado que os demais. No telejornalismo essa necessidade por profissionais multimídia vem sendo cada vez mais exigida e necessária devido aos novos formatos adotados pelas emissoras de televisão, em busca de audiência.

2 A PRODUÇÃO JORNALÍSTICA

2.1 Seleção de fatos cotidianos

Já compreendemos a história da televisão e do telejornalismo brasileiro. Com os apontamentos apresentados até aqui, percebemos que, juntamente com o desenvolvimento do meio de comunicação televisivo, surgiram adaptações. Necessidades. Todas elas realizadas com referência ao que o período exigia. Baseadas no telespectador e também no anunciante. Ambos são receptores e dão a força necessária que o veículo precisa para se manter, seja financeiramente ou através da audiência.

No entanto, os conteúdos oferecidos ao telespectador devem ser minimamente avaliados. Escolhidos com a devida importância. Fazendo jus à audiência do público que acompanha a programação em busca da informação. Para isso, são necessários critérios. A pauta, antes de ser apresentada ao público, passa por um processo de seleção. Quem nunca se perguntou, antes de sentar-se para assistir a um telejornal, que notícias serão abordadas na edição de hoje? Que fato receberá maior destaque? Porém, passa despercebido quais são os critérios jornalísticos usados pelos profissionais no momento de colocar uma informação à

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condição de mais relevante. Para começar a compreender isso são usadas teorias que auxiliam no entendimento das especulações.

As teorias de newsmaking1e gatekeeper2 serão os principais apoios, a partir daqui, para apontar os critérios de noticiabilidade e edição de fatos cotidianos. Os desafios do jornalista, no momento de optar entre o que deve e o que não deve ser apresentado, também entram nesta análise.

Os autores que auxiliam nesta importante percepção sobre o tema são Shoemaker e Vos. Ambos apresentam um resgate histórico da teoria do gatekeeper. Já referenciando a hipótese de newsmaking, destacamos Mauro Wolf, como um estudioso ligado à sociologia das profissões, no caso, o jornalismo. Teóricos e meios aplicados para explicar a produção de notícias são usados por eles, dando credibilidade e afirmação ao conteúdo. Os fatores mais relevantes na escolha dos profissionais de comunicação, na hora de selecionar a pauta para ser apresentada, seja para a redação como já para o público, são destacados pelos autores. Outro aspecto não esquecido é também a relevância social que a notícia tem.

A metáfora do gatekeeper ofereceu aos primeiros pesquisadores em comunicação um modelo para avaliar a maneira como ocorre a seleção e a razão pela qual alguns itens são escolhidos e outros são rejeitados. Ela também ofereceu uma estrutura para o estudo de outros processos além da seleção, como, por exemplo, a forma como o conteúdo é modelado, estruturado, posicionado e cronometrado (SHOEMAKER; VOS, 2011, p. 23).

Os autores também salientam as alterações dos meios de comunicação como uma medida do gatekeeper, por mais que não cheguem a especificar claramente que mudanças são essas. Referenciando-se às teorias, apontam novos caminhos sobre a produção jornalística e a forma de apresentar a informação ao público. O poder que a teoria possui para liberar ou restringir a passagem das pautas é evidenciado. Isso acontece em diferentes aspectos, com relação à abrangência do veículo de comunicação e também ao número de telespectadores. Do nível de audiência do programa.

Um dos principais e fundamentais papéis do gatekeeper no processo de transformação social se dá na decisão de permitir ou não a passagem da notícia pelos chamados “portões” da redação. Analisado de um ângulo positivo, os dados de uma informação podem ser levados completos. Resultando em uma matéria bem elaborada e apurada. Observando negativamente, ao restringir um acontecimento, o público poderá receber um material em que o veículo não

1

Teoria da comunicação que estuda o processo de produção das notícias. Em tradução livre, representa o processo de “fazer notícias”.

2 Teoria da comunicação que analisa o trabalho do profissional responsável por “filtrar” as informações. Em

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oferece o que de fato aconteceu em determinada situação. Com isso, a credibilidade do meio pode ser comprometida. Parte daí a percepção do jornalista. Não é suficiente apenas a seleção de pautas, mas sim o processo de modificação. De torná-la mais chamativa aos olhos do público: “Concluímos, assim, que o processo de gatekeeping envolve não apenas a seleção ou rejeição de itens, mas também o processo de modificá-los de forma a torná-los mais atraentes para o consumidor final” (SHOEMAKER; VOS, 2011, p. 26).

A hipótese de newsmaking enfatiza a produção de informação enquanto potencial transformador dos acontecimentos cotidianos em notícias. A tensão recai especialmente no emissor. O profissional da informação, como Wolf costuma chamar, é visto como um intermediário entre o acontecimento e sua narração. A notícia, por sua vez, está voltada para o estudo de suas fontes principais ou jornalísticas. As diferentes etapas da produção informacional, ao nível da captação dos fatos, são interligadas ao tratamento recebido no momento de edição e de distribuição da informação.

No horizonte do newsmaking se colocam, dentre os vários temas possíveis, os conhecidos estudos sobre gatekeeping ou filtragem da informação, que se distingue totalmente da censura, por sua perspectiva distinta da ideologia e mais vinvulada às

rotinas de produção da informação, verificáveis, assim, tanto entre a mídia

capitalista quanto na socialista, por exemplo (HOHLFELDT, 2002, p. 203-204).

Os estudos em torno do newsmaking, traduzido como fazedores de notícia ou a criação da notícia, surgiram durante o processo de gatekeeping, verificados por Kurt Lewin em 1947. Na época, analisando o fluxo informativo de um órgão de imprensa norte-americano, relacionando a chegada de notícias pelos telexes do período e a utilização das informações na edição posterior do veículo, o autor levantou uma estatística de 1333 publicações negativas. Com isso, na época, Lewin concluiu que de cada dez notas de telex chegados na redação, uma era considerada útil e efetivamente virava notícia na edição seguinte. Dessa forma, se estabeleceu o conceito de que profissionais capazes de superar distorções na seleção da informação existiam, assim como a seletividade informacional não era realizada apenas na redação. A partir daí, Hohlfeldt salienta na obra “Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendências”, juntamente com os organizadores Luiz C. Martino e Vera Veiga França, que Lewin percebeu a influência de gatekeeping na sociedade:

As primeiras conclusões admitiram, então, que os processos de comunicação têm em si mesmos uma função de controle social desenvolvido a partir do estabelecimento de práticas socializadas entre seus profissionais, os jornalistas. A função de

gatekeeping, por seu lado, dependeria de uma gama de perspectivas e influências,

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sanções; sentimentos de fidelidade e estima para com os superiores; aspirações à moda social da parte do profissional; ausência de fidelidade de grupo a contrapontos; caráter agradável do trabalho e o fato de a notícia ter-se transformado em valor (HOHLFELDT, 2002, p. 205-206).

Considerando as hipóteses de descoberta de gatekeeping juntamente com newsmaking, admite-se, de modo geral, que os meios de comunicação de massa têm como dever tornar possível o reconhecimento de um fato desconhecido como um fator fundamental a ser divulgado. Na mesma linha, devem elaborar relatos capazes de retirar do acontecimento seu nível de particularidade, tornando-o, dessa forma, contextualizado. A organização temporal e espacial deste conjunto de percepções transformadoras deve ser colocadas como agentes exploradores, tanto racionalmente como de maneira planificada.

A perspectiva de newsmaking comprova uma espécie de liberdade do jornalismo, em que o método comunicacional se sobressai em relação às demais categorias sociais, o que, de acordo com Wolf, é equivocado. Porém, avaliando o ponto de vista da teoria da comunicação, segundo o estudioso, a hipótese é importante pelo fato de que colabora com o entendimento do modo pelo qual a informação flui.

2.2 A notícia como principal ferramenta dos meios de comunicação

A informação está sendo valorizada cada vez mais. Ser um cidadão bem informado se tornou um diferencial. Uma necessidade essencial. Os maiores responsáveis em oferecer informação à população são os meios de comunicação. Com isso, o papel da imprensa na sociedade se torna um assunto de interesse de vários pesquisadores. Porém, a divulgação é feita por meio da notícia e quem a elabora são os profissionais de comunicação. De acordo com o autor Nilson Lage, pesquisador da área, “a notícia é um modo corrente de transmissão da experiência – isto é, a articulação simbólica que transporta a consciência do fato a quem não o presenciou” (LAGE, 2001, p. 49).

O jornalista tem como função mais básica relatar fatos. Acontecimentos. Contar histórias. Ele deve transmitir ao público informações reais. Apresentar um conteúdo preciso. Por meio da investigação, constrói a notícia com entrevistas. Com relatos. Com testemunhas que asseveram os dados registrados. Assim, surge uma notícia. A principal ferramenta usada pelo jornalismo para apresentar fatos ao público. Segundo o autor Juarez Bahia, notícia é

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sinônimo de acontecimento. De verdade, certeza, dúvida, informação, comunicação e até mesmo mentira.

As técnicas de elaboração da notícia, juntamente com os critérios de seleção, passaram por diversas transformações. No entanto, não foram apenas elas que mudaram. Com o desenvolvimento, os meios de comunicação foram obrigados a acompanhá-las. Muitos veículos padronizam o processo de produção da notícia. Com certa praticidade, os manuais de instruções foram adotados nas redações. Porém, existem dois lados para isso. O positivo, que fortalece a opinião de facilitar a produção e padronizar o jornal, e o negativo, que de certa forma acaba engessando os profissionais. O costume com um determinado modelo, estilo adotado, pode gerar dificuldades quando novos desafios surgirem. Mas todo o contexto tem uma finalidade. Essas adaptações, tanto no padrão da informação quanto dos veículos, acarretaram na transformação da notícia em mercadoria. Atualmente os fatos são vendidos. Não necessariamente por dinheiro, mas por opinião.

A notícia é a base do jornalismo, seu objeto e seu fim. Através dos meios do jornalismo ou dos meios da comunicação direta ou indireta, a notícia adquire conteúdo e forma, expressão e movimento, significado e dinâmica para fixar ou perenizar um acontecimento, ou torná-lo acessível a qualquer pessoa (BAHIA,1990, p. 35).

Para o autor do livro “Discurso das Mídias”, Patrick Charaudeau, existem três pontos a serem analisados na construção da notícia. Segundo ele, os modos de recorte midiático do espaço cultural, como são identificadas as fontes e os princípios de seleção de fatos são cruciais para a produção de um bom conteúdo. Uma das fases mais importantes na construção da notícia é o processo de apuração das informações. Não se pode basear-se apenas nos critérios de seleção. Uma boa apuração é essencial para um material de qualidade.

Mesmo com novas tecnologias à mão, o repórter deve sair das quatro paredes de uma redação e ir atrás da informação. Bahia assevera, antes mesmo do surgimento da internet como ferramenta de trabalho dos profissionais, que a observação pessoal é o método mais eficaz na hora da percepção: “É o modo mais eficiente de cobrir um assunto porque identifica o repórter com a ação, seus efeitos, seus participantes e as reações que possam gerar de imediato” (BAHIA, 1990, p. 41).

As notícias que devem ou não ser veiculadas podem ser selecionadas por meio de critérios. A finalidade de selecionar os fatos vem da tentativa de fazer com que o telejornal seja atrativo, como já destacado anteriormente. A medida pode ser adotada como um fator facilitador para os jornalistas. Com isso, os profissionais têm menos dúvidas ao escolher as

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pautas e dar ou não destaque para elas. A proximidade, atualidade, interesse pessoal, utilidade pública, relevância e importância são os critérios mais avaliados na hora de analisar um fato.

Entre as características mais relevantes para o público, ao acompanhar um noticiário, está a proximidade da informação. O telespectador se interessa, em sua maioria, pelos fatos que acontecem ao seu redor. Quanto mais presente na região do público a informação se aproximar, mais interessado ele vai ficar.

O conceito de proximidade não está relacionado apenas à localização geográfica. Também se refere às relações sociais e culturais. Esse é o motivo pelo qual o público tem interesse pelo noticiário internacional. Além de terem a atenção despertada por fatos próximos de suas regiões, as pessoas também se interessam pelos fatos mais recentes. Mais próximos no tempo. Mais atuais. Notícias frescas, novas, não precisam ser, necessariamente, inéditas. Nem tampouco inusitadas. Devem ser recentes. Fatos do passado também podem ser remetidos através de notícias novas. Isso chama-se ineditismo. A raridade de um acontecimento torna-se uma questão de destaque para o interesse.

O critério de conflito é outro ponto que gera audiência aos veículos de comunicação. A atenção é despertada por meio dele a partir do noticiário relacionado à violência. Pela aproximação do dia a dia do público. Muitos programas jornalísticos se detêm apenas nesse tipo de jornalismo. Porém, com isso surge o sensacionalismo. Um estilo que gera audiência, mas também repúdio.

O entretenimento também tem espaço garantido nos veículos de comunicação. A informação e a notícia não são sempre o foco dos telespectadores. Um estilo que vem sendo adotado pelos telejornais é o chamado Happy Ending3. Ele se baseia em mostrar a última reportagem do programa com um teor mais leve. Mais descontraído. Os telejornais da RBS TV, principalmente o Jornal do Almoço, que é o foco deste estudo, estão adotando a inovação. No entanto, essas mudanças se dão por meio do público. São eles que mandam nos formatos, por meio da opinião, como vamos abordar nos próximos capítulos.

Tomando como exemplo notícias relacionadas ao vestibular, falamos do interesse pessoal nas matérias. Por mais que a mídia deva se preocupar em dar importância a assuntos gerais, é necessário mostrar interesse e dar espaço para a divulgação de informações direcionadas a grupos menores. Assim, o telespectador que não assiste ao telejornal todos os dias acabará tendo interesse por meio dos fatos direcionados a ele.

3 Estilo que caracteriza-se pela forma mais manchetada de dar as informações. A tradução compreende um

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Outros assuntos que também geram audiência e devem ter sempre espaço nos veículos de comunicação, principalmente os televisivos, são os destaques de utilidade pública. Por estarem interligadas ao cotidiano das pessoas, informações de meteorologia, trânsito, campanhas e ações públicas chamam a atenção do telespectador. Contudo, o critério para seleção de utilidade pública precisa se renovar. A criatividade para apresentar essas informações garantirá a audiência e consequentemente a televisão ligada.

Com tantos critérios avaliados já apresentados, existe uma infinidade deles destacados por estudiosos da área. Entretanto, há dois que não devem ser esquecidos. A relevância e a importância das notícias são cruciais nesta seleção. Fatos que muitas vezes passam pela sociedade despercebidos podem ter a fundamental importância em um edição. Todavia, deve ser levado em consideração o espaço e tempo de que o telejornal disponibiliza. De nada será válida a aplicação de critérios de noticiabilidade se o programa tiver pouco tempo de duração. Irão ao ar somente as pautas de maior relevância e de interesse geral. Neste caso, a importância dos fatos é essencial na hora de escolher entre duas ou três matérias.

De acordo com Bahia, são diversos os fatores que influenciam os fatos a virarem notícia. Os critérios foram criados apenas para mostrar ao público, como uma seleção jornalística é criteriosa em razão de apresentar sempre o que é mais importante e atrativo para ele. Na prática, no dia a dia das redações, estes critérios não são aplicados devidamente como abordados nos livros. As empresas jornalísticas se detêm principalmente no capitalismo. Na venda de seus produtos, neste acaso a notícia. Seguindo uma ideologia de jornalismo ideal, a audiência, juntamente com o consumo, se transformou em critério universal. Porém, não é o que acontece em todos os veículos de comunicação, como veremos adiante. A opinião do telespectador prevalece em alguns casos. É ela que realiza a seleção do que quer e não quer que entre em sua casa, seja pelo rádio, jornal impresso ou televisão.

2.3 Critérios na busca de fontes e na criatividade de edição

Os repórteres presenciam fatos fora do ambiente interno de trabalho cada vez menos. Estando presos nas redações, sem saírem para a rua, as entrevistas por telefone e e-mail são as melhores saídas quando o assunto é a agilidade na apuração. Porém, desta forma o resultado final pode ser comprometido, já que estar no local de um acontecimento favorece a sensibilidade do jornalista no momento de produzir o conteúdo.

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As fontes, sejam elas buscadas com o auxílio da internet ou no local de um acontecimento, são essenciais para a notícia. São elas que dão credibilidade e asseveram os dados, fazendo com que o público se identifique com a situação ou se sinta próximo da notícia. As fontes, conforme Juarez Bahia, podem ser divididas em três tipos. As diretas, indiretas e complementares.

Segundo o autor, as diretas informam o que aconteceu. Relatam determinados fatos sobre o que viram, ouviram, ou de que participaram. As indiretas são as referências buscadas em documentos, pesquisas sobre o ocorrido. Até mesmo relatos parciais se enquadram neste tipo. E o terceiro modelo são as complementares, que dão esclarecimento e enriquecem as informações já obtidas com a finalidade de acrescentar à notícia.

Uma boa notícia, analisando os critérios divididos pelo autor, depende de boas fontes. Um depoimento confiável e real acrescenta credibilidade não apenas à produção, mas também ao veículo de comunicação que a divulgou e ao profissional que a redigiu. A percepção quanto à atenção que se deve ter ao elaborar uma notícia está diretamente relacionada com a qualidade das fontes. Analisar o fato, de todos os lados e versões, garante a eficiência e satisfação do público ao consumir a informação.

O repórter é responsável por apurar o histórico da fonte. Se é verdadeira ou não. O trabalho do profissional é investigar e levar ao seu público a contextualização do fato, sempre apresentando todos os vieses do acontecimento. O jornalista também tem a opção de ocultar a identidade da fonte. Todavia, os cuidados na hora de fazer isso devem ser criteriosos. Sem querer, o profissional pode estar assumindo a responsabilidade pelas declarações.

A instância de produção pode cumprir ou não as exigências de identificação (fontes e signatários), do mesmo modo que pode escolher os modos de identificação (nome próprio/ nome comum e diversas modalidades). Tais fatores influem na credibilidade, produzindo efeitos diversos: efeito de evidência quando a fonte não é citada, mas com o risco de prejudicar a instância da informação se o receptor quiser saber de onde vem a informação sem obter resposta; efeito de verdade e seriedade profissional se a fonte é identificada com precisão ou se é identificada com prudência sob o modo provisório, da espera de verificação; efeito de suspeita, se a identificação se faz de maneira vaga, anônima ou indireta (CHARAUDEAU, 2007, p. 149).

Outro fator que recebe destaque na construção da notícia é a edição. Ela é responsável por selecionar as informações e as partes mais importantes a serem apresentadas. A edição na televisão baseia-se no tempo disponível para cada matéria. Além de preocupar-se com o texto da reportagem, os repórteres devem se deter também às imagens que ilustrarão cada frase gravada.

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