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Capítulo II. Qualidade de vida, direitos e envelhecimento

1. Qualidade de vida

1.4. Relacionamentos e Suporte Social Percebido

Os relacionamentos são um dos aspetos importantes na qualidade de vida (Carvalho & Dias, 2011) pelo que é fundamental compreender a importância das relações na vida dos idosos institucionalizados, nomeadamente em termos de suporte social.

Um dos mitos contemporâneos relativamente às dinâmicas familiares é o de que os idosos são frequentemente abandonados pelas suas famílias. As estruturas familiares têm vindo a sofrer alterações continuando no entanto a ser marcadas pelo suporte e carinho mútuo entre gerações (Bengtson & Terre, 1981), apesar de existirem vários casos em que a satisfação dos desejos pontuais se sobrepõe à assistência recíproca (Slepoj, 2000). Quando falamos em suporte social, falamos do quão estimado, valorizado, acarinhado e pertencente a uma rede na comunidade se sente um sujeito, sobretudo por relação com três aspetos: a) a integração social que diz respeito à frequência de contactos com os outros; b) o apoio recebido que corresponde à quantidade de ajuda efetivamente fornecida; c) o apoio percebido que se baseia na crença de que outros significativos podem ajudar em caso de necessidade (Paúl, 2005).

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Neste estudo interessa-nos particularmente compreender o suporte/apoio percebido, uma vez que existem evidências de que a subjetividade desta perceção tem maiores implicações no bem-estar do que medidas objetivas (Jaswal & Singh, 2014). Os contactos sociais são percebidos de forma diferente entre os idosos que se encontram nas suas casas e aqueles que se encontram em instituições, sendo que aquando da institucionalização os contactos diminuem consideravelmente (Riedl et al., 2013). A diferença entre a realidade dos contactos sociais e o desejo da frequência destes contactos poderá ser descrita como solidão (Brimelow & Wollin, 2017), tendo um impacto forte nas questões do bem-estar. O suporte social poderá ser transmitido por múltiplas fontes, tais como amigos, família e colegas de trabalho (Demaray, Malecki, Davidson, Hodgson, & Rebus, 2005), que constituem a rede de suporte informal e organizações como hospitais, serviços de saúde, médicos, psicólogos, etc., que constituem uma rede de suporte formal (Dunst & Trivette, 1990).

Existem várias funções associadas ao conceito de apoio percebido, sendo que evidenciaremos o modelo de Baron por nos parecer mais claro e integrador (Martins, 2005). Tal modelo refere-se a três aspetos como sendo cruciais: o apoio emocional (i.e., ter outra pessoa com quem falar e que faça o sujeito sentir-se querido, respeitado e amado, demonstrando afeto), o apoio material e instrumental (espelhado na ajuda para resolver problemas práticos ou na realização de tarefas quotidianas) e o apoio de informação (relativo à ajuda prestada para uma melhor compreensão do mundo que o rodeia, possibilitando uma melhor adaptação).

A família desempenha um papel importante na adaptação dos idosos à instituição pois muitas vezes a resistência e conformismo de alguns idosos relativamente à vida neste contexto, com a adoção de estratégias de fuga, acontece por se sentirem privados da relação social exterior a este contexto (Pimentel, 2001). A ausência de familiares mais próximos como cônjuges ou filhos está associada à doença e à mortalidade, sendo que idosos solteiros, viúvos, separados ou sem filhos, são os que recebem menos apoio social, havendo um comprometimento relativamente aos níveis de qualidade de vida (Rodrigues & Silva, 2013). O suporte familiar poderá ter um papel de “amortecedor” nas vivências stressores da pessoa idosa fomentando a resiliência psicológica (Baptista, 2005) e revelando-se importante em termos de satisfação com a vida, uma vez que os idosos com contactos regulares com a família tendem a ter uma atitude mais positiva e a fazer um balanço mais positivo entre a vida passada e a presente (Sequeira & Silva, 2002). No entanto, um estudo realizado por Carvalho e Dias (2011) verificou pelo contrário que a ausência de família ou a falta de apoio familiar não tornaram o processo

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de adaptação mais difícil, dado que a falta de apoio familiar se constituiu como um dos motivos da opção pela resposta institucional.

O relacionamento conjugal é tido como a principal fonte de apoio, cuidado emocional e instrumental para a maioria dos adultos casados (Zettel & Rook, 2004). Quando o indivíduo se depara com a morte do cônjuge sofre a perda do seu principal suporte, procurando depois a substituição das suas funções por outros membros da rede social, tal como acontece noutras fases do ciclo de vida. No entanto, essa mesma “substituição” pode não garantir ao sujeito o apoio que deseja, não compensando a relação perdida. Para Pochintesta (2016), a viuvez é um fenómeno com fortes implicações na identidade dos sujeitos, uma vez que traz mudanças na organização da vida diária (tal como a mudança de residência), alterações nas fontes de apoio social percebido e sentimentos de solidão. Importa também referir os amigos enquanto elemento de suporte essencial, apesar de que com o avançar da idade os idosos pareçam confiar mais no apoio dos familiares e aceitar a solidão que engloba o distanciamento dos amigos mais íntimos (Holmen & Furukawa, 2002). A rede de suporte social tem uma função protetora, existindo diferenças substanciais entre amigos e família, sendo que são os amigos que conferem um maior suporte a nível de suporte emocional (e.g., confidências) numa espécie de cumplicidade geracional (Giles, Glonek, Luszcz, & Andrews, 2005). Na mesma linha, Rodrigues e Silva (2013) num estudo realizado com idosos, verificaram que mais de metade dos inquiridos recebia mais apoio social dos amigos de fora da instituição, o que revela alguns conflitos familiares, decorrentes também do próprio processo de institucionalização. Podemos então dizer que o suporte social tem um efeito direto sobre o bem-estar, uma vez que quanto maior for o apoio social menor será o mal-estar psicológico, promovendo a adaptação dos indivíduos quando estes se deparam com situações normativas (e.g., perda do cônjuge e perda de funcionalidade). Para além disso, apresenta um efeito protetor (Martins, 2005), na medida em que este funciona como moderador de outras forças que influenciam o bem-estar.