Capítulo II. Apresentação e discussão de resultados
4. Tema IV Direitos
4.1. Subtema IV.I Direitos Gerais
Este subtema tem como principal objetivo identificar a perceção que os idosos têm sobre os seus direitos nesta faixa etária em geral e no contexto de estrutura residencial estruturando-se nessas duas dimensões. Os dados foram obtidos através de duas perguntas abertas: “Que direitos acha que as pessoas idosas devem ter? Porquê?” e “E aqui no/na lar/instituição, os idosos têm esses direitos?”. A tabela 6 apresenta os resultados obtidos neste subtema.
Tabela 6. Subtema IV.I. Direitos Gerais: dimensões, categorias, subcategorias, frequências e
percentagens
Dimensões Categorias Subcategorias N % Total
N
Total % IV.I.I Perceção de
direitos gerais que consideram que devem ter
1. Direito ao cuidado 1.1. Ser bem tratado 8 2.9
27 9.8 1.2. Segurança 1 0.4 1.3. Individualização 1 0.4 1.4. Afeto 3 1.1 1.5. Respeito 3 1.1 1.6. Alimentação de qualidade 2 0.7 2. Saúde 2 0.7 3. Reforma 1 0.4 4. Vida ativa 1 0.4 5. Liberdade 5.1. Em geral 3 1.1 5.2. De expressão 1 0.4 6. Ausência de direitos 1 0.4 IV.I.II Direitos na instituição 1. Existência 1.1. Em geral 4 1.4
1.2. Ser bem tratado 3 1.1
1.3. Cuidados de saúde 1 0.4 1.4. Alimentação de qualidade 1 0.4 2. Dependente do cuidador 3 1.1
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Dimensões Categorias Subcategorias N % Total
N Total % IV.I.II Direitos na instituição 3. Inexistência 3.1. Em geral 2 0.7 20 7.2
3.2. Ser bem tratado 1 0.4
3.3. Afeto 1 0.4 3.4. Respeito 2 0.7 3.5. Alimentação de qualidade 2 0.7 Total 47 17
Os participantes consideram que devem existir cinco direitos gerais dos idosos: o direito ao cuidado (N=18; 6.5%), à liberdade (N=4; 1.4%), à saúde (N=2; 0.7%), à reforma (N=1; 0.4%), e à vida ativa (N=1; 0.4%). Só uma única verbalização, correspondente a um único participante, expressa a ideia que nesta fase do ciclo de vida as pessoas já não têm quaisquer direitos.
O direito ao cuidado é o mais mencionado reportando-se a: a) qualidade dos cuidados de uma forma geral (N=8; 2.9%).
“Direitos…ser bem tratadas, que estão na fase final da vida…” (Suj.7)
b) aspetos afetivo-relacionais como afeto e respeito (6; 2.2%).
“acho que deve ser carinho da outra gente…” (Suj.20) “Respeito…serem respeitadas!” (Suj.17)
c) alimentação de qualidade (N=2; 0.7%).
“(…) não falta comer, mas é mal feito, não tem tempero, não tem gosto…a gente depois não tem vontade de comer, fica tudo no prato… depois vai tudo para o lixo… não tem tempero, não sabe a nada…” (Suj.11)
d) como segurança (N=1; 0.4%), individualização e personalização do cuidado (N=1; 0.4%).
“De repararem pela gente… de olharem pela gente…” (Suj.12)
“Olhe, não precisávamos de mais nada nesta vida, que as pessoas que tratam da gente tivessem consideração pela nossa situação… é a situação, esta situação é tratada assim ou vai ser assim, cada uma da sua maneira, à medida da situação… seria este mundo um bocadinho melhor. Pensar assim “tu precisas disto, tu precisas mais” e fazer… Era o que havia muita gente que me dizia, porque nós somos pessoas humanas, todos merecemos uma coisa qualquer que nos ajude, e há pessoas que não têm…” (Suj.1)
O direito à liberdade é o segundo direito mais mencionado sendo conceptualizado pelos idosos como um direito geral (N=3; 1.1%) e como um direito de liberdade de expressão que devem ter (N=1; 0.4%).
“os direitos de liberdade (…) Têm de ter a liberdade de viver, de poderem viver” (Suj.13) “(…) e agora porque é que havemos de estar praticamente numa prisão…? Não pode falar, não poder dizer, não poder conversar… isso é triste! Isso é triste” (Suj.4)
Direitos como saúde (N=2; 0.7%), reforma N=1; 0.4) e vida ativa (N=1; 0.4) são menos mencionados, embora estejam presentes nas verbalizações dos idosos.
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“Ter saúde que há muitos que não têm, eu também já tenho problemas de joelhos e nos ombros” (Suj.18)
“(…)dar a reformazinha à gente, não temos mais nada…” (Suj.6)
“(…) fazer qualquer coisa…. Eu, agora, é que estou mais tempo parada… às vezes no quintal cavava e fazia isto…” (Suj.10)
Em termos da análise quantitativa verificamos que em primeiro lugar surge o direito ao cuidado (N=18; 6.5%), destacando-se o direito a ser bem tratado (N=8; 2.9%). Em segundo lugar, evidencia-se o direito à liberdade (N=4; 1.4%) sobretudo em termos gerais (N=3; 1.1%). Os restantes aspetos apresentam um carácter mais residual. Em suma, evidencia-se que o direito ao cuidado é um dos direitos mais mencionados pelos os idosos remetendo para a qualidade do cuidado em diferentes aspetos. Identificamos aspetos relacionados com uma vertente emocional e relacional e outros relativos a segurança, conforto e prestação de cuidados básicos. As diversas referências a “Ser bem tratado” remetem-nos sobretudo para uma ideia de direito ao cuidado com afetividade e qualidade. “Ser bem tratado” é de facto um direito que permite uma vida digna e que particularmente no caso dos idosos que se encontram dependentes do cuidado institucional merece ainda mais atenção, dado que estes se encontram num ambiente que pode encontrar-se associado a múltiplas perdas, anteriores à institucionalização e que a mesma deveria tentar colmatar através da introdução e fortalecimento de fatores protetores e diminuição ou eliminação de fatores de risco da institucionalização. A não satisfação das necessidades quotidianas e a falta de cuidado constituem negligência, podendo verificar-se por vários motivos entre os quais o desconhecimento para identificar sintomas e necessidades do idoso, exaustão física e psicológica ou ainda falta de competências sociais e psicológicas para o desempenho da função de cuidador (Gil, 2010).
No nosso estudo os direitos à saúde, reforma e vida ativa foram escassamente referidos. No entanto, no estudo de Costa e Campos (2009) os idosos referiram-se à conquista dos seus direitos sociais em questões direcionadas para o direito à reforma e ao respeito, vislumbrando esta fase do ciclo de vida como merecedora de respostas políticas e sociais que evitem o abandono e promovam a continuação do idoso na sua família, na relação com os amigos e como parte de uma sociedade na qual são valorizados. É natural que surjam também as questões ligadas à saúde, uma vez que para os idosos o envelhecimento é portador da perda de capacidades físicas e psicológicas.
A liberdade para gerir a própria vida é também um aspeto de grande importância, pois relaciona-se com a possibilidade de tomar decisões, tornando o processo de
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envelhecimento mais prazeroso e significativo (Celich, Creutzberg, Goldim, & Gomes, 2010).
Relativamente à existência de direitos dos idosos na instituição os participantes expressam duas opiniões dicotómicas praticamente com o mesmo peso: que os direitos que os idosos devem ter existem na estrutura residencial (N=9; 3.3%) e que os mesmos são inexistentes (N=8; 2.9%). Existem ainda algumas verbalizações que expressam a ideia de que a existência de direitos dos idosos em contexto institucional se encontra dependente do cuidador (N=3; 1.1%).
“Têm, têm esse direito” (Suj13)
“Não temos não senhora porque se a gente se queixa não somos atendidos” (Suj.17) “Às vezes não é de quem manda é delas [as auxiliares] que aí andam” (Suj.9)
Em suma, os dados obtidos revelam que a existência real de direitos considerados pelos idosos como importantes nesta sua fase do ciclo de vida é algo problemático e nem sempre presente em contexto institucional.
É também de realçar o poder real que os cuidadores da instituição detêm efetivamente sobre os utentes e a sua centralidade na qualidade de vida quotidiana e no efetivo acesso dos idosos aos seus direitos. Assim, afigura-se importante implementar ações que visem o desenvolvimento de mais e melhores competências nos cuidadores, de forma a que estes estejam preparados e disponíveis para responder às necessidades e especificidades dos idosos com os quais lidam diariamente.