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3. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO PROCESSO DE TREINO E COMPETIÇÃO

3.2. Tarefas operacionais no escalão de Juvenis “A”

3.2.2. Relatórios de Jogo – Análise da própria equipa

Para todos os jogos oficiais, a equipa de Observadores do escalão de Juvenis “A” constituída por mim e pelo observador/analista principal Nuno Cardoso, tinha como tarefa realizar a análise qualitativa e quantitativa da própria equipa. Uma vez que o Nuno Cardoso tinha mais experiência e conhecia de forma aprofundada o modelo de jogo do treinador e da equipa, ele ficou responsável pela análise qualitativa da equipa enquanto a minha função foi realizar a análise quantitativa.

3.2.2.1. Análise Qualitativa – Na análise qualitativa, dividimos a análise do jogo

pelos momentos do jogo de organização ofensiva, organização defensiva, transição defensiva, transição ofensiva e esquemas táticos sendo que, cada momento do jogo, tinha uma “caixa” no relatório de jogo onde colocávamos aspetos positivos e negativos acerca dos comportamentos coletivos observados através da filmagem do jogo. Cada uma das afirmações tinha associado um ou mais clips de vídeo que comprovassem a veracidade daquela afirmação com a nomenclatura utilizada na filmagem do jogo já tratada com os cortes realizados através do Longomatch. Como todos os jogos eram exportados por momentos de jogo,onde cada um deles continha todos os excertos do jogo em que a equipa esteve naquele momento, a cada excerto do jogo era atribuído uma nomenclatura que o permitissem identificar se alguém quiser observar aquela sequência de vídeo em particular (Transição ofensiva vs Belenenses 10.01.2017 #3, #5 e #20 por exemplo).

Os esquemas táticos ofensivos e defensivos eram analisados da mesma forma, ou seja, a cada afirmação teríamos de corresponder um ou mais clips/excertos de vídeo que comprovassem a veracidade dessa afirmação, mas, para além da informação coletiva, esta análise dos esquemas táticos continha informação individual com os erros ou bons comportamentos realizados pelos jogadores.

Por fim, faz também parte da análise qualitativa, a análise individual da prestação dos jogadores utilizados. Esta análise continha uma informação muito geral para não ocupar muito espaço no relatório de jogo e para fornecer apenas a informação essencial, logo, consistia em associar algumas frases ou palavras-chave a um sinal negativo ou positivo fornecendo assim a informação de que, o jogador em questão, teve uma boa ou má prestação naquele aspeto em particular (agressividade (-), por exemplo).

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3.2.2.2. Análise Quantitativa – Como referi anteriormente, a análise quantitativa dos

jogos oficiais ficou sob minha responsabilidade durante toda a época desportiva. Esta componente do relatório de jogo permite obter a quantidade de acontecimentos em várias variáveis pré-estabelecidas que, por sua vez, pode fornecer informação mais objetiva e irrefutável sobre o rendimento da equipa ou mesmo de um jogador em particular. As variáveis observadas nos jogos da equipa de Juvenis “A” foram escolhidas pela equipa técnica e pelos responsáveis da área da Observação e análise do jogo do Benfica Lab.

De seguida, apresentarei a denominação de cada variável, bem como, a explicação dos seus critérios e a informação que podemos retirar de cada uma delas:

Perdas e Recuperações de bola – Esta variável corresponde, como o próprio nome indica, à quantidade e forma das perdas e recuperações da posse de bola durante o jogo. Para as perdas de bola, estas eram distinguidas em perda por passe, por má receção e por condução de bola estando distinguidas num campograma com diferentes ilustrações. Remates e cruzamentos não eram contabilizados como perdas porque são ações essenciais no jogo em que a probabilidade de se perder a posse de bola é muito elevada.

Quanto às recuperações, estas só eram contabilizadas se a equipa ficasse com a posse de bola, ou seja, se o adversário colocasse a bola fora do terreno de jogo sem mérito da equipa analisada, não considerávamos como recuperação para o relatório de jogo. As recuperações contabilizadas eram diferenciadas como recuperações por interceção ou desarme e, tal como nas perdas, estas eram distinguidas num campograma com diferentes ilustrações.

Por fim, estas duas variáveis, eram analisadas tendo em conta a zona do campo onde se perdia ou recuperava a posse de bola estando o campograma referido anteriormente dividido em 4 corredores e 4 setores, logo, no final da análise poderíamos tirar informação quanto à zona do campo e fase do jogo em que a equipa cometeu mais erros com bola ou conseguiu recuperar a bola e quanto aos jogadores que contribuíram mais para as perdas ou recuperações da posse de bola.

Passes Verticais entre-linhas – Esta variável corresponde aos passes realizados com o objetivo de “queimar linhas”, ou seja, todos os passes realizados no sentido de progressão para a baliza adversária e ultrapassaram dois ou mais jogadores que definem uma linha de pressão adversária. Os passes certos e errados eram distinguidos no campograma com diferentes ilustrações e, para os passes certos, era sempre atribuído em recetor entre-linhas com a respetiva ilustração. Para além disso, também eram distinguidos os passes em apoio e de rotura consoante a desmarcação do recetor, ou seja, se este se

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em apoio e, se este se afastar para receber nas costas da linha de pressão adversária afastando-se da bola, considerávamos uma desmarcação de rotura.

O campograma utilizado na ilustração de todos os passes verticais entre-linhas é igual ao campograma das Perdas e recuperações de bola, ou seja, estava dividido em 4 corredores e 4 setores.

Esta variável permite-nos ter alguma informação sobre a forma como a equipa conseguiu progredir no terreno, em que zonas conseguiu criar espaço para progredir e que jogadores mais contribuíram para ligar as fases do jogo.

Cruzamentos e Remates – Como o próprio nome indica, esta variável corresponde à contabilização de todos os cruzamentos e remates realizados pela própria equipa e pela equipa adversária. Os cruzamentos eram distinguidos por cruzamentos rasteiros e pelo ar dependendo da trajetória da bola e, num campograma específico (apenas com o meio- campo ofensivo) dividido em 4 corredores e 3 setores, eram assinalados os jogadores que realizavam os cruzamentos e os respetivos recetores se estes chegassem ao destino. Quanto aos remates, estes eram diferenciados como remates ou cabeceamentos sendo também assinalados num campograma específico dividido em 11 zonas de finalização com os executantes e com o resultado de cada remate (golo, intercetado, fora, etc…).

A informação que estas duas variáveis fornecem permite-nos perceber a quantidade e a forma das oportunidades de golo de ambas as equipas e os jogadores que contribuíram mais para essas mesmas oportunidades.

Matriz de passes – Esta variável, que consiste na contabilização de passes bem- sucedidos de cada posição do sistema tático para as restantes posições (se o jogador mudar de posição durante o jogo, os passes efetuados e recebidos por esse jogador serão contabilizados na nova posição), tem como objetivo perceber as ligações (passes entre dois jogadores) mais fortes na circulação de bola da equipa. Esta informação pode ser utilizada para identificar jogadores (posição tática) com mais influência na circulação de bola da equipa e que jogadores (posições táticas) foram mais recrutados quando a equipa progrediu no terreno. A ilustração desta variável é realizada através de um campograma com as várias posições do sistema tático utilizado e com as ligações representadas através de setas.

A análise quantitativa era realizada através da filmagem técnica do jogo nos dois dias seguintes ao jogo e consistia na codificação, em ficheiros Excel específicos para cada variável, dos eventos/acontecimentos que referi anteriormente. Todas as terças-feiras após

42 o jogo, entregava a parte do relatório de jogo sob minha responsabilidade ao

observador/analista principal para que ele pudesse juntar toda a informação qualitativa e quantitativa recolhida e enviar ao treinador principal.

Por fim, também criei, por iniciativa própria, vários ficheiros Excel com o intuito de contabilizar todos os dados recolhidos na análise quantitativa durante a época desportiva. Estes ficheiros consistiram numa base de dados para todas as variáveis e em “fichas” com toda a informação compactada para entregar ao treinador principal.

3.2.2.3. Análises individuais - Esta tarefa foi realizada durante toda a época desportiva e consistiu na seleção de clips de vídeo de treino ou jogo para “cortar” e agrupar em vídeos para serem mostrados aos jogadores em questão com o objetivo de corrigir comportamentos. Esta tarefa era realizada pelos dois observadores do escalão em colaboração e apenas em casos pontuais, ou seja, quando o treinador principal pedia ou quando o observador/analista principal tinha a iniciativa de fazer uma análise individual. Consultávamos várias filmagens de treino ou jogo para recolher imagens do jogador com comportamentos/ações que pretendíamos alterar e, na minha opinião, estes vídeos foram muito importantes para modificar os comportamentos dos jogadores porque estes tiveram a oportunidade de observar, “com os seus próprios olhos”, os erros que cometiam, logo, supostamente, a recetividade à informação que o treinador lhe transmitiu era maior.

Para além destas análises individuais, tínhamos também a função de fazer uma análise individual dos guarda-redes em todos os jogos. Esta análise consistia num ficheiro vídeo com todos os clips de ações do guarda-redes no jogo e era solicitada pelo treinador de guarda-redes que reunia, no microciclo seguinte, com o guarda-redes utilizado no jogo para corrigir os seus comportamentos. A seleção dos excertos de vídeo era realizada pelo treinador de guarda-redes, logo, a nossa função era apenas “cortar” esses excertos da filmagem técnica do jogo para os agrupar num vídeo. Os clips de vídeo eram agrupados de acordo com o tipo de ação e em momentos do jogo, logo, utilizámos a seguinte terminologia para definir cada grupo de ações:

 Organização defensiva: Defesa da baliza, 1x1, Cruzamentos e Esquemas táticos defensivos;

 Organização ofensiva: Distribuição, Passe atrasado e Esquemas táticos ofensivos;

 Transição defensiva: Zona Espaço (controlo do espaço nas costas da linha defensiva quando a equipa perde a posse de bola);

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